segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

INSIDE JOB (II)


Como prometera aqui, fui ontem ver o filme Inside Job, de Charles Ferguson. É uma obra essencial para a compreensão dos mecanismos financeiros que controlam actualmente o mundo. E uma fundamentada denúncia de como o poder político funciona em aliança, ou submissão, ao poder económico.

A peça incide especialmente sobre a desregulação dos mercados financeiros, que começou na malfadada época em que um medíocre actor de Hollywood, Ronald Reagan, ascendeu à presidência dos Estados Unidos. A completa liberalização do sistema financeiro prosseguiu com Bush pai, Clinton e Bush filho, e não parece ter sido travada por Obama, tendo em conta a gente de que ele se rodeou. 

A cumplicidade entre administradores, gestores e políticos, e os organismos encarregados do controle financeiro que, por exemplo, atribuíam as notações máximas ao Lehman Brothers, nas vésperas da sua falência em 2008, diz muito sobre a idoneidade dos intervenientes. Refira-se também a promiscuidade da Goldman Sachs entre os negócios e a política norte-americana. Tal como as entradas e saídas entre o público e o privado de Henry Paulson, o secretário do Tesouro de Bush e Timothy Geithner, actual secretário do Tesouro de Obama. Ou as sinuosas carreiras de Alan Greenspan ou Benjamin Bernanke.

As relações entre os homens da banca, dos fundos, das agências de rating  e os congressistas também são pouco transparentes ou melhor, são tão claras que nos ofuscam. Vendo-se o filme de Charles Ferguson, facilmente se conclui, sem exagero, que a administração norte-americana e os financeiros de Wall Street se assemelham mais a uma associação de malfeitores do que a pessoas de bem. Também é chocante ver como professores catedráticos de economia e finanças das prestigiadas universidades de Harvard, Columbia, Berkeley, e tantas outras (mesmo da britânica London School of Economics), alternam os seus períodos de docência com lugares de consultores e assessores da administração americana, fornecendo pareceres que incentivam, de acordo com os interesses dos banqueiros, à completa desregulação dos mercados, a fim de conduzir as empresas ao desastre e as famílias à miséria. Não sei se esses cavalheiros ensinam exactamente isso nas suas aulas, mas fica-nos a suspeição de que estabelecimentos de ensino considerados como dos mais prestigiados do mundo se possam ter transformado em centros de crime.

Muitos cidadãos foram encorajados a contrair empréstimos que não puderam satisfazer, tendo os seus bens sido depois adquiridos, por valores irrisórios, por aqueles que os tinham induzido a essas operações. E muitos outros aplicaram os seus fundos em investimentos inexistentes tendo, em consequência, ficado reduzidos à indigência total.

Contudo, como se afirma no filme, e é verdade, nenhum destes indivíduos, protagonistas de comportamentos infamantes, foi julgado ou condenado, ou sequer incriminado. Para nenhum destes "respeitáveis cidadãos" alguém pediu a cadeira eléctrica. E todos eles se precaveram materialmente, antes da falência das suas instituições, tendo arrecadado centenas de milhões de dólares. O patrão da Lehman Brothers possuía sete aviões particulares e um helicóptero, para só referir os seus meios aéreos. Todos estes cavalheiros obtiveram, no seu conjunto, e após o desmoronamento do fictício sistema que haviam criado, dezenas de biliões de dólares, uma parte dos quais serviu para subornar os funcionários do Estado, a todos os níveis, ou para negócios de droga e de prostituição.

O que é ainda mais grave em tudo isto é o facto de, tendo-se globalizado a economia, esta catástrofe americana se ter despejado sobre o resto do mundo, nomeadamente sobre a Europa, onde a Islândia foi a primeira vítima. Hoje, todo o planeta sofre e se lamenta da praga que veio da América, donde há duzentos anos vêm normalmente coisas más.

O filme Inside Job é um filme imprescindível e deve ser visto por todos os homens honestos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este filme, onde se denunciam as grandes negociatas de Wall Street, é um exemplo de como funciona a sociedade norte-americana