tag:blogger.com,1999:blog-22987765603889694802024-03-19T04:32:43.249+00:00Do Médio-Oriente e afins"E agora, que vai ser de nós sem bárbaros?
Essa gente, mesmo assim, era uma solução." C.P. CavafyBlogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.comBlogger2363125tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-56255617750729312192024-02-22T22:01:00.000+00:002024-02-22T22:01:05.383+00:00AQUANDO DAS COMEMORAÇÕES DO 75º ANIVERSÁRIO DA DESCOBERTA DE UGARIT<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDn5sXEX-DaJg1HHcYwsSPaIbCVccfhmwu0y5XvAiUwmLjKW3540ruW0ogtsA1qxTTK9s5buM7dBHsj7gNYSoafeM3bjyCfDaSc3XbDqvLD1li0ealBL5AjH3lsje8bnr5abpxAV4Ue4FAtreG_fPBSRGuQJzvR3Uusmqku2F3hru1mi4ucTtS52_Asj3r/s2983/Le%20Royaume%20d'Ugarit.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2983" data-original-width="2608" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDn5sXEX-DaJg1HHcYwsSPaIbCVccfhmwu0y5XvAiUwmLjKW3540ruW0ogtsA1qxTTK9s5buM7dBHsj7gNYSoafeM3bjyCfDaSc3XbDqvLD1li0ealBL5AjH3lsje8bnr5abpxAV4Ue4FAtreG_fPBSRGuQJzvR3Uusmqku2F3hru1mi4ucTtS52_Asj3r/w350-h400/Le%20Royaume%20d'Ugarit.jpg" width="350" /></a></div><p></p><p>Em Outubro de 2004 teve lugar no Museu das Belas-Artes de Lyon uma notável exposição comemorativa do 75º aniversário do início das escavações (1929) em Ras Shamra (Síria), sítio que foi a capital do célebre reino de Ugarit. Em 1928, um lavrador, trabalhando a terra com o seu arado, descobrira a pedra de um túmulo, o que imediatamente alertou as autoridades para a presumível importância desse achado arqueológico. As pesquisas iniciaram-se no ano seguinte, a cargo de uma missão francesa, que se tornou franco-síria em 1999, e estava-se longe de conhecer o valor dessa descoberta. Passados 75 anos foi possível, em 2004, realizar uma exposição para apresentar os resultados desse extraordinário trabalho, mostrando as principais peças entretanto depositadas no Museu do Louvre, no Museu Nacional de Damasco, no Museu Nacional de Alepo e nos museus das cidades sírias de Latáquia e de Tartus e ainda no Departamento do Médio-Oriente dos Museus Estatais de Berlim.<span></span></p><p><span>O catálogo, cuja capa se reproduz acima, é uma preciosa edição artística, magnificamente ilustrada, apresentando as diversas peças constantes da exposição, que foi organizada por Yves Calvet, co-director da Missão Arqueológica de Ras Shamra-Ugarit e Geneviève Galliano, conservadora do Museu das Belas-Artes de Lyon.<br /></span></p><p><span>Como escrevi em <i>post</i> anterior, os habitantes do reino de Ugarit eram inicialmente pastores e agricultores mas depois também construtores e artífices, pescadores e negociantes e a partir do porto de Mahadu, hoje Minet el-Beida, praticava-se um importante comércio marítimo com o Egipto, Chipre e as ilhas do mar Egeu. Comércio igualmente desenvolvido por via terrestre com os vizinhos reinos de Mukish, Siyannu e Amurru e mesmo com os mais distantes Império Hitita e Mesopotâmia ou com os países do Levante: Biblos, Beirute, Tiro.</span></p><p><span>O palácio real da capital com os seus anexos ocupava mais de 10 000 metros quadrados, os principais templos, de Baal e de Dagan, eram notáveis, os vestígios das muralhas da cidade testemunham a qualidade das fortificações.</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinRGMPBIlgvwivyX_HvciU8LqejaGyk_fedPukVoSvvzpinkjxt3-xBFYMfVSLUvfAceKFf8poqHQS0C9ubXAVCJ85B0p7MCTf3bQHl9H-grzTjoxANo9Y-5JHP5dW9NLF5WkrtyCxSpAkWDjmD2td8yhgMoI-OdpKE8OKiizp4GSQEtuel-4JnRJqDpFJ/s1563/Ugarit%20-%20Plano%20da%20cidade.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1563" height="308" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinRGMPBIlgvwivyX_HvciU8LqejaGyk_fedPukVoSvvzpinkjxt3-xBFYMfVSLUvfAceKFf8poqHQS0C9ubXAVCJ85B0p7MCTf3bQHl9H-grzTjoxANo9Y-5JHP5dW9NLF5WkrtyCxSpAkWDjmD2td8yhgMoI-OdpKE8OKiizp4GSQEtuel-4JnRJqDpFJ/w400-h308/Ugarit%20-%20Plano%20da%20cidade.jpeg" width="400" /></a></div><span></span><p></p><p><span>O fim de Ugarit foi súbito e brutal. Os principais edifícios mostram vestígios de incêndios mas nenhum texto nos revela o que então aconteceu. A utilização da escrita desapareceu na região durante alguns séculos após estes acontecimentos. A destruição terá ocorrido no começo do século XII AC, devida porventura às errâncias dos chamados "Povos do mar". Ras Shamra conheceu algumas reocupações curtas e pouco extensas nos séculos V e IV AC., revelando elementos arquitecturais persas e cerâmicas gregas.</span></p><p><span>A primeira pessoa a investigar o sítio de Ugarit (a Síria estava em 1929 sob mandato francês) foi Claude Fréderic-Armand Schaeffer (1898-1982), professor no Collège de France e especialista da pré-história. As escavações começaram em Minet el-Beida e prosseguiram depois em outras zonas. Uma parte das descobertas encontra-se nos museus da Síria e outra parte foi levada para França, achando-se no Museu do Louvre, partilha efectuada de acordo com a lei das antiguidades então em vigor. Esta lei foi suprimida em 1948 e desde esta data todos os achados foram conservados na Síria: no Museu Nacional de Damasco (1948-1965), no Museu Nacional de Alepo (1966-1987), no Museu de Latáquia (desde 1988).</span></p><p><span>«Les grandes tablettes en argile et les outils en bronze découverts sur l'acropole présentaient un système graphique cunéiforme nouveau. Les efforts de H. Bauer, E. Dhorme et Ch. Virolleaud en donnèrent très vite la clé: en 1930, ils reconnaissaient un système graphique alphabétique servant à noter une langue ouest-sémitique apparentée à l'hébreu, au phénicien, à l'arabe, etc. Les courtes inscriptions des outils votifs étaient des dédicaces du "chef des prêtres", et les longs textes des tablettes, des poèmes mythologiques dont le héros principal était le dieu Baal, le dieu protecteur du royaume. Cette découverte eut un retentissement extraordinaire dans la communauté scientifique internationale. Outre l'apparition d'une langue nouvelle, le site de Ras Shamra faisait connaître le système alphabétique d'où dérivent, à travers l'intermédiaire du phénicien, les alphabets grec puis latin, dont l'utilisation s'est répandue jusqu'à nous sur la terre entière. Et, d'autre part, on voyait sortir de l'obscurité la civilisation dite "cananéenne" dans laquelle l'univers biblique prenait une grande partie de ses racines, avec ses mythes, sa littérature poétique... Ces deux éléments mis au jour dans ce qui s'est révéllé une cité riche et raffinée, en relation avec le reste du monde oriental du II millénaire, ont rapidement fait de Ras Shamra-Ougarit un site majeur de Syrie.» (pp. 73-4)</span></p><p><span>A exploração do local prosseguiu até 1939, altura em que as pesquisas foram interrompidas devido à Segunda Guerra Mundial. Depois da independência da Síria, em 1946, a missão regressou ao sítio em 1948, mas só em 1950 foi concedida autorização para continuar as escavações sistemáticas. H. de Contenson sucedeu a Schaeffer em 1971 e manteve-se à frente da missão até 1974. Em 1975-1976 dirigiu os trabalhos J.-C. Margueron. A partir de 1977 houve uma equipa dirigida por Jacques Lagarce e Adrian Bounni. De 1978 a 1998 Marguerite Yon foi responsável pela Missão, que se tornou franco-síria, em 1998, assumindo a direcção Yves Calvet e Bassam Jamous. Quando eu visitei Ugarit em 2006 conheci pessoalmente o doutor Yves Calvet, com quem troquei impressões sobre as escavações. A partir dessa data, e tendo eclodido a guerra na Síria, nada mais soube acerca deste notável sítio arqueológico.</span></p><p><span>Vejamos agora as línguas e as escritas de Ugarit.</span></p><p><span>«Les documents épigraphiques attestent la présence de huit langues (ougaritique, akkadien, hourrite, hittite, louvite, sumérien, égyptien, "chypro-minoen"). Mais, outre la langue vernaculaire, l'ougaritique, seules deux étaient sans doute parlées de manière courante.</span></p><p><span>En effet, langues orales et langues écrites ne se recouvraient pas. Le sumérien, qui n'était plus parlé depuis longtemps, apparaît seulement à titre de réference culturelle, les grands textes littéraires de la tradition mésopotamienne faisant partie du bagage de tout scribe bien formé. Les hyéroglyphes égyptiens constituent la dédicace de plusieurs objets envoyés en cadeaux: ces importations ne traduisent nullement l'emploi de la langue égyptienne sur place. Parler de "chypro-minoen" masque en fait l'ignorance dans laquelle nous sommes de la langue notée par cette écriture hourrite: hourrite, un dialecte égéo-chypriote ou arcado-chypriote?</span></p><p><span>La situation du hittite ou du louvite est différente: ces idiomes sont très peu représentés dans les documents (moins de dix textes en hittite ont été mis a jour). Pourtant, ils étaient ceux des suzerains du royaume d'Ougarit et d'importants négociants: il est difficile d'imaginer qu'ils aient renoncé à leur emploi dans leurs discussions. Mais même pour eux, écrire impliquait à Ougarit que ce fût en akkadien. </span></p><p><span>La présence d'une colonne propre au hourrite dans certaines listes lexicales multilingues utilisées dans les <i>scriptoriums</i> ougaritains témoigne de la pratique locale de cette langue. Dans les textes, elle est cantonnée à des domaines très spécifiques: des partitions musicales et les parties lyriques des liturgies ougaritaines. Elle entre dans la composition d'écrits bilingues, comme un recueil de sentences akkado-hourrite ou des rituels d'offrandes ougarito-hourrites. De nombreux personnages importants de la Cour portent des noms hourrites. Sans doute cette langue était-elle employée par une partie de la population d'Ougarit.</span></p><p><span>Prés de la moitié des textes d'Ougarit sont rédigés en akkadien, langue mésopotamienne. Cela n'indique cependant pas quelle était sa place dans la vie quotidienne. Et, malgré la parenté de leurs langues, il n'est pas sûr qu'akkadophones et ougaritophones se soient compris. L'akkadien était la langue par excellence des relations internationales; il ne servait pas pour autant d'idiome "passe-partout" pour les voyageurs et les étrangers au royaume.</span></p><p><span>L'énumération de ces huit langues masque en revanche un phénomène linguistique important: l'existences de sabirs propres à différents métiers, que seul de maigre indices laissent deviner.</span></p><p><span>À la complexité de la situation linguistique s'ajoute la diversité des écritures: cinq systèmes sont attestés, mais de manière très inégale: moins d'une dizaine de tablettes sont inscrites en caractères linéaires chypro-minoens; les hiéroglyphes louvites</span><span> apparaissent à côté des cunéiformes dans des sceaux digraphes, tandis qu'une centaine d'objets (scarabées, épée, vases, stèles...) portent des hiéroglyphes égyptiens.</span></p><p><span>Alphabet ougaritique (notant essentiellement la langue ougaritique, mais aussi quelques textes hurrites) et cunéiformes mésopotamiens (pour l'akkadien et quelques textes hourrites) se partagent la plupart des documents épigraphiques. Il existe aussi quelques textes digraphes (à ume trame ougaritique viennent s'ajouter des indications ou un résumé en cunéiformes syllabiques) témoins de la très grande aisance des scribes à passer d'une langue à l'autre, d'une écriture à l'autre.» (p. 81)</span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9sCJH6-o-Ma0W47B45R9k1-dZSU9tgJNmo8lihAeQzZQfWIK4io-dGdyVvHuxjHevorHbb5oDLC95QmpkWRldUml9pjjvNsrCpBlnR-4sP3iWt9ootfrm4HV90jNsqXH3AcaNuju7ufJge9z6noltObyM1uS7XRV97OzAfxNRv-Z8th09SpYBd1LMKHSm/s3993/Ugarit%20-%20Alfabeto%20-%20Equival%C3%AAncia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2850" data-original-width="3993" height="285" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9sCJH6-o-Ma0W47B45R9k1-dZSU9tgJNmo8lihAeQzZQfWIK4io-dGdyVvHuxjHevorHbb5oDLC95QmpkWRldUml9pjjvNsrCpBlnR-4sP3iWt9ootfrm4HV90jNsqXH3AcaNuju7ufJge9z6noltObyM1uS7XRV97OzAfxNRv-Z8th09SpYBd1LMKHSm/w400-h285/Ugarit%20-%20Alfabeto%20-%20Equival%C3%AAncia.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p><span>Os textos encontrados podem classificar-se nos seguintes grupos: textos administrativos, actos jurídicos, correspondência local (quase toda em ugarítico), correspondência internacional (a maior parte em acádio), literatura lexical, textos religiosos e arquivos.</span></p><p><span>Pela leitura dos textos descobertos podemos conhecer a vida política e diplomática do pequeno reino de Ugarit e as suas relações com os reinos limítrofes: Siyanu e Amurru. Igualmente com o Império Egípcio e o Império Hitita, e ainda com regiões mais distantes do Levante ou com as cidades costeiras fenícias ou cananeias de Biblos, Beirute, Sidon, Tiro, Acre, Ashdod ou Ascalon.</span></p><p><span>O comércio foi uma das principais actividades de Ugarit, que foi mesmo uma placa giratória do comércio internacional. As trocas que se encontram mais bem documentadas são as que se referem a objectos de cerâmica, localmente produzidas ou importadas, especialmente de Chipre mas também das ilhas do mar Egeu. </span></p><p><span>O catálogo documenta pormenorizadamente o que teria sido o palácio real de Ugarit e o seu precioso mobiliário e descreve o modo de vida quotidiano da população local. </span></p><p><span>As primeiras sepulturas descobertas na região, no caso em Minet el-Beida, foram interpretadas como pertencendo a uma necrópole, mas com a continuação das escavações verificou-se que, como era corrente no Próximo Oriente, estavam situadas debaixo das casas. Embora os restos humanos raramente estivessem conservados, foi possível constatar que os túmulos eram colectivos e podiam abrigar diversas gerações. O uso de sarcófagos revelou-se excepcional. </span></p><p><span></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidovqexLcNuFAVrS8Wqs_GQ-jNIR0m4ZK9bMhL39y8rYpT97ZYPuZ3xN2Hc4fLp6nPNN3m7OkyzV-6hmPeU3vS8MlEBUReeosw8DzzPENSbcQuHwuXSPaOeSVB3AMLU-8-hq1xtQBwMS4ybhczl4zgEZeDhVw8uMS2pfBkVS8qKh1galXDEB7x0ftwOsvT/s2102/Ugarit%20-%20Deus%20Baal.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2102" data-original-width="922" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidovqexLcNuFAVrS8Wqs_GQ-jNIR0m4ZK9bMhL39y8rYpT97ZYPuZ3xN2Hc4fLp6nPNN3m7OkyzV-6hmPeU3vS8MlEBUReeosw8DzzPENSbcQuHwuXSPaOeSVB3AMLU-8-hq1xtQBwMS4ybhczl4zgEZeDhVw8uMS2pfBkVS8qKh1galXDEB7x0ftwOsvT/w175-h400/Ugarit%20-%20Deus%20Baal.jpg" width="175" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Baal</td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span></span></div><p></p><p><span>No campo da religião, Baal, deus das Tempestades era o deus principal do reino, mas também El, o pai dos deuses era objecto de grande veneração, tal como Maat, sua irmã, Mot, deus da Morte, Yam, deus do Mar, Kothar-Khasis, engenheiro-arquitecto, Athirt, esposa de El, Shapash, deusa solar, Athtart e Akhtar, manifestações feminina e masculina da estrela da manhã e da noite, etc. O panteão de Ugarit era contudo mais vasto. Além do Baal de Saphon incluía mas seis Baal sem epíteto e Dagan, um deus muito importante. Não cabe aqui a enumeração de todos os deuses da região. </span></p><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPvyE9dDbPF2u4mn1PxK_DX0xMzhjP3L3HRFBQRpy_XY1PHfDjUC20bwtDXNL9ACeO6XvlQ4g4P67exn8tZ3VfLIJAwJErbRsld24QDpdK2h6v4D1NORSi9HzesnNmg0HiMt8l2ds7paSsG1MWVXETI5U4Ak-05QIpZ6e_BYvyHCgVICDFgIA79JUaeMsu/s1838/Ugarit%20-%20Deus%20El.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1838" data-original-width="1137" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPvyE9dDbPF2u4mn1PxK_DX0xMzhjP3L3HRFBQRpy_XY1PHfDjUC20bwtDXNL9ACeO6XvlQ4g4P67exn8tZ3VfLIJAwJErbRsld24QDpdK2h6v4D1NORSi9HzesnNmg0HiMt8l2ds7paSsG1MWVXETI5U4Ak-05QIpZ6e_BYvyHCgVICDFgIA79JUaeMsu/w248-h400/Ugarit%20-%20Deus%20El.jpg" width="248" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">El</td></tr></tbody></table><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg61AgrdUYSMEt8r_9I5WLM_nNMW6IN14gzaEtIETi7FsXBiNAJWaHE_JLMNEAcqxsSckd_9WMOfUxWCZWaBmRmV7ystg82ZKXZEMfB5jJHBfexT0QnVOW3_HOFutKSe3_6WP1OgPpuGf4Hg3Dmla2z1270QiNmAQ7P9476eXa2sEZeoXjcV2Xa7pUsNSix/s2072/Ugarit%20-%20Deus%20El%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2072" data-original-width="904" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg61AgrdUYSMEt8r_9I5WLM_nNMW6IN14gzaEtIETi7FsXBiNAJWaHE_JLMNEAcqxsSckd_9WMOfUxWCZWaBmRmV7ystg82ZKXZEMfB5jJHBfexT0QnVOW3_HOFutKSe3_6WP1OgPpuGf4Hg3Dmla2z1270QiNmAQ7P9476eXa2sEZeoXjcV2Xa7pUsNSix/w175-h400/Ugarit%20-%20Deus%20El%202.jpg" width="175" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">El</td></tr></tbody></table><span></span><p>Encontraram-se em Ras-Shamra pelo menos cinco edifícios que teriam servido como templos. Os mais importantes eram dedicados a Baal e a Dagan. Estima-se que estes templos datem do sécuo XV AC. </p><p>Registámos aqui, resumidamente, alguns dos aspectos mais importantes da civilização de Ugarit, como descritos no notável catálogo publicado por ocasião da grande exposição em Lyon.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-65332814664117687042024-02-16T23:03:00.003+00:002024-02-16T23:04:39.969+00:00NO REINO DE UGARIT<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6foB-0TAGMuBRTtV8WEsLFehbANwdI1s6SMdAfcT0xC0stuyuhGurzmgpU7Syrq6HDRS7dHXuHeaBt5DLoD4zveHrHaBkQuYIwIsoCnyAnLvlmee5S761KvxEry61P5DgA-SAoMDGTnsk9DmCzJgTCDXdJbtv2rovVo1Nu1bq7u39NyrAW8duGmM2QjE7/s1861/Ugarit%20.%20Ougarit%20-%20La%20Terre%20et%20le%20Ciel.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1861" data-original-width="1287" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6foB-0TAGMuBRTtV8WEsLFehbANwdI1s6SMdAfcT0xC0stuyuhGurzmgpU7Syrq6HDRS7dHXuHeaBt5DLoD4zveHrHaBkQuYIwIsoCnyAnLvlmee5S761KvxEry61P5DgA-SAoMDGTnsk9DmCzJgTCDXdJbtv2rovVo1Nu1bq7u39NyrAW8duGmM2QjE7/w276-h400/Ugarit%20.%20Ougarit%20-%20La%20Terre%20et%20le%20Ciel.jpg" width="276" /></a></div><p></p><p>Comprei este livro, <i>Ougarit - La terre et le ciel</i> (2004), logo após a minha vista a Ugarit, em 2006. Trata-se de uma recolha de textos (prosa e poesia) de vários autores, entre os quais Marguerite Yon, que dirigiu a missão de pesquisa em Ugarit entre 1978 e 1998, Salah Stétié, escritor e embaixador do Líbano em diversos países ou Myriam Antaki, escritora síria francófona e mulher de George Antaki, cônsul honorário de Portugal em Alepo. A edição é prefaciada por Yves Calvet, director das pesquisas em Ugarit desde 1999 e que tive o prazer de conhecer pessoalmente quando visitei as ruínas. Ignoro o que aconteceu às investigações arqueológicas depois do eclodir da guerra na Síria.</p><p>Folheando agora o livro, apraz-me registar meia dúzia de aspectos. </p><p>A região foi habitada por pastores e agricultores desde o VIII milénio AC. mas os vestígios até hoje encontrados datam, no essencial, do século XIV ao século XII AC., o período de grande apogeu do Reino de Ugarit. As pesquisas em Ugarit (Ras el-Shamra na designação árabe do local) começaram em 1929, depois de um lavrador, em 1928, ter posto a descoberto, ocasionalmente, com o seu arado uma pedra antiga.</p><p>O alfabeto ugarítico, o primeiro conhecido na História, é composto de 30 caracteres. A língua ugarítica tinha utilização interna no reino, mas nas relações internacionais era praticado o acádio, língua utilizada na Assíria e em Babilónia. Era nesta língua que se processava a correspondência de Ugarit com o faraó do Egipto e com o "rei-Sol" dos hititas.</p><p>As inscrições eram gravadas em tabuinhas de argila, e nessa forma chegaram ao nosso conhecimento. Através delas sabemos muitas coisas sobre a vida quotidiana no reino e as relações internacionais, especialmente no período decorrente entre o século XIV e o século XII AC. O mais célebre rei de Ugarit terá sido Niqmad (1210-1200 AC) cujo nome é mencionado muitas vezes nas inscrições recolhidas. O reino de Ugarit começou a extinguir-se nos princípios do século XII AC, minado por crises internas e por causa das incursões dos "povos do mar", que também determinaram o fim do império hitita.</p><p>Existe no Museu Nacional de Damasco uma pequena tabuinha contendo o alfabeto de Ugarit, de que possuo uma reprodução.<br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwQc2H2ETjmwCEKp_A3wFe0OdnE9sgxfWWNosb7EZMyVHETdA18QOe5WKyCT9PJf6QUBvaDEtvjBRg5daVI_VpKTxLFOkpQHMqYZZhy08EcM3C4Jo856fxOf0xGBka7Mnd_eovcaWU4-bq3UDOvsWMiNbk8b5txiC2X5J93fiWiiykZbpmYXXA3GfsBJXc/s1600/Ugarit%20-%20Alfabeto.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwQc2H2ETjmwCEKp_A3wFe0OdnE9sgxfWWNosb7EZMyVHETdA18QOe5WKyCT9PJf6QUBvaDEtvjBRg5daVI_VpKTxLFOkpQHMqYZZhy08EcM3C4Jo856fxOf0xGBka7Mnd_eovcaWU4-bq3UDOvsWMiNbk8b5txiC2X5J93fiWiiykZbpmYXXA3GfsBJXc/w400-h300/Ugarit%20-%20Alfabeto.jpeg" width="400" /></a></div><p></p><p>Na cidade de Ugarit, a capital, existiam vários palácios, templos, monumentos, residências senhoriais e todo o tipo de construções próprias de uma grande cidade da época. A população dividia-se em dois grupos: os "homens do rei", aqueles que se encontravam ligados ao palácio e os "filhos de Ugarit", restantes habitantes da cidade, estrangeiros e escravos. Temos notícia de uma importante aristocracia e de gente ligada ao mundo dos negócios. </p><p>Os templos principais eram dedicados ao deus Baal (Bel), o deus das tempestades e da chuva, e ao deus Dagan (Dagon), deus da agricultura. À volta de Baal, objecto de grande veneração, existia todo um panteão, à frente do qual se encontrava El, o pai dos deuses, acompanhado da sua "parceira" e irmã Anat, de Yam, deus do mar e de Kothar-Khasis, o deus engenheiro e arquiteto.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjncFNNDYy2OrrZn5NU4J7Ii2IHXSxYfX5SqiFqQtCX__0wqP1RpCmJ1sDYs7xNnvzdi8vKUwOxcHDwcrphpLjUFe2kLZJs4TuzOTrT3pcqXEmp-kHriGLWw_oVNbXEN814UWiHB1ZufjkiYHKTxfEZtX5y8mmDFvxv8ey-RBSx7Xpp6l6nnaCHEEiO_5mF/s1838/Ugarit%20-%20Deus%20El.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1838" data-original-width="1137" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjncFNNDYy2OrrZn5NU4J7Ii2IHXSxYfX5SqiFqQtCX__0wqP1RpCmJ1sDYs7xNnvzdi8vKUwOxcHDwcrphpLjUFe2kLZJs4TuzOTrT3pcqXEmp-kHriGLWw_oVNbXEN814UWiHB1ZufjkiYHKTxfEZtX5y8mmDFvxv8ey-RBSx7Xpp6l6nnaCHEEiO_5mF/w248-h400/Ugarit%20-%20Deus%20El.jpg" width="248" /></a></div><p></p><p>Por curiosidade reproduz-se uma imagem do deus El que, como referimos em <i>post</i> anterior, esteve na base do nome Israel (Isra+el), já que era o principal deus dos povos do Levante, e que mais tarde foi metamorfoseado em Yahvé.</p><p>Voltaremos oportunamente a escrever sobre Ugarit. <br /></p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-81257383047699014872024-02-14T19:25:00.003+00:002024-02-14T19:25:54.574+00:00A BÍBLIA TINHA OU NÃO RAZÃO?<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEityFc6AgqG6z6X6WbTPE-7ahkAcmZaKQG-t51cZMz_V8ouIZN2mbjoyorJ2bRB8VlIV8MoDL6EM11sAerRaOR4eWSnNOqRwsowdPWNeFsbkcmlA6kHI__1iMptLEQ4qMiy34EcryA9lOd1RkM5wS5HMe2f8QMX7Mc2BBQTAW3ZmWe0U0IfJY6puImshjPP/s1887/A%20B%C3%ADblia%20tinha%20mesmo%20raz%C3%A3o%20-%20Francisco%20Martins..jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1887" data-original-width="1178" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEityFc6AgqG6z6X6WbTPE-7ahkAcmZaKQG-t51cZMz_V8ouIZN2mbjoyorJ2bRB8VlIV8MoDL6EM11sAerRaOR4eWSnNOqRwsowdPWNeFsbkcmlA6kHI__1iMptLEQ4qMiy34EcryA9lOd1RkM5wS5HMe2f8QMX7Mc2BBQTAW3ZmWe0U0IfJY6puImshjPP/w250-h400/A%20B%C3%ADblia%20tinha%20mesmo%20raz%C3%A3o%20-%20Francisco%20Martins..jpg" width="250" /></a></div><p></p><p>Devo ao Miguel Castelo Branco a notícia da recente publicação do livro <i>A Bíblia tinha mesmo razão?</i>, do padre Francisco Martins, S.J., professor da Pontificia Università Gregoriana, de Roma. Sobre este tema, Werner Keller publicara em 1955 <i>Und die Bibel hat doch recht</i>, que foi editado em português com o título <i>A Bíblia tinha razão</i>, sem menção de data, mas possivelmente nos anos sessenta, e que comprei e li na ocasião.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzE3ETopLF3SkW1Z5cC_BIHkx8dTJA1GbVaPPYMu5qmlRTUoVnV7BuBbl5ezRAVN0E26w_ftQHLKwuQp4kBTbMFgYsrCjIU8gQ8o2xYdFOQ1DEgkNh2GQraHWMd-IonWXJZE8_TPUbLo_WOZaVNh7wjeQegDTIfyEi1TDr00hbqCSe7DcPMugfd3figcBQ/s1758/A%20B%C3%ADblia%20tinha%20raz%C3%A3o%20-%20Werner%20Keller.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1758" data-original-width="1183" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzE3ETopLF3SkW1Z5cC_BIHkx8dTJA1GbVaPPYMu5qmlRTUoVnV7BuBbl5ezRAVN0E26w_ftQHLKwuQp4kBTbMFgYsrCjIU8gQ8o2xYdFOQ1DEgkNh2GQraHWMd-IonWXJZE8_TPUbLo_WOZaVNh7wjeQegDTIfyEi1TDr00hbqCSe7DcPMugfd3figcBQ/w269-h400/A%20B%C3%ADblia%20tinha%20raz%C3%A3o%20-%20Werner%20Keller.jpg" width="269" /></a></div><p></p><p>A obra de Werner Keller procura conciliar a narrativa bíblica com as fontes históricas, numa altura em que começara uma investigação arqueológica sistematizada nas regiões abrangidas pelo relato do Livro. Mas, decorrido mais de meio século, a perspectiva é hoje bem diferente. As descobertas ocorridas neste período são de molde a suscitar mais dúvidas do que certezas. Por isso, a recém-publicada obra de Francisco Martins apresenta no título um ponto de interrogação.</p><p>Procede o autor a uma detalhada indicação das últimas descobertas arqueológicas e também de manuscritos, intercalada com várias citações e observações pessoais quanto ao valor a atribuir aos textos bíblicos. A abundância de pormenores e a forma como as matérias se encontram arrumadas dificultam por vezes a inteligibilidade da narrativa que ganharia em permitir uma leitura mais linear. O livro segue, lamentavelmente, o sinistro Acordo Ortográfico 90 mas, ainda pior, é o aportuguesamento de muitos nomes já consagrados em português e noutras línguas europeias. Não havia necessidade de grafar Ramessés em lugar de Ramsés, mas escrever Cadés para designar o local da célebre batalha de Kadesh começa a ser apenas acessível a quem já possua conhecimentos na matéria. E podia citar muitos outros exemplos. Também é obviamente notória a falta de um índice onomástico. </p><p>Não é possível proceder neste espaço a um comentário circunstanciado das observações do autor, pelo que ficaremos por umas simples notas. A obra começa por analisar as figuras de Abraão, Isaac, Jacob e José, cuja existência histórica considera duvidosa, e mesmo a de Moisés «sobre o qual não nos chegou qualquer testemunho extra-bíblico» (p. 101), embora o nome seja de origem egípcia.<br /></p><p>A mais antiga referência ao nome de Israel encontra-se na estela do faraó Merneptá, datada de cerca de 1207 AC. Segundo o autor o deus El era venerado no Próximo Oriente e a transformação em Israel poderá significar a sua individualização para os hebreus. Ao princípio, terá coexistido com outros deuses até à consagração do monoteísmo. Também não é verdade que os israelitas sejam os hicsos, como por vezes se propõe. E o livro <i>Êxodo</i> é uma invenção literária. Terá havido durante muitos anos um vai-vem de israelitas de e para o Egipto e não há provas de uma imensa migração daquele país para Canaan. As hipotéticas datas "históricas" da Bíblia são inconciliáveis com os documentos históricos, papiros ou pedras. «Por volta de 1150 AC. ou, o mais tardar, 1130 AC. , o Egipto foi forçado a abdicar definitivamente do que foram mais de quatro séculos de domínio absoluto ou quase absoluto sobre a região do Levante e os reinos, cidades e povos que ali habitavam. (...) Ora, para o "Israel" da estela de Merneptá, como para os outros grupos étnicos e não só que ocupavam o sul do Levante, este acontecimento maior da História das relações entre o Levante e o Egipto no segundo milénio AC. deve ter sido vivido como uma "libertação", isto é, como o extrair-se de uma situação de sujeição político-económica ("escravatura"), que havia durado vários séculos.» (pp. 108-9)</p><p>Há depois a revelação do nome bíblico de Deus, Yahvé (ou Yhwh, Yhw, Yh, Yahu, Yah), segundo o <i>Êxodo</i>. A palavra hebraica é conhecida como tetragrama (Yhwh) e é substituída em algumas edições da Bíblia por "Senhor", norma que remonta à Antiguidade e que reflecte uma espécie de tabu religioso, uma regra de respeito pela sua sacralidade (p. 115). O facto do hebraico não possuir vogais deu origem a várias incorrecções na vocalização, como Yehowah (Jeová), que é historicamente uma grafia incorrecta (p. 116).</p><p>«(...) a divindade chamada "Yahvé" começou por se apresentar com um outro nome: "El Chadai". Foi como tal que se apresentou aos patriarcas Abraão, Isaac e Jacob e ainda aos seus muitos descendentes. Moisés é o primeiro a conhecer o seu "verdadeiro nome", que deve agora anunciar aos restantes Israelitas, que este mesmo deus o encarregou de resgatar da opressão no Egipto. Em suma, El Chadai e Yahvé ou Yahu são uma e a mesma divindade, tratou-se apenas de uma aparente e, em larga medida, inexplicada "mudança de nome". Mas terá sido mesmo assim? Sem entrar em considerações de cariz teológico, os investigadores desconfiam há muito que por detrás desta "mudança de nome" está, na verdade, uma "mudança de divindade". Muito provavelmente, Yahvé não foi a primeira divindade tutelar dos Israelitas. Há vários indícios que apontam nesse sentido. Em primeiro lugar, de forma decisiva, o próprio nome do povo: "Israel". A palavra "Israel" contém o elemento teofórico "el". "El" tornou-se, em hebraico, um nome genérico para "deus" mas, na origem, El era uma divindade específica considerada pelos povos do Levante o chefe do panteão e o criador do universo. No fundo, El era o equivalente, no Levante, de Zeus, na Grécia, e Júpiter, em Roma. Ora, é altamente significativo que o povo se chame "Isra-el" e não, por exemplo, "Isra-yahu" ou "Isra-yahweh". Ainda que seja difícil reconstruir etimologicamente o significado da palavra "Israel" ("El luta?" "El reina?" "El é justo?"), não há dúvida de que o nome do povo, atestado já na famosa estela de Merneptá (c. 1207 AC), a que nos referimos no capítulo anterior, reflete a proeminência de El enquanto divindade tutelar original.» (pp. 118-9)</p><p>«(...) o deus Yahvé, que aparece a Moisés e depois se transforma na divindade tutelar do povo de Israel, não é um deus autóctone da terra de Canaã.» (p. 121) </p><p>«Que Yahvé não foi a divindade tutelar original de um povo cujo nome próprio aponta para El ("Isra-el") parece ser um dado sólido. Também há razões suficientes para assumir que Yahvé não é um deus autóctone de Canaã (um deus cananeu como Baal) e que é ao sul/sudeste deste território que a memória bíblica localiza as suas origens.» (p. 133)</p><p>«Para nós, leitores contemporâneos, a Bíblia é um livro fundamentalmente monoteísta. Mesmo quando se fala de outros deuses (como, por exemplo, o "cananeu" Baal ou o filisteu "Dagon"), o tom geral tende a desmentir a qualidade divina destas "falsas alternativas": pressente-se que estes "ídolos" nunca deveriam ter sido levados a sério, oxalá o povo de Israel e os demais povos se tivessem revelado um pouco mais sensatos. Uma tal impressão, inteiramente justa, mostra o quão bem-sucedida foi a revisão e edição da Bíblia, neste caso, o Antigo Testamento, na época exílica e, sobretudo, pós-exílica (a partir do século V AC), quando o monoteísmo bíblico atingiu plena expressão. Ora, para penetrar além deste "verniz final" e reconstruir a História da religião do Israel Antigo, impõe-se não só uma análise mais apurada dos textos bíblicos, mas também a consideração do que a arqueologia e a epigrafia nos desvelam acerca dessas práticas cultuais e das conceções religiosas então predominantes.» (p. 136)</p><p>«Esta conceção tradicional do papel de Moisés na História da religião não só do povo de Israel, mas até da humanidade em geral, resistiu durante muito tempo aos avanços da crítica histórica. Mesmo quando já se tinha percebido que a noção de que Moisés era o autor do Pentateuco não tinha fundamento histórico, continuava-se a supor que esta figura maior da tradição bíblica era o responsável ou, pelo menos, o líder indiscutível da mais decisiva das "revoluções religiosas", a "revolução monoteísta". Freud, por exemplo, dá plena expressão a esta convicção na sua obra <i>Moisés e o Monoteísmo</i>, publicada em 1939. Inspirado pelas então ainda recentes escavações arqueológicas no sítio de Amarna, no Egito, e a descoberta do "extravagante" monoteísmo (ou "quase-monoteísmo") do faraó Aquenáton (c. 1353-1336 AC), Freud desenvolve a sua própria teoria a respeito do surgimento e da sobrevivência do monoteísmo. Dá a Aquenáton a "glória" de ter sido o verdadeiro "visionário" da unicidade de Deus, mas atribui a Moisés a "perpetuação" deste escandaloso conceito. Moisés, sugere Freud, era egípcio e um dos sacerdotes do faraó do monoteísmo. Obrigado a fugir do Egito à morte do faraó Aquenáton, Moisés transmitiu àqueles que o seguiram a "ideia monoteísta" que fora entretanto reprimida e depois esquecida no Egito. Num autêntico "<i>volte-face</i> edipiano", Moisés acaba por ser morto pelos seus seguidores, mas, tal não só não impede como até estimula, por via da culpa e do remorso, o desenvolvimento do monoteísmo de perfil judaico.» (pp. 136-7)<br /></p><p>Segundo o autor, Yahvé era um "deus-masculino", que tinha uma "esposa-divina". «Entre as possíveis "candidatas", a deusa Achera parece ter conquistado a "almejada posição". Esta divindade feminina é originária da zona do Levante, sendo mencionada pela primeira vez no século XVIII AC. A nossa fonte principal de informação sobre Achera são, no entanto, os textos inscritos em tabuletas de argila encontrados na cidade-estado de Ugarite, na costa mediterrânica, datados dos séculos XIII-XII AC.» (p. 140)</p><p>[Quando eu estive em Ugarite pude verificar a a importância do deus El, como principal divindade da época no Levante.]</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMlDPksf4el2KkWV2XZymRXaFINhS2wrqItmILcAQOHoqaPu17N6J7yZo1ketU_64H6LL0ro6ftlxovSkOw7N5Ew8HpdyO5JFbds3pHwDf2eEnFNbrvfwQhsBkFRY-GyRY6uVcuxO4xxtncCtvEwPBaRqxo4zivbU_iIaoIvdli2BSXqBuoRDIuM9XGfvs/s1221/Ugarit%20-%20S%C3%ADtio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="805" data-original-width="1221" height="264" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMlDPksf4el2KkWV2XZymRXaFINhS2wrqItmILcAQOHoqaPu17N6J7yZo1ketU_64H6LL0ro6ftlxovSkOw7N5Ew8HpdyO5JFbds3pHwDf2eEnFNbrvfwQhsBkFRY-GyRY6uVcuxO4xxtncCtvEwPBaRqxo4zivbU_iIaoIvdli2BSXqBuoRDIuM9XGfvs/w400-h264/Ugarit%20-%20S%C3%ADtio.jpg" width="400" /></a></div><p>A obra passa a analisar depois o período pré-monárquico (Livro de <i>Os Juizes</i>) e a designação de Saul para rei de Israel pelo último juiz, o profeta Samuel. David começa por ser rei de Judá e posteriormente também de Israel. Conquista Jerusalém aos Jebuseus e transforma-a em capital do reino. Por morte de Salomão o reino é dividido em dois: Israel ao norte, com a capital em Samaria, e Judá ao sul, com a capital em Jerusalém. </p><p>Acontece que vários investigadores põem em causa a existência dos reis. Neste como em outros casos há sempre interpretações maximalistas, dos que tendem a aceitar como históricas quase todas as passagens da Bíblia, e minimalistas, dos que negam a historicidade da maior parte das narrativas bíblicas, considerando o Livro como exclusivamente religioso.</p><p>A dimensão e importância dos reinos de Judá e de Israel e a de algumas cidades, como Jerusalém, é igualmente contestada por alguns especialistas, que entendem tratar-se de sítios muito mais modestos do que deixam entender os textos bíblicos. </p><p>O primeiro Templo de Jerusalém foi edificado no tempo de Salomão. O ataque de Nabucodonosor II ao reino de Judá teve lugar em 597 AC. O rei de Babilónia deportou Joaquim (Jeconias), o rei de Judá, e colocou no trono o tio deste, Matanias, que adoptou o nome de Sedecias. Uma nova revolta (houve várias) levou os babilónios a tomar medidas extremas. Nabucodonosor arrasou a cidade, destruiu o Templo e deportou a maior parte dos judeus para Babilónia (586 AC). Quando esta cidade foi tomada pelo rei persa Ciro II os judeus no Cativeiro puderam regressar à sua terra (537 AC).</p><p>«(...) a queda de Jerusalém e a perda da independência territorial parecem ter contribuído decisivamente para a emergência da Bíblia como uma espécie de nova pátria de um povo agora sem terra e sem rei. Este fenómeno acabaria por se revelar o princípio do processo pelo qual o povo de Israel se transformaria em povo judeu e o Yahvismo em Judaísmo, numa "reviravolta" histórica que fez (e continua a fazer) da memória do trauma uma fonte de renovação da identidade política e religiosa.» (p. 288)<br /></p><p>A reconstrução do Templo de Yahvé foi iniciada por Zorobabel e, segundo o Livro de<i> Esdras</i>, terá sido concluída em 515 AC, ao fim de muitas interrupções. Estas foram ditadas por aqueles que então habitavam Canaan, segundo o relato bíblico. «Evocar a oposição dos "habitantes da terra" e de Samaria é, por isso, muito provavelmente, tanto uma forma de desculpar os repatriados pelo atraso como uma estratégia para afirmar a sua identidade colectiva como único e "verdadeiro" Israel em face de um "outro" percebido como hostil.» (p. 311)</p><p>O segundo Templo foi aumentado com a passagem do tempo e especialmente enriquecido pelo rei Herodes, o Grande (37-4 AC). Devido às sucessivas revoltas dos judeus contra a tutela de Roma, este segundo Templo foi destruído em 70 DC por Tito, durante o reinado de seu pai Vespasiano. A cidade de Jerusalém foi quase arrasada e deportada a maior parte da população. Depois do cativeiro de Babilónia e da extinção do reino de Judá (século VI AC) e da anterior expulsão do reino de Israel (Samaria), por Teglate-Falasar III, rei da Assíria (século VIII AC), esta deportação constituiu verdadeiramente a primeira Diáspora judaica.</p><p>A continuação das revoltas contra os romanos levou estes à adopção de medidas progressivamente mais duras. Finalmente, em 135 DC, Bar Kochba, chefe da grande rebelião judaica foi preso e executado e a sua cabeça envida ao imperador Adriano. A cidade de Jerusalém foi completamente arrasada e deportados quase todos os seus habitantes. O imperador ordenou a construção de uma nova cidade, que se chamou Aelia Capitolina; a Judeia passou a designar-se Palestina.</p><p>«Os nomes "judeu" ou "judio" têm, como se percebe pelos dicionários, dois significados fundamentais. Podem designar tanto um indivíduo natural ou com uma ligação histórica ao reino de Judá ou à província correspondente em períodos posteriores (Yehud, Judeia), como uma pessoa que professa a religião judaica. A dupla valência destes dois nomes e dos adjectivos homónimos tem, contudo, uma História e resulta da transformação da identidade do grupo designado.» (p. 321)</p><p>«A transição para uma significação mais nitidamente religiosa (ou "étnico-religiosa") parece ter ocorrido num segundo momento, no chamado "período helenístico" (c. 330-63 AC); altura em que aparece igualmente o nome abstrato "Ioudaismos" (na origem do vocábulo "Judaísmo" em português), concretamente no 2º Livro dos Macabeus (2 Mac 2,21).» (p. 322)</p><p>«Sobre os primeiros cem anos de domínio macedónio sobre Jerusalém e Judá dispomos de pouca informação. O historiador (judeu) Flávio Josefo, que viveu no século I DC, relata a tomada de Jerusalém por Ptolemeu I no seu livro <i>Antiguidades Judaicas</i>, mas a maioria dos investigadores não dá demasiado crédito àquela breve narrativa sobre a forma traiçoeira como o rei ptolemaico teria conquistado a cidade. Além deste episódio, Josefo conta-nos apenas a saga de uma família de judeus da Transjordânia - os Tobíadas - cujos membros ascenderam aos mais altos escalões da administração ptolemaica, e a história da tradução do Pentateuco (Torá) em grego. Este último acontecimento é, sem dúvida, o que de mais significativo ocorreu neste período. O relato de Josefo é baseado num outro documento, a chamada "carta de Aristeias", que terá sido composto no século II AC. Atribuída a Aristeias de Marmona, um oficial do rei Ptolemeu II (c. 284-246 AC), e dirigida a um certo Filócrates, irmão do primeiro, esta "missiva" é, na verdade, um pseudepígrafo no qual se relata a suposta inclusão da Torá na famosa biblioteca de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo. De acordo com este texto, Demétrio de Faleros, o bibliotecário, teria alertado o rei Ptolemeu II para a existência de um "código de leis" judeu que haveria todo o interesse em incluir no acervo da biblioteca, mas que, "estando escrito na língua e caracteres dos judeus, iria reclamar um exigente trabalho de tradução em grego". O rei não se deixou desanimar e deu ordens para que se avançasse com o projecto. O interlocutor privilegiado dos Ptolemeus em Judá foi, nesta ocasião, o sumo sacerdote do templo de Jerusalém, que selecionou setenta e dois judeus, fluentes tanto em hebraico como em grego, para viajar para Alexandria. Ao cabo de setenta e dois dias (!), os tradutores apresentaram o fruto do seu trabalho e o texto final acabou por ser aceite tanto pelo povo e pelas autoridades judaicas como por quem havia comissionado a tradução. Nascia assim a chamada "Septuaginta" ou "Bíblia dos Setenta", em honra do número de tradutores (e de dias!) que o trabalho exigiu. Como se percebe pelo resumo apresentado, a narrativa tem uma tonalidade claramente lendária e serve, antes de mais, para exaltar a Torá, isto é, o Pentateuco, como um texto capaz de suscitar o interesse e a admiração do mais "bibliófilo" de todos os monarcas da Antiguidade, o fundador da biblioteca de Alexandria, Ptolemeu II Filadelfo.» (pp. 323-4)</p><p>«Como sugerido anos atrás pelo investigador americano Shaye Cohen, talvez nenhum momento se preste melhor à noção de um "nascimento" do Judaísmo (ou da "Judaicidade", como prefere designar este fenómeno que extravasa o âmbito meramente religioso) que o século II AC. Para Cohen e para muitos outros estudiosos na esteira dos seus influentes trabalhos de investigação, é no contacto com a cultura grega e, em larga medida graças a um processo de sinergia cultural que a ideia de pertença ao povo de Israel, isto é, de ser "judeu" vai superar o horizonte meramente geográfico ou genealógico. À imagem do que sucedera no seio da cultura grega, na qual "tornar-se grego" passou a ser uma possibilidade oferecida a estrangeiros por meio de um processo de educação (<i>paideia</i>), também ser "judeu" ("Ioudaios") deixou de ser apenas uma prerrogativa hereditária para passar a ser, até certo ponto, uma escolha ou "traço adquirido".» (p. 333)</p><p>«Em todo o caso, parece-nos que a hipótese formulada por Shaye Cohen capta o essencial do processo que deu novo "rosto" ao povo cuja História constituiu o objeto em estudo neste livro. Com a transformação da pertença étnico-religiosa, o "Israel bíblico" enquanto família de tribos e o Yahvismo enquanto culto herdado dão lugar a uma nova entidade - o Judaísmo - que combina aspetos de estirpe e de nação com características de estilo e de religião. Criou-se então uma tensão que ainda hoje subsiste e que, de certa forma, naquela altura, gerou as condições que permitiram a emergência do Cristianismo enquanto "religião da conversão" pela qual se formou um Israel não já (ou exclusivamente) da "carne", mas (também) do espírito (Gl 3,1-4,7). Estas, porém, são histórias... de outra História.» (pp. 334-5)</p><p>«"Afinal a Bíblia tinha mesmo razão?". No final deste percurso pela História do Israel Antigo, é justo concluir que a resposta a esta pergunta é tudo menos evidente. Tanto quanto se interroga a Bíblia sobre os acontecimentos ou circunstâncias históricas concretas como quando se coloca a questão mais genérica da relação entre Bíblia e História é inevitável reconhecer-se que responder simplesmente "sim" ou "não" empobrece a nossa compreensão não só do perfil e do horizonte da literatura bíblica, mas também da tarefa da reconstrução histórica. Nesta brevíssima conclusão, gostaria de explorar este tema, oferecendo uma síntese dos resultados obtidos e propondo uma reflexão sobre o valor da Bíblia como fonte sobre e do passado remoto.» (p. 337)</p><p>«A questão das origens de Yahvé, o Deus bíblico (capítulo IV), e de Israel (capítulo V) colocou-nos um outro desafio, a saber, como utilizar fontes bíblicas que desenham um "ideal teológico" sem, contudo, apagar completamente a memória das indeclináveis "sinuosidades" da História. No caso de Yahvé e do monoteísmo bíblico, são indícios em textos como Juízes 5, Deuterenómio 32 ou o Salmo 82 que nos permitem reconhecer, com a ajuda dos achados arqueológicos, que mais que um contestado "legado mosaico", o culto exclusivo de Yahvé e a proclamação da unicidade divina resultaram de um longo processo histórico que não culminou senão depois do exílio. No caso do surgimento de Israel na terra de Canaã, é o contraste entre os livros de Josué e dos Juízes que levou exegetas e historiadores a imaginar uma "chegada" menos violenta e, posteriormente, auxiliados pelos resultados da investigação arqueológica, reconceber a identidade do Israel primitivo em termos que compaginam exogeneidade e endogeneidade.» (p. 338)</p><p>«Neste sentido, e regressando ao que se sugeriu na Introdução, a Bíblia nunca poderia ter a "razão" que Werner Keller e outros autores na sua esteira queriam que ela tivesse. Se nos aproximamos do texto bíblico com "lentes positivistas" e movidos pela vontade de transformar a História no personagem principal do relato, o inevitável resultado é ou uma reconstrução pseudo-científica que ignora a natureza literária e o contexto concreto no qual a Bíblia foi escrita, ou um ceticismo desesperado que faz dos autores sagrados "inimigos" da (pretensa) objetividade histórica).» (p. 339)</p><p>Não sendo razoável alongar este texto com mais pormenores, as considerações que tecemos e as passagens do livro que transcrevemos parecem suficientes para despertar, nos mais interessados, a leitura da obra.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-88128510092060489882024-02-07T21:38:00.000+00:002024-02-07T21:39:53.587+00:00O VISCONDE DE VILLA-MOURA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUbSw0cxJnidgplaU3wBzbki6Iqw574JmGNACliPuzmZusGYFXiNYezswdrk103i3SJmR53lC7aD3jql3mnyvqVkrAmWTbPOWB2wyFiT9b7_LTt5G52LEXeXIPWkLApay4cs05TKiLBpFFS3sN2Nou4HqoPG_bizIqQoHcNN3aNXHyl9_q74N7ebEZGUEc/s2213/A%20Vida%20Mental%20Portuguesa%20-%20Visconde%20de%20Villa-Moura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2213" data-original-width="1502" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUbSw0cxJnidgplaU3wBzbki6Iqw574JmGNACliPuzmZusGYFXiNYezswdrk103i3SJmR53lC7aD3jql3mnyvqVkrAmWTbPOWB2wyFiT9b7_LTt5G52LEXeXIPWkLApay4cs05TKiLBpFFS3sN2Nou4HqoPG_bizIqQoHcNN3aNXHyl9_q74N7ebEZGUEc/w271-h400/A%20Vida%20Mental%20Portuguesa%20-%20Visconde%20de%20Villa-Moura.jpg" width="271" /></a></div><p></p><p>Bento de Oliveira Cardoso e Castro Guedes de Carvalho Lobo (1877-1935), foi o primeiro e único Visconde de Villa-Moura, título concedido por D. Carlos I. Deputado, novelista, ensaísta, cronista, devem-se-lhe numerosas obras, entre as quais <i>A Vida Mental Portuguesa - Psychologia e Arte</i> (1909), <i>Nova Sapho - tragedia extranha: romance de pathologia sensual </i>(1912), <i>Fialho d'Almeida</i> (1916) ou <i>As Cinzas de Camillo</i> (1917). Correspondeu-se com Fernando Pessoa, pertenceu ao movimento Renascença Portuguesa, foi cronista da revista "A Águia" e um grande admirador de Camilo Castelo Branco, sobre o qual publicou vários livros.</p><p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUZwNIK1Pxw5sD_Ji5OMuXdx7DYW7gd-XKoIypU3uod6-BSagmRrf7w82zB-uiDAEUI8YY6MK51RCiI_ghPG61OcN6rdSZ35HVNcPuZz-syG6z8lTJUKiHThJxmAWM7hb2efGKfvKPoH2MKiKvDXra-XLYcfSYF9rdX0Ln7ZUXNjLVO8HN08NcCA3B2VBf/s440/Visconde%20de%20Villa-Moura%20-%20Ant%C3%B3nio%20Carneiro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="440" data-original-width="330" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUZwNIK1Pxw5sD_Ji5OMuXdx7DYW7gd-XKoIypU3uod6-BSagmRrf7w82zB-uiDAEUI8YY6MK51RCiI_ghPG61OcN6rdSZ35HVNcPuZz-syG6z8lTJUKiHThJxmAWM7hb2efGKfvKPoH2MKiKvDXra-XLYcfSYF9rdX0Ln7ZUXNjLVO8HN08NcCA3B2VBf/w300-h400/Visconde%20de%20Villa-Moura%20-%20Ant%C3%B3nio%20Carneiro.jpg" width="300" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Visconde de Villa-Moura por António Carneiro<br /></td></tr></tbody></table></p><p>Numa das suas primeiras obras, <i>A Vida Mental Portuguesa - Psychologia e Arte, </i>expõe o seu pensamento artístico e literário<i>. </i>Em <i>Nova Sapho</i>, aborda claramente o lesbianismo, a homossexualidade masculina e a necrofilia, o que provocou um escândalo na época. <i>Fialho d'Almeida</i> é um ensaio sobre o autor de <i>Os gatos</i>. Em <i>As Cinzas de Camillo</i>, dedicado a Nuno Plácido Castelo Branco, evoca a sempre recorrente questão da trasladação para o Panteão dos restos mortais do escritor.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvYLDwNKYpqm7ZXNPQTJdVIPUKJBG4ls7C5fRzzwzn_ZsWm5cAGRKTNQZHL9Xg3lTHedDWXRVMxjKdIPe0Cku2nWQ6pwS3KZA24VUtRVTpKU1LHDjwVXMtJ3m0uigs4ziekAEaO9Lx21Pkd7nD8_KxatnWT5uULfWIaI5fsulTtealScmvBt2Tq3VGpKuN/s1393/As%20cinzas%20de%20Camilo%20-%20Visconde%20de%20Vila-Moura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1393" data-original-width="949" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvYLDwNKYpqm7ZXNPQTJdVIPUKJBG4ls7C5fRzzwzn_ZsWm5cAGRKTNQZHL9Xg3lTHedDWXRVMxjKdIPe0Cku2nWQ6pwS3KZA24VUtRVTpKU1LHDjwVXMtJ3m0uigs4ziekAEaO9Lx21Pkd7nD8_KxatnWT5uULfWIaI5fsulTtealScmvBt2Tq3VGpKuN/w273-h400/As%20cinzas%20de%20Camilo%20-%20Visconde%20de%20Vila-Moura.jpg" width="273" /></a></div><p></p><p>O Visconde de Villa-Moura é hoje uma figura praticamente esquecida, ainda que seja mencionado duas vezes na <i>História da Literatura Portuguesa</i>, de António José Saraiva e Óscar Lopes. </p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOwZac-NddpS8tFwkuArg5-ZkqzPW0mVStQdBDr_Iez4Pv4dyYW5VfpEHw49DTwkbMJl435BUI8krNnO1Ualq3gpUBvcFK3xDtLnRCu8TMfV7w2K0_GFONNUsb7xQPfgUwM6fiIFzxe-TV2cNOJ5QXxswHvqEAjVN-AWG3oBfghthNzuYHNvH43BBa3xUY/s1415/Fialho%20d'Almeida%20-%20Visconde%20de%20Villa-Moura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1415" data-original-width="943" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOwZac-NddpS8tFwkuArg5-ZkqzPW0mVStQdBDr_Iez4Pv4dyYW5VfpEHw49DTwkbMJl435BUI8krNnO1Ualq3gpUBvcFK3xDtLnRCu8TMfV7w2K0_GFONNUsb7xQPfgUwM6fiIFzxe-TV2cNOJ5QXxswHvqEAjVN-AWG3oBfghthNzuYHNvH43BBa3xUY/w266-h400/Fialho%20d'Almeida%20-%20Visconde%20de%20Villa-Moura.jpg" width="266" /></a></div><p></p><p>Escritor decadentista e saudosista, teve alguma notoriedade no seu tempo. As obras que conheço são aquelas cuja imagem reproduzo. Procurei durante muitos anos um exemplar de<i> Nova Sapho</i>, que nunca encontrei e que, por isso, não tendo lido não posso comentar.</p><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicHhN8a-gqsQvQSCYUd7UtKkBZjWEVLbSJ69_bzrUoYWibfyV6gNoCmVNLreujhecc2EyfaP19BHuFrRT5n5Xyz_TpQZMSoLWpEVlyqPGAjusKdBNY5u73tmj3XidKuR-hx6FnL9NVHoYAOOgd2EcaeYQQ3SXdxk-idxQ6jAc37ZkHqWQ9tDb1WvvSH5rU/s1543/Sodoma%20Divinizada.jpg" imageanchor="1"><img border="0" data-original-height="1543" data-original-width="1172" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicHhN8a-gqsQvQSCYUd7UtKkBZjWEVLbSJ69_bzrUoYWibfyV6gNoCmVNLreujhecc2EyfaP19BHuFrRT5n5Xyz_TpQZMSoLWpEVlyqPGAjusKdBNY5u73tmj3XidKuR-hx6FnL9NVHoYAOOgd2EcaeYQQ3SXdxk-idxQ6jAc37ZkHqWQ9tDb1WvvSH5rU/w304-h400/Sodoma%20Divinizada.jpg" width="304" /></a></div><p>Na sua introdução a <i>Sodoma Divinizada</i>, de Raul Leal, o organizador da edição, Aníbal Fernandes, refere-se a <i>Nova Sapho</i>, cuja publicação foi simultaneamente um êxito e um escândalo.<br /></p><p>O Visconde de Villa-Moura, rico proprietário, não se casou e não teve descendência, sendo o título considerado extinto.<b><br /></b></p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-11843936936731005642024-02-03T16:29:00.000+00:002024-02-03T16:30:02.517+00:00O MISTÉRO DA ESTRADA DE SINTRA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8dy2_GZgZyHmDU_lzPxbrEPrhlZNI1nPaBmTHwjGF2XhtXvAPvtiVqIqZDShJgTnd2LEFOz1FXmWodUAD21YlJtQU4gLEAZjOwh800TIvK0dFKfMz-vR_gp72bFrkx9t5MZ9vFK53ymttDEZCQoQ5Wab6bDTK9aiCafC5LGHgKu3Iu5BJIxFsukGYLBYo/s1525/O%20Mist%C3%A9rio%20da%20Estrada%20de%20Sintra%20-%20E%C3%A7a%20de%20Queiroz-Ramalho%20Ortig%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1525" data-original-width="982" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8dy2_GZgZyHmDU_lzPxbrEPrhlZNI1nPaBmTHwjGF2XhtXvAPvtiVqIqZDShJgTnd2LEFOz1FXmWodUAD21YlJtQU4gLEAZjOwh800TIvK0dFKfMz-vR_gp72bFrkx9t5MZ9vFK53ymttDEZCQoQ5Wab6bDTK9aiCafC5LGHgKu3Iu5BJIxFsukGYLBYo/w258-h400/O%20Mist%C3%A9rio%20da%20Estrada%20de%20Sintra%20-%20E%C3%A7a%20de%20Queiroz-Ramalho%20Ortig%C3%A3o.jpg" width="258" /></a></div><p></p><p><i>O Mistério da Estrada de Sintra</i>, que é considerado o primeiro romance policial português, foi publicado sob a forma de cartas anónimas, e à maneira de folhetim, no "Diário de Notícias", em 1870. Na última carta, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão assumem-se como autores e esclarecem tratar-se de uma brincadeira, para sossego dos leitores que haviam pensado relatarem as cartas a existência de um verdadeiro crime. A obra foi posteriormente editada em livro em 1884, tendo tido sucessivas reedições.</p><p>A Estrada de Sintra só aparece no início da obra, onde se cruzam diversas histórias, entre as quais o lon<i>g</i>o<i> intermezzo</i> de uma vista à ilha de Malta, que ocupa quase metade do livro, e que me suscita a curiosidade de saber porque foi escolhida aquela ilha, já então ocupada pelos britânicos, para introduzir um ponto de ruptura na história. Porque não, por exemplo, a Sicília? Eu sei que Eça fora cônsul de Portugal em Bristol e Newcastle, daí talvez o interesse em introduzir um oficial inglês no urdidura, tanto mais que o dito estivera nas Índias, já então também britânicas.</p><p>Lera o livro há quarenta anos, reli-o agora. E surgiu-me a vontade de saber qual a participação no mesmo que é devida a Eça e a Ramalho. Mas a preguiça, e a saúde, não me incentivam a fazer pesquisas. Suponho que tenha havido grande colaboração a nível do estabelecimento do enredo. E a escrita? Algumas páginas são incontestavelmente do punho de Eça.</p><p>Porque possuo uma vasta bibliografia passiva de Eça de Queiroz, logo que a disposição me seja favorável procurarei indagar.</p><p>Mas desiludam-se os amantes de Sintra, já que o local só acidentalmente figura nas primeiras páginas.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-10501225539281970392024-01-17T23:18:00.000+00:002024-01-17T23:18:58.233+00:00TAKING SIDES<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi59_5T8pu_qWJfaQQuNje2GR2_JuwP8yDYIY5kBJkXhc3weBipGHK1GnUIWS82sy9_CZw2pRQR5kbakfgcYcx0FRbSoAVEmiYJlpu5ZiE8NTtfa0iCu3HNlOAX-0Fog8uuWB-Humxs72pNuEwRwZKQTJKxrYLysS-sj43FmGUv39zEfY6uBVQi7CVTN9v1/s1532/Taking%20Sides%20-%20Istv%C3%A1n%20Szab%C3%B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1532" data-original-width="1064" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi59_5T8pu_qWJfaQQuNje2GR2_JuwP8yDYIY5kBJkXhc3weBipGHK1GnUIWS82sy9_CZw2pRQR5kbakfgcYcx0FRbSoAVEmiYJlpu5ZiE8NTtfa0iCu3HNlOAX-0Fog8uuWB-Humxs72pNuEwRwZKQTJKxrYLysS-sj43FmGUv39zEfY6uBVQi7CVTN9v1/w278-h400/Taking%20Sides%20-%20Istv%C3%A1n%20Szab%C3%B3.jpg" width="278" /></a></div><p></p><p>A propósito do "colaboracionismo" do actor Gustaf Gründgens, abordado em <i>post</i> anterior, revi hoje o filme <i>Taking Sides</i> (2001), de István Szabó, o mesmo realizador de <i>Mephisto</i>, a partir da peça homónima de Ronald Harwood.</p><p>O tema é o interrogatório do Doutor Wilhelm Furtwängler, famoso maestro, director da Orquestra Filarmónica de Berlim, por um imbecil major norte-americano, com os pés em cima da secretária e a mastigar pastilha elástica, episódio ocorrido no fim da Segunda Guerra Mundial, durante os chamados processos de desnazificação, como se fosse possível desnazificar alguém, uma ideia pueril e idiota. Os alemães que eram nazis, nazis permaneceram depois da Guerra, os que não eram, também não passaram a ser.</p><p>O Doutor Furtwängler foi acusado de colaborar com o regime nazi por não se ter exilado quando Hitler subiu ao Poder, por ter continuado a dirigir a Orquestra (um dos símbolos da Alemanha) durante os anos da guerra, por ter apertado a mão de Goebbels, por ter dirigido um concerto na véspera de um aniversário do Führer, por não ter recusado a sua nomeação para cargos honoríficos do Reich. Ele foi considerado pelos Aliados uma mais-valia do regime nazi mas seria finalmente absolvido, até porque dispunha de um capital simbólico extraordinário, já que era um dos mais notáveis maestros do mundo. E teria de algum modo o apoio dos britânicos e dos soviéticos, melhores conhecedores da música do que os inquiridores americanos.</p><p>Realmente, Furtwängler nunca pertenceu ao Partido Nazi, nem teria simpatias pelo nacional-socialismo, mas tentou acomodar-se ao regime para continuar a fazer o que melhor do que ninguém sabia: a grande música. Nunca foi anti-semita e até protegeu muitos judeus da Orquestra e não só, como foi oportunamente atestado. O filme (e a peça) trata da incapacidade do major estado-unidense para compreender a situação delicada do maestro, os equilíbrios indispensáveis, a vontade de permanecer na Alemanha e produzir música, e talvez, também, uma sedução pela posição máxima que tinha atingido no país e cuja aura irradiava para o mundo.<br /></p><p>Não cabe aqui descrever o processo de Furtwängler, que pode consultar-se na sua biografia, mas tão só referir o desastroso inquérito de que o maestro foi objecto.<br /></p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-86191625071988167012024-01-16T16:36:00.000+00:002024-01-16T16:36:50.422+00:00DE MEFISTO A FAUSTO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivTHhpJv8HXdopi3OVHiv0oys3N2D4-IbFEghC9jCddXcsCRHRSd5I0yKb3i35RVF_01hlz5z_MtSXaMM6PUOYNkVlDIY5bWhQXoXBzRJUWrvcA2yulXBGJy4veLK8FE5_ralEwyAqg420kCupCFHNwv8CQve5I6pEl78YD1-reBqz-WXY2quQ4081lRFS/s1543/Mephisto-Klaus%20Mann.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1543" data-original-width="953" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivTHhpJv8HXdopi3OVHiv0oys3N2D4-IbFEghC9jCddXcsCRHRSd5I0yKb3i35RVF_01hlz5z_MtSXaMM6PUOYNkVlDIY5bWhQXoXBzRJUWrvcA2yulXBGJy4veLK8FE5_ralEwyAqg420kCupCFHNwv8CQve5I6pEl78YD1-reBqz-WXY2quQ4081lRFS/w248-h400/Mephisto-Klaus%20Mann.jpg" width="248" /></a></div><p></p><p>Não deixa de ser curioso que o escritor alemão Klaus Mann (1906-1949) tenha escrito <i>Mephisto</i> (1936) e que seu pai, o escritor alemão Thomas Mann (1875-1955), Prémio Nobel da Literatura em 1929, tenha escrito <i>Doktor Faustus</i> (1947). Duas variações sobre o eterno tema do homem (Fausto) que vendeu a alma ao Diabo (Mefistófeles), um dos mitos fundadores da Civilização Ocidental.</p><p>Nestes dois romances trata-se da adaptação moderna da lenda germânica medieval que não da sua reconstituição histórica. Foi o dramaturgo inglês Christopher Marlowe (1564-1593) quem abordou pela primeira vez numa peça de teatro, <i>Doctor Faustus</i> (c. 1588), a história famosa, que teve depois inúmeras versões até aos nossos dias, não só na literatura mas também na música e no cinema, com especial destaque para Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), autor do poema dramático em duas partes <i>Faust</i> (1808,1832).</p><p>O <i>Doktor Faustus</i> de Thomas Mann conta-nos a história de um grande compositor alemão (personagem ficcionada), Adrian Leverkühn, cuja ambição o teria levado a um pacto diabólico, e cuja carreira foi parcialmente moldada sobre a vida de Friedrich Nietzsche. Oportunamente lhe faremos referência detalhada.</p><p>É o <i>Mephisto</i> de Klaus Mann que agora nos ocupa. Este romance é também um ajuste de contas. O livro aborda a vida do notável actor Hendrik Höfgen, que frequentou os comunistas no início da carreira e que para obter os favores do regime hitleriano passou a conviver com o nacional-socialismo. Ora Höfgen é uma figura fictícia que dissimula o verdadeiro retratado, Gustaf Gründgens (1899-1963), que foi um dos maiores actores alemães do século XX e um excepcional intérprete da personagem de Mefistófeles.</p><p>Klaus Mann, revolucionário e anti-nazi (culpou muitas vezes o pai por não se ter distanciado inicialmente e frontalmente do Terceiro Reich) detestava Gründgens pelo seu oportunismo e cobardia e também por este ter estado casado, embora por pouco tempo, com sua irmã Erika Mann, a quem Klaus dedicava uma verdadeira paixão. Erika e Klaus eram conhecidos pelos Gémeos Mann, ainda que dois anos de idade os separassem. Nas digressões que efectuaram pelo mundo ficaram assim conhecidos. Klaus sentiu que Gustaf lhe roubava a irmã, da qual não conseguia separar-se, o que aumentou a sua aversão pelo actor, com quem, todavia, chegou a ter uma relação sexual. Acresce dizer que este trio, Klaus, Erika e Gustaf era, talvez significativamente, um trio homossexual, uma orientação que não era estranha à família Mann. O grande Thomas Mann, respeitável chefe de família, pai de seis filhos, lutou toda a vida com o fantasma da homossexualidade, a que cedeu por várias vezes, e que exprimiu literariamente em <i>A Morte em Veneza</i>. E um outro filho, Golo Mann (1909-1994), foi também homossexual, ainda que não publicamente como o seu irmão Klaus. Igualmente muito curioso o facto de os dois grandes nomes associados à lenda de Fausto serem também homossexuais: Marlowe, sem dúvida, e Goethe, disfarçadamente, mas cuja orientação é confirmada pelo seu biógrafo Karl Hugo Pruy. </p><p>A semelhança entre a personagem Hendrik Höfgen e o actor Gustaf Gründgens é tão evidente que, após a morte deste, o seu filho adoptivo Peter Gorski processou a editora na Alemanha e obteve a proibição de publicação do livro em 1968, decisão posteriormente anulada em 1971. O livro foi adaptado livremente ao cinema em 1981 pelo realizador húngaro István Szabó, com Klaus Maria Brandauer no protagonista</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv7JI0qbunAQM0Go9e-KqiFv1bhhAXm5e5YUxuljUb_B_8RsZsbsWlexOvWn4nJlvGfrwhJZ_XByk_hFC4HsmHLVFIYLKsURIUv4zODGV34GzeTdcXtuDqqV8neY1ChQbcIQxhD182_jLwxGqMxwq00e9wMd60QRtJHBLqNSEJRpSrQmXr7LioliuKVtf7/s1508/Mephisto%20-%20Istv%C3%A1n%20Szab%C3%B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1508" data-original-width="1043" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv7JI0qbunAQM0Go9e-KqiFv1bhhAXm5e5YUxuljUb_B_8RsZsbsWlexOvWn4nJlvGfrwhJZ_XByk_hFC4HsmHLVFIYLKsURIUv4zODGV34GzeTdcXtuDqqV8neY1ChQbcIQxhD182_jLwxGqMxwq00e9wMd60QRtJHBLqNSEJRpSrQmXr7LioliuKVtf7/w276-h400/Mephisto%20-%20Istv%C3%A1n%20Szab%C3%B3.jpg" width="276" /></a></div><p></p><p>Regressemos a <i>Mephisto</i>. É naturalmente um <i>roman à clef</i>, mas não completamente. Compõe-se o livro de um prólogo e dez capítulos. O Prólogo descreve uma sumptuosa recepção na Ópera de Berlim (1936) em honra do 43º aniversário do obeso presidente do Conselho do Reich cujo nome nunca é mencionado mas que é claramente o marechal Göring, que não foi, contudo, presidente do Conselho de Ministros, que na Alemanha tem a designação de Chanceler, lugar que era ocupado por Adolf Hitler, que era também chefe do Estado, com o título de Führer. Göring foi ministro da Aviação e ministro-presidente da Prússia. Na recepção está também presente o claudicante chefe da Propaganda cujo nome é igualmente omitido mas que imediatamente identificamos com o ministro da Propaganda Joseph Goebbels. O Prólogo mostra também a conversão da alta sociedade alemã ao regime nazi. Os dignitários são recebidos pelo administrador dos teatros nacionais, Höfgen, no esplendor das suas funções . <br /></p><p>O capítulo I é dedicado à actividade de Höfgen no Künstlertheater de Hamburgo e às características pessoais do actor; o capítulo II aborda a estranha relação sexual de Höfgen, de carácter masoquista, com uma bailarina mulata, Juliette Martens, a Vénus Negra, que lhe dá lições de dança; o capítulo III aborda a estreia no Teatro de Hamburgo da peça Knorke, de Théofile Marder, com a actriz Nicoletta von Niebuhr, que se faz acompanhar da sua inseparável amiga Barbara, filha do conselheiro privado Bruckner; o capítulo IV é dedicado ao casamento de Höfgen com Barbara Bruckner e à sua estranha "lua-de-mel"; o capítulo V trata da instalação do casal em Hamburgo, numa parte da casa de Mme. Mönkeberg, tendo Nicoletta, a amiga de Barbara, preferido residir num hotel. Entretanto, Nicoletta resolve aceder ao pedido de Marder para se casar com ele e despede-se do teatro sem aviso prévio. Höfgen retoma a sua estranha ligação com Juliette (que o autor classifica de masoquismo negróide) e Barbara, frequentando o bar do Teatro, conhece e tem conversas com o colega do marido, o jovem actor Hans Miklas, um rapaz que se sente discriminado e é um entusiasta do partido nazi. Höfgen, que detesta o rapaz tem com ele uma altercação e consegue que ele seja despedido do Teatro; no capítulo VI Höfgen recebe um convite do Professor (o grande encenador e director da maior parte dos teatros da Alemanha) para representar em Viena, sendo-lhe atribuído um pequeno papel, mas o resultado é desastroso. Apesar disso, e dado tratar-se do genro do conselheiro privado Bruckner, o Professor convida-o para representar em Berlim, onde começa a obter os primeiros triunfos. A sua prestação em <i>La faute</i>, de Richard Loser, é um êxito. Höfgen é agora convidado das melhores famílias de Berlim e inicia a sua carreira no cinema. Sentindo a falta de Juliette, Höfgen convida-a a instalar-se em Berlim. De acordo com as suas convicções iniciais, e recebendo agora consideráveis honorários, Höfgen, por intermédio do seu antigo colega do teatro de Hamburgo, Otto Ulrichs, envia donativos às organizações comunistas. Na temporada 1932-1933, Höfgen interpretará, no Staatstheater de Berlim, o grande papel da sua vida, Mefisto, na grande produção de <i>Fausto</i>, comemorativa do centenário da morte de Goethe. [<b>Possuo a gravação em seis LP's da peça, numa encenação de Gustaf Gründgens, no Düsseldorfer Schauspielhauses, com Paul Hartmann em Fausto (1ª Parte), Will Quadflieg em Fausto (2ª Parte) e Gustaf Gründgens em Mefistófeles</b>]; no capítulo VII, Höfgen, encontrando-se em filmagens em Madrid, toma conhecimento de que Hitler foi nomeado Chanceler do Reich. Tendo proclamado sempre a necessidade de um teatro revolucionário, sendo amigo dos comunistas e opositor do partido nazi, Höfgen fica profundamente preocupado e decide viajar até Paris, onde sabe do incêndio no Reichstag. Hesita em regressar à Alemanha, mas uma jovem actriz do Teatro de Hamburgo informa-o de que Lotte Lindenthal (na vida real Emmy Sonnemann, amante e mais tarde mulher de Göring) o deseja como parceiro numa peça que vai estrear-se em Berlim. É a oportunidade de Höfgen resgatar o seu passado. O espectáculo é um êxito. O Staatstheater decide entretanto apresentar <i>Fausto</i>, com um actor nacional-socialista previsto para o papel de Mefistófeles, a grande interpretação de Höfgen. Este não se conforma que alguém o substitua e intercede junto de Lotte para que ela interceda junto de Göring no sentido de que o papel lhe seja confiado. O marechal faz essa recomendação ao director do Teatro, apesar dos teatros estarem sob a alçada de Goebbels. Höfgen é finalmente escolhido e o espectáculo, a cuja estreia assistem Göring e Lotte, é um triunfo para o intérprete de Mefistófeles que é recebido por Göring no seu camarote durante o intervalo. Este felicita Höfgen pelo seu desempenho e aperta-lhe a mão, o que o autor considera a selagem de um pacto com o diabo, embora registe que o actor não deixou de ficar angustiado; o capítulo VIII refere-se à impressão causada na população pelo caloroso acolhimento que Göring fizera a Höfgen, que era suposto ter caído em desgraça pelas suas anteriores opiniões políticas. Nos dias seguintes, é apresentado ao ministro da Propaganda, que o detesta mas que o acolhe calorosamente, para não o deixar nas mãos do seu rival Göring. Por outro lado, Höfgen continua, em digressão pelo país, com a peça em que contracena com Lotte, obtendo um extraordinário sucesso. Para fazer uma boa acção, Höfgen consegue obter de Göring o perdão do seu antigo camarada Otto Ulrichs, e mesmo convencê-lo a aceitar um pequeno emprego no Staatstheater, já que o mesmo, grande militante comunista, permanece sem emprego. Por outro lado, Höfgen consegue a detenção e o envio para Paris de Juliette, a Vénus Negra, que o descobrira em Berlim e que passara a persegui-lo. Tratava-se de uma amizade comprometedora, além do mais era negra, e a sua partida tranquilizou o actor. Quanto ao jovem Hans Miklas, agora contratado no Staatstheater, que fora nazi desde a primeira hora mas que agora se mostrava desiludido com o Partido, do qual se demitira, foi eliminado com um tiro; no capítulo IX, Barbara parte para Paris e pede o divórcio. Também o conselheiro privado Bruckner se instala em França. Perto dele, vive com Nicoletta o dramaturgo Théophile Marder. Também o Professor abandonou a Alemanha e encena por toda a Europa. Cada vez os expatriados são em maior número, e Dora Martin regista triunfos em Londres e New York. Nicoletta acaba por deixar Marder e regressa a Berlim, para ingressar finalmente no Teatro Nacional, cuja administração acaba por ser confiada a Höfgen; o capítulo X descreve a vida sumptuosa de Höfgen, agora casado com Nicoletta, na sua elegante <i>villa</i> de Grunewald. É pormenorizadamente descrita a frequência da residência, incluindo o Obeso Marechal. Ulrichs acaba por ser preso, Höfgen intercede por ele junto do Marechal, cuja resposta negativa é furiosa. Para consternação de Höfgen, Ulrichs, torturado, morre. A estreia de Höfgen em Hamlet, com Nicoletta em Ofélia, é um triunfo. Göring asiste e aplaude, o que significa uma reconciliação com om actor depois da tempestuosa cena da intercessão a respeito de Ulrichs. Höfgen continua a procurar fazer algumas boas acções junto de inimigos dos nazis que lhe possam valer de protecção no caso do regime soçobrar. E continua a interrogar-se, de vez em quando, sobre o seu próprio carácter, a inconstância das suas convicções, o seu oportunismo ao aliar-se de facto a um sistema opressivo e sanguinário.</p><p>Logo no início do livro Klaus Mann não prescinde de referir um pormenor curioso. O actor Hendrik Höfgen chamava-se na realidade Henrik mas resolvera mudar o nome quando entrara no teatro, ficando furioso quando o tratavam por Henrik. Também, Gustaf Gründgens não se chamava Gustaf mas Gustav, ocorrendo a mudança do nome quando da sua entrada na vida teatral. Klaus Mann sempre atento apos pormenores de uma carreira.<br /></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIuA49qPeV2MhBQRyp6pbnZHGr91ctpg-d-NhFx8hkwoZz-rjn6d5UOcEqEajK4OLJOORDbhGC-7tNf4mn_q7rgiYPr0hyphenhyphenzj7-hgaVrg1x_QOi96OB3Iwp4nncLGiasSuA_XUvX-jnADSy5J10KJvFnCBQDkdqyyQO3TMktlnC9-R_bBSzWvMsOo1J4Y_7/s2863/Fausto%20I.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2785" data-original-width="2863" height="389" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIuA49qPeV2MhBQRyp6pbnZHGr91ctpg-d-NhFx8hkwoZz-rjn6d5UOcEqEajK4OLJOORDbhGC-7tNf4mn_q7rgiYPr0hyphenhyphenzj7-hgaVrg1x_QOi96OB3Iwp4nncLGiasSuA_XUvX-jnADSy5J10KJvFnCBQDkdqyyQO3TMktlnC9-R_bBSzWvMsOo1J4Y_7/w400-h389/Fausto%20I.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr></tbody></table><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvEqgUo0ujRZHjlqiHBp8W4BMzLKLITA0mOqerrjCoLbdJ2zD45Y41wFssbqPe31fa7J9hVjGJfcuf1j5WAyT1ydnT5P8W2ybSwvoJdLMfZIqhAq4KoWkFhX_-cUBozSEEfQBvXW4iF7RuDUud36nocpS7OuFDAG45ekmHorfQTv3iRdit4Zj8W5y6T-sz/s2544/Fausto%20II.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2544" data-original-width="2540" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvEqgUo0ujRZHjlqiHBp8W4BMzLKLITA0mOqerrjCoLbdJ2zD45Y41wFssbqPe31fa7J9hVjGJfcuf1j5WAyT1ydnT5P8W2ybSwvoJdLMfZIqhAq4KoWkFhX_-cUBozSEEfQBvXW4iF7RuDUud36nocpS7OuFDAG45ekmHorfQTv3iRdit4Zj8W5y6T-sz/w399-h400/Fausto%20II.jpg" width="399" /></a></div><p>Não se pode dizer que o livro de Klaus Mann seja um extraordinário romance, muito longe do nível das obras de seu pai, cuja sombra, aliás, sempre lhe pesou. Mas não deixa de ser uma obra perturbante, denunciadora da ausência de escrúpulos de um regime que entre algumas coisas boas estabeleceu um sistema totalitário, sanguinário e desordenado que avançou sobre pilhas de cadáveres. O que provocou o apoio da maioria dos alemães a este regime, até bem perto do seu fim? A pergunta permanece sem a devida resposta, depois da publicação dos milhares de obras que se seguiram à queda do III Reich! <i>Mephisto</i> situa-se a meio caminho entre o retrato fiel de Gründgens e uma obra original sobre um artista que sacrifica os seus (pretensos) ideais pela comodidade de uma situação vantajosa, mesmo que esta implique uma comprometedora aliança. É por isso que alguns aspectos da vida de Höfgen são decalcados em Gründgens mas outros não. Assim, Klaus Mann nunca alude à homossexualidade da personagem, sendo sabido, publicamente, a orientação sexual do famoso intérprete de Mefistófeles. Talvez porque Klaus Mann fosse também homossexual, talvez por respeito a uma condição que, ao contrário de Klaus, Gründgens nunca alardeou. O que parece preocupar especialmente o autor é a caracterização psicológica da personagem. E também a descrição da sociedade alemã do tempo, em plena ascensão do regime nazi (o livro é de 1936), mas antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Já são feitas algumas alusões ao perigo judeu, mas ainda se estava longe das perseguições sistemáticas, civis e depois físicas, que só começaram a ocorrer, progressivamente, depois de 1935, com a publicação das Leis de Nurenberg.</p><p>Tratando-se de um <i>roman à clef</i>, muitas das personagens figuram no livro com nomes que não os reais, ainda que outras sejam mesmo totalmente ficcionadas. No caso das primeiras, não sendo eu contemporâneo da época, só consegui decifrar algumas delas. Podemos admitir que Barbara, Nicoletta e Bruckner sejam, na verdade, Erika Mann, Pamela Wedekind e Thomas Mann, por exemplo. E o Professor, talvez Max Reinhardt. E Dora Martin, Marlene Dietrich. O livro deveria ter no fim, como acontece em casos idênticos, uma identificação das personagens na vida real.</p><p>Klaus Mann sobreviveu 13 anos à publicação do seu livro e foi contemporâneo da II Guerra Mundial. Mas o livro de 1936 previu em larga medida os anos posteriores e dá-nos um retrato do que seriam os 9 anos que ainda duraria o Reich.<br /></p><p>Klaus Mann suicidou-se em Cannes, em 21 de Maio de 1949.<br /></p><br />Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-82580632588490538462023-12-25T22:27:00.003+00:002023-12-25T22:28:06.248+00:00O QUE CORREU MAL?<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikAiBJegjsCD4GyTRFx4eOv61yXgF-wwlh5g57cYUOiDxkTsSzU7mvMLtditwYN5UUNFw1DmzAU4z0dmM5cyDipsUaqhD79d0RpM59_ROsfa3T5_fLlH7U49Tta9N2ynvdokbyLtO6or3eq8p7MXe4T-1EK-jv3aahqR_apKg7E9dFj9luo1eUtYB7yVvI/s2338/O%20que%20correu%20mal-Bernard%20Lewis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1654" data-original-width="2338" height="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikAiBJegjsCD4GyTRFx4eOv61yXgF-wwlh5g57cYUOiDxkTsSzU7mvMLtditwYN5UUNFw1DmzAU4z0dmM5cyDipsUaqhD79d0RpM59_ROsfa3T5_fLlH7U49Tta9N2ynvdokbyLtO6or3eq8p7MXe4T-1EK-jv3aahqR_apKg7E9dFj9luo1eUtYB7yVvI/w400-h283/O%20que%20correu%20mal-Bernard%20Lewis.jpg" width="400" /></a></div><br /><p></p><p>Li agora a tradução portuguesa de <i>What Went Wrong? - The Clash Between Islam and Modernity in the Middle East</i> (2002), que comprara aquando da publicação, do académico britânico de origem judaica Bernard Lewis (1916-2018), professor da Universidade de Princetown.</p><p>A edição portuguesa intitula-se <i>O Médio Oriente e o Ocidente - O que correu mal?</i>, foi publicada em 2003, e, ao contrário daquilo a que já nos vamos habituando, apresenta uma tradução quase sempre precisa (conferi várias vezes com o original), incluindo os nomes em árabe, em que o tradutor (Bruno Cardoso Reis) mantém a transliteração inglesa (que é a correcta), em vez de adoptar a transliteração francesa (que não respeita o alfabeto árabe, embora seja usual entre nós) o que mostra que este tem conhecimentos da língua árabe, chegando mesmo a incluir em notas de rodapé algumas explicações sobre as palavras.<br /></p><p>A produção de Bernard Lewis, que se dedicou a estudar o Mundo Árabe, o Islão e as suas relações com o Ocidente, é vasta, e tendencialmente objectiva, mais nuns livros do que noutros, evidenciando que o autor, apesar de inglês, judeu e professor americano, não compartilha dos preconceitos anti-muçulmanos de muitos dos seus colegas. É certo que manteve uma polémica com o famoso académico palestiniano-americano Edward Saïd (1935-2003), professor na Universidade de Columbia, especialmente por causa das teses enunciadas por este no seu livro <i>Orientalism</i> (1978), mas a abordagem a que procedeu em <i>What Went Wrong?</i> é geralmente adequada. </p><p>O livro aborda a civilização islâmica nos mundos árabe, turco e persa, o seu apogeu e o seu declínio. Durante séculos, a civilização islâmica foi proeminente em relação ao Ocidente, caído que fora o Império Romano, mas a partir dos finais da Idade Média europeia e o advento do Renascimento verificou-se uma decadência progressiva do Mundo Islâmico, não só no aspecto militar mas especialmente no universo cultural, devido em grande parte a preconceitos de ordem religiosa que impediam o acesso a conhecimentos dos "infiéis". O Islão, que chegara a ser um farol do conhecimento em muitos matérias e que divulgara a cultura grega [lembro-me eu da Bayt al-Hikma, de Baghdad] e que produzira obras notáveis de filosofia e de história [Ibn Khaldun] e se distinguiu na astronomia, geometria, medicina, etc., entrou num lento processo de declínio onde só tentou equiparar-se ao Ocidente em termos militares, e mesmo assim com reduzido êxito.</p><p>O autor analisa em particular o Império Otomano, até porque foi este que exerceu maior preponderância, durante séculos, no Mundo Islâmico, já que absorvera a quase totalidade do Mundo Árabe, sendo o Mundo Persa era uma realidade relativamente à parte. Os turcos estiveram por duas vezes às portas de Viena, e se tivessem ganho as batalhas de então poderíamos ser hoje todos muçulmanos, ou não, porque no Islão as conversões não eram absolutamente obrigatórias, podendo os povos, com o estatuto de <i>dhimmi</i>, manter a sua religião. Recorde-se que, de forma geral, os muçulmanos foram mais tolerantes com as outras religiões (não digo com os ateus, isso era uma linha vermelha) do que os cristãos, que muitos judeus expulsos da Europa, <i>maxime</i> de Espanha e de Portugal, encontraram abrigo no Império Otomano, e que os muçulmanos nunca entenderam as Guerras de Religião na Europa. Mesmo muitos cristãos cismáticos acharam refúgio no mundo muçulmano e o Egipto, conquistado pelos árabes no século VII, possui ainda hoje uma população cristã (copta) que deve ser cerca de 15% da população total do país.</p><p>A Revolução dos Jovens Turcos, que pôs fim ao Império Otomano e acabou por conduzir à proclamação da República Turca sob a liderança de Kemal Atatürk, levou à introdução de profundas reformas no país, desde a adopção do alfabeto latino à instauração da laicidade. Os muçulmanos do Médio Oriente têm culpado sucessivamente o Ocidente pela situação de relativa inferioridade nos campos político, social, cultural, militar, etc., em que se encontram hoje em face desse mesmo Ocidente. E interrogam-se sobre o que lhes terá corrido mal. Essa é a perspectiva de Bernard Lewis. É claro que se trata de uma apreciação discutível, já que BL considera, naturalmente, o Ocidente no topo da modernidade. Mas somos obrigados a admitir, para sermos honestos, que os médio-orientais (se não todos, muitos deles) podem preferir a situação em que actualmente vivem do que uma outra copiando os modelos ocidentais. Uma hipótese que nunca seria compreendida por Lewis, para quem a vanguarda da civilização reside no Mundo Ocidental.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-14872164598218585332023-12-24T17:08:00.000+00:002023-12-24T17:09:07.953+00:00PEDRO HOMEM DE MELLO<p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjz4AVvNmWzNyI2PE2TA-IR79j9q-fFgZJ8HHU6VRiCTO8uku4qSIT-9VobbOm8TW0slvLXFvqZL2_4hOc-RoUi0C-K1umhRlwRGofAnCZf3TTFSdhyzwt6VAns0dPKQP3UXIh4tW8gOE2o_Hjqd2LxxajJEvIzAL-noauYx3ePL6YvpL_Pl0zfGBLrj6R/s1952/Poesias%20Escolhidas%20-%20Pedro%20Homem%20de%20Mello.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1952" data-original-width="1192" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjz4AVvNmWzNyI2PE2TA-IR79j9q-fFgZJ8HHU6VRiCTO8uku4qSIT-9VobbOm8TW0slvLXFvqZL2_4hOc-RoUi0C-K1umhRlwRGofAnCZf3TTFSdhyzwt6VAns0dPKQP3UXIh4tW8gOE2o_Hjqd2LxxajJEvIzAL-noauYx3ePL6YvpL_Pl0zfGBLrj6R/w244-h400/Poesias%20Escolhidas%20-%20Pedro%20Homem%20de%20Mello.jpg" width="244" /></a></div><br />Consultei <i>Poesias Escolhidas</i>, de Pedro Homem de Mello (1904-1984), na edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1983). <p></p><p>Procurei o célebre poema, "O Rapaz da Camisola Verde", que foi imortalizado pelas vozes de Amália Rodrigues e de Hermano da Câmara. Não o encontrei!!!</p><p>O poema é este:</p><p> </p><div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">De mãos nos bolsos e de
olhar distante,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Jeito de marinheiro ou
de soldado,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Era um rapaz de
camisola verde,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: red;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Perguntei-lhe quem era
e ele me disse</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">“Sou do monte, Senhor,
e um seu criado”.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Pobre rapaz de camisola
verde,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: red;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Porque me assaltam
turvos pensamentos?</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Na minha frente estava
um condenado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Vai-te, rapaz da
camisola verde,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: red;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ouvindo-me, quedou-se o
bravo moço,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Indiferente à raiva do
meu brado,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">E ali ficou de camisola
verde,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: red;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Soube depois ali que se
perdera</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Esse que só eu pudera
ter salvado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ai do rapaz da camisola
verde,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<span style="color: red;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ai do rapaz da camisola
verde,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Negra madeixa ao vento,</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<b style="color: red;"><i><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif; font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Boina maruja ao lado.</span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal">
<br /></div>
<br /><p>Creio que foi incluído na obra <i>Quadras ao Gosto Popular</i>, de 1972. </p><p></p><p>Na presente edição da IN-CM, chamada "poesias escolhidas" e não "obra completa", talvez intencionalmente, não figura este poema. A edição, lamentavelmente sem qualquer aparato crítico, integra 25 livros de PHM, entre os quais o livro <i>O Rapaz da Camisola Verde</i> (1954), que inclui um poema intitulado "O rapaz da camisola verde", mas que nada tem que ver com o poema que referimos (excepto o título), não mencionando qualquer rapaz de camisola verde. O assunto é totalmente diferente. E a edição não inclui a obra <i>Quadras ao Gosto Popular</i>!<br /></p><p>Trata-se certamente de uma atitude censória da então administração da IN-CM, por causa dos costumes. </p><p>UMA VERGONHA!!!<br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-54935520149085045422023-12-05T22:44:00.001+00:002023-12-05T22:44:28.683+00:00PUBLIUS AELIUS HADRIANUS<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbH-WUr2zo3Iz9uGWclnj4aFfSJKqCkNyu9J0lq_QrxwMQ8XTpnf_Tlk1P3JJQ5jacvFwYSo_f2vwnKY4hz9zSnFCBknc2NXhoOVH2eCjVpy0s6931_5mCHORJ3z7vKA9desVaIckS4WCtE-qZr93CB8qw89TgwxkoAL23TzPw57v7aj8-ksnPd5T8Xkgr/s1908/Hadrian%20-%20Anthony%20Everitt.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1908" data-original-width="1261" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbH-WUr2zo3Iz9uGWclnj4aFfSJKqCkNyu9J0lq_QrxwMQ8XTpnf_Tlk1P3JJQ5jacvFwYSo_f2vwnKY4hz9zSnFCBknc2NXhoOVH2eCjVpy0s6931_5mCHORJ3z7vKA9desVaIckS4WCtE-qZr93CB8qw89TgwxkoAL23TzPw57v7aj8-ksnPd5T8Xkgr/w264-h400/Hadrian%20-%20Anthony%20Everitt.jpg" width="264" /></a></div><p></p><p>Foram publicados nos últimos anos muitos livros sobre o imperador Adriano, após um período de quase silenciamento durante séculos. Na Antiguidade, como referi em <i>post</i> publicado há três anos, foi especialmente mencionado na <i>Romaika </i>(História Romana), de Dion Cassius e na <i>Historia Augusta</i>, atribuída a seis historiadores, embora seja citado por outros autores, como Ammianus Marcellinus, Arrianus, Flavius Josephus, Plutarco, Tácito, etc. </p><p>Os estudos modernos começaram mais propriamente no século XX, embora ainda no século XIX fosse publicada a monumental <i>Römische Geschichte </i>(História de Roma), de Theodor Mommsen (Prémio Nobel da Literatura em 1902), por sinal bastante antipática em relação à figura de Adriano, sem esquecer <i>History of the Decline and Fall of the Roman Empire</i>, de Edward Gibbon, ainda no século XVIII, obras de referência, se bem que não especificamente dedicadas ao imperador.</p><p>É verdade que os largos anos da época vitoriana e períodos conexos não foram propícios a estudos sobre a personagem Adriano, naturalmente por causa dos costumes. Mas o advento do século XX veio propiciar-nos eruditas e agradáveis biografias, em que se destacam <i>Hadrian, the Restless Emperor</i> (1997), de Anthony Birley, <i>Beloved of God: The Story of Hadrian and Antinous</i>, de Royston Lambert (1984), <i>Hadrian - Empire and Conflict </i>(catálogo de 2008, do British Museum), de Thorsten Opper e o livro agora em apreço, <i>Hadrian and the Triumph of Rome </i>(2009), de Anthony Everitt, uma das obras mais interessantes e cultas sobre o homem que mandou construir para seu mausoléu o edifício hoje designado por Castel Sant'Angelo, quase ao lado da futura Basílica de São Pedro do Vaticano.<br /></p><p>Mas a verdadeira ressurreição tardia da figura do tão notável quanto enigmático imperador ficou a dever-se a um livro tornado famoso da escritora belga Marguerite Yourcenar (1903-1987), <i>Mémoires d'Hadrien</i>, publicado em 1951, que foi traduzido em inúmeras línguas e divulgado pelo mundo inteiro. Esta obra valeu a Marguerite Yourcenar a sua eleição para a Academia Francesa, sendo a primeira mulher a ingressar sob a cúpula desde a fundação da instituição pelo Cardeal de Richelieu.</p><p>Embora baseado nas fontes históricas disponíveis e redigido sob a forma de uma carta que Adriano dirige ao seu sucessor Marco Aurélio, o imperador (ou a Yourcenar) traça a biografia, abordando todos os aspectos da sua vida e prodigalizando-lhe conselhos. Sendo, realmente, uma obra de ficção, ainda que exaustivamente documentada, <i>Mémoires d'Hadrien</i> preencheu um incontestável vazio e durante cerca de meio século tornou-se uma autoridade académica, até surgirem posteriores trabalhos de verdadeira investigação histórica.</p><p>O presente livro de Anthony Everitt aborda com profundidade e muita perspicácia a vida de Publius Aelius Hadrianus, desde o seu nascimento, em Itálica (na Bética Hispânica), em 24 de Janeiro de 76 (embora a <i>Historia Romana</i> o dê como nascido em Roma) até à sua morte, em Baias (Itália), em 10 de Julho de 138. Reinou de 10 de Agosto de 117 a 10 de Julho de 138. E fá-lo, enquadrando o imperador na sociedade do seu tempo, que exaustivamente escalpeliza. Esta biografia é, também, uma história de Roma no tempo de Adriano.<br /></p><p>Ele era filho do senador Publius Aelius Hadrianus Afer (primo do futuro imperador Trajano) e de Domitia Paulina, e casou com Vibia Sabina, sobrinha-neta de Trajano. Não teve filhos.</p><p>Tendo o pai falecido prematuramente, teve dois tutores, o mais importante o seu primo Trajano, que o tomou sob a sua protecção, embora não o tendo designado como sucessor. Trajano, casado com Pompeia Plotina, também não teve filhos. O outro tutor, e da maior influência junto de Trajano, foi Publius Acilius Attianus<br /></p><p>Considerado como favorito de Trajano (com quem aliás as relações nem sempre foram fáceis) o imperador nunca proclamou Adriano como seu sucessor, mas a imperatriz-viúva Plotina declarou que Trajano o tinha adoptado e apresentou um documento nesse sentido assinado por si e datado de um dia depois da morte do marido, documento esse aceite pelo Senado e pelas legiões, maioritariamente favoráveis ao novo incumbente. Uma época feliz para Roma.</p><p>O reinado de Adriano caracterizou-se por duas óptimas ideias. A primeira, foi a de que o Império não poderia continuar a estender-se indefinidamente. Alargado da Espanha à Turquia e do Mar Negro ao Maghreb, havia que parar e construir muralhas onde não existissem fronteiras naturais. Na Bretanha, a muralha de Adriano ainda hoje existe. A segunda boa ideia de Adriano decorreu do seu amor à Grécia. A metade leste do Império falava grego e orgulhava-se da cultura de Homero. No Ocidente, Roma era o superpoder da bacia do Mediterrâneo e comandava exércitos temíveis. Adriano decidiu transformar o Império num projecto conjunto em que o cultural e o militar, a arte e o poder se encontrassem equitativamente. Colocou gregos no governo e, através de impressionantes construções, projectou Atenas como a capital espiritual do Império. Por estas duas vias, Adriano introduziu, como escreveu, um pouco exageradamente, Edward Gibbon na sua <i>History of the Decline and Fall of the Roman Empire</i>, "the fair prospect of universal peace".</p><p>Na sua vertiginosa expansão, muitos países aceitaram a supremacia de Roma e tornaram-se estados-vassalos, satisfeitos com muitas das reformas introduzidas. Mas nem todos.</p><p>«There was a terrible exception to this record of benevolent success. Hadrian's politics had a dark side. The one people that refused to be reconciled to the imperial system was the Jews. A great revolt against Rome broke out. The outcome was a catastrophe for the rebels; according to one estimate, many thousands of Jews were killed, and many others driven from the land. In an attempt to annihilate this thorny and yielding race from memory, Hadrian renamed Jerusalem and replaced Judaea with a new minted word, Palestine. All Jews were forbidden from entering their own capital city. It took two thousand years before they were able to return and resume their independence.» (p. xi)</p><p>É verdade que Trajano viveu grande parte da sua vida obcecado com a figura e as vitórias de Alexandre, que procurou imitar até as forças lhe faltarem. E, como Alexandre, não designou um sucessor, embora nos últimos anos fosse admitido que seria Adriano o escolhido. Nos últimos momentos, Alexandre entregou o anel real para ser usado pelo "melhor" dos seus companheiros. Também Augusto, julgando-se moribundo, chegou a entregar o seu anel a Marcus Agrippa, que acabaria por o preceder na morte. Mas Trajano hesitou até ao fim, restando o testemunho de Plotina. </p><p>A célebre Coluna Trajana, no Forum Romano, onde estão inscritas as notáveis vitórias de Trajano, era encimada por uma estátua do imperador nu, mas foi substituída mais tarde pela estátua de São Pedro (???) que ainda hoje lá permanece.<br /></p><p>A morte de Trajano permanece envolta em algum mistério. Sabemos que o imperador se encontrava doente mas o seu fim pode ter sido apressado com a finalidade de promover rapidamente a ascensão de Adriano e não é adquirido que a própria imperatriz Plotina, que dedicava grande afeição a Adriano, não estivesse envolvida nesse esquema, com a cumplicidade de Attianus. Não que existisse qualquer relação sexual entre Plotina e Adriano (Plotina era uma mulher de grande virtude e Adriano apreciava sobretudo rapazes) mas a imperatriz vislumbrava em Adriano a continuação das reformas e da estabilidade introduzida pelo seu próprio marido. A hipótese de homicídio tem várias sustentações, entre as quais a morte de Marcus Ulpius Phaedimus, um liberto que gozava de grande proximidade e amizade de Trajano, de quem fora amante, pois afirmam os testemunhos que, em jovem, fora um lindo rapaz. Ora Phaedimus morreu no próprio dia em que foi anunciada a morte de Trajano. E o seu corpo só foi transportado para Roma doze anos mais tarde. Parece que o liberto se encontrava então doente e que se terá suicidado. Mas também consta que Phaedimus sabia muitas coisas que poderiam afectar a credibilidade de Plotina. Por isso, tornava-se necessário eliminá-lo.</p><p>As cinzas de Trajano foram transportadas para Roma e finalmente depositadas na base da Coluna Trajana. </p><p>A redução das fronteiras propriamente ditas do Império Romano foi uma das mais importantes decisões de Adriano, tomada logo nos primeiros tempos do seu reinado. A manutenção de um imenso exército espalhado por milhares de quilómetros tinha um custo altamente elevado e a sua gestão tornava-se difícil, até pela morosidade das comunicações num território cujas dimensões abrangiam a Europa, a Ásia, a África. Já Augusto recomendara a Tibério para permanecer dentro das fronteiras existentes, como registou Tácito nos <i>Anais</i>. Por isso, Adriano ordenou o abandono das três novas províncias do seu antecessor - Arménia, Mesopotâmia e Assíria - e o seu reagrupamento permanente atrás da fronteira tradicional de Roma, o rio Eufrates. Também pensou abandonar a Dácia, cuja conquista custara milhares de vidas romanas, mas foi persuadido a reconsiderar. A população original tinha sido maioritariamente morta ou dispersa e o seu lugar preenchido por imigrantes oriundos do Império Romano. </p><p>«Somewhere in Egypt - perhaps the border town of Pelusium or Heliopolis, at the southern head of the Nile delta - Hadrian presided over the trial, or at least some kind of official inquiry or hearing, of some hotheaded Alexandrian Greeks, led by a spokesman called Paul. A Jewish delegation was also present. From the report proceedings it is possible to suppose the following savage sequence of events. After the failure of the Jewish revolt, many Jews were imprisoned and the triumphant Greeks put on a satirical stage show lampooning the rebel "king" Lukuas [um dos chefes da rebelião]. Some of them sang songs criticizing the emperor for deciding to resettle Jewish survivors of the revolt in an area of the city from which they could easily launch new attacks on the native population. The irritated governor (Rammius'predecessor) ordered the Greeks to produce their "<i>opera-bouffe</i> monarch". Infortunately this "bringing forth" also brought many Greek rioters onto the streets. A Jewish witness asserted an unprovoked attack on a defetead community. "They dragged us out of prison and wounded us." Charges and coutercharges followed. The Jewish said the Greeks: "Sire, they lie". Hadrian was inclined to agree. He told the Greeks that the prefect was right to ban the carrying of weapons and thar he disapproved of the satire on Lukuas. He advise the Jews to restrict their hatred on their actual persecutors and not to loathe all Alexandrian Greeks indiscriminately. This evenhanded treatment came as a pleasant surprise to the defetead insurgents.» (pp. 175-176) Recorde-se que já nos mapas da antiga Alexandria Ptolemaica um dos quatro distritos da cidade se chamava o Distrito Judaico.</p><p>Adriano, que desde muito jovem se interessou pelo mundo helénico (chamavam-lhe em Roma <i>Graeculus</i>), conservou durante toda a sua vida um fascínio pela Antiga Grécia. E, seguindo um costume grego, foi o primeiro imperador romano a usar barba. A par da sua notável acção nos domínios político, militar, jurídico, económico, financeiro, social, religioso, preocupou-se com a actividade cultural, privilegiando os gregos. À imitação de Augusto, que foi em muitos aspectos o seu modelo, desenvolveu o mecenato e, ainda a exemplo do primeiro imperador, que fora amigo de Horácio, manteve amizade com Juvenal. </p><p>Devem-se a Adriano grandes construções públicas em todo o território do Império. Introduziu grandes melhoramentos no Panteão de Agrippa (construído no tempo de Augusto) e restaurou também, em Roma, o Templo de Neptuno, devido igualmente a Agrippa. Encomendou o templo dedicado à mais recente "deusa", Augusta Matidia, sobrinha de Trajano e mãe de Vibia Sabina, que casou com o próprio Adriano. Consta que este tinha uma mais profunda dedicação à sogra do que à própria mulher. O monumento foi edificado na zona nobre onde se encontravam o Mausoléu de Augusto e o Ara Pacis. Deve-se-lhe também o famoso complexo palaciano Villa Hadriana, situado em Tivoli, a 30 quilómetros de Roma.</p><p>Contudo, apesar das belezas de Roma, de algo mais carecia Adriano. Tendo passado parte da sua vida no Oriente, nomeadamente na Grécia, essa nostalgia permanecia-lhe. Por isso, em 119 viaja para a Câmpania, a região de Itália com mais semelhanças com a Grécia. E permanece um tempo em Nápoles, Neapolis (a cidade nova), onde foi distinguido com o título de <i>demarch</i> (governante do povo).</p><p>Para provar a sua indefectível devoção, a sua <i>pietas</i>, a mais tradicional das virtudes, tomou duas decisões. Primeiro, projectou um templo dedicado à deusa Vénus, mãe de Aeneas, que renovou a arruinada Troia nos campos do Latium, e proclamou Roma, a cidade do espírito divino. Em segundo lugar, entendeu que Roma merecia uma festa de aniversário. Segundo a lenda, Roma foi fundada por Rómulo em 21 de Abril de 753 AC, no Monte Palatino. Com esse fim, anunciou a celebração anual, nesse dia, de <i>Natalis Urbis Romae</i>, comemorado com grandes festividades.</p><p>Tendo passado uma larga parte da vida nos campos de batalha, Adriano procurou sempre identificar-se com a vida da tropa, recusando quaisquer privilégios devidos ao seu cargo. Dormia e comia em condições idênticas às dos seus soldados e oficiais, por cuja vida privada e bem-estar se interessava pessoalmente. Aliviou certas regras demasiado severas do serviço militar e permitiu o casamento dos soldados. Até então, não era concedido aos soldados casarem-se durante o período de recrutamento, embora muitos mantivessem relações informais com mulheres (e naturalmente também com os camaradas) e delas tivessem filhos. Com esta decisão esse relacionamento (com as mulheres) foi legalizado, com todas as devidas consequências jurídicas. Segundo uma carta descoberta no deserto egípcio, esse assunto foi objecto de debate com o Prefeito do Egipto, passando as crianças a serem legitimadas.</p><p>«The Roman had a different idea of a frontier than we do today. It was not a line demarcating the edge of a national or political territory, on the far side of which another power owned the freehold. Rather, he saw it as the edge of land that the state, the <i>Senatus Popolusque Romanus</i>, directly administered. (p. 210)</p><h2 style="text-align: left;"><span style="font-size: small;"><span style="font-weight: normal;">Quando chegou à Alta Germânia, Adriano interessou-se especialmente pelo <i>limes</i> erigido por Domiciano, e depois por Trajano. «Originally a <i>limes</i> was a pathway between two fields, but here it means a road lined with about one thousand watchtowers and two hundred or so forts and fortlets, running from the Rhine above Mainz southeast to the Danube above Regensburg. The <i>limes</i> bridged an awkward gap between the two great rivers that otherwise constituted Rome's natural borders between the North and Black seas. When the emperor visited the <i>limes</i>, he made an important and innovative decision. On the "enemy" side of the road he ordered his soldiers to build an unbroken wooden palisade perhaps ten feet high, consisting of large oak posts, split in two with the flat sides facing out, and strengthened by crossbeams. This was a tremendous entreprise, for the <i>limes</i> was about 350 miles long. Wide swaths of German forest were harvested.» (p. 211)</span></span></h2><h2 style="text-align: left;"><span style="font-size: small;"><span style="font-weight: normal;">«But the sheer ambition of the projects suggests another, overriding motive. The wall was a visible confirmation of Hadrian's policy of imperial stasis. It was a spectacular symbol both of the power of Rome and of its determination not to grow any further. This interpretation is supported by an observation in the <i>Historia Augusta</i> that Hadrian used artificial barriers to shut off or set apart barbarians "during this period [his first provincial tour] and on many other occasions." In other words, the German palisade was not a one-off project to meet a particular threat, but an example of an empire-wide policy that was bound to have a demonstrative as well as a practical effect. The policy may well have been unpopular with his generals and with the Senate, but he emperor never wavered in his determination to implement it. With the passage of time, the benefits of defensive imperialism became widely accepted, at least in the provinces. Later in century a comentator remarked approvingly: "An encamped army, like a rampart, encloses the civilized world in a ring." Having introduced his new training regime and commissioned his palisade, the emperor was ready to move on. His next major destination was the island of Britannia, perched on the outer boundary of the known world.» (pp. 211-212)</span></span><br /></h2><p>A Muralha de Adriano (ou o que dela resta) ainda hoje existe localizada sensivelmente na linha de fronteira entre a Inglaterra e a Escócia. «The most famous Roman monument in the British Isles is Hadrian's Wall, the <i>Vallum Aelium</i>. Despite its celebrity today, there is only one literary reference to it in antiquity linking it to Hadrian. The <i>Historia Augusta</i> observes that he was "the first to construct a wall, eighty [Roman] miles long, which was to separate the barbarians from the Romans".» (p. 222)</p><p>As deambulações de Adriano pelo Império levaram-no à Bitínia, no Ponto. Em 123 encontrava-se em Claudiópolis. Foi nessa altura que conheceu Antínoo, que se presume tivesse 15 anos, cujo aniversário se celebrava a 27 de Novembro e que era natural dessa cidade. Julga-se que Antínoo, possivelmente originário de famílias modestas, tenha sido visto pelo imperador por ocasião de jogos em que houvesse participado. O encontro com Adriano poderá ter acontecido também em Nicomédia, a capital da província. A verdade é que o rapaz fascinou Adriano como nenhum outro dos milhares que terão passado anteriormente pelo leito imperial. Em 123, Adriano tinha 47 anos, isto é, mais 32 anos do que Antínoo.</p><p>Nada se sabe da família do rapaz, mas embora modesta deveria ter algum prestígio, atendendo ao facto de Antínoo participar em cerimónias públicas. O relacionamento que estabeleceu com o imperador iluminou o resto das suas vidas.</p><p>No Império Romano, às relações entre pessoas do mesmo sexo não lhes era atribuído qualquer sentimento de pecado ou de culpa, como viria a acontecer com o triunfo do Cristianismo. Tratava-se de actos absolutamente normais, embora existissem alguns limites. O sexo com escravos ou estrangeiros era completamente normal, e até desejável. Mas estavam excluídos do leque os cidadãos romanos. Se Antínoo fosse cidadão de Roma, Adriano estaria quebrando as regras estabelecidas. Também havia a questão da penetração. O cidadão deveria exercer sempre o papel de "activo". Qualquer romano podia introduzir o pénis em quem lhe apetecesse mas nunca deveria ser penetrado. É claro que estas regras eram quebradas com a maior frequência, mas constituíam sempre actos à margem da lei. Os romanos não praticavam <i>fellatio</i>, mas permitiam que lho fizessem.<br /></p><p>O conceito das relações sexuais em Roma entre pessoas do mesmo sexo era diferentes do da Grécia. Na Grécia, a <i>paederestia</i> (pederastia) fazia parte da educação. Os jovens eram educados por adultos em várias disciplinas, incluindo o sexo. Os rapazes eram <i>eromenos</i> até lhes crescer a barba. Depois disso, os <i>erastas</i> deviam deixá-los e arranjar outros mais novos. Ou seja, o contrário do que determina a nossa "civilização" actual. Mas, mesmo na Grécia, a situação não era idêntica em todas as cidades-estado. Ao contrário de Atenas, Esparta e Tebas incluíam a educação militar e os "amantes" iam para a guerra aos pares. Recordemos a célebre Legião Tebana. Ao contrário de Roma, na Grécia o acto não abrangia, por norma, a sodomização. Quando muito, os <i>erastas </i>poderiam ter com os <i>eromenos</i> uma relação intercrural. Na prática, estas limitações também não eram respeitadas, como se imagina, mas eram as regras vigentes. O sistema ateniense é muito bem descrito no <i>Symposium</i> (<i>O Banquete</i>), de Platão.</p><p>No que respeita à homossexualidade feminina, é interessante realçar um aspecto. Havia na corte de Trajano um trio de mulheres, não necessariamente lésbicas, mas que assumiu uma importância política notável. E que viviam rodeadas de mulheres. Eram elas Plotina, mulher de Trajano, com quem o imperador nunca terá mantido elações sexuais (Trajano só gostava de rapazes); Salonia Matidia, sobrinha de Trajano; Vibia Sabina, filha de Salonia Matidia e mulher de Adriano (com quem este só muito raramente e no início do casamento terá mantido relações sexuais; há uma alusão dela afirmando evitar ficar grávida). Seria interessante termos mais conhecimentos deste poderoso círculo feminino, que exerceu a sua influência durante meio século, e que poderá ter contribuído para um incentivar da homossexualidade feminina em Roma. O comportamento sexual de Trajano e de Adriano teve forte repercussão na vida social e cultural da época. Juvenal e Estratão abordaram abertamente nos seus poemas os novos (já eram antigos mas agora mais explícios) gostos sexuais.<br /></p><p>Depois do seu encontro, Antínoo passou a viver com o imperador. Mas a relação permaneceu discreta, só assumindo visibilidade aquando da viagem ao Egipto. É possível que nos primeiros anos Adriano tenha enviado Antínoo para o Paedagogium, em Roma, um colégio de elite onde eram educados os filhos das melhores famílias romanas. É que o imperador pretendia um amante não só belo mas com um mínimo de cultura e de educação que o pudesse acompanhar ao longo da vida. O que nos primeiros momentos tinha sido uma aventura, transformou-se, por desconhecidos e imperscrutáveis motivos, numa ligação duradoura.</p><p>Entretanto, Adriano prosseguia o seu périplo político-militar- cultural-turístico. Esteve em Granicus, evocando Alexandre Magno. Depois em Troia, em Hadrianópolis, em Pérgamo e em Rhodes. </p><p>Em 124, foi iniciado nos mistérios de Elêusis. E visitou Mantineia, que para ele tinha um significado especial, sendo suposto que dela eram originários os gregos que colonizaram Claudiópolis, a cidade de Antínoo. Em Atenas, apaixonou-se por Lucius Vibullius Hiparchos Tiberius Claudius Atticus Herodes Marathonios, de 24 anos, conhecido simplesmente por Herodes Atticus, aristocrata ateniense fabulosamente rico, cujo avô passava por ser o homem mais rico de todo o mundo grego. Ele e o seu filho eram generosos patronos das artes e da arquitectura e colaboraram com o imperador no embelezamento de Atenas. </p><p>Desde a República que se verificava, como notou Plutarco, uma subserviência da Grécia em relação a Roma. Adriano respeitou as convenções, não "libertando" a Grécia mas tornando-a "igual" a Roma <i>dentro</i> do Império. Roma continuou a ser o centro do governo mas Atenas tornou-se a capital espiritual do Império. E a cidade acolheu novas e belas construções.</p><p>Naturalmente que Adriano manteve, como os seus antecessores, a ficção de que Roma era uma República, e ele apenas o <i>princeps</i>. Assim, cumpriu todas as formalidades republicanas, mas o centro do poder estava verdadeiramente em Tibur (actualmente Tivoli) local da célebre Villa Hadriana, um notável complexo de edificações que mais do que um palácio era uma verdadeira cidade.</p><p>Por esta altura uma parte da família mais próxima de Adriano já tinha morrido. A irmã mais velha de Adriano, Paulina, casara com Servianus, bastante mais velho, que se julgou pudesse vir a ser o sucessor. Mas estando aquele agora com cerca de 90 anos, Adriano inclinou-se para o neto deste, Lucius (ou Gnaeus) Pedanius Fuscus Salinator. Todavia, em 136 mudou de ideias e decidiu adoptar Lucius Ceionius Commodus, dando-lhe o nome de Lucius Aelius Caesar, mais por uma questão de aspecto do que de qualidades para governar. Todavia, sofrendo de tuberculose, o rapaz morreu pouco tempo depois. Interessou-se depois pelo jovem Marcus Annius Verus, descendente de uma família ilustre. Como era muito novo, Adriano encarregou-se da sua educação, lembrando o cuidado de Augusto ao educar os prematuramente falecidos filhos de Marcus Agrippa, Gaius e Lucius Caesar.</p><p>Entre 125 e 127 o imperador permaneceu em Tibur; em 11 de Agosto de 127 esteve em Roma, nas comemorações da sua acessão ao Império. A seguir iniciou uma viagem pelo norte de África, mandando realizar grandes obras nas regiões hoje correspondentes à Argélia e Tunísia. Depois regressou à Grécia, visitando várias cidades, Continuou para a Judeia, onde mandou edificar um templo dedicado a Júpiter Capitolino sobre as ruínas do templo de Herodes e rebaptizando Jerusalém com o nome de Aelia Capitolina. Neste itinerário seguiu-se o Egipto, que era uma propriedade pessoal dos imperadores, desde Augusto, e que Adriano desejava vistar demoradamente, até por se interessar pelo culto dos antigos deuses e pelo passado ptolemaico de Alexandria. Nesta cidade, reuniu-se diversas vezes com os sábios do Mouseion e apreciou o que ainda restava da Biblioteca inicial, embora as suas relações com os intelectuais da época não tenham sido fáceis, devido à vontade do imperador de impor as suas opiniões.</p><p>Viajando com Antínoo no Nilo, navegou no Canal Canópico e visitou o Templo de Serápis. É nesta altura que ocorre a morte do seu bem-amado, em circunstâncias nunca completamente esclarecidas. Para respeitar fielmente o texto, passo a transcrever o original: </p><p>«A few miles south of Heliopolis, Hadrian, Antinous, and their entourage toured Memphis, founded more than three thousands years previously and the original capital of the old kingdom of Egypt. They inspected the pyramids and the Sphinx. Then the imperial party sailed on upriver and moored at Hermopolis (Egyptian Khemennu). Situated on the border between Upper (or southern) and Lower Egypt, this was a populous and opulent city, with a famous sanctuary of Thoth, god of magic, heart and tongue of Ra, arbiter of good and evil and judge of dead.»</p><p>«On October 22 the festival of the Nile was celebrated - usually a happy celebration of the renewed fertility that the river's annual inundation brought about, but on this occasion a glum affair, one suspects, for it was the second year when there had been a disastrously poor flood. Then two days later came the anniversary of the death of Osiris and worshippers chanted for his yearly rebirth, analogous with the rise fall of the river.»</p><p>«Opposite Hermopolis the riverbank curved and the current strengthened. A small, impoverished settlement of mud huts lay along the shore and close by stood a modest temple of Ramses the Great, Egypt's most famous pharaoh (1298-1235 B.C.). One day during the last week of the month, here or hereabouts, the lifeless body of Antinous was recovered from the river. He had drowned.»</p><p>«Hadrian broke down. The <i>Historia Augusta</i> noted, disapprovingly, that he "wept for the youth like a woman." He declared that he had seen a new star in the sky, which he took to be that of Antinous. Courtiers assured him that the star was new and had indeed come from Antinous' spirit as it left his body and rose up into the heavens. The emperor decided that Antinous was to be deified. Dead, he was to be reborn as a god.»</p><p>«From the point of view of Roman convention, such a thing was unheard of. Emperors, and wives or close relatives, received divine honors by approval of the Senate - but not boyfriends of no political or social significance. Hadrian did not even trouble the Senate with the matter, for "the Greeks deified him at Hadrian's request." What precisely this means is unclear, but what there was a long-standing tradition in the eastern Mediterranean of potentates declaring themselves gods, and in the popular mind the boundary between the human and the divine was porous.»</p><p>«As it happened, there was a local precedent for the conferral of divine honors. A drowning in the Nile had magical properties. When Pachrates' spell called for a mouse and beetles to be drowned in the Nile, the actual word he used was "deified". This was because many believed that the Nile conferred immortality on anyone it took to itself by drowning. (Importantly, suicides were excepted.) Only the priests could touch the corpses and these were buried at the public expense. Two brothers, Petesi and Paher, who drowned in Roman times even had a temple devoted to them. In the second-century tomb of a girl, Isidora, who drowned in the river, a funerary poem has her father say: "O my saughter, no longer will I bring you offerings with lamentations, now that I know that you have become a god."»</p><p>«So Antinous joined the immortals - but how did he come to die in the first place? This is difficult to ascertain, for nothing is known about the exact circumstances. In his memoirs Hadrian asserted that the death was an accident, but the ancient sources were not so sure. Three texts give accounts of what happened - Dio Cassius, the <i>Historia Augusta</i> , and Aurelius Victor. They were written long after the event, are not altogether reliable, and (some say) betray signs of malice. According to Dio, the best of the bunch,<br /></p><p><i>Antinous... had been a favorite of the emperor and had died in Egypt, either by falling into the Nile, as Hadrian writes, or, as the truth is, by being offered in sacrifice. For Hadrian, as I have stated, was always very curious and employed divinations and incantations of all kinds.</i></p><p>Aurelius Victor agrees, reporting that</p><p><i>when Hadrian wanted to prolong his life and magicians had demanded a volunteer in his place, they report that although everyone else refused, Antinous offered himself and for this reason the honors mentioned above were accorded him. We shall leave the matter unresolved, although with someone of a self-indulgent nature we are suspicious of a relationship between men far apart age.</i></p><p>The <i>Historia Augusta</i> takes a similar line, but with less certainty.</p><p><i>Concerning this incident there are varying rumors; for some claim that he had devoted himself to death for Hadrian, and others - what both his beauty and Hadrian's excessive sensuality indicate.</i></p><p>What is intended by this insinuation is unclear; presumably the reader is to infer that Antinous killed himself in order to escape the emperor's sexual advances.»</p><p>«The first and most ordinary of explanations is that the emperor's favorite was drowned by accident, just as Hadrian claimed. A youth, high spirits, unpredictable currents or underwater plants trapping an unwary diver or swimmer - this is a familiar and plausible concatenation of circumstances. But a personage of Antinoo's importance would seldom be alone, and if he went for a swim help would surely have been close at hand.»</p><p>«A second possibility is that he committed suicide, evading notice and slipping silently into the river, perhaps under cover of darkness. It is not too hard to guess at motives. He was now about twenty, and no longer the pretty lad who had first caught the emperor's eye. If Hadrian fancied only smooth-cheeked teenagers, then indeed Antinous faced an uncertain future. What use would his patron and lover have for him once he had graduated from <i>puer</i>, boy, to <i>iuvenis</i>, young man?»</p><p>«There is evidence, though, that Hadrian had catholic tastes. Aurelius Victor claims that "malicious rumors spread that he debauched adult males (<i>puberibus</i>)." While no necessary blame attached to a youthful <i>eromenos</i> for having sex with his <i>erastes</i> and even privately allowing himself to be buggered, it was, as we have seen, shameful for an adult to accept the receptive role. Antinous, having reached manhood, may have been unwilling to go on sleeping with the emperor. In his eyes, if he allowed things to continue as before, he would be little better than a male prostitute. All too credibly, he could imagine himself aging into the superannuated gigolo of Juvenal's satire.»</p><p>«Even if there was something to these fears, that one member of the pair was losing interest or that the other was feeling shame, the evidence of Hadrian's behavior after the drowning points to the passionate sincerity of his love, and so surely mitigates them. That is to say, Antinous could count on the emperor's continuing affection even if for one reason or another the love affair itself were to end. He had no grounds for anticipating that he would either be discarded or abused.» (pp. 286, 287, 288, 289)</p><p>«Although Hadrian and Antinous are hardly a perfect match for the Greek couple, >rrian was surely linking two doomed <i>eromenoi</i> who, in different ways, put yheir lives on the line for their lovers. It was a delicate allusion, well judged to touch and comfort his desolate correspondent.» (p. 290)</p><p>Na semana seguinte à morte de Antínoo, o imperador decidiu fundar uma nova cidade no lado oposto a Hermópolis, onde ele se tinha afogado e que se chamou Antinópolis. Foi povoada por descendentes de gregos e veteranos do exército, atraídos pelas generosas taxas de concessão. Quase nada resta hoje dessa cidade, graças às depredações da população local, mas ainda há trezentos anos muitos edifícios encontravam-se intactos. Um vistante do século XVIII anotou: "This town was a perpetual peristyle." (p. 291) Ariano pensou sepultar Antínoo na nova cidade, mas rapidamente mudou de ideias, sendo o corpo enviado para Tibur, onde foi sepultado num mausoléu na Villa Hadriana. O rapaz passou à categoria de deus, sendo-lhe prestado culto como Antínoo-Osíris, um culto que se espalhou por todo o Império. Como um deus que morre e ressuscita, ele tornou-se, durante um tempo, um rival do cristianismo. À volta do Mediterrâneo foram criados templos, altares, sacerdócios, oráculos, inscrições e jogos em seu nome. Estima-se que, por ordem de Adriano, foram esculpidos cerca de 2 000 bustos e estátuas de Antínoo, de que ainda subsistem mais de 115, e sendo admissível que mais surjam com o passar do tempo, à medida que escavações diversas prosseguem em vários locais.</p><p>Apesar do profundo desgosto, Adriano continuou o seu périplo no Egipto. Visitou os Colossos de Memnon, em Tebas e regressou a Alexandria onde fez a planificação de Antinópolis. Deixou o Egipto na Primavera de 131, passou pela Síria e no Inverno encontrava-se de novo em Atenas, revisitando Elêusis.</p><p>Encontrando-se em Atenas, Adriano tomou conhecimento de mais uma revolta judaica, acora liderada por Bar Kokhba, que se proclamava o Messias. O imperador organizou a expedição militar (ele mesmo terá nela participado) que esmagou os revoltosos, tendo o auto-proclamado Messias, que declarara a independência face a Roma, sido morto. Os insurrectos tinham escavado uma notável rede de túneis na Judeia a partir dos quais atacavam as guarnições romanas, mas, segundo o autor, não chegaram a tomar Jerusalém (a nova Aelia Capitolina), o que contradiz outras versões desta terceira revolta.</p><p>«The building of Aelia Capitolina proceeded apace and an equestrian statue of Hadrian, still in plac more than a century later, was erected on the site of the Holy of Holy. Pagan shrines were built over Jewish places of worship. By the city gate for the Bethlehem road, a marble sow was erected, insultingly offensive to Jews and denoting their subjection to Roman power. Judaea was abolhised as a territorial entity. It was added to Galilee and the enlarged and purified province was known as Syria Palaestina, the first time the term <i>Palestine</i> was ever employed. It was to be as if the chosen people had never existed.</p><p>Hadrian was acclaimed <i>imperator</i> for the first time in his reign, a title adopetd by an emperor only after a signal victory, and his three chief generals, Severus and the governors of Syria nad Arabia, were granted triumphal honors, <i>ornamenta triumphalia</i>, the hghest military honor to which theu could aspire. The emperor was unusually parsimonious with such titles, and his generosity on this occasion signals the shock that had rocked the empire. It had taken a huge effort to put down the revolt.</p><p>For Hadrian, his victory was in part a defeat. His policy was to attract the fullest possible consent to Roman rule, to entice provincial elites to join him in government, to recast the empire as a commonwealth of equals. There is no reason to doubt the sincerity of this approach, but, for all that, the revolt had exposed its falsity. The final guarantee of the <i>pax Romana</i> was the brute force of the legions. This, in turn, was a reminder of the implicit fragility of the imperial system. If the army were ever to fail, what would then preserve Rome's dominion?</p><p>When the rabbinical authors mention the name of Hadrian they often add the phrase "May his bones rot!" No wonder, for it was now clear that, after recurrent revolts at the end of Nero's reign and then at the end of Trajan's, the Jews would never again give Rome any trouble.» (pp. 304-305)</p><p>Na Primavera de 134 Adriano regressou a Roma. Começava a ser a altura de designar um sucessor. Como vimos anteriormente, em dado momento o imperador, falhadas outras hipóteses, interessou-se pelo muito jovem Marcus Annius Verus, neto do senador Annius Verus, personagem distinta em Roma e que foi cônsul por três vezes. Adriano encarregou-se da educação de Marcus, que começou a distinguir-se no domínio do latim e do grego e na filosofia. Parece que o rapaz, que além do mais era muito bonito, o que também agradava ao imperador, se tornou pretensioso mas as suas qualidades fazia crer a Adriano que ele poderia ser um óptimo governante.</p><p>Durante a ausência de Roma do imperador, as grandes construções prosseguiram. Em 135 foi dedicado o templo de Vénus. Continuou a construção de um grande mausoléu imperial em Roma (o actual Castel Sant'Angelo), uma vez que o mausoléu de Augusto estava totalmente preenchido, tendo Nerva lá sido sepultado já com dificuldade. As cinzas de Trajano foram depositadas no sopé da sua Coluna. </p><p>A partir do seu regresso a Roma, Adriano passou a maior parte do tempo na sua Villa, em Tibur, superintendendo a construção do templo dedicado a Antínoo. Mas a sua saúde começou a deteriorar-se sofrendo recorrentemente de hemorragias nasais. Em 24 de Janeiro de 136 completou 60 anos mas a crença que a morte do bem-amado poderia ter contribuído para prolongar a sua boa saúde foi obviamente uma esperança vã. E começou a dar mostras de inexplicáveis irritações e a afastar até antigos e grandes amigos. Após uma grave hemorragia, o imperador percebeu que o seu fim estava próximo e resolveu oficializar a sucessão. O seu cunhado Servianus, com quem durante muito tempo tivera divergências, estava na casa dos noventa anos e por isso fora de questão. A hipótese do neto deste, Pedanius Fusco, acabou por ser descartada. Na segunda metade de 136, Adriano decidiu nomear como sucessor Lucius Ceionius Commodus, que baptizou como Lucius Aelius Caesar, então com 34 anos, que tinha sido senador mas não tinha experiência governativa. Fora, também ele, em tempos, amante de Adriano, tavez um antecessor de Antínoo. Encontrava-se já doente (tuberculoso) e acabou por morrer em 1 de Janeiro de 138, ainda antes do imperador. <br /></p><p>Também entre fins de 136 e começos de 137 morreu a imperatriz Vibia Sabina, tendo-se falado de suicídio, o que não está provado. Apesar da sua indiferença sexual, Adriano tratou sempre bem a mulher, concedendo-lhe todas as honras inerentes à sua posição.</p><p>Nos últimas anos da sua vida, Adriano, ao contrário do que lhe era habitual, procedeu a diversas purgas eliminou ou afastou velhos amigos e tornou-se facilmente irritável, talvez consequência da deterioração do seu estado de saúde. Também passou a suspeitar de várias conspirações contra a sua pessoa. Não se lhe conhecem anteriormente especiais actos de violência, excepto a morte de alguns cônsules no início do seu reinado.</p><p>Em 136, Marcus Annius Verus tinha 15 anos e tornara-se a menina dos olhos de Adriano (como refere expressamente o autor) e trocou a <i>toga praetexta</i> pel <i>toga virilis</i>. Os cônsules noemaram-no para o posto honorífico mas altamente honroso de prefeito da cidade, <i>praefectus urbi</i> (não confundir com o funcionário com o mesmo título que tinha a cargo a administração da cidade). Marcus (o futuro Marco Aurélio) não terá provavelmente tido intimidade sexual com o imperador, mas não era alheio a esses relacionamentos. Segundo Anthony Everitt «It is relevant to note that two or three years later, young Marcus Annius Verus and his tutor Marcus Cornelius Fronto exchanged letters about their love for each other. Fronto, holding back, says, "so far as I am concerned you shall be called καλδς ['beautiful', usually applied to victorious atheletes] and not <span class="HwtZe" lang="el"><span class="jCAhz ChMk0b"><span class="ryNqvb">ερωμένος [<i>eromenos</i>, or 'beloved']." Marcus objects: "You shall never drive me, your lover, away." There is something artificial about the correspondence, but even if Marcus and Fronto were only playing at having an affair it does strongly suggest that Greek love was a respectable and accepted convention at court.» (p. 311)</span></span></span></p><p><span class="HwtZe" lang="el"><span class="jCAhz ChMk0b"><span class="ryNqvb">Finalmente, em 25 de Fevereiro de 138, Adriano adoptou como sucessor Titus Aurelius Fulvius Boionius Arrius Antoninus, senador de meia-idade, homem muito rico e de impecáveis antecedentes, que ficou conhecido como Antonino Pio. Com a indicação de que este deveria adoptar como sucessor Marco Aurélio.</span></span></span></p><p><span class="HwtZe" lang="el"><span class="jCAhz ChMk0b"><span class="ryNqvb"><span style="font-size: small;">O estado de saúde de Adriano agravou-se progressivamente e o imperador procurou quem pudesse matá-lo mas todos os convidados recusaram à excepção de um cativo da tribo de Iazyges. O acto foi evit</span>ado no último momento devido á rápida intervenção de Antonino. </span></span></span></p><p><span class="HwtZe" lang="el"><span class="jCAhz ChMk0b"><span class="ryNqvb">Nos meses finais da sua vida, Adriano encontrou energia para escrever uma autobiografia na forma de uma carta a Antonino, da qual foi encontrado um fragmento, em papiro, em Fayum, no Egipto. </span></span></span></p><p><span class="HwtZe" lang="el"><span class="jCAhz ChMk0b"><span class="ryNqvb">«He also wrote a poem, a short address to his soul as it quits its body and sets out for the unknown. It is a fine piece of work, allusive, adroitly opaque - and owing more to Adrian's favorite, Ennius, than to fluent, smooth Virgil.</span></span></span></p><p><span class="HwtZe" lang="el"><span class="jCAhz ChMk0b"><span class="ryNqvb"> </span></span></span></p><p><!--[if gte mso 9]><xml>
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</p><p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">animula vagula blandula</i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">hospes comesque
corporis</i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">quae nunc abibis?
In loca</i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">pallidula rigida nudula</i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">nec ut soles dabis
iocos</i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Little soul, you charming little wanderer,</span></i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">my body’s guest and partner,</span></i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">where are you off to know? Somewhere</span></i></p>
<p class="MsoNoSpacing"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">without colour, savage and bare;</span></i></p><p>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">you’crack
no more of your jokes once you’re there</span></i></p><p><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> <br /></span></i></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">The failing emperor retreated from Rome</span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span></i><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">to an imperial villa at the seaside resort of Baiae. He abandoned his medical regimen and ate and drank whatever he liked. This precipitated a final crisis and he lost consciousness after shooting out loud: "Many doctors killed a king." On July 10, 138, the man who entered life as Publius Aelius Hadrianus left it as Imperator Caesar Divi Traiani filius Traianus Hadrianus Augustus. His next name was due to be Divus H</span><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">adrianus, Hadrian the God. But is very nearly failed to make the grade.</span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">» </span></i><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">(pp. 319-320)</span></span></span></p><p><span style="font-size: small;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></i></span></p><p><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Recorde-se que foi sob a forma de uma carta dirigida a Marco Aurélio, e não a Antonino, que Marguerite Yourcenar escreveu <i>Mémoires d'Hadrien</i>.</span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span></i></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Apesar da excelência do seu reinado, Adriano não foi, segundo Dion Cassius, muito apreciado pelos romanos, talvez devido ao episódio da morte dos cônsules no início da sua governação. Foi sepultado nos jardins de Domitia, próximo do seu mausoléu, que só ficou concluído no ano seguinte e para onde as suas cinzas foram então trasladadas. O Senado, atendendo às relações difíceis com Adriano, não desejou deificá-lo, mas devido à insistência de Antonino (talvez por isso chamado Pio) prestou-lhe honras triunfais. </span></span></span></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Por morte de Antonino, sucedeu-lhe, como previsto, Marco Aurélio (161-180) que reinou inicialmente em conjunto com seu irmão adoptivo Lucius Verus (161-169), filho de Lucius Aelius Caesar, que Adriano adoptara anteriormente mas que morreu antes do falecimento deste. Foi a primeira vez que o Império foi governado por dois imperadores simultaneamente.</span></span></span></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">«In his reflections, many years later</span><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">, in which he reviewed those to whom he owed gratitude, Marcus Aurelius surprisingly makes no affectionate mention of his adoptive grandfather. "Do not be upset", he wrote, addressing himself as a good Stoic. "In a little while you will be no one and nowhere, as is true now even of Hadrian and Augustus." His friend and mentor, Fronto, found it hard to warm to Hadrian, whom he compared unfavorably to his successor.» (p. 323)</span></span></span></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Concluindo, que o texto já vai longo, reafirmemos que Adriano foi um dos mais notáveis imperadores romanos, quer política ou militarmente, quer nos campos administrativo, jurídico, económico, cultural, religioso.</span></span></span></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"><span face=""Calibri","sans-serif"" lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">E muito se deve a Marguerite Yourcenar pela ressurreição do interesse por Adriano que teve lugar no passado século XX.<br /></span></span></span></p><p><span style="font-size: small;"><span style="mso-bidi-font-style: normal;"></span></span></p><p></p><p></p><p><span style="font-size: small;"></span></p><p style="text-align: center;">* * *</p><p style="text-align: left;">Não tendo agora incluído imagens, remeto o leitor para o texto que sobre Adriano publiquei em 25 de Outubro de 2020, no seguinte <i>post</i>: <a href="http://domedioorienteeafins.blogspot.com/2020/08/memorias-de-adriano.html">http://domedioorienteeafins.blogspot.com/2020/08/memorias-de-adriano.html</a></p><p style="text-align: left;"> <br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-20150596558696961822023-11-23T22:16:00.000+00:002023-11-23T22:17:35.683+00:00MANUEL PINTO DA FONSECA, GRÃO-MESTRE DA ORDEM DE MALTA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj04OCvmdyacHzV_kB2JEsePAfTfgQfb4Wmgz1-oe3RyjtpapaHg0RSPfMaM4Pu8s-0_A_H-3CP0Y0J0yYLwXDGk3ysj7TDhL0L4cHvTjD2gamWls3IZIaxDuAkhv5yLLy-4N8VefB38EGcpv3ASR7X2innxWbGi_play2v6XBudEvZ5ulBsuoyR1Yfh2PK/s1620/Manuel%20Pinto%20da%20Fonseca.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1620" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj04OCvmdyacHzV_kB2JEsePAfTfgQfb4Wmgz1-oe3RyjtpapaHg0RSPfMaM4Pu8s-0_A_H-3CP0Y0J0yYLwXDGk3ysj7TDhL0L4cHvTjD2gamWls3IZIaxDuAkhv5yLLy-4N8VefB38EGcpv3ASR7X2innxWbGi_play2v6XBudEvZ5ulBsuoyR1Yfh2PK/w266-h400/Manuel%20Pinto%20da%20Fonseca.png" width="266" /></a></div><p></p><p>Conferência do Embaixador Fernando Ramos Machado, na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 17 de Novembro passado, sobre a notável figura de Manuel Pinto da Fonseca, Grão-Mestre da Ordem de Malta, um dos mais prestigiados soberanos da augusta instituição.</p><p><br /></p><p>Publica-se por especial deferência e com a permissão do autor.<br /></p><p> </p><p><!--[if gte mso 9]><xml>
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</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>MANUEL PINTO DA FONSECA</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>GRÃO-MESTRE DA ORDEM
DE MALTA (1741-1773)</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>I</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Foram, até agora, quatro os Grão-Mestres
portugueses da Ordem de S. João de Jerusalém, mais conhecida, a partir do Séc.
XVI, como Ordem de Malta:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">- Afonso de Portugal (1202-1206) </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">- Luís Mendes de Vasconcelos
(1622-1623)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">- António Manoel de Vilhena
(1722-1736)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">-
Manuel Pinto da Fonseca (1741-1773)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
2022, assinalou-se a passagem de 400 anos sobre a eleição de Vasconcelos e de
300 sobre a de Vilhena. Em 2023, registou-se, novamente, uma dupla efeméride –
os 400 anos da morte de Vasconcelos e os 250 da de Fonseca. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A Vasconcelos (e a Vilhena) dediquei um
trabalho, no ano passado; o presente será sobre Pinto da Fonseca.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>II</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Podemos
afirmar, sinteticamente, que dos três portugueses que governaram em Malta
(Afonso de Portugal foi Grão-Mestre ainda na Terra Santa) Vasconcelos foi um
Cavaleiro exemplar, Vilhena um ilustre Grão-Mestre, Pinto um Soberano europeu.
Respeitamos o primeiro, admiramos o segundo , o terceiro <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>fascina-nos. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>III</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Manuel
Pinto da Fonseca nasceu, em Lamego, a 24 de Maio de 1681, filho de Miguel <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Álvaro Pinto da Fonseca, Alcaide-Mor de
Ranhados, e de sua mulher, Ana Pinto Teixeira. Pertencia, evidentemente, à Aristocracia,
e referem-se ligações da sua Família à Casa das Brolhas, considerada o Solar
mais imponente de Lamego (na sua configuração actual, porém, data de 1777,
posterior já à morte de Pinto). </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Entrou na Ordem de Malta, tendo dela sido Juiz
Ordinário e Conservador, no Porto. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Foi Comendador de Oleiros, Fontes e
Sernancelhe. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Grão-Mestre Perellós ( 1697-1720) fê-lo Balio de S. João de Acre, em 1719. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Vice-Chanceler,
vários anos, durante o Magistério de Vilhena (1722-1736). Não terá fundamento,
porém, a afirmação, por vezes avançada, de um parentesco próximo (primos
direitos) entre Pinto e Vilhena.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Eleito,
por unanimidade, Grão-Mestre, em 18 de Janeiro de 1741, com 60 anos contados, o
seu Magistério, que durou 32 anos, foi o mais longo da História da Ordem.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Numa
“História de Malta” do Séc XIX, da autoria de Miège (Bruxelas, 1841) lê-se que
Pinto, “logo na infância, tinha vindo para Malta, onde foi admitido entre os
pajens do Grão-Mestre, e nunca mais saíra de lá. A sua eleição foi acolhida com
satisfação pelos malteses, que viam nele mais um compatriota do que um
estrangeiro”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Aquela
afirmação é fantasiosa, mas interpreto-a como significando que a sua vida anterior
à ida para Malta não é particularmente relevante. E acrescento que, tivesse
ficado em Portugal, Pinto da Fonseca teria sido apenas um fidalgo de província
português, mais ou menos empertigado; em Malta, sem perder a ligação ao seu
País de origem, foi muito mais, tornando-se a personagem que admiramos. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>IV</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
cargo de Grão-Mestre dos Hospitalários era de grande complexidade. Eleito
vitaliciamente pelos seus pares, chefiava uma Ordem religiosa, com uma vertente
assistencial e vocacionada para o apoio aos peregrinos e o tratamento dos
doentes, mas que era, sobretudo, militar, forte Potência naval no Mediterrâneo,
com papel de relevo, durante Séculos, na defesa da Europa contra o
expansionismo otomano e no combate aos piratas berberescos. O Grão-Mestre devia
obediência ao Papa, no plano espiritual, sem que a Ordem, em termos práticos,
deixasse de ser reconhecida como Soberana. Tal estatuto não decorria, aliás, nem
decorre do exercício de Poder sobre um território, embora, historicamente,
remontasse à conquista de Rodes pelos Hospitalários, no início do Séc.XIV;
perdida aquela Ilha, fora-lhes cedido, por Carlos V, o Arquipélago Maltês, como
feudo, sendo devido o tributo anual simbólico de um falcão, a entregar, ao
Vice-Rei da Sicília. Como Príncipe de Malta, cabia ao Grão-Mestre administrar e
defender a Ilha, base territorial e baluarte da Ordem. Além dos Cavaleiros,
seus subordinados, eram também seus súbditos os autóctones malteses. A Ordem,
transnacional, era internacional, pela sua composição, agrupando-se os
Cavaleiros por Línguas, em número de 8. Nos vários Países do Mundo Católico, a
Ordem estava implantada, com Comendas, que constituíam a sua principal fonte de
rendimentos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
muito mudara, entre os tempos de Vasconcelos e os de Pinto. O Império Otomano
já não representava uma ameaça tão grave para a segurança da Europa cristã,
além de que a França, que se tornara o principal suporte da Ordem, procurava
manter bom relacionamento com o Sultão, a bem do seu comércio com o Levante, desencorajando
as hostilidades para com os turcos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Assim,
a actividade militar dos Hospitalários concentrava-se no combate aos piratas
berberescos , utilíssimo mas, mesmo assim, levantando interrogações; o
contra-corso, legitimo na sua origem, aparecia, cada vez mais, como uma actividade
visando, simplesmente, significativos proventos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A austeridade do modo de vida dos Cavaleiros
fora sendo, gradualmente, substituída pelo gosto do conforto e do luxo. E a
castidade nunca havia sido o seu ponto forte..</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
própria Fé fora perdendo o seu vigor, com as novas ideias a seduzirem os
espíritos de muitos Hospitalários, em particular dos franceses (de longe, de
resto, os mais numerosos).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Perante
este panorama, muitos questionavam-se sobre a utilidade e a relevância da Ordem
de Malta.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>V</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Assumindo
o Magistério nessas circunstâncias, de decadência certa, ainda que não
evidente, Pinto conseguiu proporcionar, à Ordem de Malta, um longo período de
notável brilho. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O seu Magistério (1741-1773) foi contemporâneo
dos últimos 9 anos do Reinado de D. João V e dos 23 primeiros da governação do Marquês
de Pombal; com ambos, terá partilhado não só traços de carácter, como modalidades
de actuação. Admito haja alguma superficialidade nesta observação, mas os três,
cada um à sua maneira, foram destacados representantes do Despotismo
Esclarecido, o sistema ideológico e político então vigente na Europa. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Tal
como o Monarca português, Pinto viveu no esplendor (ainda que os Cavaleiros de
S. João fizessem voto de pobreza...) e na sua Corte seguia-se o mesmo aparato
que nas grandes Capitais europeias. As formas espelhavam o Poder e eram,
também, instrumento de Poder.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Veja-se
a questão da fórmula de tratamento. Em 1607, o Imperador Rodolfo II fizera de
Alof de Wignacourt Príncipe do Império e, em 1620, Fernando II tornara esse
estatuto permanente, para os Grão-Mestres de Malta; a fórmula de tratamento
correspondente era Alteza Sereníssima. Além de Wignacourt, também foi assim
chamado o seu sucessor, Vasconcelos, e o sucessor deste, Antoine de Paule nos
seus primeiros anos, ao fim dos quais, como escreve, com alguma ironia, António
Pereira de Lima, “resolveu a Santidade do Papa Urbano VIII que aos Grão-Mestres
de S. João se lhes falasse por Eminência, como aos Cardeais do Sacro Colégio em
Roma, e aos Arcebispos Eleitores de Mogúncia, Tréveres e Colónia, com que se
acomodaram os Grão-Mestres, por serem pessoas Eclesiásticas e filhos muito
obedientes à Igreja Romana”. (A capa da tradução portuguesa, de 1731, da
biografia de Vasconcelos, que Pereira de Lima escrevera, em espanhol, ilustra a
disparidade: “Vida e Acções de Sua Alteza Sereníssima Fr. Luís Mendes de
Vasconcelos, Grão-Mestre da Sagrada Religião de Malta (…) agora novamente
traduzida do Castelhano em Português e oferecida ao Eminentíssimo Senhor D.
António Manoel de Vilhena, Grão Mestre etc”).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pinto
exigiu ser tratado por Alteza Eminentíssima, fórmula correspondente ao seu
duplo estatuto, equiparado tanto a Príncipe como a Cardeal, e os Grão-Mestres
assim são chamados, desde 1741 até aos dias de hoje. (Vi, com estranheza, na
correspondência dos Czares e Imperatrizes da Rússia, eles se dirigirem aos
Grão-Mestres anteriores a Pinto, utilizando já a fórmula Alteza Eminentíssima;
como explicar este, pelo menos aparente, anacronismo?). </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-p781u1dYDFr4wCHPGkCtcy3Qcx2UUbCRPAR-doOrwZnzr0uyAIWt0lbmpWDzj96JHZ6icRb6Bbwg0fopjysKFUqMTbRlSjqw0oW10WgoAJrFeX4PHTki7Y9IUQT_d20zqO_E3gVhOl86-zFyI-1UxZjiQwqU5MVYTanAmNpTJJp0Iqxr4cyt9TJRjOaN/s816/D.-Jo%C3%A3o-V.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="816" data-original-width="640" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-p781u1dYDFr4wCHPGkCtcy3Qcx2UUbCRPAR-doOrwZnzr0uyAIWt0lbmpWDzj96JHZ6icRb6Bbwg0fopjysKFUqMTbRlSjqw0oW10WgoAJrFeX4PHTki7Y9IUQT_d20zqO_E3gVhOl86-zFyI-1UxZjiQwqU5MVYTanAmNpTJJp0Iqxr4cyt9TJRjOaN/w314-h400/D.-Jo%C3%A3o-V.jpg" width="314" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">D. João V<br /></td></tr></tbody></table><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> </span><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pela
mesma altura (1748) D. João V recebeu, da Santa Sé, o título de Rei
Fidelíssimo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
um símbolo havia que, mais claramente, afirmava o Poder do Grão-Mestre e a
Soberania da Ordem.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em 1581, no termo
de uma grave crise que abalara a Ordem, o Papa determinou que os Grão-Mestres
passassem a encimar as suas armas com uma coroa ducal. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No
quadro do processo, que alguns autores referem como a monarquização da Ordem,
foi pensado, durante o Magistério de António Manoel de Vilhena, procurar obter,
do Papa e dos Príncipes cristãos, a autorização de o Grão-Mestre usar um boné
escarlate, fechado com dois círculos de ouro, enriquecidos de pedrarias e
pérolas, formando uma Cruz de Malta; seria algo parecido com o gorro do Doge de
Veneza? Não vi nenhuma representação e, de qualquer modo, a morte de Vilhena
pôs termo a esse projecto.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pinto
não se absteve de subir a um patamar superior e passou a fazer-se representar, designadamente
no célebre retrato por Favray, com a Coroa fechada, como as dos Reis, não com
ela na cabeça, mas ao lado, apontando para ela ostensivamente ou, mesmo, com a
mão sobre ela pousada.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
Coroa simbolizava a Soberania, isto é, a independência no plano internacional e
o Poder supremo no plano interno. A busca do Poder, e o seu exercício com firme
autoridade, foi preocupação de Pinto, durante todo o seu Magistério.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Tendo-lhe
sido sugerido que convocasse um Capítulo Geral, já que o último tivera lugar em
1631, durante o Magistério de Antoine de Paule, ficou célebre a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>resposta que se lhe atribui: “que se fosse
Rei de França, jamais reuniria os Estados Gerais, se fosse Papa, não suportaria
Concílios e, Chefe dos Hospitalários de S. João de Jerusalém, não desejava
Capítulos Gerais, porque sabia que essas assembleias terminavam quase sempre
por prejudicar os direitos daqueles que permitiam a sua reunião”. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>VI</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Cioso
do seu Poder absoluto, Pinto tinha, simultaneamente, plena consciência dos
deveres que o seu alto cargo lhe impunha e aproveitou a quase trégua, não
declarada, com os Otomanos, para reforçar a segurança do Arquipélago, reparar e
construir, com magnificência, diversos edifícios públicos, promover a economia
e as condições de vida da população.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Assim,
ordenou notáveis melhoramentos nas fortificações, tanto em Malta como em Gozo
(completando o Forte Chambray); junto ao Forte de Sant’Elmo, criou um local, onde
as mulheres se pudessem abrigar, em caso de cerco ou de ataque pelos Turcos;
armou, à sua custa, três grandes galés e uma fragata; começou a construção de
uma doca, para reparação das embarcações da Ordem. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Na
Década de 1740, fez importantes obras no Palácio dos Grão-Mestres, dando-lhe a
sua configuração actual; ali se encontra instalada a Presidência da República
de Malta. Concluiu o Albergue de Castela, em cuja fachada figuram o seu busto e
as suas armas, e as de Portugal, e que, actualmente, acolhe o Gabinete do
Primeiro Ministro. Erigiu o Palácio de Justiça, para alojar o Tribunal e a
prisão, substituindo uma construção do Séc. XVI.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Encomendou
os icónicos edifícios à beira-mar, ainda hoje conhecidos como “Pinto’s Stores”,
19 espaçosos armazéns, que se juntaram aos 2 devidos a Vilhena, destinados a
incrementar a actividade portuária.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ainda
no domínio da Economia, fez plantar amoreiras, em várias partes da Ilha, com
vista a encorajar a produção de seda, como o Marquês de Pombal, em Portugal, em
ambos os casos parece que sem grande sucesso.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(Não se acrescenta, porém, à sua glória,
atribuir-se-lhe a construção de edifícios que, na verdade, não lhe são devidos,
como o do Almirantado, o da Alfândega e o da Biblioteca).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>VII</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Como
outros Soberanos católicos de então, Pinto entrou em conflito com os Jesuítas,
mas só dez anos após Pombal ter iniciado esse movimento, muito depois de Países
como França e Espanha e apenas alinhou em 1768, cedendo às fortes pressões de
Nápoles.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quaisquer
que fossem as suas simpatias pessoais neste domínio, era certamente embaraçoso,
para Pinto, Chefe de uma Ordem religiosa, adoptar medidas hostis para com uma
outra. Pediu autorização ao Papa Clemente XIII que, relutantemente, a concedeu,
desde que tudo fosse feito com "toda a devida decência”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os
Jesuítas foram expulsos, sendo-lhes, porém, concedidas indemnizações – eram 13
Padres, 5 Irmãos e 2 estudantes, além de três, idosos, dos quais 2 malteses, que
foram autorizados a permanecer. Os haveres da Companhia foram confiscados e,
não surpreendentemente, destinados a financiar a Universidade (Pubblica
Università di Studi Generali) instituída pelo Grão-Mestre, no ano seguinte.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Deve-se,
também, a Pinto a introdução definitiva de uma oficina de impressão em Malta.
Esforços nesse domínio haviam sido feitos, em meados do Séc. XVII, mas
haviam-se gorado, dadas as disputas entre Bispo, Inquisidor e Grão-Mestre,
relativamente ao direito de censura das publicações. Foi o Embaixador da Ordem
em Roma, Balio Guérin de Tencin, que, em 1746, conseguiu fosse alcançada uma
solução. Acordou-se em que o Imprimatur deveria conter as assinaturas,
alinhadas à mesma altura, do Bispo, do Inquisidor e do Grão-Mestre. A
tipografia foi instalada no Palácio Magistral (Stamperia del Palazzo), sob
estrito controle da Ordem, pois. Começou a funcionar em 1756, a única em Malta,
até aos anos 1820.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Foi,
igualmente, durante o Magistério de Pinto que se deram passos decisivos, no
tocante a um relevante projecto cultural, a Biblioteca Pública.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Um
Decreto do Grão-Mestre, de 1555, reiterado em 1612, ordenara que os livros dos
Cavaleiros fossem legados ao Tesouro da Ordem, mas essa disposição terá ficado,
em larga medida, letra morta. De qualquer modo, o acesso à denominada
Biblioteca de S. João estava limitado aos Cavaleiros. Agora, em conformidade
com o espírito do Século das Luzes, o já referido Balio Tencin concebeu o plano
de criar uma grande Biblioteca, aberta ao público em geral. Com vista àquele
fim, juntou, à sua importante colecção pessoal de livros, a notável biblioteca
que o Cardeal Portocarrero legara à Ordem de Malta, e também a própria
Biblioteca de S. João, cuja guarda e conservação lhe foram confiadas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
1761, Tencin alugou uma casa, onde os livros foram instalados e se tornou,
assim, a primeira Biblioteca aberta ao público, em Malta, da qual ele se ocupou
até à sua morte, em 1766, e que, em sua honra, foi chamada Biblioteca Tanseana.
Mas foi já <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>durante o Magistério de
Rohan, em 1776, que o Capítulo Geral decretou solenemente a fundação da
Biblioteca Pública. As actuais instalações datam de 1796. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
Pinto da Fonseca não deixava de ser um dirigente religioso e um Soberano
católico. Datam do seu Magistério a reconstrução da Igreja de Santo Agostinho,
em Valeta, e o termo da construção da de S. Públio. Foi particularmente
generoso para com a Igreja Conventual de S. João, à qual doou dois enormes
lampadários de prata, bem como dois sinos, idênticos aos mais fortes que, então,
havia em Itália, tendo, para o efeito, mandado fundir dois basiliscos,
abandonados pelos Otomanos, aquando do Grande Cerco de 1565; estão ainda hoje
em uso.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>VIII</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Durante
o Magistério de Pinto, não se registaram feitos de armas, contra os Otomanos.
Houve, porém, alguns incidentes dignos de nota.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
primeiro, em 1748-49, revestiu-se de extrema gravidade, e pôs em risco a
própria existência da Ordem. Impressionou vivamente os contemporâneos,
tendo-nos chegado extensos relatos, nem sempre concordantes. Como escreve um
autor inglês do Séc.XIX, “the story is a strange one, bordering closely on the
romantic”. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os
escravos cristãos (malteses e gregos) em serviço numa embarcação turca,
assenhorearam-se dela e trouxeram-na para Malta, onde foram recebidos como heróis.
A bordo, vinha, sob prisão, Mustafá, Governador de Rodes. Inicialmente detido
no Forte Sant’Elmo, foi autorizado, pela intercessão do Embaixador francês, a
beneficiar de residência própria, com total liberdade de movimentos, que ele
aproveitou, para organizar uma conspiração, entre os cerca de 1500 escravos
muçulmanos presentes na Ilha. O objectivo era assassinar o Grão-Mestre, levar a
cabo o massacre dos Cavaleiros e da população cristã em geral, conseguir
dominar Malta e abri-la à invasão e ocupação por forças muçulmanas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
revolta, que contava com o apoio de Constantinopla, deveria eclodir a 29 de Junho,
Festa <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de S. Pedro e S. Paulo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Por
mero acaso, uma rixa num café, alguns dias antes, fez descarrilar o plano. Dois
conjurados tentaram aliciar um jovem maltês, soldado da Guarda. Perante a sua
recusa, preparavam-se para o assassinar, quando foram surpreendidos pelo
proprietário do estabelecimento, que se apressou a prevenir, pessoalmente, o
próprio Grão-Mestre. Dos 153 implicados na conspiração, rapidamente detidos e
julgados, 3 salvaram a vida, 4 pereceram sob as torturas, 34 foram executados
com grande crueldade (como os Távoras, em Portugal, alguns anos depois). Mas o
Paxá Mustafá escapou a qualquer punição, mais uma vez graças às autoridades
francesas, que enviaram uma embarcação, na qual, de noite, foi retirado da
Ilha.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
jovem soldado, de nome Qassar, foi promovido e assumiu o comando da Guarda,
agora designada Guardia Urbana, que passou a ser composta, exclusivamente, por
malteses.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
dono do Café, José Cohen, chegado, poucos anos antes de Esmirna e convertido ao
Catolicismo, foi generosamente premiado; não deixa de ser irónico que um provável
descendente de sefarditas, obrigados, no Séc. XVI, a deixar Portugal, tenha
salvado um Grão-Mestre português, e uma Ordem não particularmente generosa para
com os judeus).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Cito
ainda um disparate que li e cujo único interesse é ser um exemplo do muito de
lendário que envolve este Grão-Mestre. Em 1743, a povoação de Qurmi foi
denominada Cittá Pinto. Adoptou, no seu brasão, cinco crescentes, armas
tradicionais dos Pinto mas que aqui, afirma-se, evocariam cinco otomanos que,
durante a revolta, ele teria vencido, com a sua própria espada, de uma só vez…</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
descoberta da conspiração passou a ser celebrada, a 29 de Junho, com um ofício
na Igreja Conventual.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
1760, teve lugar outro episódio, com algumas parecenças. Os 71 escravos
cristãos, tripulantes do navio-almirante da esquadra turca, que cobrava o
tributo anual no Arquipélago, apoderaram-se dele, quando estava ancorado em
Stancio, fizeram prisioneiros os oficiais e conduziram-no para Malta, onde o
ofereceram à Ordem. Furioso, o Sultão preparava-se para tirar vingança da perda
de um dos seus melhores navios, o que foi evitado, por a embarcação ter sido
adquirida por Luís XV e levada para Constantinopla.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> D</span>e carácter mais propriamente bélico, teve
lugar uma ocorrência, quase no final do Magistério de Pinto, em 1770.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Bei de Tunis recusava libertar os escravos corsos, capturados antes da então
recente aquisição da Córsega pela França. Uma frota, comandada pelo Conde de
Broves, bombardeou Tunis e outras Cidades daquela Regência, tendo recebido o apoio
da Ordem, aliada da França e inimiga dos Barbarescos, para mais estando em jogo
a situação de cristãos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Um
visitante britânico descreve, como um espectáculo e sem dramatismo, a partida
de Malta dos enormes navios, três galés, a maior das quais com 900 homens e as
outras com 700 cada, três galeotas e três “scampavia” -<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>as naves movendo-se a remos e com grande
regularidade, o mar repleto de embarcações, a assistência enchendo as muralhas
e fortificações, o porto ressoando com as descargas de artilharia pesada, às
quais respondiam as galés e galeotas, produzindo o eco um muito nobre efeito e,
em cada galé, uns 30 Cavaleiros fazendo sinais, a todo o tempo, às amantes, que
choravam nos bastiões…Muitas embarcações seguiram a esquadra e não voltaram
antes do Sol posto. O viajante comenta: “ O espectáculo estava agora terminado e
proporcionou-nos grande entretenimento”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Aqueles
já não eram os tempos heróicos da Ordem de Malta ...</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>IX</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Embora
Malta tivesse sido cedida aos Hospitalários como um Feudo, Pinto insistiu em
que, aos seus Embaixadores em Cortes estrangeiras, fosse reconhecido o mesmo
estatuto que aos representantes dos Monarcas. Conseguiu-o mesmo em Roma, em 1747,
apesar de o Grão-Mestre, como chefe de uma Ordem Religiosa, dever obediência ao
Sumo Pontífice (no plano espiritual). Aliás, as relações bilaterais com a Santa
Sé foram boas, tendo Pinto da Fonseca recebido a raras vezes concedida
distinção do Estoque (espada de prata) e do Casco ( barrete de veludo) benzidos
solenemente pelo Papa ( Vilhena havia sido o primeiro Grão-Mestre<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>galardoado).<span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">As
dificuldades vieram do lado de Nápoles. O Imperador Carlos V impusera aos
Cavaleiros o tributo de um falcão, a ser entregue anualmente ao Vice-Rei da
Sicília. Ora, em 1734, Carlos de Bourbon tornou-se Rei de Nápoles (como Carlos
VII) e da Sicília (como Carlos V). Era o primeiro Soberano que ali residia,
depois de Séculos de Vice-Reinados, e estaria desejoso de se impor, incluindo no
que tocava aos direitos de Suserania da Sicília sobre Malta.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Assim,
em 1753, pretendeu que se deslocasse a Malta um Visitador Apostólico, como
sucedera até 1530, antes da Instalação dos Cavaleiros na Ilha. Pinto não o
consentiu, mesmo tendo o Rei recorrido à arma tradicionalmente utilizada, i.e.
o bloqueio à exportação de trigo para Malta. A questão foi levada ao Papa, a disputa
acabou por ser resolvida a contento do Grão-Mestre e a Visitação Apostólica
nunca teve lugar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>X</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">As ambições de Pinto foram mais longe.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
Córsega revoltou-se contra o domínio que a República de Génova exercia sobre a
Ilha, desde finais do Séc. XIII. Emissários dos rebeldes terão sido recebidos
pelo Grão-Mestre e sugerido a união da Córsega a Malta. Essa hipótese foi
apresentada, em Versailles, em 1748, pelo representante da Ordem, Balio de Froulay.
No ano seguinte, Pinto escrevia que “ seria vantajoso para Génova abandonar a
Córsega, mediante uma boa indemnização em numerário, que eu pagaria, e assim se
satisfaziam os gostos de todos”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
1752, preparou um plano de união da Córsega ao Arquipélago Maltês, sob
soberania da Ordem, mas Choiseul fez saber que Luís XV pretendia aquela Ilha
para a França.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Outras
ambições haviam surgido entretanto, como a do Papa Bento XIV, a favor do
Pretendente Stuart no exílio, e a de Isabel Farnésio, para seu filho Filipe.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sobretudo,
a revolta dotara-se de um dirigente, o General Paoli, muito respeitado em
largos sectores da opinião, na Europa e na América do Norte, que se opunha à
união com Malta e fizera fracassar, em 1754, um projecto nesse sentido.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Não
obstante, as relações entre as duas Ilhas mantiveram-se muito boas. Um dos
primeiros navios da frota corsa, se não mesmo o primeiro, um xaveco , navegando
sob bandeira corsa, conhecido como a “Galeotta”, teria sido oferecido por Pinto
a Paoli. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
Pinto, em 1763, ainda não renunciara às suas ambições, alegando as vantagens
que a união traria ao Catolicismo, nas duas Ilhas; em vão. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
1768, a França anexou a Córsega. No ano seguinte, nasceria lá Napoleão
Bonaparte. Em 1798, em rota para o Egipto, o General Bonaparte ocupou Malta, expulsou
os Cavaleiros e privou a Ordem da sua base territorial. Tem-se especulado sobre
qual teria sido o curso da História, se a França não tivesse anexado a Córsega;
e se as ambições de Pinto tivessem ido avante? Para começar, ter-se-ia Napoleão
feito Cavaleiro, caso os corsos fossem admitidos na Ordem (o que não era o caso
dos malteses) ele que, uma vez, terá descrito a Ordem como “ uma instituição
para sustentar, na ociosidade, os filhos mais jovens das famílias
privilegiadas”?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">(Para
concluir esta secção, tenha-se presente que a área da Sicília é de 25.711 km2,
a de Chipre 9.251, a da Córsega 8.722, a de Rodes 1.401, a de Malta de, apenas,
316).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>XI</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Com
Frederico II, o círculo de interlocutores de Pinto alarga-se, para além dos
Soberanos católicos. </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> </span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqyHzXN6-FMa_PdCSW5OniHvliwMbi7sKyJfaNBdbnbYfOjlD7rhnHbaV32QukI18-tAP0TdurFSRhRZeOrdXEHLq3y2Tan9aHH-I4or8nGJ4i-O8EPPykP7C6EahvcBC5JdKDgXN5bztcM2gUYW3HLHmA7xLDRghkIS0BL0Jw4WTxf8v3rS_G5Bdcvpmu/s300/Frederico%20ii.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="245" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqyHzXN6-FMa_PdCSW5OniHvliwMbi7sKyJfaNBdbnbYfOjlD7rhnHbaV32QukI18-tAP0TdurFSRhRZeOrdXEHLq3y2Tan9aHH-I4or8nGJ4i-O8EPPykP7C6EahvcBC5JdKDgXN5bztcM2gUYW3HLHmA7xLDRghkIS0BL0Jw4WTxf8v3rS_G5Bdcvpmu/w327-h400/Frederico%20ii.jpg" width="327" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Frederico II<br /></td></tr></tbody></table><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Recorde-se
que a Prússia assentava os seus alicerces na Ordem Teutónica, e que esta
surgira, na Terra Santa, como as do Hospital e do Templo, no Séc.XII. Com o fim
dos Estados cruzados, estabelecera-se, não na região do Mediterrâneo, mas na do
Báltico, onde criara um Estado de grandes dimensões. Não combatia os
muçulmanos, mas povos ditos bárbaros e pagãos. Tanto Hospitalários como
Teutónicos eram Ordens Religiosas e Militares, dotadas de poderes soberanos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No
Séc. XVI, a Ordem Teutónica foi tocada pelo movimento da Reforma, o Grão-Mestre
Alberto de Brandeburgo, da Casa de Hohenzollern, converteu-se ao Luteranismo, passando
a governar os territórios ocidentais da Ordem, como Ducado da Prússia; este, em
1701, ascendeu a Reino da Prússia. Terá sido a memória das afinidades, no
passado, entre Teutónicos e Hospitalários, que predispôs Frederico II a <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>uma atitude positiva para com a Ordem de
Malta?</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">De
1740 a 1763, Frederico II moveu três guerras contra Maria Teresa de Áustria,
que terminaram com a anexação da Silésia, pela Prússia, que se tornou o
principal Estado protestante germânico. Consentiu, contudo, que o Grão-Priorado
da Boémia, da Língua Alemã da Ordem de Malta, conservasse as Comendas que detinha
na Silésia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
outra questão tem a ver com a Grão-Baliado de Brandeburgo, constituído em 1318,
no Nordeste do Sacro-Império, agregando Comendas da Ordem de Malta. Gozava de
grande autonomia e, no Séc. XIV, foi-lhe reconhecido o direito de eleger o seu
próprio Balio, o Herrenmeister. A Reforma tocou também o Grão-Baliado, tendo 7
das suas 13 Comendas aderido ao Luteranismo. Com os Tratados de Vestefália de
1648, o Grão-Baliado luterano obteve plena independência, relativamente à Ordem
de Malta, e foi colocado sob a protecção do Eleitor de Brandeburgo, da Casa de
Hohenzollern, mais tarde Rei da Prússia. Adoptou a designação de Johanniter
Orden, ou Ordem Evangélica de S. João.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ao
longo desse tempo, as eleições dos sucessivos Herrenmeister foram sendo
comunicadas à Ordem de Malta, mas os responsões deixaram de ser remetidos,
privando o Tesouro da Ordem de importantes rendimentos. Frederico II e o
Grão-Mestre Pinto chegaram a um acordo, em 1764, com vista à reunificação, mas
a oposição do Papa Clemente XIII impediu que fosse concretizado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Segundo uma versão um pouco diferente
(Desmond Seward) em 1763, o Balio, Príncipe Fernando da Prússia, tio de
Frederico II, enviou responsões, que foram aceites por Pinto, acrescentando-se
que, ainda que nunca reconhecidos como Cavaleiros de Malta, os Comendadores de
Brandeburgo continuaram a remeter responsões e, em 1793, passaram a usar o
uniforme vermelho da Ordem. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>XII</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Nada
faria prever um relacionamento entre, por um lado, a Rússia, um dos maiores Impérios
que o Mundo já conheceu, Potência ortodoxa euro-asiática, com uma janela sobre
o Báltico, e, por outro, Malta, minúscula Ilha no Mediterrâneo, ou melhor, a
Ordem Religiosa e Militar católica, que, nela, tinha a sua base territorial.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Foi
Pedro o Grande quem, em 1697, fez a primeira aproximação, por carta ao
Grão-Mestre Raymond Perellós, convidando a Ordem a juntar-se a uma aliança, com
o Sacro Império, a Polónia/Lituânia e Veneza, contra os Otomanos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Seguiu-se,
durante Décadas, correspondência, essencialmente de natureza protocolar, entre
os Czares e Imperatrizes da Rússia e os Grão-Mestres de Malta. Mas ambas as Partes
viram vantagens no aprofundamento de tais relações.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pinto
compreendeu que a influência russa poderia revestir-se de grande utilidade,
para a salvaguarda dos interesses da Ordem na Europa Central e Oriental. Aqui,
assume papel de destaque a figura do Balio Michele Enrico Sagramoso, ilustre
viajante e membro reconhecido e apreciado da “intelligentsia” europeia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Já
em 1748, por instruções de Pinto, Sagramoso procurara, em S. Petersburgo, obter
que a Imperatriz Isabel apoiasse o pedido dirigido pela Ordem a Frederico II,
no sentido de concessão de um tratamento fiscal favorável às Comendas situadas
na Silésia, que passara para o domínio prussiano, como atrás se referiu.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>De uma relevância superior, no entanto, era a chamada
“Questão de Ostrog”, que se arrastava desde o princípio do Séc. XVII. Ostrog
era um gigantesco domínio na Polónia, hoje em território ucraniano, com cerca de
14 mil km2 (quase três vezes maior que o Algarve), que incluía,
designadamente, 24 Cidades. Nos textos em francês, é designado, geralmente, por
“Ordination”, por vezes como “Duché”, em inglês por “Ordination”, por “Entail”
ou por “Duchy”; não vi nenhum texto em português sobre o assunto e, em vez que
utilizar a palavra Ordenação, aqui não aplicável, preferirei “Ordination”, como
o fazia ,aliás, Pinto, pois escrevia em francês. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
testamento do Duque de Ostrog, de 1609, estabelecia que, a extinguir-se toda a
descendência masculina, as terras passariam para a Ordem de Malta, para ali
instituir Comendas; porém, membros poderosos da Aristocracia polaca foram
partilhando a “Ordination”, tornando vãs as pretensões da Ordem, que parecia
ter-se acabado por resignar com tal situação.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Grão-Mestre Pinto, porém, viria a reactivar a questão, passado já quase Século
e meio, desde a redacção do testamento. Por carta de Agosto de 1767, pede a
protecção da Imperatriz Catarina II para a reclamação e outros actos e
instâncias que o Balio de Fleury, Embaixador da Ordem em França, pudesse ter de
efectuar na Polónia, no tocante à ”Ordination” de Ostrog. A diligência do
Grão-Mestre tinha razão de ser, dado o peso da Rússia, na política polaca. Ainda
poucos anos antes, Estanislau Poniatowski, ex-amante de Catarina II, subira ao
trono da Polónia, com o apoio russo. E a Czarina, efectivamente, ainda em 1767,
escreveu ao seu Embaixador em Varsóvia, no sentido de recomendar a Ordem “ à
justiça da Nação Polaca”.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheVn1i6SG0hSjfipnU0O6tUjCzb3Rw12mBvqfGrUsVJhCF70HXehWcR-eZ6d9-GtC42JTPVWanfXb5VBwmaULxxIlrZvVBdMaTr5gy5v2ws_XP_Lxwn9O0uCtjEyTbcrKQ0r6LD392dE8E5QRXgRZnpKgIS4gc9wlyUKO0Pe7kVOrZc0DX-94dKB8lUwyf/s600/Catarina%20II.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="449" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheVn1i6SG0hSjfipnU0O6tUjCzb3Rw12mBvqfGrUsVJhCF70HXehWcR-eZ6d9-GtC42JTPVWanfXb5VBwmaULxxIlrZvVBdMaTr5gy5v2ws_XP_Lxwn9O0uCtjEyTbcrKQ0r6LD392dE8E5QRXgRZnpKgIS4gc9wlyUKO0Pe7kVOrZc0DX-94dKB8lUwyf/w299-h400/Catarina%20II.jpg" width="299" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Catarina II<br /></td></tr></tbody></table><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Nos
princípios de 1770, Pinto recorreu, uma vez mais, aos serviços de Sagramoso,
que há muito estabelecera laços de amizade com Catarina II, instruindo-o,
agora, no sentido de tentar recuperar as terras da “Ordination” ou, pelo menos,
os rendimentos correspondentes. Também deveria procurar fossem liquidados os
pagamentos, em atraso, de duas Comendas polacas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Agravavam-se,
então, as tensões que levariam à Primeira Partilha da Polónia, pela Rússia,
Áustria e Prússia, formalizada no Verão de 1772. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sagramoso
foi manobrando, com notável habilidade, num quadro da maior complexidade. Como
meio de pressão sobre os Deputados polacos, chegou a recorrer ao artifício de
fazer constar que a Ordem o autorizara a ceder os <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>direitos sobre Ostrog ao Herrenmeister do
Baliado de Brandeburgo, irmão de Frederico II, o que abriria a uma Potência
protestante larga porção de território polaco e incluiria a “Ordination” nas
negociações sobre a partilha da Polónia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Contudo,
a balança tinha outro prato. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando
Pedro o Grande fizera o contacto inicial, a Rússia estava sobretudo interessada
em obter apoio técnico, para a organização das suas forças navais e, com esse
objectivo, foi enviado a Malta Boris Cheremetiev, confidente do Czar.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas,
na perspectiva da Rússia, outro interesse surgiu, que se tornou bem mais destacado
- os portos de águas profundas de Malta, que poderiam servir de base a uma
frota russa, para atacar o Império Otomano, pelo Mediterrâneo. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
1764, ano em que fizera subir Estanislau Poniatowski ao Trono da Polónia, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Catarina II, preparando-se para a eventualidade
de uma guerra , contra os Otomanos, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>solicitou
a Pinto, através de contactos diplomáticos em Viena, Roma e Paris, que fossem
destacados dois Cavaleiros, para prestar serviço nas galeras russas; para não
desagradar a Luís XV, o Grão-Mestre respondeu de forma dilatória. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
Czarina sonhava restaurar o Império Bizantino, a favor de seu segundo neto,
Constantino, e via a importância de que os portos malteses se poderiam revestir
nesse quadro. Em carta ao Grão-Mestre Pinto, de 18 de Julho de 1769, menciona a
luta contra o inimigo perpétuo da Santa Cruz, anuncia o envio de uma das suas
esquadras para os mares de Malta, dizendo esperar que os navios possam ter acesso
livre aos portos malteses. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pinto,
que não aceitou o portador da carta, Marquês de Cavalcabo, na qualidade de
Embaixador, mas, apenas, como Enviado, respondeu à Czarina, em 31 de Janeiro de
1770, invocando os constrangimentos a que estava sujeito pelas Potências
Protectoras, que limitavam a quatro o número de navios russos que podiam ser
recebidos em Malta.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Gerou-se
alguma tensão e a Ordem receou a reacção russa. Três navios russos, velhos mas
“recheados de gente”, surgiram em frente de Malta. Tendo recusado submeter-se à
quarentena, foi-lhes impedida a entrada e afastaram-se.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quase
três anos mais tarde, o Grão-Mestre, em carta de Setembro de 1772, a Catarina, alude
à presença de oficiais russos em navios da Ordem e sublinha que tem procurado
conciliar os interesses da Rússia com os deveres absolutos para com os
Príncipes, dos quais a Ordem de Malta depende. Insiste na necessidade de a
Ordem observar a mais estrita neutralidade. Diz que, se a Imperatriz pudesse
contribuir para a prosperidade da Ordem, os interesses da Rússia passariam a
ser, para a Ordem, como se fossem interesses seus, como eram os de todos os
seus outros benfeitores.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Assim,
recorria novamente à poderosa protecção imperial, para a recuperação da
“Ordination” de Ostrog, anunciava que o Cavaleiro Sagramoso fora nomeado
Ministro Plenipotenciário para o efeito e pedia à Imperatriz que apoiasse a sua
missão, junto do Rei da Polónia e dos seus aliados.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Finalmente,
em Dezembro de 1774, um acordo foi alcançado – a Ordem de Malta renunciava à
“Ordination” mas, em contrapartida, as autoridades polacas permitiam a fundação
de oito Comendas e erigiam um Grão-Priorado , com o rendimento de 150 mil
florins.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pinto
já não viu este sucesso para os interesses da Ordem, tendo morrido em Janeiro
de 1773.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Entretanto,
levantaram-se suspeitas de que o representante diplomático russo em Malta,
Marquês de Cavalcabo, estaria a desenvolver actividades subversivas, com vista
a levar a população maltesa a revoltar-se contra a Ordem e a favorecer a
posição da Rússia. Foi ordenada a sua saída da Ilha, no início de 1775, já no
tempo do sucessor de Pinto, Ximenes.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Com
Pinto, as questões relativas à Europa Central e Oriental assumiram, para a
Ordem, uma importância que não tinham tido anteriormente. Tal ir-se-ia
acentuando, nas Décadas finais do Século, e culminar com a eleição, como
Grão-Mestre, de Paulo I, filho de Catarina II, com a transferência episódica da
Sede para S. Petersburgo, trocando-se, pela primeira e única vez, na História
milenar da Ordem de Malta, as margens do Mediterrâneo, pelas do Báltico.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Por
seu lado, Paulo I sempre tivera uma verdadeira paixão pela Ordem de Malta, o
que não fora o caso de sua mãe, cujo interesse não era pela Ordem, mas pela
posição estratégica de Malta. O “Episódio Russo” da Ordem de Malta terminou,
pouco depois do assassinato de Paulo I, mas os russos nunca se haveriam de
desinteressar do Mediterrâneo, até aos dias de hoje.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">(É
ao “Episódio Russo” que numerosas “ Ordens de fantasia”, auto-denominadas “de
Malta”, pretendem remontar a sua origem. Abordei um dos casos mais
extraordinários, em Conferência, a 10 de Abril de 2014, na Sociedade de
Geografia de Lisboa, intitulada “A Ordem Ecuménica de Malta em S. Tomé e
Príncipe”, podendo aceder-se ao respectivo texto neste Blog. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>XIII</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Segundo
Martim de Albuquerque, ainda que Pinto cumprisse as suas obrigações religiosas
meticulosamente, estava muito longe de ser um puritano. Quatro dias depois de
ser eleito, assistiu no Teatro Manoel (fundado por Vilhena) à peça “L’Arminio”;
a representação terminou às 20 H e foi seguida de um concerto, com copiosos
refrescos nos intervalos, até perto da meia-noite. Pinto permaneceu até ao fim
e, depois, voltou a pé para o Palácio; o seu predecessor imediato, Despuig ,
nunca fora ao Teatro. Uma semana depois, deu o seu primeiro banquete, após o
que foi novamente ao Teatro, ver a ópera “La Salustre”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Por
seu lado, o viajante britânico Brydone, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>anteriormente citado, faz-nos um pitoresco
retrato de Pinto, em 1770, já com mais de 90 anos, mantendo toda a sua energia
e lucidez. O Grão-Mestre, “mostrou grande satisfação, por saber que alguns de
nós tínhamos estado em Portugal e mencionou as estreitas relações comerciais
que se mantinham há tanto tempo entre as nossas Nações.”. Brydone sublinha que
o estilo de vida de Pinto era muito principesco e que ele era mais absoluto e
possuía mais poder que a maioria dos Príncipes Soberanos.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pinto da Fonseca teve, pelo menos, um filho, José
António Pinto da Fonseca e Vilhena, o que não terá sido motivo de escândalo, já
que era muito habitual que Cavaleiros de Malta tivessem filhos, não obstante os
votos de castidade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mais
extraordinário é que Cagliostro, geralmente considerado o grande impostor do
Séc. XVIII, tenha afirmado ser filho do Grão-Mestre e de uma Princesa de
Trebizonda. Na verdade, é mesmo duvidoso que alguma vez tenha estado em Malta. É
certo que o Grão-Mestre e Cagliostro tinham, em comum, o gosto pela alquimia,
sendo voz corrente que Pinto fizera instalar, no Palácio, um laboratório, onde
eram efectuadas experiências; largas somas teriam sido gastas, na busca da
Pedra Filosofal. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Já
quanto à Maçonaria, da qual Cagliostro foi um grande difusor, criador, mesmo,
do Rito Egípcio, o mais provável é que Pinto não lhe tenha pertencido, o que
não impede que figure, em certa literatura, como presidindo a misteriosas
cerimónias de iniciação. O Grão-Mestre é também, por vezes, associado ao Conde
de Saint-Germain, outra figura enigmática. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Esta
matéria da ligação de Pinto ao Mundo do esoterismo mereceria ser estudada, mais
detidamente.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>XIV</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Manuel
Pinto da Fonseca faleceu a 23 e Janeiro de 1773. O seu mausoléu é dos mais
majestosos na Co-Catedral de S. João.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"> </span></p>
Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-16410177985358097602023-11-01T23:28:00.001+00:002023-11-01T23:28:51.650+00:00JERUSALÉM, 1913<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYaMvySqVd8fbQwkEY7tfKvwfnGhwUIZm5UfYj_qXSt2yBonkWvBvTF3h-S05FdjQKgrqKRcQsQ-OU2_-eGCavbi12_Ym1naxbBhqvqWIZrvtzarKAwSZH41R0g7CVzEhz_1SnxjuiIsqxBuQTYyAhJCV6dQSls6IxBb1UjPou91lgbmGsXJ5erq-xuOeH/s1935/Jerusalem%201913%20-%20Amy%20Dockser%20Marcus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1935" data-original-width="1300" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYaMvySqVd8fbQwkEY7tfKvwfnGhwUIZm5UfYj_qXSt2yBonkWvBvTF3h-S05FdjQKgrqKRcQsQ-OU2_-eGCavbi12_Ym1naxbBhqvqWIZrvtzarKAwSZH41R0g7CVzEhz_1SnxjuiIsqxBuQTYyAhJCV6dQSls6IxBb1UjPou91lgbmGsXJ5erq-xuOeH/w269-h400/Jerusalem%201913%20-%20Amy%20Dockser%20Marcus.jpg" width="269" /></a></div><p></p><p>Por sugestão de um amigo, revisitei <i>Jerusalem 1913: The Origins of the Arab-Israeli Conflict</i> (2007), da escritora e jornalista judia norte-americana Amy Dockser Marcus, que recebeu em 2005 o Prémio Pulitzer para a Melhor Reportagem.</p><p>Amy Dockser Marcus, autora de diversas obras, foi correspondente de "The Wall Street Journal" em Israel de 1991 a 1998, tendo o seu primeiro livro, <i>The View from Nebo: How Archaeology is Rewriting the Bible and the Reshaping the Middle East</i> (2000), obtido assinalável sucesso.</p><p>O conflito israelo-palestino é uma das questões com mais profundas repercussões internacionais ao longo do último século. As origens do antagonismo entre as duas partes são habitualmente referidas ao período do Mandato Britânico (1920-1948), quando o Reino Unido assumiu o controlo administrativo da Palestina a seguir à Primeira Guerra Mundial, embora a tensão entre as duas comunidades seja realmente anterior.</p><p>O livro de Amy Dockser Marcus é o primeiro relato "popular" de uma era chave na história do Médio Oriente, assunto sobre o qual têm sido escritos centenas de livros eruditos e também vários de pura propaganda política. Durante séculos, Jerusalém foi um local onde conviveram em paz as três grandes religiões monoteístas (judeus, cristãos e muçulmanos), de acordo com as suas ricas e diversificadas culturas. A ascensão do Sionismo e as grandes vagas de imigrantes judeus, procurando reclamar o que consideravam ser a sua casa ancestral e adquirindo consecutivamente terras e imóveis, alarmou a população árabe, que anteviu, judiciosamente, a sua progressiva perda de poder. </p><p>A Palestina integrava, desde há cinco séculos, o Império Otomano, onde coexistiam credos diferentes, quase sempre pacificamente desde que aceitassem a autoridade da Sublime Porta. A Revolução dos Jovens Turcos (1908) obrigou o sultão Abdul-Hamid II a restaurar o Parlamento, sendo o poder real entregue a um triunvirato de três paxás (Mehmet Talat, Ismaïl Enver e Ahmet Djemal) que procuraram imprimir um novo rumo ao Império. Mas essa data assinala também, com o despertar dos nacionalismos, o início da decadência otomana. A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914) constituiu o desastre final. Mehmet V tinha sucedido a Abdul-Hamid II em 1909 e permaneceu no poder até à sua morte em 1918. Foi neste reinado que o Império Otomano, tendo-se juntado aos Impérios Centrais, viria a perder a guerra. O seu sucessor, Mehmet VI, não conseguiu impedir que os britânicos ocupassem Baghdad e Jerusalém, tendo a maioria do Império sido dividida pelos "aliados". Na Conferência de San Remo, em Abril de 1920, foram constituídos os territórios de mandato: a Síria e o Líbano para a França, a Palestina e a Mesopotâmia para O Reino Unido. O Tratado de Sévres (Agosto de 1920), confirmou San Remo e retirou ao Império Otomano o controlo da Anatólia e de Izmir, reduzindo-o à Turquia. Por outro lado, surgiu, independente, o Reino do Hejaz. Os nacionalistas ficaram decepcionados com Mehmet VI e foi instaurado um governo temporário sob a liderança de Mustafa Kemal Atatürk (1920). Em 1 de Novembro de 1922 a Monarquia foi abolida e proclamada a República, sendo primeiro presidente Mustafa Kemal Atatürk, que ganhara a guerra da independência turca (1919-1922). Mehmet VI foi exilado e sucedeu-lhe, já não como Sultão mas apenas como Califa, Abdul Mejid II (1922-1924). A República Turca foi reconhecida pelo Tratado de Lausanne em Julho de 1923. Em 1924, a Grande Assembleia Nacional Turca aboliu o Califado.<br /></p>Achei por bem registar estes acontecimentos, que nos ajudam a compreender as vicissitudes ocorridas na Palestina durante o conturbado período da Primeira Guerra Mundial.<p>Mas regressemos ao conteúdo do livro. Quando chegou, em trabalho, a Telavive, em 1991, Amy Dockser Marcus apaixonou-se pela terra e pela sua história, e começou as suas investigações. Documentou-se, falou com a população local, árabes e judeus, e foi enviando as suas crónicas para o jornal, das quais resultou, em parte, o presente livro.<br /></p><p>A questão da criação de um Estado para os judeus assumiu uma especial projecção com a publicação do livro <i>Der Judenstaat</i> (<i>O Estado Judaico</i>), em 1895/1896, do jornalista judeu austro-húngaro Theodor Herzl, que se mostrou indignado com o famoso caso Dreyfus e com as perseguições e discriminações a que os judeus vinham sendo sujeitos em vários países da Europa. Depois das guerras dos judeus contra os romanos, admiravelmente descritas no célebre livro<i> A Guerra dos Judeus</i>, do famoso historiador judeu (cidadão romano) Flavius Josephus (37-100), a revolta da província romana da Judeia foi oficialmente encerrada em 70, com a vitória dos romanos, embora a luta se tenha prolongado até 73, com a tomada da fortaleza de Massada. As operações foram comandadas pelo imperador Vespasiano, tendo seu filho (e futuro imperador) Tito sitiado e destruído Jerusalém e arrasado o Segundo Templo (70). Em sua honra, ergueu-se, no Forum Romano, o Arco de Tito. No reinado do imperador Adriano eclodiu uma nova revolta judaica contra os romanos conduzida por um indivíduo que aqueles consideravam ser o Messias anunciado no Antigo Testamento. Adriano, que os judeus detestavam pela sua afeição pela cultura grega, sufocou a revolta e construiu, em 131, sobre as ruínas de Jerusalém anteriormente devastada por Tito uma nova cidade, Élia Capitolina (do seu nome, Públio Élio Adriano (Publius Aelius Hadrianus), edificando no local do Segundo Templo um novo templo dedicado a Júpiter Capitolino. Alterou também para Palestina o nome da província romana da Judeia, nome proveniente de Filistia, designação do território ocupado pelos filisteus desde os tempos faraónicos e que correspondia a uma vasta porção de terra compreendida entre o Mar Mediterrâneo e uma linha terrestre situada sensivelmente entre as actuais cidades de Gaza e de Telavive. Em consequência, os judeus dispersaram-se na sua maioria por territórios na Europa, na Ásia e na África, onde permaneceram maioritariamente até ao século XX, e ainda hoje parcialmente permanecem. A partir do século XIX, registou-se um importante fluxo migratório desses países para o continente americano, especialmente para os Estados Unidos da América. Esta migração do povo judeu, começada em 70, ficou conhecida como <i>Diáspora</i>, ainda que o termo também seja utilizado noutras circunstâncias. Costumam citar-se, a propósito, estas passagens do Antigo Testamento (Livro de Ezequiel - 22,15: «<i>Eis que Eu mesmo te espalharei entre as nações e te expatriarei por todas as terras; colocarei um ponto final à tua imundície.</i>»)<span class="p">. Ou do (Livro de Jeremias - 9,16: «</span><i>Também os espalharei por entre nações que nem eles nem seus pais
conheceram; enviarei contra eles a espada, até que os tenha exterminado.</i>»). Existem outras passagens semelhantes nos Livros do Antigo Testamento.</p><p><span class="p">A Organização Sionista Mundial foi fundada por iniciativa de Theodor Herzl no primeiro Congresso Sionista Mundial, reunido em Basileia em Agosto de 1897. Herzl foi o seu primeiro presidente até à sua morte em 1904. A intenção primordial, além da conservação dos usos, costumes e rituais judaicos era a criação de um Estado para os judeus. Foram aventadas diversas hipóteses, entre as quais um território no Uganda, o planalto de Benguela (em Angola) e mesmo a ilha de Madagascar, mas a maioria dos delegados preferia a Palestina, especialmente por causa de Jerusalém. Deve dizer-se que Herzl não privilegiava a Palestina, que nem sequer conhecia e que acabou finalmente por visitar aquando da viagem àquele território do imperador alemão Guilherme II. O que ele realmente pretendia era um Estado independente, mas acabou por se vergar à tendência maioritária dos sucessivos Congressos sionistas.</span></p><p><span class="p">Os congressos sionistas realizados posteriormente consideraram que a Palestina era o único território para a constituição do novo Estado Judaico e iniciaram uma progressiva aquisição de terras, inicialmente por métodos normais e posteriormente com o uso da força, aos seus legítimos proprietários Havia sido, entretanto, estabelecido um escritório judaico em Jaffa, próximo do local onde hoje se ergue a cidade de Telavive, para tratar da compra de terrenos e casas e começar a instalar os colonatos judeus. Apesar do Império Otomano ter sido sempre terra de acolhimento para judeus, o sultão Abdul-Hamid II não via com bons olhos a entrada maciça de judeus na Palestina, apesar da intenção da criação de um estado ter sido, tanto quanto possível, mantida em segredo. Refira-se que a aquisição de propriedades se fazia nos terrenos mais férteis em detrimento de solos improdutivos, mas privilegiando sempre a cidade de Jerusalém, que era o objectivo primordial da Organização Sionista. Aliás, os judeus costumavam despedir-se no fim das suas reuniões com a expressão: «No próximo ano em Jerusalém!».</span></p><p><span class="p">A autora resolveu intitular o seu livro <i>Jerusalém 1913</i> devido a um facto que ela expressamente refere. Em Maio de 1913, o realizador judeu russo Noah Sokolovsky chegou à Palestina com a intenção de realizar um filme sobre os colonatos judaicos. Estávamos nas vésperas da Primeira Guerra Mundial e Sokolovsky pretendia registar o empreendimento dos judeus na Palestina. O realizador trabalhou rapidamente e concluiu o filme em Junho seguinte. Regressou à Rússia para a edição do mesmo que veio a ser apresentado em Setembro no Congresso Sionista anual, em Viena. O filme foi muito criticado, mesmo pelos sionistas, pois Sokolovsky focou-se quase exclusivamente nos judeus, ignorando as vibrantes comunidades árabes de Jaffa e Haifa, que eram largamente maioritárias e raramente são mostradas nas imagens.</span></p><p><span class="p">Segundo Amy Dockser Marcus, 1913 é o ano decisivo para a colonização judaica da Palestina. As vagas de judeus são incessantes, o que começa a provocar alarme nas populações árabes, que já não ignoram as intenções políticas do fenómeno. São realizados protestos junto da Sublime Porta pelas mais importantes famílias palestinianas, os Husseini, os Khalidi, os Nashashibi. Ruhi al-Khalidi (sobrinho de Yussuf al-Khalidi, presidente da Câmara de Jerusalém entre 1899 e 1907), que chegou a ser deputado ao Parlamento Otomano, foi um dos principais activistas e o conservador da mais notável biblioteca privada de Jerusalém, que ainda hoje existe. Escritor, professor, artista e político, Ruhi al-Khalidi deixou umas memórias inacabadas (morreu subitamente em Constantinopla em 1913, talvez envenenado) que a família nunca publicou.</span></p><p><span class="p">O relacionamento entre as sucessivas instalações judaicas na Palestina e o Império Otomano sofreu várias flutuações. Os Jovens Turcos preferiram a concepção de um Império em que a otomanidade prevalecesse sobre o islão, como o demonstra a extinção do Califado. Exigiam a submissão ao Império, em detrimento das confissões religiosas e também eles tentaram travar a imigração judaica. Mas a guerra foi desfavorável a Constantinopla e os ingleses aliciaram os árabes para combater os turcos com a (falsa) promessa de um Grande Estado Árabe. O livro do coronel Thomas Edward Lawrence (<i>Os Sete Pilares da Sabedoria</i>) e o célebre filme <i>Lawrence da Arábia</i> ajudam a compreender a sinistra intriga britânica.</span></p><p><span class="p">Em 1918, segundo a estatística das Nações Unidas, viviam na Palestina 50 000 judeus e 500 000 árabes (maioritariamente muçulmanos sunitas, mas incluindo um número significativo de cristãos católicos e ortodoxos), além de outras minorias religiosas. </span></p><p><span class="p">A população judaica foi aumentando a um ritmo impressionante, nomeadamente depois dos Acordos (secretos ?) Sykes-Picot, de 1916, que previa a divisão de esferas de influência no Médio Oriente entre o Reino Unido e a França, na previsível derrota do Império Otomano.</span></p><p><span class="p">E, sobretudo, depois da Declaração Balfour, de1917, em que Lord Balfour, ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, no governo do primeiro-ministro David Lloyd George, endereçou uma carta ao barão Lionel Rothschild, líder da Comunidade Judaica do Reino Unido, para ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha, em que declarava o seguinte:</span></p><dl><dd><i>"Caro Lord Rothschild,</i></dd><dd><i> </i></dd><dd><i>Tenho o grande prazer de endereçar a V. Senhoria, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada:</i></dd><dd><i>`O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o
estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e
empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização
desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa
atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades
não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o
estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.´</i></dd><dd><i>Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Senhoria pela gentileza
de encaminhar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista.</i></dd></dl>
<dl><dd><i> Arthur James Balfour."</i></dd></dl><p>A ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha e as perseguições nazis aceleraram ainda mais o êxodo de judeus para a Palestina.</p><p>Segundo a Encyclopedia Britannica, havia em 1946, na Palestina, 1 200 000 árabes e 678 000 judeus, isto é, 64 % de população árabe. De 1918 para 1946 o número de judeus aumentou assim de 50 000 para 678 000,</p><p>O livro acompanha, quase quotidianamente, as actividades das principais personalidades árabes (muçulmanas e cristãs) e judaicas durante o ano decisivo de 1913, das suas relações entre si e das respectivas relações com os dirigentes otomanos, e depois turcos. Os Jovens Turcos tinham-se comprometido adoptar uma série de reformas para a convivência das diversas comunidades mas as vicissitudes da guerra não permitiram a sua concretização. O Triunvirato que passou a governar o Império após a derrota na Primeira Guerra Mundial era constituído, como dissemos, por Ismaïl Enver, Mehmet Talat e Ahmet Djemal, a quem viria a ser atribuído o governo da Palestina. Em 1915, foi criada a Comissão do Crescente Vermelho, presidida por Husayn al-Husseini, e que englobava muçulmanos, judeus e cristãos, com a participação do judeu sefardita de Damasco Albert Antebi, grande amigo da família e figura proeminente que desempenhou um papel fulcral em todo o processo do estabelecimento judaico na Palestina, ainda que ele mesmo não se considerasse um sionista. Esta entidade tinha por missão negociar com o Governo Otomano as questões mais delicadas, já que os Jovens Turcos não privilegiavam qualquer confissão mas apenas exigiam a submissão a Constantinopla.</p><p>Em 1917, as tropas britânicos saem do Egipto em direcção à Palestina com a clara intenção de tomarem Jerusalém. Na iminência de perder a guerra, Ahmet Djemal, que não queria uma Palestina árabe (dado o apoio fornecido aos árabes pelos ingleses), persegue árabes cristãos e muçulmanos culpando-os de alianças pró-britânicas.</p><p>A autora recolheu sabiamente as memórias e testemunhos de pessoas, ou seus descendentes, desses conturbados tempos. E frisa a acção de duas personalidades notáveis que não sobreviveram ao fim da guerra: o árabe muçulmano Ruhi Khalidi (o herdeiro da celebérrima biblioteca) e o judeu não-sionista, mas que acabou por se ver envolvido na trama sionista, Albert Antebi: rivais, colaboradores, ambos devotos de Jerusalém, poderia mesmo dizer-se amigos. </p><p>Uma outra figura notável da época, Wasif Jawhariyyeh, cristão ortodoxo de cultura árabe, poeta e compositor, escreveu no seu diário, depois da Declaração Balfour e da tomada de Jerusalém pelos britânicos: «the loss of our homeland» (p. 156)</p><p>Sobre Albert Antebi, a autora escreve: «During the war Albert Antebi ws also at work on a document describing his vision for the future, and it was clear that in it he no longer saw his place as being in Palestine. In 1914, soon after the war broke out, he had complained that the Zionists "claimed to be the only heirs of tomorrow." He recognized that this left him and others who shared his worldview as part of the past. The Zionists, he noted, had "conquered Palestine from the Arabs, Turkey, the European powers and the non-Zionists Jews." In papers found in his briefcase after he died, he argued that the region should be divided into cantons, with different groups controlling each one and the entire country overseen by France.» (pp. 156-7)</p><p>Entretanto, os judeus sionistas organizaram grupos terroristas armados que provocaram graves incidentes, como a explosão, em 22 de Julho de 1946, do grande Hotel King David, em Jerusalém, onde se encontrava o quartel-general britânico e de que resultou a morte de uma centena de pessoas de várias nacionalidades. O ataque foi protagonizado pela milícia sionista Irgun e organizado por Menachem Begin, que viria ser, posteriormente e por duas vezes, primeiro-ministro de Israel. Foi dito na altura que o objectivo era a destruição de planos comprometedores dos grupos paramilitares Irgun e Haganah relativos à estratégia sionista de ocupação da Palestina.</p><p>Em 1919, reunira-se o primeiro Congresso Árabe/Palestiniano em Haifa, para tentar coordenar a estratégia de afluxo de imigrantes judeus que chegavam cada vez em maior número. Tinham começado por essa altura as confrontações violentas entre os recém-chegados e os habitantes árabes instalados há milénios. Os judeus pretendiam impor a sua cultura, os árabes conservar a que desde sempre possuíam. Todavia, o aproximar do fim da guerra e da queda do Império Otomano dificultavam a adopção de soluções adequadas.</p><p>Em Abril de 1939, seis líderes árabes, reuniram-se e formaram o que ficou conhecido por Alto Comando Árabe, dirigido por Haj Amin al-Husseini, pertencente a uma das mais eminentes famílias de Jerusalém, e que fora amigo pessoal de Albert Antebi. O Alto Comando apelou a uma greve geral dos trabalhadores árabes e ao boicote dos produtos judeus. Iniciava-se um período de pré-guerra civil com os britânicos pelo meio. O professor e escritor palestiniano cristão ortodoxo Khalil Sakakini, uma das mais respeitadas figuras dos cristãos árabes, escreveu: «I pray to God the end will be good.» (p. 166)</p><p>«Arthur Ruppin [activista sionista, considerado o pai da sociologia hebraica e figura do maior destaque na época] found himself frequently involved in disagreements over how the Jews should respond. Some want to revive the peace talks that had been initiated in 1913 and then suspended because of the war. Ruppin himself even joined a new group called Brit Shalom, which advocated attempting to find a way for the two sides to share Palestine. But he began to find himself increasingly at odds with his friends , who continued to adhere to the idea that Herzl himself had promoted: namely, that eventually the Arabs would realize the economic advantages the Zionist movement brought to Palestine and come to terms with their presence in the country. Ruppin now found himself taking the position that rational approaches such as these had no relevance for the tribal conflict that existed between the Jews and the Arabs. Political conflicts were not governed by "rational arguments", he told them, "but by instincts." (pp. 166-7)<br /></p><p>Não é possível no espaço de um <i>post </i>desenvover a excepcional narrativa de Amy Dockser. O seu livro merece uma atenta leitura. Já me alonguei demasiado. Mas ainda referirei alguns momentos essenciais.</p><p>Atendendo à chamada Grande Revolta Árabe contra o Império Otomano instigada pelos ingleses, ao desenvovimento das milícias sionistas e da resistência árabe, cita a autora: «By 1942, Khalil Sakakini was writing in his diary that he saw one of only two possible ways to end the fighting: either the Arabs would remain in control of the land, or the Jews would undertake to assume that control. War was inevitable.» (p. 169)</p><p>Amy Dockser Marcus regressou à Palestina no período 2004-2006. </p><p>Em 2004 conseguiu visitar a Biblioteca Khalidi, agora dirigida por Haifa Khalidi, familiar do fundador, que se encontra quase encostada à <i>yeschiva</i> Beir Idra, o que chegou a suscitar problemas judiciais. A Biblioteca contém obras preciosas e há um projecto para a sua digitalização e disponibilização internacional. Retrospectivamente, Amy Dockser confirma a sua convicção que o ano de 1913 foi o momento da grande separação entre a maioria árabe e a minoria judaica que haviam convivido pacificamente durante séculos, até à <i>mise-en-marche</i> do projecto sionista.</p><p>Em 2006, Dockser lê uma pequena notícia no jornal israelita "Haaretz", segundo a qual a Turquia anunciava a transferência para a Autoridade Palestiniana do imenso arquivo Otomano, compreendendo cerca de 14 000 páginas de documentos acerca de Jerusalém e da Palestina datando de 1500 a 1914. «The archive apparently contained records and information about land deals and land purchases that would be relevant in Jerusalem today. It wasn't clear yet what the archive would reveal, but the shadow cast by 1913 seemed to loom ever larger over the city's future.» (p. 188)</p><p>«Haim Ramon, an Israeli politician, told the press in an interview in December 2005, as Israel embarked on an election campaign, that he feared for the city. Jerusalem, he said, could end becoming "the non-Jewish and non-Zionist capital of Israel", referring to the growing number of ultrareligious Jews and Palestinian Arabs in the city, neither of whom identified with the state. Because the borders of the city have been expanded far beyond what would have been recognizable to Albert Antebi or Ruhi Khalidi in 1913, Israel's Jewish demographic control is now in danger. Out of the larger city's population today of 650,000, one in three people is a Palestinian Arab. The Old City, where Antebi e Khalidi once lived side by side, and where the sites with the deepest national and religious significance to the different ethnic communities are located, is now home to approximately 32,000 Arabs and only 4,000 Jews, according to government statistics published by the Israeli press.» (pp. 189-190)</p><p>«In a book published in 2005 called <i>The Jerusalem Lexicon</i> by researchers at the Institute, the geographer Shlomo Hasson articulated what had become clear to most people who studied the problem of Jerusalem's future. "The existence of a democratic state and the continuation of Jewish hegemony in Jerusalem necessitate getting out of the existing situation and adopting new solutions," Hasson wrote. "Above all it is desirable to separate the space in which Jews live from the space where Arabs live and for each side to have the most sovereignity in its area." This is where things had led, from 1913 to our own time - back to the idea of a separate peace.» (p. 190)</p><p style="text-align: center;">* * * * *<br /></p><p>Já vai longo este texto. Li o livro aquando da sua publicação. Como referi no princípio, reli-o agora. Desde a sua edição, em 2007, muito água correu sob as pontes. Mas o livro de Amy Dockser Marcus, norte-americana e judia, de que referi as passagens que se me afiguraram mais importantes, talvez ajude a explicar a situação a que se chegou nos dias que correm. A autora é insuspeita de parcialismo e exprime a sua nostalgia dos tempos idos, dos que ainda conheceu e dos que já não chegou a conhecer. Ignoramos a sua posição sobre a situação actual mas não é difícil acreditar que se sinta profundamente angustiada.</p><p>Diga-se, em jeito de conclusão, que as colonizações e descolonizações britânicas foram dos fenómenos mais perversos que a História Universal conheceu num período inferior a meio milénio.</p><p><br /></p><p></p><p></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-88998032538445468462023-10-16T16:07:00.002+01:002023-10-16T16:08:38.922+01:00OS DOZE CÉSARES<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfM3BTiweKUnN18uEOZXN8AapBz8VBdAIZiuMoa1UbZSqhqQ-t4AehFpbI3XsOfEakSE0_Rom3ek-Y0KCHRqb3_WN-PRYxqjnw9XOYyaUCfjgz_dk7bpQzdTmafiKSm8L_7076W1HS2Gq1Iv4qukguo1tDbHrcM_UxbUIxeR5CjhlhoiTjolBSa5Br8fJE/s1812/Os%20Doze%20C%C3%A9sares.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1468" data-original-width="1812" height="324" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfM3BTiweKUnN18uEOZXN8AapBz8VBdAIZiuMoa1UbZSqhqQ-t4AehFpbI3XsOfEakSE0_Rom3ek-Y0KCHRqb3_WN-PRYxqjnw9XOYyaUCfjgz_dk7bpQzdTmafiKSm8L_7076W1HS2Gq1Iv4qukguo1tDbHrcM_UxbUIxeR5CjhlhoiTjolBSa5Br8fJE/w400-h324/Os%20Doze%20C%C3%A9sares.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p>Muitos autores antigos debruçaram-se sobre a personalidade dos imperadores romanos, nomeadamente sobre os que ocuparam o poder nas primeiras décadas do Império.</p><p>Entre os que escreveram sobre um ou vários Césares contam-se Cícero (106-43 AC), Nicolau de Damasco (64 AC- 4 DC, Philon de Alexandria (20 AC-50 DC), Velleius Paterculus (19 AC-31 DC), Séneca (4 AC-65 DC), Plínio, o Antigo (23-79), Flavius Josephus (37-100), Plutarco (46-120), Tácito (56-117), Plínio, o Jovem (61-114), Apiano (95-165), Aulus Gellius (123-165), Dion Cassius (155-229), Filóstrato (170-250), como os mais importantes.</p><p>Mas é sobretudo a Suetónio (69-141) que se deve a obra mais profunda e abrangente sobre os primeiros imperadores: <i>De vitis Caesarum</i> (Vidas dos Césares), habitualmente conhecida como <i>Os Doze Césares</i>.</p><p>O escritor latino Suetónio, que foi secretário do imperador Adriano, deixou-nos uma biografia suficientemente elucidativa embora nem sempre exacta (voluntária ou involuntariamente) dos primeiros onze imperadores romanos, antecedida da vida de Júlio César, que não é considerado imperador, ainda que fosse César e tivesse o título de <i>imperator</i>. Mas o Senado não chegou a conferir-lhe o título de <i>princeps</i>, que nos habilita a designar os imperadores de Roma. Assim, <i>De vitis Caesarum</i> inclui, além de Júlio César, os imperadores da Dinastia Júlio-Claudiana (Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero), os efémeros três imperadores do ano 69 (Galba, Otão e Vitélio) e os imperadores da Dinastia Flaviana (Vespasiano, Tito e Domiciano).</p><p>A obra de Suetónio conta-nos, relativamente a cada César, os aspectos mais importantes da sua vida, englobando vida pessoal, vida política, vida militar, etc.</p><p>Mas existem outras formas de abordar os "reinados" destes "soberanos", como a que nos propõe Régis F. Martin, no seu livro <i>Les douze Césars</i>. Resolveu este autor dividir o livro pelos aspectos fundamentais das personalidades dos imperadores em vez de seguir a ordenação estabelecida por Suetónio de dividir a obra pelos reinados dos doze Césares.</p><p>É esta a proposta de Régis F. Martin:</p><p>I - Force et Origines du Mythe</p><p>II - Portraits et Miroirs Déformants</p><p>III - La Vie Quotodienne au Palais Impérial</p><p>IV - Séxualités Impériales: Stratégies, Fantasmes et Rituels</p><p>V - Le Pouvoir et la Maladie</p><p>VI - Les Personnalités en Présence</p><p>VII - Les Hommes et le Pouvoir</p><p>VIII - L'Image Surgie de la Mort</p><p> </p><p>Não sendo possível comentar os conteúdos dos capítulos mencionados (o livro de Régis F. Martin tem cerca de 500 páginas), vamos deter-nos sobre dois dos aspectos muito controversos da vida (e da) morte) destes imperadores. </p><p>Um deles é sobre a sua sexualidade. Discute-se frequentemente se teria havido imperadores homossexuais. Como não existia no Império Romano a noção de homossexualidade (o conceito é muito recente e remonta aos fins do século XIX), não houve tecnicamente homossexuais na Roma Antiga mas apenas pessoas que mantinham permanente ou esporadicamente relações com outras pessoas do mesmo sexo. Uma simples questão de gosto, como preferir peixe ou carne. Realmente era assim. Parece poder afirmar-se com alguma segurança que Cláudio ou Vespasiano não mantiveram esse tipo de relações. Júlio César é o que hoje se poderia chamar um bissexual perfeito. Dele escreveu Suetónio (52,6) que «era marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos». Acerca de Augusto não constam especiais referências, salvo o facto (ainda segundo Suetónio) de ter tido, aos 18 anos, relações com seu tio avô Júlio César, que exactamente por isso o teria adoptado; e que, em Espanha, se teria prostituído a Aulus Hirtius. Segundo as imagens que possuímos, Augusto era, nessa altura, um rapaz muito bonito. Do austero Tibério não há notícia desse comportamento, à excepção das célebres (mas não confirmadas) orgias na piscina da sua <i>villa</i> em Capri, onde, já no fim da vida, se entregava a actos libidinosos com rapazinhos e mesmo crianças e organizava com eles jogos sexuais, chamados <i>spinthrias</i>. Calígula manteve toda a espécie de relações, inclusive com Lepidus, marido de sua irmã Drusilla, da qual foi igualmente amante. Galba foi um homem austero, mas manteve relações homossexuais, de preferência com homens maduros. Otão teve também os seus amantes, e terá sido favorito do próprio Nero. Quanto a Vitélio, terá feito parte da corte de rapazinhos dos tempos de Tibério, em Capri. Tito, ao contrário de seu pai Vespasiano, foi um grande consumidor de jovens e de eunucos. Domiciano também teve vários rapazes novos, segundo Dion Cassius e Suetónio. Quanto a Nero, para além das numerosas relações homossexuais, foi o único imperador que celebrou dois casamentos homossexuais, assumindo num o papel de mulher e noutro o papel de homem. É possível que tenha também violado várias vezes o seu jovem primo Britannicus, filho de Cláudio e quatro anos mais novo. Aqui fica uma síntese das relações homossexuais imperiais, sendo certo que todos os imperadores tiveram igualmente relações heterossexuais.<br /></p><p>O outro aspecto que importa relevar é o da morte dos imperadores. Júlio César, como toda a gente sabe, foi assassinado no Senado em 15 de Março de 44 AC (os Idos de Março). Augusto morreu de morte natural, ainda que exista o episódio do seu envenenamento, contado por Dion Cassius e Tácito. No final da sua vida, Lívia teria envenenado os figos que Augusto colhia directamente no seu jardim. Vespasiano morreu seguramente de morte natural, tal como Tito (apesar de alguns rumores de envenenamento) ou Tibério (não obstante a estória que alguns contam que teria sido sufocado por Calígula nos momentos finais). Cláudio foi sem dúvida envenenado já na recta final da vida por obra de sua mulher Agripina (II), mãe de Nero. Nero e Otão suicidaram-se, o primeiro ridiculamente, o segundo estoicamente. Calígula e Domiciano foram mortos por uma conjura. Galba e Vitélio foram executados publicamente, o primeiro com grande dignidade, o segundo perante o escárnio dos romanos.<br /></p><p>Recorda-nos Régis Martin que a ideia geral que prevalece na opinião pública se encontra formatada pelas inexactas películas fabricadas em Hollywood, que preteriram a autenticidade histórica a favor da exaltação da excentricidade destinada a seduzir as massas. Entre os muitos filmes que contribuíram para os mitos acerca dos primeiros tempos do Império Romano contam-se <i>Quo Vadis?</i>, de Mervyn Le Roy (a partir do romance de Henryk Sienkiewicz), <i>Júlio César</i>, de Mankiewicz (a partir de Shakespeare), as múltiplas <i>Cleópatra</i>, sendo a mais célebre também de Mankiewicz, <i>Ben Hur</i>, de William Wyler, <i>Calígula</i>, de Tinto Brass, <i>Eu, Cláudio</i>, de Josef Sternberg (inacabado), [e, acrescento eu, <i>Eu, Cláudio</i>, de Herbert Wise], <i>Fabíola</i>, de A. Blasetti, <i>Satiricon</i>, de Fellini, os seis <i>Os Últimos Dias de Pompeia</i>, sendo o mais conhecido o de Mario Bonnard e Sergio Leone. Também os muitos livros escritos acerca da época alimentaram as fantasias sobre a Roma Imperial, pelo que importa sempre distinguir entre as obras históricas, devidamente documentadas, e romances ou peças de teatro que, reclamando-se da história, a deturpam ou modificam, consoante os objectivos que pretendem alcançar. O que não significa que algumas dessas obras não sejam notáveis. [Estou a lembrar-me das peças de Shakespeare sobre temas romanos, do <i>Calígula</i>, de Albert Camus, dos livros de Robert Graves sobre Cláudio, das <i>Memórias de Adriano</i>, de Marguerite Yourcenar, de <i>Juliano</i>, de Gore Vidal, dos livros de Françoise Chandernagor, de <i>O Primeiro Homem de Roma</i>, de Collen McCullough, e tantos outros.<br /></p><p>Tudo o que escrevi é muito pouco comparado com o manancial inexaurível constituído pelo livro de Martin. E sobre o livro de Suetónio não falo, já que Martin se refere primordialmente a ele, ao mesmo tempo que recolhe elementos dos outros autores citados no início deste texto.<br /></p><p></p><p style="text-align: center;">* * *<br /></p><p>A presente edição portuguesa de <i>Os 12 Césares</i> (1963) foi traduzida por João Gaspar Simões, célebre crítico literário, romancista, dramaturgo, ensaísta, biógrafo, historiador da literatura e figura maior do movimento da <i>Presença</i>.<br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-27283731602251472472023-09-30T13:35:00.000+01:002023-09-30T13:35:36.571+01:00A IGREJA DO NAUFRÁGIO DE SÃO PAULO, EM VALETTA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgteGUMnpwbA57U-zCx6yV1eInIws1P82L0711dpGw60UCSCQ_K5Dgs053FuK0FH6l-WCKqm1pRmbZSMkjaMKWDTg7B2B0EHYcERD5hizg7cOmuKgxBd0LaqkFzPoKiWNOpq8tYLPYFyKEjIABKcYsPsRqAf2bwjcQR0X2gTVoGZbOSOxQwy297XKfLY2Bx/s2019/The%20Hidden%20Gem%20-%20St.%20Paul's%20Shipwreck%20Church.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2019" data-original-width="1428" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgteGUMnpwbA57U-zCx6yV1eInIws1P82L0711dpGw60UCSCQ_K5Dgs053FuK0FH6l-WCKqm1pRmbZSMkjaMKWDTg7B2B0EHYcERD5hizg7cOmuKgxBd0LaqkFzPoKiWNOpq8tYLPYFyKEjIABKcYsPsRqAf2bwjcQR0X2gTVoGZbOSOxQwy297XKfLY2Bx/w283-h400/The%20Hidden%20Gem%20-%20St.%20Paul's%20Shipwreck%20Church.jpg" width="283" /></a></div><p></p><p>A Igreja Colegiada do Naufrágio de São Paulo, em Valetta, é uma das mais importantes da cidade, por ela em si mesma e pelo que representa. Muitos escritores consideram o naufrágio do Apóstolo São Paulo na costa da ilha (c. 60 AD) como o maior acontecimento na história de Malta, pois foi ele que trouxe aos seus habitantes a fé cristã. A ilha é referida nos <i>Actos dos Apóstolos</i> (28, 1), atribuídos a São Lucas: « Estando já a salvo, soubemos que a ilha se chamava Malta».</p><p>O culto de São Paulo espalhou-se por toda a ilha e muitas igrejas são-lhe dedicadas, entre elas a Catedral de São Paulo em Mdina. E em Rabat existe a Gruta onde o Apóstolo viveu durante os três meses que permaneceu na ilha e à volta da qual foram escavadas catacumbas para os cristãos dos primeiros séculos e que serviram depois como abrigos subterrâneos durante a Segunda Guerra Mundial. </p><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEWDJZ17ZpS-nR4Epy4NfVECU6nAv3XQE4VpQwhC5aJmndFQsz1cBKmEDvIMsLj0XdKilEtXyRnsQs6PDiTChGL7zYoJxQlrApuOoNVEFqeIR17qh9H_Ji_giQcAtM6BmlXxw-NR-X-AxDxk_qUjB7w25CSe63vmytxJW23y3ghTiOSFu1evl60ofdgKVn/s1329/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(interior).jpg"><img border="0" data-original-height="1329" data-original-width="848" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEWDJZ17ZpS-nR4Epy4NfVECU6nAv3XQE4VpQwhC5aJmndFQsz1cBKmEDvIMsLj0XdKilEtXyRnsQs6PDiTChGL7zYoJxQlrApuOoNVEFqeIR17qh9H_Ji_giQcAtM6BmlXxw-NR-X-AxDxk_qUjB7w25CSe63vmytxJW23y3ghTiOSFu1evl60ofdgKVn/w255-h400/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(interior).jpg" width="255" /></a></div><p>A construção da igreja na versão actual começou em 1639 e prolongou-se por 40 anos. Mede 35 m de comprimento e 22 m de largura e possui uma nave central e duas naves laterais. A Sacristia encontra-se do lado esquerdo e o Oratório do lado direito. Nas naves laterais existem dez Capelas, cada uma com a sua cúpula. São dedicadas, do lado esquerdo a S. Miguel, S. Crispim e S. Crispiniano, Santíssimo Sacramento, S. Caetano e Santo Crucifixo e do lado direito a S. Martinho, São Homobonus, Nossa Senhora da Caridade, S. José e Santa Teresa d'Ávila. </p><p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFN8HxdvmSxixC-MrIXkTa8oXaqCfDHEoD7qO_CfpDGlQOZRx8g6iPWsRhraNiUWWQVlpiXtZxAN5EVDOlo-onKM0jkS8WO3ga1Ht5YHsrlUJ3lFnccsCDYx_NtozyoMmT09QGSqoDyDjrXeACTVJZIebkkiKECA8WnsUJqJF5D6DA3pVp0BxMxydSZBoT/s1201/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(fachada).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1201" data-original-width="814" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFN8HxdvmSxixC-MrIXkTa8oXaqCfDHEoD7qO_CfpDGlQOZRx8g6iPWsRhraNiUWWQVlpiXtZxAN5EVDOlo-onKM0jkS8WO3ga1Ht5YHsrlUJ3lFnccsCDYx_NtozyoMmT09QGSqoDyDjrXeACTVJZIebkkiKECA8WnsUJqJF5D6DA3pVp0BxMxydSZBoT/w271-h400/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(fachada).jpg" width="271" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fachada (em 2007)<br /></td></tr></tbody></table></p><p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq-403fePH8jLbMIi9edKeHkAYx4cJ97ecd3iQw6ma0O51nBHbMJxYP44mrQB59bnvdCyOwzv3NDYhLTQH5dLv0BPzTs3l0xdziin2wSH-Tpc-ETtCWyO_YFYP8YH72lQc2Hgqvy8VJEM3tvx_YeZ0Tcug5UCIHrnShyphenhyphenlg-RS_AzLh-RIaUWZM05gJkMTA/s1290/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(fachada).jpg%202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="898" data-original-width="1290" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhq-403fePH8jLbMIi9edKeHkAYx4cJ97ecd3iQw6ma0O51nBHbMJxYP44mrQB59bnvdCyOwzv3NDYhLTQH5dLv0BPzTs3l0xdziin2wSH-Tpc-ETtCWyO_YFYP8YH72lQc2Hgqvy8VJEM3tvx_YeZ0Tcug5UCIHrnShyphenhyphenlg-RS_AzLh-RIaUWZM05gJkMTA/w400-h279/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(fachada).jpg%202.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p>A fachada ostenta uma imagem da Imaculada Conceição, sobre a porta central, flanqueada por duas torres com sinos. Sob os campanários encontram-se as estátuas de pedra de S. Pedro e de S. Paulo. Sobre cada uma das portas laterais há inscrições em mármore em honra de S. Paulo, uma comemorando a dedicação do templo em 1569 e a outra comemorando o restauro da nova fachada, concluído em 1886. A igreja é coberta por uma magnífica abóbada elíptica, ricamente pintada. A Capela-Mor, onde se encontra o riquíssimo Altar-mor, foi alargada em 1762, pelo Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca, para que pudesse acolher no recinto o trono do Grão-Mestre. Este manteve-se, ao lado do trono do Bispo de Malta mesmo depois da ocupação de Bonaparte em 1798 e só foi retirado após as reformas do Concílio Vaticano II. No dia da festa de S. Paulo, o Altar-Mor é ornamentado com treze magníficos e grandes castiçais de prata ladeados por seis pequenas estátuas de ouro e prata dos Apóstolos, cópias exactas das que existem na Basílica de S. João de Latrão, em Roma. No centro do altar é colocada uma base de prata, sobre a qual é posto, durante os três dias precedendo a festa, o relicário do Santo, em ouro e pedras preciosas.</p><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEganSmhllX5Uwv939z9C3Y_OHLQvTqLNvrn2zmIeitQdJxR_TgtQdx5sXfU810A6amyhNZwzd6vg9nk_743iN7MHT3qy0yQw7hA2mhxt9Lka65C9lthDEiY26BammG3pO2Dq7r5MrluimLtRiNI___uefkUPfNG0Zu6xZGIi-omoQYfQerD4TGe1Y1iJpY3/s2016/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(Altar-Mor).jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2016" data-original-width="1323" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEganSmhllX5Uwv939z9C3Y_OHLQvTqLNvrn2zmIeitQdJxR_TgtQdx5sXfU810A6amyhNZwzd6vg9nk_743iN7MHT3qy0yQw7hA2mhxt9Lka65C9lthDEiY26BammG3pO2Dq7r5MrluimLtRiNI___uefkUPfNG0Zu6xZGIi-omoQYfQerD4TGe1Y1iJpY3/w263-h400/Igreja%20S.%20Paulo%20-%20Malta%20(Altar-Mor).jpg" width="263" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Altar-Mor</td></tr></tbody></table><p></p><p>A igreja possui um valioso conjunto de peças, em ouro, prata e pedras preciosas, como custódias, relicários, salvas, cálices, lampadários, tabernáculos, turíbulos, tendo vários destes objectos sido oferecidos pelos Grão-Mestres Pinto da Fonseca e Manoel de Vilhena.<br /></p><p>Muito antes da igreja conventual de São João ter sido designada Co-Catedral, em 1816, a Igreja paroquial do Naufrágio de São Paulo era a igreja do Bispo de Malta em Valetta. Este, aliás, continua a possuir o seu trono na Igreja de São Paulo. </p><p>Atrás do Altar-Mor encontra-se o Coro, construído um ao antes da erecção da cúpula, e realizado com os fundos concedidos por Don Cesare Passalacqua, procurador e grande benfeitor da igreja e cujo retrato se encontra na Sacristia. O Coro possui 22 cadeiras de madeira, 11 de cada lado, uma das quais ostentando as armas do Capítulo.</p><p>Sobre o Coro, num nicho aberto na parede, encontra-se, segundo a tradição, parte da coluna original em que S. Paulo foi martirizado em Roma, no local onde hoje se ergue a igreja San Paolo alle Tre Fontane. Esta parte da referida coluna onde o santo foi decapitado foi doada à igreja, em 1818, pelo Papa Pio VII. </p><p>Por Breve de 1733, o Papa Clemente XII elevou à categoria de Colegiada a igreja paroquial do Naufrágio de São Paulo. A cerimónia da investidura dos primeiros cónegos do novo Reverendo Capítulo da nova Colegiada teve lugar em 1733 no Palácio do Inquisidor, na Vittoriosa, e foi conduzida pelo Inquisidor, como representante da Santa Sé em Malta, Mgr. Giovanni Francesco Stoppani. Por Bula Apostólica de 1815, o Papa Pio VII concedeu aos cónegos do Capítulo o direito a usarem roquete, <i>mozzetta</i> de púrpura e <i>cappa magna</i> de arminho, bem como cordão de ouro e cruz peitoral. </p><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEL_YSgY7qqlj_v57An-KoWOX7XKUEZHot6-4CczFKcu12Sq7GcB4E9HaeSpJWywSUT3YuHw6_VGIqX5bTLT3gMJZOjO0xbYCpS0AWLkr2W3kYYpE_sC_-A48CgkWFIajEJC6B_7csbj8HmAYIJglEqfg5OGiDFA-WaKsay7zSvC6YtH_zJXl8Y0mi4tE0/s2022/Est%C3%A1tua%20S.%20Paulo%20-%20Malta.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="2022" data-original-width="1318" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEL_YSgY7qqlj_v57An-KoWOX7XKUEZHot6-4CczFKcu12Sq7GcB4E9HaeSpJWywSUT3YuHw6_VGIqX5bTLT3gMJZOjO0xbYCpS0AWLkr2W3kYYpE_sC_-A48CgkWFIajEJC6B_7csbj8HmAYIJglEqfg5OGiDFA-WaKsay7zSvC6YtH_zJXl8Y0mi4tE0/w261-h400/Est%C3%A1tua%20S.%20Paulo%20-%20Malta.jpg" width="261" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">São Paulo<br /></td></tr></tbody></table><p></p><p>A estátua de madeira do titular da Igreja, São Paulo, foi esculpida por Melchiorre Gafà (1635-1667) em Roma, em 1659, tendo sido encomendada por Paolo Testaferrata, Barão de Gomerino. Durante anos foi conservada na casa particular da família e oferecida mais tarde à igreja pelos seus herdeiros. Esta estátua é passeada processionalmente em Valetta em dias solenes, como na festa de São Paulo, em 10 de Fevereiro.</p><p>Revestiam especial interesse nesta igreja paroquial as Confrarias ou Guildas Comerciais que lhe estavam afectas. Cada Confraria apoiava a Capela em que se realizavam os serviços religiosos em honra do seu santo padroeiro. Durante muitos anos houve sete Confrarias cada uma com a sua Capela, a saber: a Guilda dos Retalhistas e Vendedores de Carne, Peixe e Verduras tinha a Capela de S. Miguel; a Guilda dos Sapateiros e Fabricantes de Arreios a Capela de S. Crispim e São Crispiniano; a Guilda dos Ferreiros a Capela de S. Eligius (hoje Capela do Santíssimo Sacramento); a Guilda dos Ourives a Capela de Santa Helena (hoje Capela de Nossa Senhora da Caridade); a Guilda dos Tapeceiros, Alfaiates e Tecelões a Capela de S. Homobonus; a Guilda dos Mercadores de Vinho a Capela de S. Martinho. Também, durante anos, mesmo os Remadores e Trabalhadores Portuários tiveram uma Capela própria, a de Santa Ágata, hoje Capela de S. Caetano. </p><p>Não cabe neste <i>post</i> a descrição das riquíssimas Capelas, tal como também não mencionámos a decoração e as preciosas pinturas que ornamentam toda a igreja.<br /></p><p>Na Capela de São José existe sobre o altar uma urna de mármore que contém um relicário de bronze dourado e pedras preciosas encerrando um fragmento do pulso direito de S. Paulo. A sua autenticidade foi garantia por diversos bispos e oferecida à igreja por Vincenzo Aloisio Bonavia, em 1823. Esta relíquia tem peregrinado não só em Malta mas também em Espanha e na Itália. </p><p>Muito haveria a escrever a propósito do opúsculo em apreço, mas a presente apreciação já vai longa.<br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-79346735258005043832023-09-28T22:37:00.001+01:002023-09-28T22:38:40.416+01:00AMORES PROIBIDOS NO IRÃO ISLÂMICO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDdAc4_CyrDKRc1pODnn29AqMTBqWypApNs4aFEXN8nvtQduvYYd_dh5-xFGIyZ8VOUqjn9_YtKiR0TFK-2PgGh3dTJiauEovuw-tuYzJkA77X2xeR8Hthyphenhyphentj1kJfsxeUmKddK69nDb4ntUcz9m8bWUplSywNT3mGOjCbD1-O1YeAW05l8mTOsqbYEn4Ca/s1459/Les%20Gar%C3%A7ons%20de%20l'amour%20-%20Ghazi%20Rabihavi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1459" data-original-width="867" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDdAc4_CyrDKRc1pODnn29AqMTBqWypApNs4aFEXN8nvtQduvYYd_dh5-xFGIyZ8VOUqjn9_YtKiR0TFK-2PgGh3dTJiauEovuw-tuYzJkA77X2xeR8Hthyphenhyphentj1kJfsxeUmKddK69nDb4ntUcz9m8bWUplSywNT3mGOjCbD1-O1YeAW05l8mTOsqbYEn4Ca/w238-h400/Les%20Gar%C3%A7ons%20de%20l'amour%20-%20Ghazi%20Rabihavi.jpg" width="238" /></a></div><p></p><p>Li agora a edição francesa de <i>Les Garçons de l'amour</i> (2022), tradução do persa (<i>Pesaran-e Eshq</i>), cuja data de publicação suponho ser 2011.</p><p>O autor, Ghazi Rabihavi, nasceu em Abadan (Irão) em 1956 e instalou-se em Teherão aos 22 anos, na altura em que começou a revolução. O Xá abandonou o país em 1979 e o ayatollah Ruhollah Khomeini regressou ao Irão, que se tornou uma república islâmica, após consulta da população em referendo nacional. Rabihavi editou várias novelas, sempre sob o cutelo da censura, e foi proibido de publicar em 1994. Em 1995 exilou-se em Londres, onde exerce a sua actividade entre o romance, o teatro e o cinema.</p><p>A presente obra é de carácter autobiográfico e o narrador, Djamil, assume a personagem do autor. Djamil, que vive com o pai numa aldeia próximo da cidade de Abadan, reconhece a sua paixão por um belo rapaz da sua idade, Nadji (ambos têm então 18 anos), que recolhe feno num ribeiro próximo. Estabelece-se uma relação entre os dois, que é mal vista pela família. A acção começa no início da Revolução no Irão e a acção dos fundamentalistas islâmicos já se faz sentir. Um momento de viragem é o incêndio do cinema Rex, em Abadan (1978), cuja autoria ainda hoje é discutida e onde morreu mais de um milhar de pessoas. Foi atribuído à SAVAK, a polícia do Xá, para culpar os islamistas ou aos fundamentalistas para responsabilizar o regime. Meses depois o Xá foi constrangido ao exílio.</p><p>Os dois rapazes resolvem partir para Abadan com o sonho de, mais tarde, alcançarem a Europa. Acabam por conseguir passagem clandestina para um país vizinho (não mencionado) que só pode ser o Iraque. Daí sonham emigrar para um país europeu mas virão a ser obrigados a regressar ao ponto de partida.</p><p>Entretanto fazem sentir-se as consequências da guerra Irão-Iraque, começada em 1980 mas que já estava latente.<br /></p><p>Ao longo de quase 500 páginas, a vida de Djamil (e de Nadji) durante o tempo desta aventura é descrita minuciosamente como de um diário se tratasse, o que torna o livro monótono, até pela repetição exaustiva de situações semelhantes. A homossexualidade está sempre em pano de fundo, pois os moços são frequentemente objecto de propostas sexuais e até de assédios e violações. Quer de não muçulmanos (havia no Irão larga percentagem de cristãos católicos e ortodoxos e de arménios) ou mesmo laicos, quer até de fundamentalistas, já que as relações masculinas do mesmo sexo eram (e ainda são?) uma prática corrente no país. Mas a República Islâmica viria a condenar severamente tais práticas, inclusive com a pena de morte, para tudo o que pusesse em causa os preceitos da <i>sharia</i>. Os "guardas da Revolução" encarregar-se-iam de escrutinar as vidas alheias. Ainda assim, os relacionamentos perduraram, mas agora sempre entre quatro paredes e no maior sigilo, pois que o espírito está pronto mas a carne é fraca.</p><p>O périplo dos dois rapazes, primeiro juntos, depois separados e finalmente de novo reunidos, até uma separação final, constitui uma verdadeira saga de incompreensões, humilhações, maus tratos e o próprio Djamil é vítima de uma agressão com ácido que o deixa parcialmente desfigurado.</p><p>A extensão do livro não permite recorrer a pormenores, mas a história seria bastante cativante se o autor não tivesse optado por uma narração quase diária em vez de assinalar os factos significativos deste "amor impossível", numa sociedade relativamente permissiva no tempo do Xá, do ponto de vista estritamente legal, mas que nunca o foi do ponto de vista social. E depois do regime islâmico a condenação deixou de ser apenas social mas também legal, com frequentes enforcamentos, pelo menos nos primeiros anos revolucionários, ainda que o fervor religioso tenha ligeiramente abrandado nos últimos tempos. </p><p>O autor, para além de narrar, através de um <i>alter ego</i>, uma história pessoal ainda que matizada, enfatiza o facto destes "amores proibidos" pela lei corânica (e por todas as leis das religiões monoteístas, infelizmente) serem correntes no Irão, integrarem mesmo a componente civilizacional, e nunca terem cessado de existir, no tempo do Xá e depois dele. Só por isso, o livro de Ghazi Rabihavi merece o elogio de todos os homens livres.<br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-51850222516476046462023-09-22T23:35:00.002+01:002023-09-23T22:24:45.559+01:00O EGIPTO É A MÃE DO MUNDO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvHWT158Ty3qaY9Q21EpJR_dMu9arnccWB0srBvdI3yWLUI8RHWuHvypNyZXyoo2BEkQMsRm621izwsGxE6uCWQfvKSPtPONXVci52kmas5dxB2WAGCIUN3rjS9f_xxr8Tnj1DetTBdv6v8sYHYoqJVWqO8sT-2rqRZgwFvbpP7cLSmR7_TctoXQdLTNxw/s1788/Ce%20que%20je%20sais%20de%20toi%20-%20%C3%89ric%20Chacour.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1788" data-original-width="1152" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvHWT158Ty3qaY9Q21EpJR_dMu9arnccWB0srBvdI3yWLUI8RHWuHvypNyZXyoo2BEkQMsRm621izwsGxE6uCWQfvKSPtPONXVci52kmas5dxB2WAGCIUN3rjS9f_xxr8Tnj1DetTBdv6v8sYHYoqJVWqO8sT-2rqRZgwFvbpP7cLSmR7_TctoXQdLTNxw/w258-h400/Ce%20que%20je%20sais%20de%20toi%20-%20%C3%89ric%20Chacour.jpg" width="258" /></a></div><p></p><p>Foi publicado no mês passado <i>Ce que je sais de toi</i>, primeiro romance de Éric Chacour, natural de Montreal e filho de pais egípcios. O autor é diplomado em economia aplicada e relações internacionais, trabalha hoje no sector financeiro e partilha a sua vida entre o Québec e a França.</p><p>Este livro dá-nos o ambiente da sociedade egípcia dos anos 60 do século passado até ao princípio deste século. É um magnífico fresco de um Egipto que eu ainda conheci e que se encontra em vias de extinção. E o autor, ainda que nascido no Canadá, sabe bem do que fala, no caso concreto, do que escreve.</p><p>Neste texto, utilizarei os nomes egípcios na transliteração que Chacour usa no livro, que é a usual em francês, mas que não corresponde à transliteração oficial da língua árabe para caracteres latinos, normalmente respeitada pelas versões em inglês.</p><p>A estória é simples e comum, os pormenores deliciosos, o desfecho talvez surpreendente. Mas o todo é magnífico.</p><p>Resumamos:</p><p>Tarek [um nome de que conservo as mais gratas recordações], filho de uma abastada família do Levante, há muito tempo imigrada no Egipto, torna-se médico, a exemplo do seu pai. Como todo o bom egípcio, mesmo que não muçulmano (Tarek é cristão) casa-se com uma mulher, Mira Nakeilian (da comunidade arménia), por quem se julga suficientemente atraído. A família habita na zona elegante de Dokki, numa <i>villa</i> em cujo rés-do-chão o pai possui o consultório, que Tarek herdará por morte deste. A mãe é a grande matriarca, como acontece nas sociedades árabes (cristãs ou muçulmanas), quem verdadeiramente tem a última palavra, ainda que no Ocidente se propague a ideia de que as mulheres são consideradas inferiores nos países orientais. Tarek tem uma irmã, Nesrine, uma espécie de confidente, que só casará muito mais tarde, depois dos "acontecimentos". E há, inevitavelmente, uma criada, Fatheya.</p><p>[Deve dizer-se que desde o século XVIII habitavam o Egipto muitas comunidades "estrangeiras": judeus, gregos, italianos, sírios, libaneses, palestinianos, franceses, ingleses, etc., algumas das quais possuíam até jurisdição própria. O Egipto, teoricamente fazendo parte do Império Otomano, era na realidade uma colónia britânica, desde a derrota das tropas francesas aquando da invasão de Napoleão Bonaparte em 1798. Em 1919, Londres concedeu uma independência nominal ao Egipto mas só com a Revolução de 1952 (promovida pelo Movimento dos Oficiais Livres), que depôs o rei Faruq, que abdicou em seu filho Ahmed Fuad II (uma criança) se começou a caminhar para uma verdadeira independência. Em 1953, foi proclamada a República, com o general Naguib como presidente, e em 1954 um golpe de Estado depôs Naguib e instituiu um Conselho da Revolução (presidido por Nasser) que liderou o país entre 1954 e 1956. Em 1956, o coronel Gamal Abdel Nasser foi eleito presidente da República.]<br /></p><p>Ainda em vida do pai, a quem já ajudava no consultório, Tarek resolve abrir um dispensário na paupérrima zona de Moqattam [ao lado da Cidade dos Mortos, essa extensão de vários quilómetros quadrados, no leste do Cairo, que abriga uma infinidade de sepulturas, onde vivem mais de seis milhões de pessoas e que tive a oportunidade de visitar, discretamente, uma vez]. Tarek desloca-se semanalmente ao dispensário e é sempre aguardado por uma interminável fila de pacientes a quem atende gratuitamente, ou mediante parco pagamento, nada que se compare com os honorários da sua rica clientela de Dokki.</p><p>Um dia, no fim da consulta, um rapaz aguarda-o à saída. Pede-lhe que vá a sua casa ver a mãe que já não se pode deslocar. Tarek acede e constata que a mãe, mulher simples, muito pobre mas inteligente, que o acolhe com entusiasmo (e insiste em estar de boa saúde), é vítima de uma progressiva doença do sistema nervoso. A pedido do filho, Tarek acede continuar a visitá-la e acaba por receber o filho, Ali, um belo rapaz de 19 anos, como auxiliar no dispensário. Esperto e empenhado, o rapaz torna-se imprescindível e os próprios pacientes começam a pedir a Ali, que verifica os casos mais urgentes, precedência no seu atendimento pelo doutor.</p><p>A mãe está encantada com a nova ocupação do filho (não sabemos se ela conhece as outras ocupações dele, pois o filho todos os dias se desloca ao centro da cidade, porventura para vender alguns bens recuperados da sucata de que é armazém a zona de Moqattam, o bairro dos <i>zabbaline</i> (em árabe, do lixo) e pede a Tarek que, por sua morte, tome o rapaz sob a sua protecção. </p><p>E, finalmente, a mãe morre. Tarek decide contratar Ali para seu auxiliar na própria clínica de Dokki, sem prejuízo do dispensário que continua a ser objecto da sua actividade benévola. É claro que Tarek, talvez imperceptivelmente (tais ideias nunca lhe tinham ocorrido), começa a ficar seduzido por Ali.</p><p>Nestes anos, Nasser é a grande figura do Egipto, as mulheres consideram-no o homem mais belo do país. Pelo meio da estória há a Guerra dos Seis Dias, o assassínio de Sadate, e mil e uma coisas que os conhecedores do Cairo conhecem e adoram. Ruas, lojas, comidas, monumentos, artistas, músicas, locais diversos,etc.<br /></p><p>Um dia, Tarek é visitado inesperadamente por Omar, homem já idoso, corpulento e muito rico, um dos grandes comerciantes de algodão do Egipto, uma figura poderosa na vida política e social do país. Chega no fim da consulta e insiste em estar a sós com o médico. Tarek que o conhece, Omar é visita de casa, recebe-o, tendo aquele insistido em saber se estão sós, já que se trata de assunto muito importante. O homem começa por invocar o amor por sua mulher Dahlya, com quem está casado há 32 anos, e tenta explicar-se por meias palavras o seu problema. Como Tarek não o entende bem, Omar acaba por ser mais explícito e o médico fica a saber que o homem se queixa de que desde há algum tempo não consegue excitar-se e ter ejaculação. Tarek vai tentar explicar-lhe mas eis que Ali surge da dependência ao lado. Omar tem um ataque de fúria e sai intempestivamente. Tarek repreende Ali pela sua aparição súbita mas este diz-lhe que não tem importância, que ele conhece o homem e que é um seu cliente. Tarek fica siderado. "Cliente?". Então o rapaz confessa-lhe que Omar é um dos clientes com quem ele habitualmente se prostitui e que o homem não precisa realmente de medicamentos, conforme se recorda da última vez que esteve na cama com ele. E diz a Tarek: «Tu crois que tu fais le seul métier où les gens acceptent qu'on les palpes?». E Tarek interroga-se: » Imaginer Omar avec Ali. Le corps usé du premier se payant la vigueur du second. Quel tarif pouvait justifier d'imposer sa déchéance à un jeune homme tel qu'Ali?».</p><p>E a uma pergunta de Tarek sobre a sua prostituição «Ce n'est pas difficile pour toi?», Ali responde: «Qu'est-ce que tu veux dire? Difficile de devoir vendre mon corps? De coucher avec des hommes que je n'ai pas choisis? Avec des vieux, des malpropres? D'obéir à leurs fantasmes? Non, ça va, ce n'est pas difficile. Et toi, ce n'est pas difficile d'examiner les incontinents et de manipuler des plaies gorgées de pus? Tu veux que je te dise? Ce qui est difficile, c'est d'attendre toute une nuit et de rentrer sans avoir trouvé de client...»</p><p>O livro está recheado de sábias e oportunas reflexões do autor sobre a vida, a natureza humana, o mundo.<br /></p><p>[A homossexualidade, é condenada penal, social e moralmente no Egipto pela religião muçulmana, como, aliás, em toda a parte, pelo judaísmo e pelo cristianismo, uma herança trágica das religiões monoteístas, mas sempre foi largamente praticada nos países árabes (e em todo o mundo) apesar dos mais variados interditos. Supõe-se que as novas organizações designadas LGBTQI+,etc., com os seus programas radicais, contribuirão poderosamente para acentuar a rejeição das ligações do mesmo sexo. Em grande parte do mundo árabe, até há bem pouco tempo, a actividade homófila foi significativamente tolerada, ainda que «sobre a nudez forte da verdade estivesse o pouco diáfano manto da hipocrisia».]</p><p>Retomemos o fio condutor.</p><p>A mulher de Tarek, que já notou as cada vez mais demoradas permanências do marido no consultório e no dispensário, começa a fazer viagens pelo pais, com o pretexto de passar uns dias nesta ou naquela cidade e, depois, já sem qualquer pretexto. E Tarek resolve instalar Ali em casa durante as ausências da mulher, e tornam-se amantes. <br /></p><p>Mas começa a difundir-se na cidade o boato de que Tarek é ajudado na sua prática médica por um rapaz de má vida. Boato sem dúvida propagado por Omar: a melhor defesa é o ataque. Entretanto as marcações de consultas começam a ser anuladas e a clientela elegante da clínica começa a rarear. E há mesmo uma proposta de egípcios regressados da Arábia Saudita e convertidos ao salafismo que pretendem adquirir o dispensário (a caridade sempre foi uma das armas dos Irmãos Muçulmanos) e até de admitir Ali desde que este "renuncie ao pecado".</p><p>De repente, aconteceu o impensável. O consultório de Tarek foi vandalizado, mas sem que algum objecto tenha sido roubado. E o médico descobre o seu gato de estimação, Tarbouche, pregado numa parede, ainda com o sangue a escorrer. E esta inscrição na parede: «Il t'attend en enfer.» Quem? O gato, ou Ali?</p><p>O rapaz tinha sido dispensado dias antes, para serenar os ânimos, mas não voltará a reaparecer. A mãe anuncia-lhe que Ali morreu, provavelmente afogado. Tarek não acredita. Quer ver os despojos. Esta diz-lhe que ela mesma, quando soube, ordenou que deitassem o cadáver na vala comum, já que era empregado da casa (do consultório) e não tinha família. Tarek, desesperado, tenta encontrar indícios da morte, mas debalde. Vai mesmo ao Mogamma [célebre e gigantesco edifício administrativo que existe na Praça Tahrir e ao pé do qual passei muitas vezes] para descobrir o que sucedeu, que registos existem, mas não obtém qualquer informação. </p><p>Neste momento, Tarek toma a decisão mais importante da sua vida. Abandona o Egipto e emigra para o Canadá, onde reiniciará a vida a partir do zero.</p><p>Termino aqui a descrição da narrativa, quando o livro se encontra sensivelmente a meio. Mas não seria correcto da minha parte desvendar os inesperados episódios seguintes e a surpreendente conclusão.</p><p><i>Ce que je sais de toi </i>é um livro notável, pelo que diz e pelo que deixa entrever. Como primeiro romance, constitui uma agradável surpresa. E recorda-nos a coexistência (nem sempre pacífica) entre as diversas comunidades egípcias: muçulmana, copta, ortodoxa grega, melkita, maronita, etc., pelos seus usos e costumes. A comunidade judaica quase desapareceu depois da revolução de Nasser.</p><p>Procurei sintetizar da melhor forma a primeira metade do livro. Obviamente com muitas falhas, já que não é condensável a riqueza do texto. Os interessados poderão adquirir a obra e apreciar a sua qualidade. <br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-73428579529489695502023-09-21T23:26:00.001+01:002023-09-22T15:55:00.509+01:00AS ESTRANHAS ESCOLHAS DO PAPA FRANCISCO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiioy1xkOKtDrBQn8cj2pMmb67z6Svkmo0IGVvjPYHvrABr6KkrW7E1-pg-_ioJSpEfIVigsEtF0Fl4HMaeT-dvUsvIC7oCdxUPbGLyKTZOykQAXYzJm_PwpsJxatJRNb4rFsP2mZs6GUx4w0U20KDq7-QcN6POHlKGPJ9ADTrrutO_xj8B6hAH_HuKGy2N/s800/Am%C3%A9rico%20Aguiar.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="438" data-original-width="800" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiioy1xkOKtDrBQn8cj2pMmb67z6Svkmo0IGVvjPYHvrABr6KkrW7E1-pg-_ioJSpEfIVigsEtF0Fl4HMaeT-dvUsvIC7oCdxUPbGLyKTZOykQAXYzJm_PwpsJxatJRNb4rFsP2mZs6GUx4w0U20KDq7-QcN6POHlKGPJ9ADTrrutO_xj8B6hAH_HuKGy2N/w400-h219/Am%C3%A9rico%20Aguiar.webp" width="400" /></a></div><p></p><p>Pela Bula Áurea "In supremo apostolatus solio", de Clemente XI (7 de Novembro de 1716), foi criado o Patriarcado de Lisboa, em paralelo com o Arcebispado existente, e que foi depois, naturalmente, absorvido pelo recém-criado Patriarcado.</p><p>Pela Bula "Inter praecipuas apostolici ministerii", de Clemente XII (17 de Dezembro de 1737), ficou estabelecido que o Patriarca de Lisboa seria elevado à dignidade cardinalícia no primeiro Consistório a seguir à sua nomeação.</p><p>Tudo favores da Santa Sé ao Fidelíssimo Rei o Senhor Dom João V. Estes privilégios, e muitos outros!</p><p>O princípio da elevação a Cardeal do Patriarca de Lisboa no primeiro Consistório seguinte manteve-se até data recente. Foi quebrado pelo Papa Francisco, quando o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, nomeado em 18 de Maio de 2013, foi designado Cardeal apenas no segundo Consistório após a sua nomeação, isto é, em 14 de Fevereiro de 2015. Argumentou-se então que a excepção se devia ao facto de se encontrar ainda vivo o anterior Patriarca de Lisboa (já emérito), o Cardeal D. José Policarpo (ainda possuidor das suas prerrogativas cardinalícias).</p><p>Verifica-se, agora, uma segunda excepção, também da responsabilidade do Papa Francisco: a nomeação de D. Rui Valério para Patriarca de Lisboa, em 10 de Agosto de 2023, que não será seguida da sua elevação ao cardinalato no próximo Consistório, que terá lugar no dia 30 de Setembro corrente. Poderá voltar a argumentar-se que tal procedimento se deve ao facto de ainda se encontrar vivo (e no uso das suas prerrogativas cardinalícias) o Patriarca emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente, que havia resignado por limite de idade.</p><p>Mas surge aqui uma imensa interrogação. Ao anunciar há várias semanas os novos cardeais a empossar no próximo dia 30, o Papa já tinha aceite a resignação de D. Manuel Clemente e certamente já teria decidido quem seria o seu sucessor, que poderia ser criado cardeal no próximo Consistório. Mas isto pode, todavia, dever-se às razões anteriores mencionadas. O que é mais extraordinário é que o Sumo Pontífice tenha criado cardeal D. Américo Aguiar, Bispo titular de Dagnum e Auxiliar de Lisboa, sem o designar então para outras funções, e o tenha nomeado hoje para Bispo de Setúbal, Diocese que se encontrava vacante há quase dois anos. </p><p>Não constitui escândalo público que o Papa nomeie cardeal um bispo residencial em Portugal, mas não é da história que isso tenha acontecido sem que o Patriarca de Lisboa fosse cardeal. O Bispo emérito de Leiria-Fátima, D. António Marto, foi cardeal, mas havia um cardeal em Lisboa. Mas que o novo Bispo de Setúbal seja elevado a cardeal sem que seja cardeal o Patriarca de Lisboa já parece uma atitude estranha. Tanto mais que a Diocese de Setúbal é sufragânea do Patriarcado de Lisboa e teoricamente na dependência deste.</p><p>Já estamos habituados a decisões controversas do Papa Francisco. Contudo, esta atitude significa uma afronta gratuita ao Patriarcado de Lisboa e, <i>lato sensu</i>, a todo o Episcopado Português. É que, com a sua elevação à púrpura cardinalícia, o novo Bispo de Setúbal terá precedência sobre todos os prelados portugueses: sobre o Patriarca de Lisboa, sobre o Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, sobre o Arcebispo de Évora e sobre todos os Bispos Residenciais.</p><p>Não havia necessidade.</p><p>Que mais surpresas nos esperam? <br /></p><p>É claro que não está em causa a figura de D. Américo Aguiar mas tão só o desrespeito de normas pontifícias com quase trezentos anos ou a sua involuntária ignorância, o que não parece ser o caso.<br /></p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-42661247846475098442023-09-20T23:20:00.000+01:002023-09-20T23:20:56.981+01:00O MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA, EM VALETTA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglqeonf-F1ETgOme_gxrljK8yQk1jIB9ei-p1IvCZHclapzOq6DpvUePoChsAviviaI8oSWr45zTD3p3SOwSjWJQtmFBpy2UW_vaBQyR-omyUY1blBsAAUTvBluZsGymDfhtDxfHD2AxyjV3cJbn9kuKJ6KsMeyrnc-KfwqBDTgl6uBHhUm6gczVCUsbcs/s1370/Museu%20Nacional%20de%20Arquelogia%20-%20Malta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1370" data-original-width="915" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglqeonf-F1ETgOme_gxrljK8yQk1jIB9ei-p1IvCZHclapzOq6DpvUePoChsAviviaI8oSWr45zTD3p3SOwSjWJQtmFBpy2UW_vaBQyR-omyUY1blBsAAUTvBluZsGymDfhtDxfHD2AxyjV3cJbn9kuKJ6KsMeyrnc-KfwqBDTgl6uBHhUm6gczVCUsbcs/w268-h400/Museu%20Nacional%20de%20Arquelogia%20-%20Malta.jpg" width="268" /></a></div><p></p><p>O Museu Nacional de Arqueologia, em Valetta, está instalado num prédio barroco que foi, em tempos, o Albergue da Língua de Provença. Construído para os Cavaleiros provençais, é anterior a 1571 e a sua fachada exibe características maneiristas habitualmente associadas ao ao famoso arquitecto local Gerolamo Cassar, pelo que se presume tenha sido ele o autor, já que subscreveu os mais importantes edifícios de Valetta naquela época.</p><p>A divisão mais importante é o Grande Salão, situado no primeiro piso. Era usado para as reuniões dos cavaleiros e também como refeitório e sala de banquetes. As paredes da sala estão admiravelmente pintadas e o tecto possui excelentes painéis.</p><p>O edifício teve diversos ocupantes, desde 1798, quando a Ordem foi expulsa de Malta. Em 1826 passou a acolher a Malta Union Club, cujo arrendamento expirou em 2002, mas só foi executado em 12 de Agosto de 1955. Nesta data foi destinado a Museu Nacional de Malta, que foi inaugurado em Janeiro de 1958 por Agatha Barbara, ministra da Educação. Assumiu as funções de director o Capitão Charles G. Zammit (filho de Sir Themistocles Zammit, um médico que foi o promotor da arqueologia maltesa). </p><p>A exposição permanente do período neolítico encontra-se no piso térreo, e as peças provêm das escavações efectuadas em vários templos e locais de Malta e de Gozo. Ocorrem por vezes exposições temporárias, que são apresentadas no Grande Salão, que também é utilizado para conferências e outros eventos. Ainda no piso superior pode ver-se um conjunto de peças da Idade do Bronze e da Arte Fenícia.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgJWaBlmxNwvdSZ3rEM-pftMT4VUpPck2CJZhtODDztTe8QQS3qE9PaCKyh8cCuapFzeML7jIYi8YmBgjBK3X2-WYQjajm6n6M9_IuY0_3nGCSwaSKzz-eG7p3xuqOXU8UbfU98wWqGrxDvd1faZK2cSCeB3UB7GbrFlwGPNvtZOWqnj7rrDBWzBAo3wjz/s1928/The%20National%20Museum%20of%20Archeology%20-%20Valetta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1928" data-original-width="1363" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgJWaBlmxNwvdSZ3rEM-pftMT4VUpPck2CJZhtODDztTe8QQS3qE9PaCKyh8cCuapFzeML7jIYi8YmBgjBK3X2-WYQjajm6n6M9_IuY0_3nGCSwaSKzz-eG7p3xuqOXU8UbfU98wWqGrxDvd1faZK2cSCeB3UB7GbrFlwGPNvtZOWqnj7rrDBWzBAo3wjz/w283-h400/The%20National%20Museum%20of%20Archeology%20-%20Valetta.jpg" width="283" /></a></div><p></p><p>A tábua cronológica do Neolítico de Malta é a seguinte:</p><p>1) Fase Ghar Dalam - 5 200 - 4500 AC</p><p>2) Fase Skorba Cinzento - 4 500 - 4 400 AC</p><p>3) Fase Skorba Vermelho - 4 400 - 4 100 AC</p><p>4) Fase Zebbug - 4 100 - 3 800 AC </p><p>5) Fase Mgarr - 3 800 - 3 600 AC</p><p>6) Fase Ggantija - 3 600 - 3 000 AC (Inclui uma sub-fase Saflieni - 3 300 - 3000 AC)</p><p>7) Fase Tarxien - 3 000 - 2 500 AC</p><p>As fases Ghar, Skorba e princípio de Zebbug correspondem ao Período Neolítico Inferior.</p><p>As fases Zebbug (final), Mgarr, Ggantija e Tarxien correspondem ao Período Templo.</p><p>A exposição de peças do neolítico compreende seis salas. </p><p>A sala 1 é dedicada ao neolítico inferior e apresenta várias peças de cerâmica tais como cabeças de animais e figuras humanas, utensílios do quotidiano, lâminas de pedra e de sílex, núcleos de obsidiana, ou objectos encontrados em túmulos, como ossos ou o célebre Círculo de Pedra Xaghra.</p><p>Na sala 2 há ruínas do período Templo, que nos ajudam a compreender a arquitectura das estruturas megalíticas, com reconstituições dos monumentos. E indicações de como se procedia à construção dos templos.</p><p>A sala 3 é dedicada às representações humanas, com estátuas de diversas divindades. Existe uma estátua colossal de mulher do período Tarxiano e muitas figuras de cerâmica e de alabastro. E ainda um relicário de pedra encerrando dois volumosos pénis. Há aliás muitas representações de símbolos fálicos que se supõe terem sido venerados na época, bem como fragmentos de corpos abraçados , não se distinguindo se pertencem ao mesmo sexo ou a sexos diferentes. </p><p>A sala 4 contém numeroso objectos de cerâmica incomuns, como uma "roda solar" de argila, seixos com incisões, cilindros de pedra com incrustações em ouro, colares, pingentes de pedra verde, etc.<br /></p><p>Na sala 5 pode ver-se uma das peças mais famosas do Museu: a "Senhora Adormecida", escultura em barro proveniente do hipogeu de Hal Safieni. E outras peças do mesmo hipogeu.</p><p>A sala 6 está adornada com numerosos blocos de pedra e altares provenientes dos templos tarxianos. E também objectos diversos, como chávenas, tigelas, etc.</p><p>O Catálogo refere-se apenas ao Período Neolítico, embora o Museu abrigue agora peças da Idade do Bronze e da Arte Fenícia, das quais, passados vários anos sobre a minha visita, já não me recordo.<br /></p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-25811601637891605262023-09-17T17:05:00.000+01:002023-09-17T17:05:45.104+01:00O ENGATE DOS VAGABUNDOS<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdVBSv0td4gNi-HEb_yteZtbAa2WFtlcFcRoSHGc6I0HWNCr9aKVeg5t7vl7dIQZgxmy3ShQUsrVhgAQHVz9nmsIhv4-qVdGerB2rU5dcVwWpCu4wuS2OA00DBiosEaWMsMPR_UKKTwDC5JVbPdMFhi8MrclO6ihAe39jPFiScrI15IwhmOUr0aTrHWkDc/s1651/Pr%C3%A9lude%20%C3%A1%20son%20absenca%20-%20Robin%20Josserand.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1651" data-original-width="1110" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdVBSv0td4gNi-HEb_yteZtbAa2WFtlcFcRoSHGc6I0HWNCr9aKVeg5t7vl7dIQZgxmy3ShQUsrVhgAQHVz9nmsIhv4-qVdGerB2rU5dcVwWpCu4wuS2OA00DBiosEaWMsMPR_UKKTwDC5JVbPdMFhi8MrclO6ihAe39jPFiScrI15IwhmOUr0aTrHWkDc/w269-h400/Pr%C3%A9lude%20%C3%A1%20son%20absenca%20-%20Robin%20Josserand.jpg" width="269" /></a></div><p></p><p>Foi publicado há algumas semanas <i>Prélude à son absence</i>, primeiro romance de Robin Josserand, francês, de 31 anos, bibliotecário em Lyon.</p><p>Trata-se de um livro presumivelmente autobiográfico, em que o narrador, suposto <i>alter ego</i> do autor, é um jovem de 30 anos, que trabalha na Bibliothèque de la Part-Dieu, em Lyon. Nos dezassete andares do edifício, o narrador, de que não sabemos o nome, aborrece-se entre as estantes de livros, os ficheiros, as obras de arte e os objectos anacrónicos que ali permanecem desde 1972, data de inauguração da biblioteca. E possui um fascínio especial por Jean Genet, que se revela ao longo da obra e do qual cita, em epígrafe, a citação da tarja da 13ª edição do <i>Journal du voleur</i>: «<i>Il faut d'abord être coupable.</i>»</p><p>Aliás, o autor diz ao que vem logo no primeiro parágrafo do livro: «Si je devais réfléchir à ce pour quoi j'ai commencé à écrire, je dirais que la littérature, pour moi, consiste à décrire de beaux jeunes hommes. Des garçons partout, des garçons tout le temps: le project vain d'un voyeur innocent. Mais à force de buter, le désir s'est usé. À ceux croisés régulièrement dans ma rue, je refuse désormais mon regard, regard qui n'est plus ce qu'il était, qui ne s'attarde plus partout, que je peux dès lors laisser aller sans crainte. La jouissance me fait l'effet d'un coup reçu au sommet du crâne et le plaisir vient cogner dans ma tête comme un troupeau de bêtes fuyantes. Dorénavant, ma vie est en surdine et d'aucuns diront que j'ai un peu abandonné la partie. Cette existence est devenue laide, décevante. Je n'écris plus. Je viens d'avoir trente ans.»</p><p>Talvez por isso, o narrador manifesta agora uma predilecção especial pelos sem-abrigo e nos intervalos em que abandona o serviço para se passear pelas ruas adjacentes não deixa de perscrutá-los com um atento olhar. Assim, surpreende um dia, sentado em frente de uma farmácia, um jovem vagabundo que, pela sua beleza, lhe desperta particular atenção. E há uma troca de sorrisos. </p><p>Durante alguns dias, o rapaz não se mostra nas redondezas, que o narrador percorre com redobrada atenção. Julga vê-lo ali ou acolá, mas é sempre um outro <i>clochard</i>. Até que finalmente o descobre e se vai estabelecendo um parco relacionamento, através de oferta de cigarros, de uma pequena moeda, da oferta da valiosa 13ª edição do <i>Journal du voleur</i>, que o narrador subtrai da biblioteca e que presume possa interessar ao sem-abrigo.</p><p>Os encontros furtivos de rua sucedem-se, até que o narrador o convida para se instalar no seu apartamento. Convite aceite após alguma hesitação do rapaz, que desde o início percebeu o jogo e deixa claro estar fora de questão qualquer relação sexual.</p><p>Mas o narrador não perde a esperança de ver aquele corpo sujo, que não despe uma peça de roupa, cujo vestuário miserável instintivamente o excita. E tentará a sua sorte, citando Koltès: «Ce n'est pas toujours celui qui aborde qui est le plus faible.»</p><p>Com persistência, consegue saber o nome e a idade do rapaz: Sven, 22 anos. </p><p>A instalação de Sven no apartamento não implica deste a aceitação de quaisquer regras ou a prestação de quaisquer favores sexuais. Entra e sai às horas que lhe apetece, levando uma vida obscura, entre desaparecimentos bruscos, desejos insólitos e telefonemas insistentes que escapam à compreensão do narrador. E há, também, pelo meio álcool e drogas. Nem remexendo nos dois sacos com os seus pertences, que o vagabundo depositou na sua casa, o narrador consegue saber algo da sua vida, salvo que nasceu em Paris, talvez no seio de uma família burguesa e que, por opção, se tornou <i>clochard</i>. E encontra uma pequena fotografia de Sven, que subtrai, já que este recusa terminantemente deixar-se fotografar.</p><p>A vida sobressaltada do narrador prossegue, com ausências forçadas ao trabalho, devido ao ritmo alucinante em que se tornou o seu quotidiano. O apartamento é agora um local de imundície e de desassossego. As impertinências, as más vontades, os desejos insólitos e provocadores de Sven sucedem-se. E a paciência do narrador parece ilimitada. Mas para evitar que o rapaz, por quem está apaixonado, desapareça definitivamente (o que já quase aconteceu), resolve convidá-lo para uns dias de repouso na Bretanha, na ilha de Groix, donde lhe será difícil evadir-se. A viagem será um pesadelo. E as férias também. A recusa a contactos permanece inalterável e a mão na perna ou no pescoço de Sven vale 50 ou 100 euros, mesmo assim regateados, porque este não está normalmente disposto. Por isso, o narrador, continua a saga de se masturbar sozinho no quarto várias vezes ao dia. </p><p>Mas as férias têm um desfecho imprevisível, que não deve ser aqui revelado. <br /></p><p></p><p>A obra é salpicada amiúde por citações musicais e literárias, como convém no domínio culto dos livros que tratam de homossexualidade. Nunca é demais invocar os grandes espíritos que também apreciaram as carnes dos seus semelhantes sexuais, já que sabemos, desde sempre, que o espírito está pronto mas a carne é fraca.</p><p>Até cerca de metade do livro a narrativa de Robin Josserand é muitíssimo interessante, revelando um promissor escritor. Com a continuação, a estória perde ritmo, talvez pela repetição de situações e pela circunstância, que se me afigura inverossímil, do narrador aceitar durante tanto tempo todas as impertinências do rapaz, mesmo tratando-se de uma verdadeira paixão, o que não parece ser o caso. A atracção física por Sven afigura-se relevar mais de um interesse sexual e de uma obsessão fetichista. Sempre houve, no <i>milieu</i> homossexual, um desejo por mendigos, vagabundos, drogados, quiçá criminosos, como existe um interesse, nunca desmentido, por fardas. E o coração tem razões que a razão desconhece.</p><p>Com a reserva apontada, <i>Prélude à son absence</i> prenuncia uma estimulante<i> rentrée</i> literária.<br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-14513575777108231582023-09-14T22:59:00.000+01:002023-09-14T23:00:07.596+01:00A CASA ROCCA PICCOLA, EM VALETTA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBln28eo2DZgKxEBmu1SwPwvXUKPAYxgjfw21dJkBBABewA8kQNw4igqIsuJh8nJP53pbznbd5qQkn71nCX4WgiMAD3EVhE_57AN9IZIwPu8vlsmDvekMW0_rJ4hOGnPqx6jTjmQ9a-79EbTqCHidZgd18-c-aNDvcLi3rZYt5g4XEUUtqI8LmAlEjVrYF/s1935/Casa%20Rocca%20Piccola%20-%20Valetta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1935" data-original-width="1365" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBln28eo2DZgKxEBmu1SwPwvXUKPAYxgjfw21dJkBBABewA8kQNw4igqIsuJh8nJP53pbznbd5qQkn71nCX4WgiMAD3EVhE_57AN9IZIwPu8vlsmDvekMW0_rJ4hOGnPqx6jTjmQ9a-79EbTqCHidZgd18-c-aNDvcLi3rZYt5g4XEUUtqI8LmAlEjVrYF/w283-h400/Casa%20Rocca%20Piccola%20-%20Valetta.jpg" width="283" /></a></div><p></p><p>A Casa Rocca Piccola, em Valetta, é a casa da família Piro, de uma antiga linhagem maltesa. A história da Casa Rocca Piccola recua ao século XVI, quando os Cavaleiros de São João, após a luta contra os turcos, em 1565, decidiram construir uma cidade de prestígio que pudesse rivalizar com as outras capitais europeias. Foram então edificados belos palácios nas ruas cuidadosamente planificadas da nova capital. </p><p>O nome da Casa refere-se a Don Pietro La Rocca, almirante da Ordem de São João (da Língua Italiana). Os sucessivos proprietários foram aristocratas italianos, mas na segunda metade do século XVIII foi vendida a nobres malteses, que a detêm há mais duzentos anos. É hoje a casa da família do 9º Marquês de Piro, Nicholas, também 9º Barão de Budach. Abriga notáveis peças de mobiliário, pratas e pinturas, uma grande colecção de vestes antigas e um precioso arquivo de documentos privados. No subsolo foram cavados na rocha abrigos para protecção pessoal durante os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial.</p><p>Uma escadaria principal dá acesso ao <i>piano nobile</i>, constituído pelas seguintes divisões: Sala de Jantar de Verão, Sala Azul, Sala de Pórfiro, Biblioteca, Sala Verde, Quarto de Dormir, Arquivo, Sala de Jantar de Inverno, Sala Grande e Capela.</p><p>O Cardeal Fabrizio Sceberras Testaferrata (1757-1843), o único cardeal maltês, ofereceu ao proprietário da época, seu irmão Paolo Sceberras Testaferrata, um precioso cálice de ouro que se encontra na Capela. <br /></p><p>As decorações pompeianas da Sala de Jantar de Inverno devem-se a Arthur Rose.</p><p>O Arquivo compreende uma extensa colecção privada de documentos da família Piro, que terá acompanhado os Cavaleiros de São João de Rhodes para Malta. O Grão Mestre Ramon Perellos enobreceu a família com um baronato em 1716 e Filipe V de Espanha concedeu-lhes um marquesado em 1742. Sobrevivem documentos relatando a venda de muçulmanos que Giovanni Pio de Piro fez ao mercador muçulmano Raïs. E também da administração dos bens da família e dos seus investimentos. </p><p>A Sala de Pórfiro está ornamentada com retratos de Giovanni Pio Piro, 1º Barão de Budach e 1º Marquês de Piro e do Grão-Mestre Perellos. </p><p>A Sala de Jantar de Verão é dominada por uma estátua de Diana em mármore de Carrara. </p><p>Na Sala Azul existe um conjunto de instrumentos cirúrgicos de prata que pertenceram à Ordem Hospitalária de São João. </p><p>Na Biblioteca pode ver-se sobre as portas uma sequência de pinturas de navios realizadas durante o grão-mestrado de Juan de Láscaris bem como dois imponentes retratos dos Grão-Mestres Emmanuel de Rohan e Ferdinand von Hompesch.</p><p>No Chamado Gabinete está uma das maiores preciosidades da Casa: a liteira dourada feita para Frà Victor Nicolas de Vachon Belmont, cavaleiro francês de Malta, capitão-general em 1764, e ornamentada com o seu brasão. Foi uma oferta do Grão-Mestre Pinto da Fonseca. O proprietário não abandonou Malta aquando da invasão de Napoleão, apesar das ordens deste. Estando sem dinheiro, para prosseguir as obras de caridade a que se tinha dedicado vendeu o mobiliário da sua casa. Os ingleses, que depois ocuparam a ilha, concederam-lhe uma pequena pensão. Morreu em 1807 e está sepultado na Capela de França da Co-Catedral de São João. </p><p>É esta, em traços largos, a descrição da Casa Rocca Piccola.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-59336867648022779232023-09-07T23:17:00.000+01:002023-09-07T23:17:30.583+01:00 A HOMOSSEXUALIDADE E A CIVILIZAÇÃO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG7GJ-CsSaX0sTH6-beqmxV92F80n1cGvIXcqFhCwT_1JmfFC7-vqiriJogzjueUiC4iyRb-Q1Mmc99JYzoJFDaFFy5cb4be0f6BTp__b2yhbZ_SmCLIppO94lX5dTzQIjS5B5Ml-GEyxnHh3B-WOdKU2CfbPNLV1cqxkHJjusBqR9fJ3kvDmJaEhCEvtB/s2031/Homosexuality%20&%20Civilization%20-%20Louis%20Crampton.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2031" data-original-width="1341" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG7GJ-CsSaX0sTH6-beqmxV92F80n1cGvIXcqFhCwT_1JmfFC7-vqiriJogzjueUiC4iyRb-Q1Mmc99JYzoJFDaFFy5cb4be0f6BTp__b2yhbZ_SmCLIppO94lX5dTzQIjS5B5Ml-GEyxnHh3B-WOdKU2CfbPNLV1cqxkHJjusBqR9fJ3kvDmJaEhCEvtB/w264-h400/Homosexuality%20&%20Civilization%20-%20Louis%20Crampton.jpg" width="264" /></a></div><p></p><p>Regresso, para consulta, a essa extraordinária obra, a melhor que conheço no género, sobre a Civilização e a Homossexualidade, ou os homossexuais - ou melhor, os actos homossexuais, porque homossexualidade é coisa que só existe desde o século XIX: <i>Homosexuality and Civilization</i>, de Louis Crampton, professor emérito da Universidade de Nebraska, editado pela Universidade de Harvard em 2003. Uma obra com mais de 600 páginas e convenientemente ilustrada. Li alguns capítulos, quando a comprei na data da publicação, e a ela regresso para esclarecimento de quaisquer dúvidas.</p><p>Informa o autor que decidiu escrever esta obra de referência depois da edição, em 1978, de <i>Greek Homosexuality</i>, de Sir Kenneth Dover, presidente da Academia Britânica, Chanceler da Universidade St. Andrews e presidente do Corpus Christi College, de Oxford. Apesar de publicado há cerca de meio século, o livro de Sir Kenneth Dover é ainda a grande autoridade em matéria de homossexualidade na Grécia Antiga.</p><p>Não permite a extensão do livro, nem a sua profundidade e erudição, tecer aqui quaisquer comentários. Limitar-me-ei a indicar os capítulos, cujos títulos despertarão certamente nos interessados o desejo da leitura.</p><p>1 - Early Greece (776-480 BCE)</p><p>2 - Judea (900 BCE-600 CE)</p><p>3 - Classical Greece (480-323 BCE)</p><p>4 - Rome and Greece (323 BCE-138 CE)</p><p>5 - Christians and Pagans (1- 565 CE)</p><p>6 - Darkness Descends (476-1049)</p><p>7 - The Medieval World (1050-1321)</p><p>8 - Imperial China (500 BCE-1849)</p><p>9 - Italy in the Renaissance (1321-1609)</p><p>10 - Spain and the Inquisition (1497-1700)</p><p>11 - France from Calvin to Louis XIV (1517-1715)</p><p>12 - England from the Reformation to William III (1533-1702)</p><p>13 - Pre-Meiji Japan (800-1868)</p><p>14 - Patterns of Persecution (1700-1730)</p><p>15 - Sapphic Lovers (1700-1793)</p><p>16 - The Enlightenment (1730-1810)</p><p>No Prefácio e nas Conclusões, o autor responsabiliza as religiões abraâmicas pela abominável interdição dos actos homossexuais, herança funesta da religião Judaica em nome da qual o Catolicismo e o Protestantismo haveriam de cometer os mais monstruosos crimes. Também o Islão, como religião do Livro, condenou tais práticas, mas elas foram sempre toleradas, salvo períodos excepcionais, pelo poder secular e pelo poder religioso. E o radicalismo islâmico actual é um epifenómeno contemporâneo.</p><p>Pena que o prof. Louis Crampton não tenho dedicado um capítulo ao Mundo Árabe-Islâmico, bem como à Índia e à África Sub-Sahariana. E também à esfera Cristã da Ortodoxia.<br /></p><p>Menciono, a título de curiosidade, que há no Capítulo 10 um sub-capítulo: The Inquisition in Portugal.</p><p>O livro está exaustivamente documentado e as transcrições dos nomes é correctíssima.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-62916724634209170932023-09-04T22:44:00.002+01:002023-09-04T22:45:21.808+01:00O PALÁCIO DO INQUISIDOR, EM MALTA<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf7NxaOz2u__Nj4xMVUBaXDdW4G8_fgrvoXsH-7kqYFbk6VQaf3ieBoiTrSoCN83SwVIk9L4wN8Lb0q3hCi_7hxSPd0rmHqFlnuDPh7F2kjd5Pq9mpGRdiqPUsFidPJW_MtGqCAG0fn9FzYuy74FqI7FXMK1IvofsmVQvst6BNGTLVgfaG5xOYQA2MAIXz/s1916/The%20Inquisitor's%20Palace.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1916" data-original-width="1368" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf7NxaOz2u__Nj4xMVUBaXDdW4G8_fgrvoXsH-7kqYFbk6VQaf3ieBoiTrSoCN83SwVIk9L4wN8Lb0q3hCi_7hxSPd0rmHqFlnuDPh7F2kjd5Pq9mpGRdiqPUsFidPJW_MtGqCAG0fn9FzYuy74FqI7FXMK1IvofsmVQvst6BNGTLVgfaG5xOYQA2MAIXz/w285-h400/The%20Inquisitor's%20Palace.jpg" width="285" /></a></div><p>O Palácio do Inquisidor, situado na Vittoriosa, nome actual de Birgu, que foi capital de Malta depois de Mdina e antes de Valetta, foi construído, na versão actual, em 1660.</p><p>O edifício original, o <i>Palazzo del Sant'Officio</i>, foi erigido cerca de 1530, após a chegada dos Hospitalários a Malta, e foi inicialmente destinado a receber a <i>Magna Curia Castellania</i> e os tribunais civis. Estes transitaram para Valetta em 1571, quando o Grão-Mestre Pietro Del Monte mudou o centro administrativo da Ordem para a nova capital e o edifício ficou vazio durante anos. Em 1574, chegou a Malta, como representante do Papa, Monsenhor Pietro Dusina, com a missão de resolver a disputa entre o Bispo Martino Royas e o Grão-Mestre La Cassière. Foi Dusina o primeiro inquisidor-geral e delegado apostólico na ilha e o Grão-Mestre ofereceu-lhe o palácio como residência oficial do inquisidor <i>pro tempore</i>.</p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQVAR1-Ua6lC-KxIVWaR8zTyypbDTjCd0zAegl7eYlw4pyKT4lQrNNCAM5o1_UD-4gPDmWeok1gXUXU6kW6cNn4R1k3EzugOyvS-upp3M2KPvPKbpIOiS2ghKdFBJ_ItpM61hAx7qdONjYhovve_cleM57Y6NBlvg8754ycGxP6g_rJ1Ke-uKs3uMHoOGk/s1106/Pal%C3%A1cio%20do%20Inquisidor%20-%20Malta.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1106" data-original-width="925" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQVAR1-Ua6lC-KxIVWaR8zTyypbDTjCd0zAegl7eYlw4pyKT4lQrNNCAM5o1_UD-4gPDmWeok1gXUXU6kW6cNn4R1k3EzugOyvS-upp3M2KPvPKbpIOiS2ghKdFBJ_ItpM61hAx7qdONjYhovve_cleM57Y6NBlvg8754ycGxP6g_rJ1Ke-uKs3uMHoOGk/w335-h400/Pal%C3%A1cio%20do%20Inquisidor%20-%20Malta.jpg" width="335" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Palácio do Inquisidor<br /></td></tr></tbody></table><p>Antes da chegada de Dusina, o Bispo de Malta estava investido nos poderes de inquisidor e a audição dos casos realizava-se no palácio. Como este não estava preparado para as novas funções inquisitoriais, Dusina procurou acomodação alternativa no Forte de Sant'Elmo e depois no convento dominicano da Vittoriosa. Só mais tarde o edifício passou a Palácio do Inquisidor, tendo sido a residência oficial dos 61 sucessores de Dusina até 1798.</p><p>Ao longo dos anos os diversos inquisidores introduziram sucessivas modificações no edifício, construindo ou demolindo várias parcelas, razão pela qual o Palácio apresenta hoje uma configuração muito complexa. O mais antigo plano do edifício que é conhecido data de cerca de 1600.</p><p>Quando, em 1798, a Inquisição foi abolida em Malta por Napoleão, o palácio já era radicalmente diferente do edifício existente no fim do século XVI.</p><p>A Inquisição em Malta debateu-se sempre com problemas financeiros, especialmente no que se refere a obras e modificações no <i>Palazzo Apostolico</i>, tendo de recorrer várias vezes à Santa Sé. Os pontífices mais compreensivos foram Alexande VII (1655-1667) e Inocêncio XII (1691-1700) que tinham sido inquisidores em Malta. O primeiro, enquanto Fabio Chigi (1634-1639) e o segundo, como Antonio Pignatelli (1646-1649). As maiores transformações ocorreram nos anos 30 do século XVII com o Grande Inquisidor Fabio Chigi e, depois, com o seu sucessor Giovanni Battista Gori Pannellini. </p><p>Não cabe aqui a descrição do sucessivo alargamento das instalações e dos melhoramentos introduzidos, mas uma das grandes preocupações foi a construção das celas dos presos, situadas no plano térreo e também no <i>piano nobile</i>, ao lado do tribunal e da sala de audiências. As últimas grandes transformações foram realizadas pelo inquisidor Giovanni Francesco Stoppani na década de 1730. Dotou o Palácio da entrada majestosa e da biblioteca e procurou transmitir, pelo simbolismo do edifício, uma imagem poderosa de si mesmo e da Inquisição em geral. Era uma forma de se distinguir dos outros, fossem iguais (e portanto rivais) ou inferiores. A mensagem destinava-se em primeiro lugar ao bispo de Malta e ao grão-mestre, mais ao último do que ao primeiro. </p><p></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNnkuhIMk0g1XxFmaOG7LVwsgTG7zAphs-Kl3oTTilsTZPuSNz14cl95khPA72wf3sMnowWg1ZLgzgb9HnGVv7sLjzL7i9Os2IhZE5emFjyWx8ZZfoZzZiUJYi_MT437tXi3aMwfNz-RNYpEUneaYHKkUCa_2cPY0xVUFQZR6aemxq3gkrqSaAJVUSiQSX/s1932/Pal%C3%A1cio%20do%20Inquisidor%20-%20Malta%20-%20Celas.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1932" data-original-width="1268" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNnkuhIMk0g1XxFmaOG7LVwsgTG7zAphs-Kl3oTTilsTZPuSNz14cl95khPA72wf3sMnowWg1ZLgzgb9HnGVv7sLjzL7i9Os2IhZE5emFjyWx8ZZfoZzZiUJYi_MT437tXi3aMwfNz-RNYpEUneaYHKkUCa_2cPY0xVUFQZR6aemxq3gkrqSaAJVUSiQSX/w263-h400/Pal%C3%A1cio%20do%20Inquisidor%20-%20Malta%20-%20Celas.jpg" width="263" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Aspecto das celas<br /></td></tr></tbody></table><p></p><p>O último inquisidor, Giulio Carpegna, abandonou a ilha um mês antes da Inquisição ter sido extinta em Malta, por Napoleão Bonaparte, em Junho de 1798.</p><p>Durante a ocupação francesa as propriedades da Inquisição passaram para a governação civil e o Palácio foi utilizado como quartel-general do Comandante Noblet.</p><p>Durante a colonização britânica o Palácio foi utilizado inicialmente como hospital militar. Na década de 1830 foi transformado em messe dos oficiais que prestavam serviço na guarnição britânica do Forte de São Miguel, em Senglea. O exército ocupou o palácio a título perpétuo e sem pagamento, enquanto fosse necessário para uso militar. Durante a ocupação as forças britânicas procederam a grandes modificações, donde resultaram numerosos danos no edifício, que foi descaracterizado. O Palácio foi finalmente trocado pelos militares por três outros locais em Valetta. A transferência para o poder civil originou larga controvérsia porque o exército não pretendia abandonar o edifício devoluto pretextando outras utilizações. Houve mesmo planos para demolir o edifício e construir no lugar um bloco de apartamentos governamentais. </p><p>Em 1924, a Comissão de Antiguidades considerou o imóvel de interesse histórico e que devia ser reparado e preservado e que não poderiam ser feitas alterações estruturais sem o seu prévio consentimento. Em 1926, o Palácio passou para o Departamento de Museus, integrado na secção de Belas Artes, sendo o curador Vincenzo Bonello. Este e o seu sucessor Antonio Sciortino procederam a consideráveis obras, que foram interrompidas pela Segunda Guerra Mundial. Sendo a Igreja da Anunciação e o Convento dos Dominicanos destruídos por um bombardeamento em 1941, os frades, para poderem continuar a sua actividade apostólica, foram transferidos para o Palácio em 18 de Dezembro de 1942. Os Dominicanos transformaram os dois grandes espaços do <i>piano nobile</i> em capela e a sala do tribunal em sacristia. Quando o seu Convento foi reconstruído, a ele regressaram em 1954, mas a capela permaneceu em actividade até 1960, altura em que se completou o restauro da Igreja da Anunciação. </p><p>O Palácio reabriu finalmente ao público, em 21 de Fevereiro de 1966 e foi novamente reaberto oficialmente em 5 de Dezembro de 1981 como Museu de Folclore. Em 1992 foi instalado o Museu de Etnografia, procedendo-se à reconstrução do Palácio de acordo com a documentação pertencente aos Arquivos da Ordem de Malta existentes no Vaticano.<br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-23955463791363145662023-09-03T16:39:00.000+01:002023-09-03T16:40:07.425+01:00"WANDERWEG" OU NO RASTO DE RICHARD STRAUSS<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoQMj-j5FDqh9Q4xCOQnJ52PH-f6XEpxknLMgFRBkPX8dQFrXbBBxEI-flGpSNXSE9tmhQyNkKvxwY7dAm7DcWde8OOK2di1b-3JgC1x0aFX6Vq_MQtTn2KBfZMBhNIzV8bvm0QjbAoA1L76CCsf82kWfw2f27WTeMOkNFPfOECnxCy6e42hp3qeCTznTU/s1887/Wanderweg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1887" data-original-width="1232" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoQMj-j5FDqh9Q4xCOQnJ52PH-f6XEpxknLMgFRBkPX8dQFrXbBBxEI-flGpSNXSE9tmhQyNkKvxwY7dAm7DcWde8OOK2di1b-3JgC1x0aFX6Vq_MQtTn2KBfZMBhNIzV8bvm0QjbAoA1L76CCsf82kWfw2f27WTeMOkNFPfOECnxCy6e42hp3qeCTznTU/w261-h400/Wanderweg.jpg" width="261" /></a></div><p></p><p>Li por estes dias <i>Wanderweg</i> (1986), de Jack-Alain Léger (1947-2013), na edição portuguesa de 1991, que então comprara e que permanecera a aguardar oportunidade de leitura, até hoje!</p><p>O autor, de seu nome Daniel Théron, usou o pseudónimo de Jack-Alain Léger e também os de Melmoth, Dashiell Hedayat, Eve Saint-Roch e Paul Smaïl. Teve uma infância complicada que haveria de reflectir-se na sua carreira e que o levaria a trocar frequentemente de nome literário. O seu percurso de escritor foi caótico, julgando sempre ser perseguido pelos editores, mas deve-se-lhe um romance que foi um <i>best-seller</i> na época, <i>Monsignore</i>. Lera dele, em tempos, sob o pseudónimo de Paul Smaïl<i>, La Passion selon moi</i> e <i>Ali, le Magnifique, </i>este sobre o famoso caso Rezala, do nome de Sid Ahmed Rezala, o "assassino dos comboios", um rapaz argelino que fora colectivamente violado aos nove anos por jovens na casa dos 20 anos e que assassinaria posteriormente algumas raparigas em comboios, já depois da família ter emigrado para França. A sua primeira condenação deveu-se a ter violado, com 15 anos, um rapaz de 13 anos, num parque subterrâneo, em Marselha.<br /></p><p>Entre os 15 e os 20 anos, a sua vida decorreu entre alguns assaltos, violações de rapazes e de raparigas, prostituição e diversas detenções, além das três raparigas mortas, duas em comboios, conforme referido acima. As testemunhas do caso são unânimes em afirmar que Rezala era um rapaz lindo e de cativante simpatia.<br /></p><p>Procurado por toda a França, refugiou-se em Portugal, tinha então 20 anos, mas acabou por ser detido em Lisboa pela polícia portuguesa (14 de Janeiro de 2000), quando se preparava para fugir para as Canárias. Vivera alguns dias na margem sul com um homem de 40 anos, que conhecera num bar <i>gay</i> da capital portuguesa.</p><p>Tendo a França pedido a sua extradição, a Justiça portuguesa hesitou, pois a nossa Constituição proíbe a extradição quando o réu arrisca prisão perpétua. Em conformidade, Rezala apelou para as instâncias superiores, mas tendo a França garantido oficialmente que a pena máxima possível de ser-lhe aplicada seria de 30 anos, o Supremo Tribunal de Justiça anuiu à extradição (24 de Maio de 2000). Sid Ahmed Rezala apelou para o Tribunal Constitucional (que dispunha de 80 dias para se pronunciar), mas em 28 de Junho de 2000 suicidou-se por asfixia na prisão portuguesa, sem sequer ter sido julgado ou condenado.</p><p>Mas deixemos o Caso Rezala e voltemos a <i>Wanderweg</i>.<br /></p><p>Este livro é construído em torno de uma personagem, o famoso compositor e maestro alemão Bruno Arnhein (nome fictício), inspirado na figura de Richard Strauss. Mas a personagem não é, nem pretende ser, um<i> alter ego</i> do autor de <i>O Cavaleiro da Rosa</i>, apesar das piscadelas de olho à sua vida e obra. A acção decorre essencialmente na Alemanha Nazi, embora aluda recorrentemente ao período anterior, com muitas citações dos tempos de Guilherme II, de Francisco José e da República de Weimar. Ao longo do livro (que é extenso, mais de 400 páginas) permanece a sombra de Adolf Hitler, desde antes do seu acesso ao poder até à sua morte. </p><p>O autor faz surgir muitas figuras históricas e outras inventadas ou maquilhadas. Por exemplo, o famoso libretista de Arnhein, o poeta Egon von Rosenberg, homem cultíssimo mas de aspecto repugnante, obeso e ridículo, pederasta de urinol, sempre envolvido com jovens prostitutos, rico e judeu, não é, nunca poderia ser, Hugo von Hofmannsthal. Judeu e rico, e grande escritor, sim, mas nada mais. E sucede-se o cruzamento entre figuras reais e figuras imaginárias, para satisfazer o objectivo do romance, que se estende desnecessariamente, prejudicando por vezes a economia da obra. É verdade que a análise psicológica das pessoas e das situações é muitas vezes brilhante, porém o excesso de pormenores quebra o ritmo da narração, especialmente quando a cronologia dos acontecimentos navega num vai-vem sucessivo.</p><p>Deve reconhecer-se que Jack-Alain Léger conhece muito bem o período que retrata, que conhece a história da Europa, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, que está ao par dos lugares emblemáticos da alta sociedade da época, dos seus costumes, das suas grandezas e das suas misérias, que está perfeitamente familiarizado com o mundo da música e sobretudo com o da ópera. </p><p>Assistimos à ascensão do Nazismo, à indiferença dos alemães, indignados com as consequências do Tratado de Versalhes, ao insuportável aumento do custo de vida, à aliança de comunistas e nazis contra o governo de Weimar, à República Soviética da Baviera, à vitória democrática de Hitler, a última vitória democrática, ainda que o Führer dispusesse, até perto do fim, mesmo sem eleições, de um amplo apoio das massas. Mas a perseguição dos judeus e dos homossexuais, mais dos primeiros do que dos últimos, e a arbitrariedade do Poder, tornou-se insustentável nos derradeiros anos do regime. </p><p>A perseguição dos judeus já fora anunciada no <i>Mein Kampf</i>, e os alemães, francamente anti-semitas, não se mostraram preocupados. Os judeus dominavam então a economia alemã. A perseguição dos homossexuais foi mais complexa. À partida, estes não adivinharam os perigos, pois se até Ernst Röhm, chefe das SA e companheiro de luta de Hitler desde a primeira hora, era abertamente homossexual. E o Nazismo exaltava a beleza masculina, era uma estética mais do que uma ideologia, e contou nas suas fileiras, até ao fim, com numerosos homossexuais que não chegaram a ser perseguidos. Sabemos que os últimos tempos do Império (o II Reich) e o período de Weimar foram extraordinariamente abertos à homossexualidade. Sendo o comunismo soviético de Estaline profundamente anti-homossexual, fazendo a União Soviética violentas críticas sobre as complacências sexuais do regime nazi e havendo também no espírito de Hitler uma aversão aos valores burgueses de Weimar, tudo isso terá pesado na perseguição que viria posteriormente a verificar-se. Mas para o Führer o cúmulo da "desgraça" era ser simultaneamente homossexual e judeu. Curiosamente, há muitos testemunhos de que o próprio Hitler era homossexual. Entre os livros mais documentados sobre a matéria conta-se <i>A face oculta de Hitler</i>, de Lothar Machtan, editado pela Bertrand em 2002.<br /></p><p>Mas concentremo-nos no livro, cuja riqueza só a sua leitura permitirá revelar. Arnhein tem dois filho, um, Siegfried, que se tornará braço direito do Doutor Goebbels, outro, Friedrich, que será um militante anti-fascista. O compositor Arnhein, que comporá (como Strauss) obras para o regime e foi Director de Música do Reich, sem nunca se filiar no partido, manterá inicialmente uma atitude um pouco ambígua, pelo que será incomodado pelos "Aliados" no fim da Guerra. Todavia, terá sempre considerado ridícula a grandiloquência nacional-socialista. Também nos aparecem muitas vezes no livro Richard Wagner, Cosima, Luís II, Freud, Nietzsche, Mahler, Furtwängler, Bruno Walter, Schönberg, Elisabeth de Áustria ou Francisco José, dizendo (cito de cor) que "nada lhe seria poupado", depois de tumultos, greves, incêndios (o Ringtheater), guerras, o assassinato de seu irmão Maximiliano, o suicídio (?) de seu filho Rodolfo (no livro está irmão: erro do autor ou do tradutor ?), o assassinato de sua mulher Elisabeth e o ataque terrorista contra seu sobrinho Francisco Fernando, acontecimentos verificados nos seus quase 68 anos de reinado.<br /></p><p>O livro está construído como uma partitura musical e sendo de qualidade irregular possui trechos absolutamente excepcionais, quer pela concepção, quer pela descrição. Não será exagero dizer que a personalidade do autor está perfeitamente espelhada nesta obra e que ele mesmo se encontra encarnado em muitas das suas personagens. A tradução portuguesa não é exemplar e mostra-se especialmente deficiente no que respeita a nomes próprios e a termos musicais. Algumas imprecisões flagrantes podem dever-se ao próprio autor mas não conheço o original.<br /></p><p>As semelhanças de Bruno Arnhein com Richard Strauss são por demasiado evidentes. Uma das óperas mais célebres de Arnhein é <i>La Contessina</i>, escrita em homenagem a sua mulher, a Princesa de Werdenberg, que inclui uma Valsa que se tornou célebre em toda a Alemanha. Ora a Princesa de Werdenberg, a "Marschallin", é a protagonista de <i>O Cavaleiro da Rosa</i>. Também Arnheim foi <i>Reichsmusikkammer</i>, como Strauss, ainda que honorário, e escreveu o Hino para os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, tal como Strauss. E, como este, escreveu as <i>Três Últimas Canções</i>, que são <i>Quatro</i>, no caso de Strauss. Pela "conivência" com o regime nazi foi Richard Strauss também abrangido pelo "Processo de Desnazificação", uma monstruosidade psicológica, que só poderia ter sido inventada pelos "Aliados", suponho que sugerida pelos norte-americanos. Uma coisa é julgar crimes de guerra ou crimes ordinários, outra é julgar ideologias, assunto sempre complexo e perigoso. Segundo esse princípio, os americanos e ingleses poderiam ter sido julgados pela invasão do Iraque, mas não houve para eles um Tribunal de Nuremberga.</p><p>Um fio condutor da narrativa do livro é o escritor suíço Jean Schreiber que se avista uma vez com Arnhein e depois, no estrangeiro, algumas vezes, com sua filha Pamina, e que pretende escrever uma biografia, ou romance, sobre Arnhein. E que é por esta considerado um mau escritor. Lembrei-me, mas posso estar errado, de Jean-Jacques Servan-Schreiber (J-J S-S), escritor e jornalista, que foi o fundador e director da revista francesa "L'Express". O verdadeiro J-J S-S era francês, mas viveu com a jornalista, escritora e mulher política Françoise Giroud, que era suíça.<br /></p><p>Autor de algumas dezenas de romances, alguns de enorme sucesso e até adaptados ao cinema, mas de personalidade depressiva desde a infância, Jack-Alain Léger, que era homossexual, suicidou-se em 17 de Julho de 2013 (com 66 anos), defenestrando-se do 8º andar do seu apartamento em Paris.<br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-36247534012610928692023-08-26T19:56:00.000+01:002023-08-26T19:56:26.058+01:00AMORES NO CAMPO<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmb-3t0VPYlX_D6k2sS7oqgoxMORV74IfnlE4F3VMMTnPOqHVTZGLHBBtOMMTaW7DiKYVhSDQMjBOe9xxwmenxEtIufKeimJk9ohMtI94lQYdgcFiXdaxGrnQ0sszV1LL6zU1EsBPjP71TFVVz86o9Y067PG-ahxJuiYqBPPUxsIZItmgi-ZoIRWeIYNw-/s1467/Amores%20no%20Campo%20-%20Sarah%20Beir%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1467" data-original-width="974" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmb-3t0VPYlX_D6k2sS7oqgoxMORV74IfnlE4F3VMMTnPOqHVTZGLHBBtOMMTaW7DiKYVhSDQMjBOe9xxwmenxEtIufKeimJk9ohMtI94lQYdgcFiXdaxGrnQ0sszV1LL6zU1EsBPjP71TFVVz86o9Y067PG-ahxJuiYqBPPUxsIZItmgi-ZoIRWeIYNw-/w265-h400/Amores%20no%20Campo%20-%20Sarah%20Beir%C3%A3o.jpg" width="265" /></a></div><p></p><p>Reli, 32 anos depois de o ter comprado, <i>Amores no Campo</i> (1931), de Sarah Beirão. Confesso que mal me recordava do enredo. É um romance simples, um pouco cor-de-rosa, tendo incrustado um breve roteiro turístico de Portugal, França e Itália, onde decorre a estória, e que permite à autora mostrar os seus conhecimentos da vida e da arte desses países. Embora bem escrito, é pretensamente didáctico e está recheado de lugares comuns, sendo o desfecho facilmente previsível. Na vida real, tudo é normalmente - e infelizmente - muito diferente... mas que importa! Ainda assim, não deixa de ter alguma graça. No entanto, o mais curioso é o facto de toda a acção se desenrolar em meios aristocráticos e burgueses, de grande convencionalismo, quando é sabido que Sarah Beirão era uma fervorosa republicana. Mas, no fundo, talvez isso não seja propriamente uma contradição.<br /></p><p>Sarah Beirão (1880-1974), além de escritora, foi jornalista, publicista, filantropa e activista dos direitos das mulheres. Na ficção, a sua obra é especialmente dedicada ao público infanto-juvenil. Foi presidente (1935-1941) do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, fundado por Adelaide Cabete, e também presidente (1938) da Liga Nacional de Defesa dos Animais.<br /></p><p>Constituiu, nos anos 70 do século passado, uma Fundação, de certo modo precursora da Casa do Artista, destinada a ser casa de repouso e assistência para artistas e intelectuais, com sede num solar do século XVIII, em Tábua, pertença da família, e que ainda hoje se encontra em funcionamento.</p><p>Em 1948, foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada. <br /></p><p>Mas o seu nome não ficou inscrito na história das letras pátrias. Consultando a <i>História da Literatura Portuguesa</i>, de António José Saraiva e Óscar Lopes, por onde todos estudámos, não lhe é dedicada sequer uma linha.<br /></p><p>Não conheci pessoalmente Sarah Beirão, mas conheci-a de nome desde sempre. E já explico. Durante dois anos, deveria eu ter uns sete anos, o meu pai alugou na Eugaria (Colares) uma casa ou parte dela, onde passámos os meses de Verão. Era a moradia onde vivera Alfredo Keil, compositor, poeta, pintor, arqueólogo e maçon, autor da música de <i>A Portuguesa</i> (o Hino Nacional) e que, na altura, já tinha passado ao Oriente Eterno. Ainda me recordo, mesmo que vagamente, da forma justa e perfeita como se encontravam dispostos os azulejos azuis que ornamentavam o jardim da residência.</p><p>Havia na vizinhança a Quinta da Palma, então da família Ludovice (a que pertencera a primeira mulher do meu pai) e onde eu ia brincar quase diariamente com os "primos" da minha idade e a Quinta da Piedade, propriedade da Marquesa de Cadaval, lugar que viria a ficar célebre. E havia ainda uma mansão, não sei se na altura habitada, conhecida como a Casa de Sarah Beirão, figura muito conhecida e muito popular no povoado. O nome da escritora tornou-se familiar para mim desde a infância.</p><p>Ao reler agora o livro, recordei essas longínquas memórias.</p><p><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2298776560388969480.post-88476587701591857882023-08-26T00:19:00.000+01:002023-08-26T00:20:11.716+01:00AINDA D. AFONSO VI<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLxJL8uHS2a-VgX6SV1hWQgS8GR5jcRBop7T030HX1fiQppKe1zVIxBp85Jn0LthER3fzY_nHbaorFPScZPQajybJxoFGDbVfnti6Fg0rmLTPwt2f2fH_s4dLnsPrNPnJn-Kogu17LKLJGwbX8r9kafo-dGFKAuxv9My-eWIdNFYen221wArbBr8RUPDIo/s1579/D.%20Afonso%20VI%20-%20Ant%C3%B3nio%20de%20Sousa%20de%20Macedo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1579" data-original-width="1046" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLxJL8uHS2a-VgX6SV1hWQgS8GR5jcRBop7T030HX1fiQppKe1zVIxBp85Jn0LthER3fzY_nHbaorFPScZPQajybJxoFGDbVfnti6Fg0rmLTPwt2f2fH_s4dLnsPrNPnJn-Kogu17LKLJGwbX8r9kafo-dGFKAuxv9My-eWIdNFYen221wArbBr8RUPDIo/w265-h400/D.%20Afonso%20VI%20-%20Ant%C3%B3nio%20de%20Sousa%20de%20Macedo.jpg" width="265" /></a></div><p></p><p>Visitando vários caixotes de livros, encontrei outra obra sobre D. Afonso VI, neste caso <i>D. Afonso VI</i>, de António de Sousa de Macedo, com introdução do Embaixador Eduardo Brazão (1940).</p><p>Tem este livro a particularidade de ter pertencido ao erudito Castelo Branco Chaves (1900-1992), ensaísta, jornalista, crítico e tradutor, possuidor de vastíssima biblioteca que, por sua morte, foi total ou parcialmente vendida ao alfarrabista Tarcísio Trindade, proprietário da Livraria Campos Trindade, sita na Rua do Alecrim, 44, hoje encerrada pelo filho, em consequência da Lei da Rendas, e onde, durante anos, comprei dezenas de obras.</p><p>Recordo-me da aquisição. Quando comprava uma biblioteca com interesse, Tarcísio Trindade guardava os livros em grandes sacos, e abria-os progressivamente, durante dias consecutivos, em especial à tarde, e alguns clientes habituais deslocavam-se lá a essas horas e pacientemente aguardavam a abertura dos ditos sacos de plástico preto para serem os primeiros a obter as obras que lhes interessavam. E às vezes até havia disputas. Entre esse clientes, nos quais me incluía, estavam o Prof. Soares Martinez (catedrático de Direito e ex-ministro), um médico (cujo nome agora não me ocorre), que era sobrinho do Doutor Azeredo Perdigão e um embaixador jubilado (também não me recordo do nome), que fora nosso representante na Hungria, que morava na Linha de Cascais e que, contra a vontade da mulher, tinha instalado uma parte da sua biblioteca na garagem da casa. <i>Sono tutti morti! </i>salvo eu, por enquanto. Foi numa dessas tardes que comprei este livro.<br /></p><p>Sei que o livro pertencera a Castelo Branco Chaves porque está assinado e comentado por ele, a exemplo de todos os que da sua biblioteca adquiri. Era um homem de notável erudição e proprietário de valiosas e diversificadas obras. Espantei-me que o filho, Fernando de Castelo Branco, membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História, que suponho ainda vivo, tivesse vendido no total ou em parte a biblioteca do pai, mas, ao que julgo supor, ele é também possuidor de vastíssima biblioteca e já não existem casas onde arrumar tantos livros.</p><p>Vem isto a propósito de uma anotação, a lápis como era seu hábito, de Castelo Branco Chaves na Introdução do livro. Lá chegarei.</p><p>Este <i>D. Afonso VI</i> é apresentado e tem introdução, como escrevi acima, do Embaixador Eduardo Brazão, que refere tratar-se de um manuscrito que encontrou na Biblioteca do Palácio da Ajuda e em cuja folha de rosto se lê: «Contem este papel hua sumaria rellação dos susessos, de Portugal desda menorid.<span style="font-size: x-small;">e </span><span style="font-size: small;">em the o falec.</span><span style="font-size: x-small;">to </span> del Rey D. Affº o 6º q Deos descança escripta, e composta por Antonio de Souza de Macedo». Para já, há uma incongruência, pois o conteúdo do livro termina em 1664 e D. Afonso foi proclamado rei em 1656, assumiu efectivamente o poder em 1662, afastando a regente e sua mãe, D. Luísa de Gusmão, e foi deposto da governação pelo irmão, o infante D. Pedro (mais tarde D. Pedro II), em 1667, conservando todavia o título de rei, tendo morrido em 1683. Ora o livro apenas relata factos de 1662 a 1664.</p><p>António de Sousa de Macedo (1606-1682) foi um notável escritor e diplomata que D. Afonso VI nomeou secretário de Estado quando subiu ao trono (1662). Afastado do governo e desterrado em 1666, foi definitivamente afastado da Coroa em 1667, por pressão da rainha e do infante, futuro D. Pedro II.</p><p>Voltemos à anotação a lápis de Castelo Branco Chaves. Escreve ele: «Eduardo Brazão atribui a autoria desta obra a António de Sousa de Macedo - Afonso Pena J<span style="font-size: x-small;">or</span>, no Brasil [ilegível] que foi escrita por <u>Pedro Severim de Noronha</u>, secretário das Mercês de D. Afonso VI e filho de Gaspar Severim de Noronha, secretário de D. João IV. Morreu assassinado em 1664, e por isso a narrativa fica no começo do 4º trimestre deste ano.» </p><p>Não conheço as razões que levaram Afonso Pena J<span style="font-size: x-small;">or </span><span style="font-size: small;">(filho de Afonso Pena, 6º presidente do Brasil) a esta conclusão, mas, atendendo ao período reportado na obra, parece verosímil. Já agora, uma correcção minha: Gaspar Severim de Noronha chamava-se Gaspar Severim de Faria, um pequeno lapso de Castelo Branco Chaves.</span></p><p><span style="font-size: small;">E Pedro Severim de Noronha morreu realmente em 1664, assassinado perto do Paço Real, quando regressava de liteira a sua casa, por um grupo de facínoras dos bandos que sempre acompanhavam D. Afonso VI.<br /></span></p><p><span style="font-size: small;">Sobre o livro propriamente dito, falarei mais tarde.</span></p><p><span style="font-size: small;"> </span><br /></p>Blogue de Júlio de Magalhãeshttp://www.blogger.com/profile/08568515322552353410noreply@blogger.com0