segunda-feira, 20 de março de 2023

A BIBLIOTECA DE ESTALINE


Li A Biblioteca de Estaline – Um ditador e os seus livros, de Geoffrey Roberts.

Trata-se de um volume de mais de 300 páginas, dedicado não só à biblioteca de Iosif Vissarionovitch Djugachvili, aliás Stalin, mas igualmente a aspectos biográficos do dirigente soviético e à implantação do comunismo na Rússia.

É sabido que Stalin professava uma paixão pelos livros e que a sua biblioteca possuía mais de 25 000 volumes. Deste acervo, que foi disperso após a sua morte, foram identificados posteriormente alguns milhares. Além de obras sobre política, economia e assuntos militares, e especialmente sobre Lenin, existiam os grandes clássicos da literatura europeia, com destaque para os escritores russos.

Tinha Stalin o hábito de anotar e sublinhar os livros que lia e de requisitar livros de diversas instituições. Foi também o grande editor da União Soviética, ocupando-se da promoção dos livros que considerava essenciais para o conhecimento do povo russo.

O livro de Geoffrey Roberts menciona exaustivamente as fontes, mas peca pela falta de um índice onomástico e pela ausência de uma bibliografia respeitante às citações, limitando-se a mencionar, em apêndice, uma breve nota de alguns livros sobre Stalin considerados importantes.

O presente volume, publicado por uma editora recente, está bem traduzido, fornece uma imagem globalmente simpática da personagem, considerado um verdadeiro intelectual,ainda que não omita os seus aspectos negativos, e dá-nos um panorama, embora sucinto, da vida cultural da União Soviética na primeira metade do século passado. 

terça-feira, 14 de março de 2023

O CINEMA OLYMPIA

Acabo de ser informado pelo meu amigo João Gonçalves que o velho cinema de "reprise", após alguns anos de lamentável inactividade, vai ser transformado em hotel "temático do mundo das artes". Antes de ser cinema a sala tinha sido teatro, e até António Ferro lá realizou uma célebre conferência.
Ignoro quais as artes a que o novo proprietário pretende dedicá-lo. Mas, percorrendo os últimos anos em que exibiu filmes (que, aliás, ninguém via), poderá descortinar-se um leque de actuações várias que o haviam transformado numa das salas mais concorridas da capital. Frequentado por pessoas da muito distinta vida intelectual, artística, social e também popular, e por outras dotadas de predicados quiçá diferentes, o Olympia era um centro de convívio e de generosa sociabilidade, em que se esbatiam as diferenças de classe (bem como de raça, língua e religião) e ocorria uma comunhão de interesses (no sentido próprio e figurado).
Muitos dos seus "habitués" já terão morrido, uns por velhice, outros por overdose, e outros ainda encontrar-se-ão hoje aposentados. Mas enquanto houver um sobrevivente a luta continua!
Espero, e desejo, que o futuro hotel possa reservar quartos temáticos dedicados às actividades que celebrizaram aquele espaço. Penso que no "lobby" deveria existir uma galeria com a fotografia dos frequentadores mais assíduos, aos quais importaria prestar homenagem, porventura póstuma. Que eles deveriam ser agraciados pela mais alta entidade responsável para o efeito. E que lhes deveriam ser prestadas as honras da praxe no futuro acto de inauguração
Antigo Cinema Olympia em Lisboa vai ser um hotel "temático, do mundo das artes"