quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CASAS DE PROSTITUIÇÃO EM LISBOA ?


Em declarações aos jornalistas, segundo o PÚBLICO, António Costa terá rejeitado que a Câmara Municipal de Lisboa esteja a estudar a criação de um bordel na Mouraria, mas admitiu que lhe foi apresentada pela Obra Social das Irmãs Oblatas uma proposta para a instalação de uma safe house, onde as profissionais do sexo se poderiam dedicar a uma "prática segura" da sua actividade.

Porque vivemos em democracia, não devendo existir discriminação profissional entre homens e mulheres, é pertinente perguntar se a autorização para abrir uma ou mais casas dedicadas a esse ramo de negócio se restringirá apenas às prostitutas (femininas) ou se contemplará também os prostitutos (masculinos).

Na verdade, não basta apenas proclamar a igualdade entre os sexos, é preciso praticá-la.

PORTUGAL EM VARSÓVIA


O jogo Portugal-Polónia, que serviu para a inauguração do Estádio Nacional de Varsóvia, saldou-se por um empate a zero.

Segundo o PÚBLICO, distinguiram-se Cristiano Ronaldo e Nani, tendo Fábio Coentrão, segundo "A Bola", sido substituído, ao minuto 21, por Nélson Oliveira, que se estreou com a camisola da selecção principal, ele que já era internacional sub-20 e sub-21.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

VISITAS A JERUSALÉM


O ministro do Waqf (legados à esfera religiosa) e dos Assuntos Religiosos palestiniano, Mahmud Habbash, pediu ao erudito e teólogo islâmico Yussef Qaradawi (um dos mais conhecidos pregadores muçulmanos, presença habitual da televisão Al-Jazira) para levantar a fatwa proclamada por aquele clérigo proibindo os não-palestinianos (muçulmanos ou não) de visitar Jerusalém enquanto a cidade estiver em poder de Israel.

Conforme se lê aqui, a fatwa contradiz os preceitos islâmicos e só favorece Israel.

Pela sua importância, transcrevemos o texto:

 Official Calls to Overturn Fatwa on Visiting Jerusalem


 
Date : 28/2/2012   Time : 10:57
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 RAMALLAH, February 28, 2012 (WAFA) - Minister of Waqf and Religious Affairs Mahmoud Habbash Tuesday called on the Islamic scholar and theologian Yusuf Qaradawi to overturn a religious ruling (fatwa) he had earlier issued prohibiting non-Palestinians from visiting Jerusalem as long as it is occupied by Israel.
Habbash stressed in a statement that Qaradawi’s fatwa contradicts Islamic teachings and provides a free service to the Israeli occupation that aims to isolate Jerusalem from its Arab and Islamic surroundings.
Qaradawi issued a fatwa prohibiting non-Palestinians, whether they were Muslims or not, from visiting Jerusalem while it is occupied under the pretext it is “a form of normalization of relations with Israel.”
Habbash's call came after President Mahmoud Abbas had urged at the Doha conference on Jerusalem, which ended Monday, Muslims and Christians everywhere to visit Jerusalem in order to see for themselves the Israeli violations in the holy city and to affirm its Arab Muslim and Christian heritage and ties.
Habbash stressed that the visits to Jerusalem will defy Israeli policies in the occupied city and show support for its Palestinian residents.

NANI EM VARSÓVIA


A chegada de Nani a Varsóvia, para disputar o jogo com a Polónia, gerou no aeroporto uma autêntica onda de euforia.

Segundo o jornal "A Bola", o jogador «foi autenticamente engolido por uma multidão de jovens, que tudo fizeram para ficar com uma recordação... Nani foi simpático e não se recusou ao desejo dos adeptos».

Os polacos não terão a mesma sorte com Cristiano Ronaldo, que acompanhado de Fábio Coentrão e de Pepe, viajará em avião privado desde Madrid para a capital polaca.

O CALCANHAR DE RONALDO


Cristiano Ronaldo marca em qualquer posição. Mas será o calcanhar de Ronaldo mais importante para a História do que o calcanhar de Aquiles?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O REFERENDO DA CONSTITUIÇÃO


Foi referendada anteontem a nova Constituição da Síria, que havia sido prometida pelo presidente Bashar Al-Assad.  Segundo a televisão síria votaram 57,4 % dos eleitores inscritos, tendo 89,4 % respondido "Sim". Apesar do clima de violência instalado no país, a percentagem de votantes é considerável, se comparada com as votações mais recentes em países ocidentais, como Portugal.

A nova Constituição abre o caminho ao multipartidarismo, terminando com o monopólio do poder pelo partido Baath, que se verificava desde o golpe de Estado de 1963, que levou á chefia do Estado o falecido pai de Bashar, Hafez Al-Assad. Segundo a nova carta, o presidente manterá o poder de nomear o primeiro-ministro e o governo e terá direito de veto em algumas matérias. O mandato presidencial continuará a ser de sete anos, renovável por uma vez, mas esta disposição só se aplicará a partir de 2014, data em que expira o actual mandato de Bashar. Assim, teoricamente, Bashar Al-Assad poderá manter-se no poder por mais 16 anos.

Este é o terceiro referendo desde que Bashar Al-Assad herdou o poder de seu pai. O primeiro teve lugar em 2000, quando foi instalado como presidente da República e o segundo em 2007, para a renovação do seu mandato. O primeiro registou 97,2 % de votos a favor e o segundo 97,6 %.

Entretanto, a União Europeia aprovou hoje um novo pacote de sanções contra a Síria, proibindo a realização de voos de carga no espaço europeu, impondo restrições às transacções de ouro e metais preciosos e incluindo mais sete pessoas numa "lista" que conta já 150 indivíduos e organizações que não podem pedir vistos para a Europa e cujos bens na Europa foram congelados.

Também hoje, o enviado especial das Nações Unidas para a mediação do conflito, o ex-secretário-geral da Organização, Kofi Annan, reuniu-se em Genebra com os ministros dos Negócios Estrangeiros iraniano, Ali Akbar Salehi, e francês, Alain Juppé.

Por outro lado, o Conselho Nacional Sírio fragmentou-se, tendo 20 dos seus membros decidido criar uma nova formação, o Grupo Patriótico Sírio.

Segundo o jornal "Le Monde", a China declarou não admitir as críticas de Washington sobre a Síria, a propósito das declarações hipócritas de Hillary Clinton em Tunis. Por seu turno, o Qatar, porta-voz dos interesses americanos nos países árabes, pediu à "comunidade internacional" para armar os insurrectos sírios e convidou os países árabes a encabeçar um movimento visando travar a efusão de sangue na Síria, proposta que teve o melhor acolhimento por parte da Arábia Saudita. Não se percebe bem como o armamento dos insurrectos travaria a efusão de sangue, quando está em acção o exército nacional sírio, onde se registaram certamente algumas deserções, ainda que não significativas. Esta proposta é tão extemporânea que não mereceu sequer o apoio dos Estados Unidos da América e da União Europeia.

Também o analista militar russo Alexandre Golts, em entrevista ao "Nouvel Observateur", nº 2468, declarou que Putin está convencido de que a "primavera árabe" é o fruto de uma conspiração ocidental, da qual ele poderia ser uma das próximas vítimas, o que, para além de muitas outras razões, determinaria o seu apoio firme ao regime de Damasco.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A AUSTERIDADE SEGUNDO KRUGMAN


O americano Paul Krugman (Prémio Nobel da Economia em 2008), professor da Universidade de Princeton e da London School of Economics, entre muitos e variados títulos, não é propriamente um perigoso esquerdista. Todavia, defende que a política de austeridade que está a ser aplicada na Zona Euro conduzirá a uma catástrofe como a Grande Depressão dos Anos Trinta. Considera os líderes europeus incapazes (para não dizer criminosos) e que a austeridade empurrará a Europa para uma recessão inevitável que terá consequências imprevisíveis.

Não sendo obviamente um entusiasta de Milton Friedmann e da Escola de Chicago, de que o improvável ministro das Finanças português, Vítor Gaspar, é um fiel missionário, Krugman debruça-se no seu blogue  sobre a crise europeia e tece oportunas considerações sobre os GIPSI,s (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália), apoiadas em gráficos.

Segundo informa o PÚBLICO, Paul Krugman, que se encontra de visita a Portugal, receberá amanhã o doutoramento honoris causa pela Universidade de Lisboa, pela Universidade Técnica de Lisboa e pela Universidade Nova de Lisboa. Aguardam-se as suas declarações sobre matéria que tanto nos interessa.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

OS "AMIGOS DA SÍRIA"

Hillary Clinton e Saud Al-Faisal, responsáveis dos Negócios Estrangeiros dos EUA e da Arábia Saudita

Os "amigos da Síria" reuniram-se hoje às 15 horas num hotel de Tunis, sob a forte contestação de centenas de tunisinos e sírios que foram dispersados pela polícia.

Representantes de cerca de 60 países, encabeçados pelos Estados Unidos, pela França, pelo Reino Unido e por alguns países da Liga Árabe, procuraram articular esforços para travar a violência no país, permitir o socorro às populações, e conseguir a saída de Bashar Al-Assad e a mudança de regime. Ao mesmo tempo aprovaram novas sanções contra Damasco e um embargo ao embarque de armamento, que não o destinado aos opositores do regime, que vem em grande parte da Turquia, da Jordânia, do Qatar e da Arábia Saudita, segundo as palavras do próprio ministro Saud Al-Faisal.

As Nações Unidas e a Liga Árabe designaram o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, como enviado especial à Síria a fim de procurar uma solução para o conflito. Da reunião saiu também uma declaração em que a Liga Árabe pede ao Conselho de Segurança uma resolução para o envio de uma força de paz conjunta dos países árabes e das Nações Unidas. A Arábia Saudita e o Qatar pretendem mesmo o envio de uma força militar para derrubar o regime de Assad.  O auto-intitulado Conselho Nacional Sírio, grupo que reúne as principais facções de oposição anti-regime, considerou insuficientes as medidas adoptadas na reunião.

A Rússia e a China estiveram, obviamente, ausentes deste meeting.

"A conferência vai transmitir uma mensagem clara da Liga Árabe para travar os crimes na Síria", disse na abertura da reunião o ministro dos Negócios Estrangeiros tunisino Rafik Abdessalem (que esteve há dias em Lisboa), conforme se lê aqui. Hillary Clinton afirmou que o regime sírio "pagará um preço forte se continuar a ignorar a voz da comunidade internacional e a violar os direitos do homem", preocupação que nunca se lhe notara antes relativamente a outras violações não interessantes para os Estados Unidos.

A situação na Síria pode resumir-se, grosso modo, em poucas palavras:

1) Havia na Síria uma parte minoritária da população descontente com o regime;
2) Entusiasmados com as revoluções da "Primavera Árabe", esses descontentes começaram a manifestar-se contra o dito regime;
3) O governo sírio procedeu a uma repressão desproporcionada dessas manifestações;
4) Os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e mais alguns países ocidentais e alguns países árabes, nomeadamente as monarquias do Golfo, começaram a apoiar e, mais perigosamente, a armar os insurrectos;
5) O plano americano é simples: derrubar o regime de Bashar Al-Assad, o último regime laico do mundo árabe, e instalar na Síria um governo pró-americano, que em conjunto com o governo iraquiano pós-Saddam Hussein facilite o ataque ao Irão;
6) A "comunidade internacional" precipitou-se na avaliação da contestação da população síria ao regime: muito mais de metade da população pretende a manutenção deste regime, mesmo os que não simpatizam especialmente com ele. Tendo ao lado o exemplo do Iraque, e existindo na Síria cerca de 20 confissões religiosas, é preferível manter Bashar do que ter uma guerra civil generalizada e o inevitável caos;
7) Como a violência gera violência, aumentaram as atrocidades de parte a parte, tendo-se entrado numa espiral que começa a tornar-se incontrolável, um desígnio também da "comunidade internacional" para justificar a intervenção armada das Nações Unidas;
8) A pretensão "ocidental" foi boicotada pelos vetos russo e chinês no Conselho de Segurança, pelo que Hillary Clinton inventou esta reunião em Tunis, para tentar arranjar uma intervenção da Liga Árabe ou de alguns países árabes com a mesma finalidade de derrubar o regime;
9) Esta reunião em Tunis invocou também o auxílio humanitário para conseguir penetrar abertamente no território sírio;
10) A Rússia e a China não se fizeram representar na conferência de Tunis, porque exigem que haja diálogo com ambas as partes (governo e oposição) e estão a rever os seus programas de armamento, para fazer face à ameaça americana, que pretende atingir não só o Irão (em primeiro lugar) mas também começar a cercar a Rússia e a própria China, pelo sul, com a conivência de algumas das repúblicas muçulmanas asiáticas da antiga União Soviética;
11) Verifica-se, agora, uma estranha aliança dos Estados Unidos com os regimes árabes fundamentalistas, como o caso da Tunísia, da "nova" Líbia e do enigmático Egipto (onde os partidos islâmicos dispõem de 70% dos lugares na recém-eleita Assembleia, mas em que o governo do país ainda depende das Forças Armadas). Das monarquias do Golfo e da Jordânia não se fala, pois sempre foram aliadas de Washington. A Turquia, que não é árabe, mas tem um regime islamista, passou de aliada a inimiga da Síria. Curiosamente, o Irão, uma república islâmica, é apoiante do regime sírio, et pour cause;
12) Não deixa também de ser interessante que os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais, que sob o estandarte de Bush decretaram que a Al-Qaeda e os regimes islâmicos representavam o Mal absoluto, se tenham tornado agora amigos e aliados dos mesmos (uma das forças que combate o regime de Damasco é exactamente a Al-Qaeda), dispensando o maior apoio aos governos fundamentalistas saídos das revoluções no mundo árabe.

Que mais surpresas nos reservará o futuro?

SOBRE A CORRUPÇÃO


Uma esclarecedora entrevista de Tiago Caiado Guerreiro sobre a corrupção:



Sem mais palavras.

AINDA A GRÉCIA


Pela sua pertinência, transcrevo o post de Pacheco Pereira, no blogue Abrupto, publicado hoje com o título "Dançar com os lobos (2) - Dançar com os gregos":


Dancem, dancem… que isto um dia acorda muito torto. Muito torto mesmo.

Os gregos vão ter mais um plano irrealista de “ajustamento”. Se fosse apenas um plano de “ajustamento”, vá que não vá. Mas é um plano irrealista, por isso é uma receita para o desastre, ou melhor, para a continuação do desastre. Obrigar os gregos a destruírem parte da sua economia que, mal ou bem ainda funciona, para baixar a dívida de 160% para 120,5% até 2020, é uma impossibilidade que pode atrair os partidários do “economês”, mas põe os cabelos no ar do cidadão “senso-comunês”. Diga-se de passagem, que nós não podemos falar muito porque vamos assinar um “pacto orçamental” com idênticas medidas irrealistas. 

Vão ter uma variante do gauleiter, ou seja, no eufemismo tecnocrático, vão ter uma “presença permanente" para os vigiar. São eles que vão governar a Grécia em nome dos credores, o povo grego passa a sujeito e súbdito. Há quem diga “é bem feito” porque andaram a viver à custa do que não tinham. Diga-se, mais uma vez, de passagem que o mesmo se diz de nós, lá fora e cá dentro. Mas quem diz que “é bem feito” devia ser declarado inimputável, porque não sabe o que diz e em que caldeirão de feitiços está a meter a colher. 

Vão ter que mudar a Constituição á força, o que é o supremo vexame para quem acha que as Constituições são mais do que um textozinho precário e que mexer nelas é intrinsecamente um elemento de soberania nacional. Nós também não podemos falar muito porque aceitámos o mesmo diktat. O objectivo é incluir na Constituição uma “regra da prioridade absoluta ao pagamento da dívida”, um absurdo constitucional, uma maneira de afixar na porta da Grécia que esta já teve a visita do cobrador de fraque e este obrigou-a, por escárnio, a anunciar isso numa tabuleta.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O PROCESSO CASA PIA


O Tribunal da Relação de Lisboa divulgou hoje o acórdão relativo ao recurso dos arguidos do Processo Casa Pia, que haviam sido condenados em 1ª instância. Determinou a Relação que relativamente aos crimes supostamente cometidos numa casa em Elvas o julgamento fosse repetido, alterando assim as penas cometidas aos réus nesse particular e mantendo as restantes penas.

O Processo Casa Pia constitui já um case study da justiça portuguesa. Iniciado em 2003, por iniciativa do procurador-geral da República Souto Moura, a partir da denúncia efectuada em  2002 por uma jornalista, tornou-se, durante anos, o leitmotiv da comunicação social portuguesa. Não acompanhei o caso desde o início, mas a partir de certa altura fui obrigado a inteirar-me do facto, aliás como a maioria dos portugueses, já que todos os dias, e isto durou anos, os noticiários das televisões e das rádios abriam com informações sobre o assunto, que enchia igualmente as primeiras páginas dos jornais. A intoxicação atingiu tal nível que o presidente da República, Jorge Sampaio, chamou a Belém os directores dos principais órgãos de comunicação social para recordar que havia no país outros assuntos a merecerem tanto ou mais relevo.

Não sei se as pessoas que foram condenadas são culpadas ou inocentes e também não conheço, naturalmente, os milhares de páginas do processo. Mas não posso deixar de estranhar o emaranhado de afirmações e contra-afirmações, de voltas e reviravoltas que o processo sofreu desde há oito anos.

Gente houve que suspeita ou mesmo acusada e presa acabou por ser ilibada antes do julgamento, por se ter concluído não existirem realmente provas ou serem falsas as inicialmente produzidas. Uma revista publicou na capa fotografias de personalidades que teriam sido mostradas, pelo Ministério Público, aos rapazes supostamente abusados para eles verificarem se reconheciam em algumas delas os seus abusadores. Entre essas fotografias contavam-se o ex-presidente da República, Mário Soares, o então presidente da Assembleia da República, Mota Amaral e o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo!

Há cerca de um ano, em entrevista televisiva a Judite de Sousa, o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, afirmou publicamente que este caso, e cito de cor, se destinara a decapitar a direcção da ala esquerda do Partido Socialista, leia-se, Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso. E, ainda há dias, Mário Soares escreveu que não acreditava na culpabilidade de Carlos Cruz. No programa televisivo "O Eixo do Mal" da semana passada, Clara Ferreira Alves considerou este processo como "kafkaiano" e manifestou a sua preocupação por viver num país em que era possível ter lugar um processo com as contradições de que este enferma, no que foi amplamente secundada, pelos outros intervenientes, Pedro Marques Lopes, Daniel Oliveira e Luís Pedro Nunes.

Não me recordo dos inúmeros episódios estranhos que tiveram lugar no decorrer destes anos. Mas cito, a título de exemplo, que nunca foi explicada a razão porque o advogado Daniel Proença de Carvalho, que inicialmente tinha aceite a defesa das "vítimas", se retirou rapidamente do processo sem explicações, invocando segredo profissional. O principal acusado, Carlos Silvino, disse já após a condenação, que mentira ao tribunal por pressão da polícia, como aqui se refere. Não me consta que se tenha averiguado a matéria. Uma testemunha-chave, como se aqui se escreve, desmentiu todas as acusações que anteriormente fizera. Nada aconteceu. E os exemplos poderiam multiplicar-se por centenas.

Para além das multidões, "ávidas de sangue" e incitadas por uma comunicação social que condenou os suspeitos na praça pública antes de qualquer decisão judicial, contribuindo largamente (a soldo de quem?) para o veredicto da 1ª instância, permanecem na consciência das pessoas mais avisadas as maiores dúvidas quanto ao desencadear deste processo e à culpabilidade dos acusados. Tinham os romanos, e é o Direito Romano a fonte da nossa Lei, uma máxima que aplicavam nos seus julgamentos: In dubio pro reo.

Com todas as dúvidas que subsistem, direi mais, que progressivamente se avolumam neste mega-processo, parece que os meritíssimos juízes que têm vindo a julgar o caso ignoraram o princípio de que vale mais absolver um criminoso do que condenar um inocente.

ZECA AFONSO


Completam-se hoje 25 anos sobre a morte de José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, que ficou conhecido entre os portugueses como Zeca Afonso. Cantor e compositor, distinguiu-se pelas canções de intervenção política antes (com as limitações que a censura impunha) e depois da Revolução de 1974 e foi um dos símbolos da resistência ao regime do Estado Novo.



Não pretendendo estabelecer uma biografia, aliás facilmente consultável, quero apenas registar a efeméride e lembrar que Zeca Afonso, ao longo da sua carreira, ainda que privilegiando o campo politico, nunca cedeu a facilitismos, tendo construído uma obra de elevado nível artístico.

Decorrido um quarto de século sobre o seu desaparecimento, constatamos, no período atribulado que vive hoje o país e o mundo,  que se sente a falta da sua voz.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ARENA



A primeira curta-metragem de João Salaviza.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

UMA NOVA ESQUERDA


Roubei a imagem ao post do blogue Classe Política que defende a criação de uma Nova Esquerda, e de que transcrevo o primeiro parágrafo:

Só uma Nova Esquerda poderá opor-se e combater o projecto social da Nova Direita que, num claro aproveitamento da crise, anseia implementar no país a todo o custo e com a maior celeridade; projecto social, recheado de “novas reformas estruturais”, todas elas de cariz anti-social - cortes sociais, venda do património do Estado, desregulação laboral e diminuição dos salários e pensões.

O autor analisa a situação dos países da União Europeia, em que não existe (por ora, digo eu) alternativa ao sistema capitalista neo-liberal e em que os partidos socialistas se renderam ao monoteísmo de mercado, esbatendo-se a diferença entre os partidos tradicionalmente chamados de direita e os partidos de esquerda (excluindo os comunistas e a esquerda-extrema).

É um facto que em Portugal poucas diferenças se notam entre a política prosseguida pelo PSD, que de social-democrata mais não tem que o nome, e a que praticou o Partido Socialista (que nem social-democrata chega a ser). Os seus programas são semelhantes e as políticas, além de nada terem a ver com os programas destes partidos e com as promessas pré-eleitorais que ambos fazem, estão hoje subordinadas aos diktats de uma União Europeia cuja "solidariedade" não passa de uma ficção. O exemplo da Grécia, agora novamente "salva" pelos empréstimos internacionais, que, nas condições em que são atribuídos, só adiam um fim anunciado, deverá ser objecto de meditação. Até para tentar evitar idêntico caminho para Portugal.

A "União Europeia" que se construiu sobre os escombros da Segunda Guerra Mundial, e que se tornou hegemonicamente capitalista após a queda do Muro de Berlim, impede hoje os povos de escolherem o sistema político que pretendem, não tanto pelo impossibilidade do voto como pela intoxicação da propaganda maciça a que os submete. A mirífica sociedade de consumo, com os seus "gadgets" que deslumbram especialmente uma juventude desprevenida, promete uns "amanhãs" de igualdade na riqueza para todos, enquanto vai perseguindo um só objectivo: a igualdade na pobreza para quase todos e a desigualdade na riqueza para alguns.

Creio, todavia, que as mentiras sistematicamente difundidas começam a despertar, mesmo nas consciências menos avisadas, um sentimento de desconfiança, que progressivamente se alargará, revelando o embuste a que têm sido submetidas. Esperemos que não seja tarde.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

AMEAÇA ÀS LIBERDADES NA TUNÍSIA


A detenção, a semana passada, de três jornalistas tunisinos, por "conduta imoral", responsáveis pela reprodução na primeira página do jornal Attounisia da fotografia da capa da revista masculina alemã GQ, mostrando o futebolista alemão (de origem tunisina) Sami Khedira, actualmente a jogar no Real Madrid, a abraçar a namorada nua, o modelo Lena Gercke, provocou uma onda de indignação no país.

Referi, num post do passado dia 8, que o ministro tunisino do Ensino Superior, Moncef Ben Salem, afirmara que o "Estatuto Pessoal" concedido pelo presidente Habib Bourguiba às mulheres tunisinas, atribuindo-lhes direitos quase idênticos aos dos homens, se devera ao facto de Bourguiba ser judeu e de ter tomado essa medida devido à pressão do então primeiro-ministro francês, Pierre Mendès-France, esse realmente judeu.

Também o ministro dos Direitos do Homem e porta-voz do Governo, Samir Dilou entrou nesta cruzada integrista e pseudo-moralista, considerando a homossexualidade uma perversão, que deverá ser objecto de tratamento médico e retirando a autorização de publicação à revista Gayday, que defende os direitos da comunidade LGBT., e que começou a publicar-se em Março último, após a queda de Ben Ali. Em entrevista a uma cadeia de televisão tunisina, em 4 deste mês, o ministro declarou que "se devem respeitar as linhas vermelhas fixadas pela nossa religião, a nossa herança e a nossa civilização".


Membro do partido islâmico Ennahda, Samir Dilou acusou ainda os antigos presidentes da República, Habib Bourguiba e Ben Ali, de fomentarem a homossexualidade na Tunísia, que é punida até três anos de prisão pelo artigo 230º do Código Penal tunisino.

Este mesmo ministro pretende também que a poligamia seja inscrita na nova Constituição da Tunísia, uma vez que é um dos princípios fundamentais do programa do partido Ennahda.

Entretanto começam a ser exercidas pressões sobre as mulheres para usarem o véu islâmico e são restringidos os poucos lugares públicos onde se pode beber bebidas alcoólicas no país. Elas são servidas nos hotéis turísticos e vendidas em pouquíssimos estabelecimentos e mesmo o consumo e venda nestes locais poderá ser proibido.

As declarações do primeiro-ministro Hammadi Jebali, no Fórum Económico Mundial de Davos, em Janeiro passado, parece não passarem de piedosas intenções para estrangeiro ouvir. Assim como as afirmações do ministro dos Negócios Estrangeiros Rafik Abdessalem (genro do líder do partido Ennahda, Rached Ghannouchi) em Lisboa, a semana passada, evocando a defesa das liberdades dos cidadãos, não convencerem a assistência presente na conferência que proferiu na Universidade Católica.

A Tunísia, desde a proclamação da independência em 1956 por Habib Bourguiba e durante o consulado de Ben Ali, sendo um país muçulmano foi também, de alguma forma, um estado laico, sem interferência do Poder na vida dos cidadãos, no que respeitava aos preceitos religiosos. A vitória do partido islâmico Ennahda nas eleições de 23 de Outubro passado deixou antever uma intromissão religiosa na governação, mas não tão rápida e profunda como está a verificar-se.

Sendo a Tunísia um destino turístico por excelência, a adopção das medidas já tomadas e das que se prevê sejam proximamente adoptadas não auguram  um futuro auspicioso para o país. O fluxo turístico, já hoje reduzido ao mínimo, corre o risco de se extinguir, com consequências fatais para a economia, neste momento extremamente debilitada. Tem sido o turismo, nos últimos anos, uma das mais importantes fontes de receita do país.

Também no Egipto, nas últimas eleições, a Irmandade Muçulmana e o partido salafista Al-Nur obtiveram cerca de 70% dos votos. Ignoro o que acontecerá a curto prazo no Egipto, embora admita que a Irmandade Muçulmana tenha algum cuidado na execução do seu programa. Todavia, a Tunísia não é o Egipto e as restrições religiosas que estão na ordem do dia poderão conduzir a uma de duas coisas: ou os tunisinos acabam por correr com o Ennahda como correram com Ben Ali ou o país transformar-se-á num estado fundamentalista, com as consequências que se podem adivinhar.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

UM URSO DE OURO


O cineasta português João Salaviza. que completa hoje 28 anos, foi distinguido com o Urso de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Berlim, na categoria de curtas-metragens, pelo seu filme Rafa.

Tendo-se estreado em 2006, com a curta-metragem Duas Pessoas, recebeu em 2009 a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, pela também curta-metragem Arena. É intenção de Salaviza que o seu próximo filme, no qual já se encontra a trabalhar, seja uma película de duração normal.

A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL


Michel Chossudovsky, economista canadiano, professor jubilado da Universidade de Otava e professor convidado de diversas universidades americanas, europeias e asiáticas e consultor de vários governos e organizações internacionais, director do Centre for Research on Globalization (CRG) e autor de obras como The Globalization on Poverty and The New World Order (2003), America's "War on Terrorism" (2005) ou Towards a World War III Scenario: The Dangers of Nuclear War (2011), concedeu no passado dia 14, ao jornal "i", a entrevista que, pela sua importância, lucidez e oportunidade, passamos a transcrever:


Diz no seu livro que a guerra com o Irão já começou e que os Estados Unidos estão apenas à espera de um rosto humano para lhe dar. Acredita que os objectivos políticos e geoestratégicos de Washington podem levar-nos a uma guerra nuclear com consequências para toda a humanidade?

Não quero fazer previsões e ir além do que aconteceu. Tudo o que posso dizer, e tenho vindo a dizê-lo de forma repetida, é que a preparação para a guerra está a um nível muito elevado. Se será levada a cabo ou não é outro patamar, e ainda não o podemos afirmar. Esperemos que não. Mas temos de considerar seriamente o facto de que este destacamento de tropas é o maior da história mundial. Estamos a assistir ao envio de forças navais, homens, sistemas de armamento de ponta, controlados através do comando estratégico norte-americano em Omaha, Nebrasca, e que envolve uma coordenação entre EUA, NATO e forças israelitas, além de outros aliados no golfo Pérsico (Arábia Saudita e estados do Golfo). Estas forças estão a postos. Isto não significa necessariamente que vamos entrar num cenário de terceira guerra mundial, mas os planos militares no Pentágono, nas bases da NATO, em Bruxelas e em Israel, estão a ser feitos. E temos de os levar muito a sério. Tudo pode acontecer, estamos numa encruzilhada muito perigosa e infelizmente a opinião pública está mal informada. Dão espaço a Hollywood, aos crimes e a todo o tipo de acontecimentos banais, mas, no que toca a este destacamento militar que poderá levar-nos a uma terceira guerra mundial, ninguém diz nada. Isso é um dos problemas, porque a opinião pública é muito importante para evitar esta guerra. E isso não está a acontecer, as pessoas não se estão a organizar para se oporem à guerra. Isto não é uma questão política, é um problema muito mais vasto, e tenho de dizer que os meios de comunicação ocidentais estão envolvidos em actos de camuflagem absolutamente criminosos. Só o facto de alinharem com a agenda militar, como estão a fazer na Síria, onde sabemos que os rebeldes são apoiados pela NATO, na Arábia Saudita e em Israel, e como fizeram na Líbia, é chocante do meu ponto de vista, porque as mentiras que se criam servem para justificar uma intervenção humanitária.
 
Em vez de uma guerra nuclear, não podemos assistir a um cenário semelhante à Guerra Fria, com os EUA, a União Europeia e Israel de um lado e a China, a Rússia e o Irão do outro?

Esse cenário já é visível. A NATO e os EUA militarizaram a sua fronteira com a Rússia e a Europa de Leste, com os chamados escudos de defesa anti-míssil – todos esses mísseis estão apontados a cidades russas. Obama sublinhou em declarações recentes que a China é uma ameaça no Pacífico – uma ameaça a quê? A China é um país que nunca saiu das suas fronteiras em 2 mil anos. E eu sei, porque ando a investigar este tema há muito tempo, que está a ser construída toda uma fortaleza militar à volta da China, no mar, na península da Coreia, e o país está cercado, pelo menos na sua fronteira a sul. Por isso a China não é a ameaça. Os EUA são a ameaça à segurança da China. E estamos numa situação de Guerra Fria. Devo mencionar, porque é importante para a UE, que, no limite, os EUA, no que toca à sua postura financeira, bancária, militar e petrolífera, também estão a ameaçar a UE. Estão por trás da desestabilização do sistema bancário europeu.
 
E a colocação de mais tropas em torno da China vai trazer mais tensão à região.

Quanto a isso não tenho dúvidas, porque os EUA estão a aumentar a sua presença militar no Pacífico, no oceano Índico e estão a tentar ter o apoio das Filipinas e de outros países no Sudeste Asiático, como o Japão, a Coreia, Singapura, a Malásia (que durante muitos anos esteve reticente a juntar-se a esta aliança). Portanto, Washington está a formar uma extensão da NATO na região da Ásia-Pacífico, direccionada contra a China. Não há dúvidas quanto a isto. E não se vence uma guerra contra a China. É um país com uma população de 1,4 mil milhões de pessoas, com um número significativo de forças, tanto convencionais como estratégicas. Por isso, com este confronto entre a NATO e os EUA, de um lado, e a China, do outro, estamos num cenário de terceira guerra mundial. E toda a gente vai perder esta guerra. Qualquer pessoa com um entendimento mínimo de planeamento militar sabe que este tipo de confronto entre super-potências – incluindo o Irão, que é uma potência regional no Médio Oriente, com uma população de 80 milhões de pessoas – poderá levar-nos a uma guerra nuclear. E digo isto porque os EUA e os seus aliados implementaram as chamadas armas nucleares tácticas – mudaram o nome das bombas e dizem que são inofensivas para os civis, o que é uma grande mentira.
 
Mentira porquê?

Está escrito em todos os documentos que a B61-11 [arma nuclear convencional] não faz mal às pessoas e planeiam usá-la. Tenho estado a examinar estes planos de guerra nos últimos oito anos, e posso garantir que estão prontos a ser usados e podem ser accionados sem uma ordem do presidente dos EUA. Olhe para o que eles designam “Nuclear Posture Review” de 2001, um relatório fulcral que integra as armas nucleares no arsenal convencional, sublinhando a distinção entre os diferentes tipos de armas e apresentando a noção daquilo que chamam “caixa de ferramentas”. E a caixa de ferramentas é uma colecção de armas variadas, que o comandante na região ou no terreno pode escolher, onde estão estas B61-11, que são consideradas armas convencionais. Se quiser posso fazer uma analogia, é a mesma coisa que dizer que fumar é bom para a saúde. As armas nucleares não são boas para a saúde, mudaram o rótulo e chamaram--lhes bombas humanitárias, mas têm uma capacidade destruidora seis vezes superior à de Hiroxima.
 
Mas a maior parte das pessoas não parece consciente da gravidade do cenário...

A ironia é que a terceira guerra mundial pode começar e ninguém estará sequer a par, porque não vai estar nas primeiras páginas. Na verdade, a guerra já começou no Irão. Têm forças especiais no terreno, instigaram todo este tipo de mecanismos para desestabilizar a economia iraniana através do congelamento de bens. Há uma guerra da moeda em curso – isto faz parte da agenda militar. Desestabilizando-se a moeda de um país desestabiliza-se a sua economia, bloqueiam-se as exportações de petróleo, e isto antecede a implementação de uma agenda militar. Se eles puderem evitar uma aventura militar contra o Irão e ocupar o país através de outros meios, fá-lo-ão. É isso que estão a tentar neste momento. Querem a mudança de regime, o colapso das petrolíferas, apropriar-se dos recursos do país, e têm capacidade para fazer isto tudo sem uma intervenção militar, embora alguma possa vir a ser necessária. Mas o Irão é considerado uma das maiores potências militares da região e basta olharmos para as análises da sua força aérea, a sua capacidade em mísseis, as suas forças convencionais que ultrapassam um milhão de homens (entre activo e reserva), o que permite que de um dia para o outro consiga mobilizar cerca de metade, ou até mais. Tendo em conta estes números, os EUA e os seus aliados não conseguem vencer uma guerra convencional contra o Irão, daí a razão pela qual estão a tentar fazer a guerra com outros meios, e um desses meios é o pretexto das armas nucleares.
 
Acha que o Ocidente pode lançar um ataque preventivo contra o Irão mesmo sem provas?

Claro que sim! Olhe para a história dos pretextos para lançar guerras. Olhe para trás, para todas as guerras que os EUA começaram, a partir do século xix. O que fazem sistematicamente é criar aquilo que chamamos incidente provocado para começar a guerra. Um incidente que lhes permite justificar o início de um conflito por motivos humanitários. Isto é muito óbvio. Em Pearl Harbor, por exemplo, sabe-se que foi uma provocação, porque os EUA sabiam que iam ser atacados e deixaram que tal acontecesse. O mesmo se passou com o incidente no golfo de Tonkin, que levou à guerra do Vietname. E agora são vários os pretextos que emergem contra o Irão: as alegadas armas nucleares são um, outro é o alegado papel nos atentados 11 de Setembro, pois desde o primeiro dia que acusam o país de apoiar os ataques, a afirmação mais absurda que podem fazer, pois não existem quaisquer provas. Mas os media agarram nestas coisas e dizem “sim, claro”.
 
Pode explicar às pessoas de uma forma simples a relação entre guerra contra o terrorismo e batalha pelo petróleo?

A guerra contra o terrorismo é uma farsa, é uma forma de demonizar os muçulmanos e é também a criação, através de operações em segredo dos serviços secretos, de brigadas islâmicas, controladas pelos EUA. Sabemos disso! Estas forças, ligadas à Al-Qaeda, são uma criação da CIA de 1979. Por isso a guerra contra o terrorismo é apenas um pretexto e uma justificação para lançar uma guerra de conquista. É uma tentativa de convencer as pessoas de que os muçulmanos são uma ameaça e de que estão a protegê-las e para isso têm de invadir países perigosos, como o Irão, o Iraque, a Síria e a Coreia do Norte, que perdeu 25% da sua população durante a Guerra da Coreia, mas, no entanto, continua a ser tida como uma ameaça para Washington. É absurdo! Os americanos são um pouco como a inquisição espanhola. Aliás, piores! O que mais me choca é que os EUA conseguem virar a realidade ao contrário, sabendo que são mentiras e mesmo assim acreditando nelas. A guerra contra o terrorismo é uma mentira enorme, mas todas as pessoas acreditam e o mesmo se passava com a inquisição espanhola – ninguém a questionava. As pessoas conformam-se com consensos e quem assume a posição de que isto não passa de um conjunto de mentiras é considerado alguém em quem não se pode confiar e provavelmente perderá o emprego. Por isso esta guerra é contra a verdade, muito mais séria que a agenda militar. Contra a consciência das pessoas – parece que ninguém está autorizado a pensar. E depois vêm dizer-nos “Ah, mas as armas nucleares são seguras para os civis”. E as pessoas acreditam.
 
Será Israel capaz de atacar Irão sem o apoio dos EUA?

Não. Eles podem enviar as suas forças, por exemplo para o Líbano, mas o seu sistema está integrado no dos EUA e, como o Irão tem mísseis, têm de estar coordenados com Washington. É uma impossibilidade em termos militares. Em 2008, o sistema de defesa aérea de Israel foi integrado no dos EUA. Estamos a falar de estruturas de comando integradas. Quer dizer, Israel pode lançar uma pequena guerra contra o Hezbollah ou até contra a Síria, mas contra o Irão terá de ser com a intervenção do Pentágono. Embora tendo uma fatia significativa de militares, Israel tem uma população de 7 milhões de pessoas e não tem capacidade para lançar uma grande ofensiva contra o Irão.


Os mais recentes desenvolvimentos verificados na cena internacional só confirmam as previsões de Chossudovsky.  Há motivos para recear o pior.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

NAVIOS IRANIANOS NO MEDITERRÂNEO


Navios de guerra iranianos entraram hoje no Mediterrâneo, depois de atravessarem o Canal de Suez, informou o almirante Habibullah Sayyari, comandante da Marinha iraniana, não tendo indicado nem o número nem o tipo de unidades que integram esta operação, a primeira deslocação de navios da armada iraniana para o Mediterrâneo desde a Revolução de 1979.

A única mensagem de Sayyari foi que a frota leva uma mensagem de paz e amizade aos países da região.

A causa próxima desta expedição pode encontra-se no agravamento da situação na Síria, um país aliado de Teerão, e que foi visitado nos últimos dias pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros e pelo vice-ministro chinês da mesma pasta.

Os Estados Unidos e Israel, bem como a França e o Reino Unido têm demonstrado um progressivo apoio aos opositores do regime de Bachar Al-Assad, e mesmo depois do veto sino-russo no Conselho de Segurança a uma Resolução ocidental condenando a Síria, encorajaram a aprovação de uma resolução idêntica na Assembleia Geral das Nações Unidas, embora esta sem quaisquer efeitos práticos, constituindo embora um suporte moral aos revoltosos.

Deverá acrescentar-se que o clima de degradação na Síria se tem agravado nos últimos dias, devido à subida exponencial do  número de mortos, na medida em que todas as famílias que perderam um ente nos confrontos se empenharão em vingar a sua morte. Creio que o governo sírio não geriu devidamente a situação, aquando do início da insurreição no país, quando dispunha já de elementos relativos às revoluções no mundo árabe. Creio igualmente que a queda do regime provocará o caos, criando uma situação idêntica à que se viveu (e ainda se vive) no Iraque, após o derrube de Saddam Hussein, mesmo que não se verifique uma invasão militar da NATO, facto que não julgo provável, devido à oposição da Rússia e da China.

Parafraseando os sinistros neoconservadores americanos, que afirmaram, justificando a invasão do Iraque,  que o caminho para Jerusalém passava por Baghdad, estou convencido que o caminho para Teerão não passará por Damasco, a menos que se pretende envolver o Médio Oriente (e há quem pretenda) numa guerra de proporções inimagináveis, e desencadear uma terceira e apocalíptica guerra mundial.

A CONSPIRAÇÃO PARA MATAR O PAPA


Nas últimas semanas tem-se verificado um certo mal-estar no Vaticano. No final do mês passado foram divulgadas duas cartas do núncio apostólico nos Estados Unidos, arcebispo Carlo Maria Vigarò, em que este prelado, que foi governador da Cidade do Vaticano, se queixava ao Papa e ao cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, de existir corrupção ao mais alto nível no Estado Pontifício, subentendendo-se que o próprio Bertone seria um dos corrompidos.

A divulgação das missivas criou grande preocupação no Vaticano, já que Vigarò, um homem de grande prestígio, fora, enquanto governador da Cidade,  um dos responsáveis pelo saneamento das finanças da Santa Sé.

A estas notícias, segundo o PÚBLICO, acresce a revelação feita pelo cardeal colombiano Castrillón Hoyos, que exerceu os mais elevados lugares na Cúria Romana, de uma inconfidência feita a empresários italianos pelo cardeal Paolo Romeo, arcebispo de Palermo, de que existiria uma conspiração para matar o Papa até final deste ano.

O porta-voz do Vaticano classificou essas afirmações como "delirantes", mas tendo em conta a estranha morte, nunca devidamente esclarecida, de João Paulo I, que, devido às normas da Igreja não foi autopsiado, tais notícias não serão tão inverosimilhantes como à primeira vista poderão parecer.

Há um "mau clima" na Santa Sé, disse numa entrevista ao Corriere dela Sera o cardeal alemão Walter Kasper, que foi presidente do Conselho Pontifício para  a Promoção da Unidade Cristã. Sendo um facto que Bento XVI é um intelectual respeitado, independentemente de algumas atitudes polémicas que tem assumido, também é verdade que se tem distanciado do governo quotidiano da Igreja, permitindo a Bertone, figura muito contestada, um protagonismo que excede largamente as suas competências, e que chega a comprometer a posição da Igreja Católica.

Esperar para ver o que acontece.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

OLYMPIA

Nike (Vitória), de Paionios,séc. V AC



Esta madrugada, o Museu de Olympia, na Grécia, foi atacado por dois homens encapuçados e armados de kalachnikovs, que imobilizaram o guarda e desligaram o sistema de alarme. Procuravam objectos de ouro, que, ao que parece, não lograram encontrar, tendo roubado estatuetas de bronze, várias peças de cerâmica e um anel de ouro, pertencentes às colecções da História dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, num total que se presume de cerca de 70 objectos.

Hermes, de Praxíteles, séc. IV AC

Olímpia, cidade onde se realizavam os famosos Jogos Olímpicos na Antiga Grécia, é uma das mais emblemáticas cidades da civilização helénica e um local arqueológico de inestimável valor. No seu Museu (bem como no Museu Arqueológico de Atenas e no Museu de Delfos), encontram-se algumas das mais célebres preciosidades da Antiguidade Clássica, entre as quais o Hermes, de Praxíteles, uma das mais admiráveis estátuas de todos os tempos.

Em consequência deste funesto evento o ministro da Cultura grego, Pavlos Geroulanos, apresentou a demissão. A polícia montou uma operação especial para tentar apanhar os dois ladrões e tentar recuperar os objectos roubados. Já em Janeiro, foram roubados dois quadros de grande valor do Museu Nacional de Atenas, um de Picasso e outro de Mondrian. A situação económica e financeira da Grécia cria um ambiente propício a actos desta natureza, até porque a segurança, devido às restrições orçamentais, se encontra diminuída. Em Maio do ano passado, no Museu Arqueológico de Atenas, perguntando a uma vigilante a razão porque se encontravam fechadas várias salas, algumas contendo importantes obras, foi-me respondido que a razão era a falta de pessoal. Acrescentou a senhora em questão que já não recebia o seu salário há oito meses.

Algumas das obras que constituem o acervo dos museus gregos não são roubáveis, dado o seu grande porte, como as estátuas monumentais de deuses e sábios; outras, se roubadas, dificilmente poderão ser transaccionadas no mercado, dado serem peças conhecidas em todo o mundo. Mas há sempre algum coleccionador multimilionário que gostaria de possuir uma obra rara, nem que fosse para a manter num cofre forte.

UM MANIFESTO


A exemplo do que se está a verificar em vários países da Europa, um grupo de cidadãos portugueses lançou um Manifesto de solidariedade com o povo grego.

Segue o texto e os subscritores:

Todos os dias nos chegam imagens e notícias da Grécia e do povo grego em luta contra o cortejo de sacrifícios que lhe tem sido imposto. É clara, naquele país, a crescente fractura entre os cidadãos e o poder político, em torno da invocada necessidade de cada vez maiores sacrifícios para que a dívida seja paga e o défice orçamental reduzido. Acentuam-se a tensão e a violência, tornando ainda mais difícil o diálogo indispensável à procura de soluções mais justas e partilhadas para a situação existente.
Avolumam-se o isolamento e a discriminação da Grécia, fortemente acentuados pelo discurso dominante dos principais dirigentes europeus e da comunicação social.
A preocupação doméstica em sublinhar que “não somos a Grécia” é, no mínimo, chocante no seio da União Europeia, onde mais se esperaria compreensão e solidariedade e, sobretudo, desajustada quando se sabe que a crise não é só grega mas europeia.
Face à agudização das tensões políticas e sociais na Grécia, os signatários apelam à solidariedade com o povo grego e à criação de condições que permitam respostas democráticas e consistentes de uma Europa solidária aos problemas sociais e aos direitos das pessoas.

(assinaturas:)
Mário Soares
Mário Ruivo
Alfredo Caldeira
Ana Gomes
Ana Lúcia Amaral
Anselmo Borges
António de Almeida Santos
António Reis
Boaventura Sousa Santos
Diana Andringa
Eduardo Lourenço
Isabel Allegro
Isabel Moreira
D. Januário Torgal Ferreira
José Barata Moura
José Castro Caldas
José Manuel Pureza
José Manuel Tengarrinha
José Mattoso
José Medeiros Ferreira
José Reis
José Soeiro
Manuel Carvalho da Silva
Maria de Jesus Barroso Soares
Maria Eduarda Gonçalves
Paula Gil
Pedro Delgado Alves
Rui Tavares
Sandra Monteiro
Simonetta Luz Afonso
Vasco Lourenço
Vítor Ramalho

Um grupo de estudantes gregos que se encontram em Lisboa promove, dia 20, segunda-feira, às 18 horas, no Largo de São Domingos,  uma manifestação contra o isolamento e a discriminação da Grécia.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A NOVA TUNÍSIA (II)


Escrevi aqui sobre a nova Tunísia, aquando das primeiras eleições livres no país, em 23 de Outubro de 2011.

O meu amigo, o escritor francês Christian Giudicelli, que é um amante da Tunísia, esteve no país, aonde se desloca frequentemente (como eu) desde há duas décadas, em Junho do ano passado. Já autor de um livro sobre a Tunísia, Fragments tunisiens (1998), que se destaca na sua vasta obra, publicou agora Tunisie, saison nouvelle, onde relata vários aspectos e episódios da Tunísia e dos tunisinos pós-Revolução.

Nesta sua mais recente obra, Christian Giudicelli refere o novo clima de liberdade que se respira no país e a esperança que uma parte da população alimenta quanto ao futuro, mas não esquece as preocupações de muitos tunisinos, especialmente dos mais jovens, relativamente à vitória eleitoral do partido islâmico Ennahda, e ao receio que a nova maioria possa ser tentada a impor, em nome da religião (as religiões, todas elas, sempre serviram, ao longo da história, para restringir as liberdades individuais)  determinadas restrições a uma certa liberdade de costumes que, apesar do seu carácter ditatorial, reinava no tempo de Ben Ali.

 Tem-se esforçado o novo regime tunisino por afastar tais receios e, ainda ontem, ouvindo em Lisboa o ministro dos Negócios Estrangeiros da Tunísia, Rafik Abdessalem (aliás genro de Rached Ghannouchi, o líder do partido Ennahda), em conferência na Universidade Católica, pude escutar a sua opinião quanto ao facto de o islão ser perfeitamente compatível com a democracia, do novo Governo não pretender impor restrições às liberdades cívicas e de considerar um erro os exemplos da Turquia kemalista e do Irão actual, em que se pretendeu, no primeiro, a laicização forçada do povo, e no segundo (vigente), a islamização forçada desse povo. Esperamos e desejamos que as declarações de Abdessalem não sejam apenas palavras para tranquilizar o mundo ocidental e que, na prática, não surjam medidas (ou mesmo só pressões) para condicionar comportamentos que eram considerados como adquiridos desde os tempos de Burguiba (o pai fundador) e que Ben Ali obviamente mantivera.

A situação na Tunísia é incomparavelmente mais calma do que as que se verificam no Egipto e na Líbia, após a queda dos respectivos regimes. Mas a nível económico e social está a verificar-se uma progressiva degradação, decorrente de muitos factores, um dos quais a queda abrupta do turismo, uma das principais fontes de receita do país, já que a Tunísia, nos últimos anos, graças á amenidade do seu clima, às suas paisagens, praias, monumentos históricos e, especialmente, ao caloroso acolhimento dos seus habitantes, se tinha tornado, pelo menos para europeus, um dos principais destinos de vilegiatura. É imperioso que a confiança seja restabelecida, que não se verifique uma regressão nos costumes, que não se proíba a venda de bebidas alcoólicas (mesmo que restringida a certos estabelecimentos), que não se obriguem as mulheres a usar véu e que as mesmas usufruam (como quase acontecia antes) dos mesmos direitos dos homens. Eu sei que isto é incompatível com a sharia, mas julgo que não foi para estarem submetidos á lei islâmica, quando existe uma lei civil (ainda que enformada por princípios islâmicos) que os tunisinos fizeram a revolução.

Regressando ao livro de Giudicelli, que dá conta, em larga medida (nas conversas que transcreve com tunisinos de todas as idades e classes sociais), de todas estas preocupações, importa referir que o autor faz uma revisitação de várias cidades, em especial Bizerta, onde costuma ficar alojado, procura encontrar amigos de visitas anteriores, tendo ficado impressionado ao saber que um dos seus interlocutores favoritos morreu no mar, ao tentar atravessar o Mediterrâneo, no período pós-revolução. Nesse aspecto, considero-me privilegiado, já que os meus amigos tunisinos mais próximos, que também procuraram alcançar a Europa, que sempre fora o seu sonho, se encontram sãos e salvos em Paris.

Não cabe neste post relatar o conteúdo de Tunisie, une saison nouvelle, livro que vivamente se aconselha a todos quantos pretendam adquirir uma visão desta nova Tunísia, caído que foi o regime de Ben Ali, um país que vive ainda um período de transição, enquanto os deputados redigem uma nova Constituição e se aguardam eleições gerais para os órgãos de soberania que substituam os actuais, que exercem provisoriamente as suas funções.

Faço os melhores votos para que a Tunísia, um dos mais belos países do mundo, encontre os equilíbrios indispensáveis ao seu desenvolvimento, que se promova uma justiça social muito descurada durante a ditadura, que se recupere rapidamente a actividade turística, que se diminua a elevada taxa de desemprego, que a educação no país continue a ser uma prioridade, e, na parte que me toca (enquanto estrangeiro) que continue a ouvir da boca dos tunisinos "Marhaba" ou "Soyez le bienvenu".

A LÍBIA, OUTRA VEZ


Finalmente, os jornais portugueses voltam a falar da Líbia, e pelas piores razões. Relata hoje o PÚBLICO que, como se esperava, se registam na Líbia, com a toda a impunidade, as mais graves violações dos direitos humanos. Existem cerca de 300 milícias, que integram pelo menos 125 mil homens armados, e que espalham o terror em todo o país. Era expectável. Só não sabemos ainda se tudo isto foi premeditado pelos países da NATO para provocar o caos absoluto ou se ficou a dever-se a uma incompetência e gritante falta de visão por parte dos políticos ocidentais. O escritor francês Bernard-Henry Lévy, um dos grandes entusiastas da revolução contra Qaddafi (que era um criminoso excêntrico, mas mantinha alguma ordem no país) bem pode limpar as mãos à parede.

Não existe um exército nacional e o Conselho Nacional de Transição, que deveria assegurar os negócios do Estado até às eleições de Junho, não tem meios para se fazer obedecer, pois grande parte destas milícias são rivais e atacam-se umas às outras, recusando depor as armas.

Como já escrevemos neste blogue, hoje fala-se apenas da Síria (assunto mais interessante para os dirigentes ocidentais), enquanto a Líbia se encontra já mergulhada numa guerra civil, embora de contornos diferentes. Sucedem-se as pilhagens, as vinganças, os atentados, as execuções sumárias, a destruição de aldeias inteiras cujos habitantes (os que não foram chacinados) viram as suas casas destruídas e vivem agora em campos de refugiados.

A Primavera Árabe começa a ser toldada por nuvens invernosas e a procissão ainda vai no adro. O que (n)os espera é um filme de terror.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O PRIMEIRO CHOQUE DAS CIVILIZAÇÕES


Excelente entrevista de Gilles Anquetil a Serge Gruzinski, no Nouvel Observateur nº 2466

Le premier choc des civilisations

Le XVIe siècle est le temps de la première mondialisation, d'Asie en Amérique. L'historien Serge Gruzinski nous explique la rencontre de ces mondes, indispensable pour comprendre «l'invention de l'Occident» et la globalisation d'aujourd'hui.

Le Nouvel Observateur Votre nouveau livre, «l'Aigle et le Dragon», est le récit de la première mondialisation au XVIe siècle par les Ibériques, c'est-à-dire les Espagnols et les Portugais, qui pour la première fois se déploient à l'est comme à l'ouest sur la scène planétaire, en Asie et en Amérique. Est-ce vraiment la première mondialisation?

Serge Gruzinski Il ne faut pas oublier la première mondialisation, certes incomplète, musulmane. Quand l'ambassadeur portugais Tomé Pires arrive à Canton en 1520, il y découvre de grandes mosquées. L'Islam, par les marchands et les routes de la soie, avait depuis longtemps pénétré la Chine. En tant qu'historien je me suis toujours demandé si l'antagonisme entre l'Occident et l'Islam ne vient pas de ce moment-là, quand les musulmans du XVIe siècle, pionniers de la mondialisation, ont eu le sentiment d'avoir été dépossédés. Eux qui étaient partout, en Afrique, en Asie centrale et en Chine, n'ont pu résister à la grande offensive ibérico-chrétienne.
Les musulmans ont été désespérés de n'avoir pas découvert l'Amérique. Il est vrai que ni le Coran ni la science arabe n'en ont jamais rien dit. De plus, très vite le Nouveau Monde allait être totalement christianisé et échapper à toute influence musulmane pendant des siècles. C'est donc au début du XVIe siècle que les Européens catholiques vont damer le pion du monde musulman et intervenir aux quatre coins de la planète.

Comment le désenclavement de la planète par les Ibériques, grâce à la révolution maritime de Magellan puis la découverte de l'Amérique, s'est-il transformé en première mondialisation?

Ce sont certes les voies maritimes découvertes par Vasco de Gama et Magellan et les grands bateaux construits à Séville ou à Lisbonne qui ont permis cette première expansion planétaire. Mais cela n'explique pas tout. Quand les Espagnols envoient Magellan vers l'inconnu, cela veut dire qu'il y a des financiers européens qui ont l'audace folle d'investir des sommes gigantesques à l'autre bout du globe pour des profits très hypothétiques. Et cela s'est répété sans arrêt au cours du XVIe siècle.
C'est vrai, il fallait des bateaux, mais avant tout des capitaux. A Séville, on rêvait des épices des Moluques! Ce premier désenclavement planétaire est d'ordre financier. Il eut pour origine un pari et une prise de risque maximale motivés par une soif de richesses. Mais cette audace n'était pas seulement liée à la cupidité ou au désir prédateur, elle était aussi d'ordre religieux. Il y avait une double démarche. Celle de faire main basse sur le «pétrole» de l'époque, c'est-à-dire les épices - recherchées autant pour la conservation alimentaire, le goût, voire la pharmacopée -, mais aussi de réaliser, grâce aux conquêtes, le rêve inouï de l'établissement d'une monarchie chrétienne universelle.
En Europe s'élaborent à cette époque une «conscience-monde» et le projet de christianiser la planète entière. Les Ibériques ont pour rêve de prendre en charge religieusement toute l'humanité, de la sauver, de la civiliser, de l'inscrire dans leur histoire et, au passage, de la faire travailler au service du monarque universel, à savoir Charles Quint. Marchands, soldats, marins et missionnaires marchent ensemble. Les théologiens disent: il n'y a qu'une seule humanité. Les hommes doivent donc tous commercer les uns avec les autres. Il n'y a aucune limite possible au commerce mondial. Les Ibériques se battaient donc pour la double liberté planétaire de circulation et de prédication. C'est l'idée très moderne que l'homme européen a le droit de circuler, de commercer et de prêcher la foi chrétienne partout.

Dès 1517, via l'ambassade de Tomé Pires, les Portugais envisagent très sérieusement de conquérir la Chine. Ce fut un fiasco et la guerre de Chine n'aura pas lieu...

C'est vrai, la Chine a été à cette époque la cible des Portugais avec un réel désir de conquête. Pour mille raisons, que j'explique dans mon livre, cela n'a pas marché. Mais il est fascinant de constater - et c'est tout l'intérêt de l'histoire «simultanée» ou «globale» que je tente de faire - que dans le même siècle les Ibériques ratent la Chine qu'ils ont fortement convoitée et réussissent l'Amérique, alors que Hernán Cortés n'avait aucun mandat de Charles Quint pour conquérir le Mexique et a agi de sa propre initiative, en rebelle! D'un côté, un projet de conquête programmé qui a échoué, de l'autre, un non-projet qui, par accident et grâce à l'audace de Cortés, fut une réussite totale, puisque tout le Nouveau Monde fut colonisé et christianisé.
Une des réponses de cette double histoire, c'est que les Chinois n'éprouvaient aucun intérêt ni attirance pour l'étranger, qu'il soit européen ou mongol, qui était considéré par définition comme un barbare devant impérativement faire allégeance à l'Empire céleste. Par l'intermédiaire de leur bureaucratie tentaculaire et xénophobe, les Chinois se sont constitués de formidables défenses immunitaires contre les Portugais.
En revanche, l'empereur aztèque Moctezuma est tombé dans le piège de sa curiosité envers l'«autre» castillan, le conquistador, arrivé par bateau de nulle part. Moctezuma a accordé une place à l'étranger et cela lui fut fatal. Dans la conquête du Mexique par Cortés, ce ne furent pas les chevaux, les canons et quelques milliers d'hommes qui vinrent à bout d'un Empire, certes divisé, de 20 millions d'Amérindiens, mais bien l'ouverture à l'autre, à l'étranger, ange ou démon peu importe, de la part de l'empereur mexicain. A tous les sens du mot, les Mexicains n'avaient aucune défense immunitaire contre l'envahisseur inattendu, alors que les Chinois, portés par leur sentiment de supériorité et d'indifférence à l'endroit de l'autre, avaient développé depuis des millénaires des défenses très efficaces, puisqu'ils ne furent jamais colonisés.
Dépourvus d'empire cuirassé et d'armure bactériologique, les Mexicains ne parviendront jamais à se débarrasser de leurs «visiteurs». Les Ibériques permirent ainsi à deux mondes qui s'ignoraient, le chinois et le mexicain, d'être connectés. Ironie de l'histoire, au XVIIIe siècle, c'est l'argent extrait du Nouveau Monde vendu par les Espagnols contre de coûteuses marchandises asiatiques qui assura le formidable développement de la Chine.

Le sous-titre de votre livre est «Démesure européenne et mondialisation au XVIe siècle». Quelle est l'explication de cette démesure qui a permis de relier les quatre parties du monde entre elles?

L'historien ne peut pas tout expliquer. La Shoah ne s'explique pas. La démesure européenne de cette époque, justifiée au nom de Dieu, et la frénésie de conquête ont bien sûr quelque chose de monstrueux. Cette démesure a provoqué la destruction des civilisations amérindiennes, puis la traite de masse des esclaves d'un continent à l'autre. Le bilan est effroyable.
Ce sont de vieux archaïsmes religieux et culturels - le messianisme, l'eschatologie, le millénarisme... - bref, ces anciens schémas bibliques ou médiévaux qui ont forgé le projet ibérique de se projeter dans le monde pour que Charles Quint devienne l'empereur chrétien universel. Le philosophe Peter Sloterdijk a écrit fort justement à propos du XVIe siècle: «Les temps modernes sont l'ère du monstrueux créé par l'homme.» Oui, au XVIe siècle, cette démesure est bien européenne: ce sont les Ibériques qui visitent l'Amérique et la Chine, jamais le contraire.

Autre surprise de l'histoire: Colomb, Magellan et Cortés croient découvrir l'Asie mais vont sans le savoir inventer l'Occident...

C'est pourquoi les Espagnols nommeront très longtemps le Nouveau Monde les Indes occidentales, qu'ils considéraient comme l'avant-poste, grâce à l'océan Pacifique, des Indes orientales. Aujourd'hui encore les indigènes du continent, de la Patagonie au Canada, sont pour nous des Indiens. L'Amérique a commencé par être un accident et un obstacle dans la course des Espagnols vers l'Orient. L'Amérique progressivement dérivera vers l'est et nouera des liens privilégiés avec le Vieux Monde européen.
L'ensemble donnera naissance à l'Occident, concept que seule une histoire globale peut valablement expliquer. L'invention de l'Occident est en effet indissociable de l'échec ibérique face à la Chine. C'est la résistance de la Chine qui a délimité les contours de l'Occident.

Propos recueillis par Gilles Anquetil

Source: "le Nouvel Observateur" du 9 février 2012.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

TURCOS (?) GANHAM EM BRAGA


O clube turco Besiktas, de Istambul, ganhou hoje o jogo com o Sporting de Braga, por 2-0, ficando muito bem colocado para se qualificar para os oitavos-de-final da Liga Europa.


O mais curioso é que os autores dos golos turcos foram o português Simão Sabrosa e o checo Tomás Sivok, dois jogadores de créditos bem firmados nos seus países, cujas selecções nacionais integraram por diversas vezes.

FACEBOOK: PIOR DO QUE O BIG BROTHER


A rede social Facebook, criada pelo jovem judeu americano Mark Zuckerberg, que contava, em Dezembro de 2011, com 845 milhões de pessoas inscritas, assemelha-se cada vez mais a um filme de terror.

Criada por Mark, conjuntamente com alguns colegas universitários, em 2004, a empresa passou a ser cotada em bolsa este ano e está avaliada em 100 mil milhões de dólares.

Em artigo publicado no Nouvel Observateur desta semana (nº 2466- 9 a 15 de Fevereiro 2012), Philippe Boulet-Gercourt descreve o panorama do valor das informações pessoais contidas no Facebook, com utilidade para fins particulares, económicos, políticos ou até militares, o que atribui à rede  uma inestimável valia. Não é possível, por não constar da Net, nem transcrever esse artigo, nem sequer indicar o link que, pelo menos por ora, não existe. Mas sabemos todos como o Facebook tem sido utilizado na mobilização dos indivíduos nas recentes revoltas no mundo árabe e como a intelligentsia americana, a israelita, e as outras, armazenam e cruzam os seus dados na chamada luta contra o terrorismo.

Deve reter-se, por isso, a ideia de que o Facebook é muito mais letal para a privacidade dos cidadãos do que todos os Big Brothers que George Orwell pudesse ter inventado. Tudo o que escrevemos no Facebook, mesmo as coisas mais anódinas, são objecto de análise, não vá conterem, em código, alguma ameaça à "ordem estabelecida". Todos os nossos desabafos, por mais inofensivos, são escalpelizados por poderosas máquinas que nos traçam o perfil.

Um comezinho exemplo para aqueles que efectuam compras através da Net. Muitos de nós adquirimos sistematicamente, na Amazon, ou noutras firmas, livros, discos, vídeos, etc. Ora, também sistematicamente, essas firmas nos enviam propostas de compra de bens semelhantes aos previamente adquiridos, de acordo com o gosto dos clientes. Neste caso trata-se apenas, em princípio, de política comercial.

Com a exposição de toda a sua vida privada, que muitas pessoas exibem no Facebook, imagine-se a matéria prima à disposição dos interesses mais legítimos ou dos mais terríficos.

Vale a pena que nos debrucemos todos sobre esta matéria.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A ALEMANHA PERPETRA UM NOVO HOLOCAUSTO


Segundo o analista financeiro Max Keiser, em entrevista à cadeia de televisão RT, a Alemanha está a perpetrar um novo holocausto (financeiro) e os gregos são os novos judeus. Ao pretender apossar-se dos activos da Grécia, de Portugal, da Espanha e de outros países, a Alemanha preparou com muita antecedência uma solução final para parte da Europa.