sábado, 25 de abril de 2015

A TRAGÉDIA DOS IMIGRANTES AFRICANOS

 

Transcrevo do Facebook a publicação de  Henrique Canary:


A imagem é estarrecedora. Mas não se pode fechar os olhos. Eles chegaram como lixo à praia, descartados pela civilizada Europa, que de seus países não precisa de outra coisa além das riquezas naturais e do livre comércio. Foram 700 de uma só vez, mas ao todo já morreram às dezenas de milhares. Só que ninguém se importou. Do século 16 ao 19 eles chegavam em diversos países contra sua vontade, em navios negreiros. Agora chegam assim. Eis diante de vós o progresso prometido. A civilizada Europa se preocupa com suas vidas, seu bem-estar e seus direitos democráticos, desde que eles não se aproximem das fronteiras do velho continente. Agora falam em combater o "tráfico humano", expressão cuidadosamente escolhida para esconder o fato de que se trata de refugiados que fogem das guerras e da fome provocadas pelas políticas do próprio imperialismo europeu, além do americano. A Europa não reconhece sua condição de refugiados ou imigrantes, porque isso acarretaria a obrigação de acolhê-los. Trata-se apenas de "mais um tráfico". E como se combate o tráfico? Ontem os dirigentes europeus reunidos em Bruxelas decidiram: vão usar drones para bombardear embarcações ("vazias", eles salientam) ancoradas nos portos da Líbia e que sejam capazes de transportar imigrantes ilegais até a costa da Itália e Grécia. Ou seja, agora centenas de pescadores líbios ficarão sem meios de vida. E aqueles que antes fugiam, morrerão ali mesmo, em sua própria terra, mas sem perturbar a "recuperação econômica" promovida por Angela Merkel e Christine Lagarde. Drones contra refugiados... Que bela solução, Europa...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

CARTAS DE CÉLINE




Foi recentemente editada a correspondência (1940-1948) de Louis-Ferdinand Céline para o seu amigo de longa data, o doutor Alexandre Gentil.

Em artigo publicado no "Magazine Littéraire" (nº 554), Alexis Brocas procede a uma recensão crítica e transcreve algumas frases do eminente escritor relativas às suas posições anti-semitas.

Pela acutilância e ironia que revestem, transcrevemos algumas:

«J'ai toujours vécu entouré d'israélites. On me l'a assez reproché! Cette race est appelée à diriger le monde, son intelligence lui en donne les droits.»

«L'Aryen errant connaît un sort beaucoup plus infecte que le juif errant - les amis de l'Aryen sont faibles et rarissimes, les amis des juifs sont puissants et innombrables.»

«D'ici dix ans il n'y aura pas un juif qui n'ait été à Buchenwald et dévoré quatre ou cinq fois par les chiens nazis.»

As cartas foram encontradas pelos herdeiros daquele clínico, colocadas à venda em 2011 pela casa Artcurial,  e publicadas agora, em edição luxuosa (com fac-símiles), pelas edições Du Lérot.


terça-feira, 21 de abril de 2015

A HOMOSSEXUALIDADE NA CULTURA




O escritor Dominique Fernandez (n. 1929), membro da Academia Francesa (eleito em 2007) e autor de uma vasta obra (mais de 50 títulos, abrangendo romance, ensaio, biografia, viagens), em que se distinguem alguns dos livros mais notáveis do último quartel do século passado e do princípio deste século, nomeadamente os que abordam uma temática homossexual, acabou de publicar Amants d'Apollon - L'homosexualité dans la culture, área em que é reconhecidamente um especialista, como o testemunham os escritos pretéritos.

Em 1974, Dominique Fernandez recebeu o Prémio Médicis, por Porporino ou les Mystères de Naples e em 1982 foi galardoado com o Prémio Goncourt, por Dans la main de l'ange.

O livro agora editado, um volume de cerca de 700 páginas, de alguma forma resume, numa síntese excepcional, o pensamento expresso pelo autor ao longo dos milhares de páginas que escreveu durante mais de meio século.

Não tendo tido ainda tempo para ler esta obra inequivocamente extraordinária (apenas a folheei), transcrevo a nota inserida pelo editor na contra-capa:


«Tant par l’ampleur de son érudition que par la diversité des champs intellectuels (philosophie, psychanalyse, psychiatrie), artistiques (littérature, théâtre, opéra, peinture…), historiques (de la mythologie grecque à nos jours) et géographiques (Europe, Amérique, Asie…) parcourus, défrichés, analysés, ce livre explore un thème qui traverse plus ou moins explicitement la culture mondiale.
 
L’inclination personnelle de l’artiste n’est pas ici le sujet : c’est l’homosexualité dans l’œuvre qui passionne Dominique Fernandez. Car selon qu’elle peut se dire ou doit se travestir, que l’artiste se condamne au cryptage ou s’autorise l’affichage, l’homosexualité devient le marqueur d’une manière d’histoire culturelle des mœurs.
 
Après une introduction qui dénonce la responsabilité de Freud et des psychiatres dans le renforcement de l'homophobie, une première partie revisite les mythes antiques (Apollon, Ganymède, Hyacinthe, Narcisse, Médée…) ; une deuxième examine la face cachée d’œuvres (Armance, Billy Budd, Tonio Kröger), d’artistes (Rembrandt, Verdi, Stevenson, Conrad) ou de personnages (Don Quichotte, Don Juan, Vautrin…) ; une troisième présente les « phares » de la cause homosexuelle, de Théophile Gautier à Mishima, et les diverses manières d’être gay aujourd’hui, selon les pays, les mœurs, les religions.
 
Un monument d’hommage à la création, où se succèdent analyses textuelles et perspectives transversales, plongées dans les œuvres et panoramas sur des sujets universels.»


Obviamente indispensável.

domingo, 19 de abril de 2015

A HIPOCRISIA EM TODO O SEU ESPLENDOR




O naufrágio esta madrugada, no Mediterrâneo, a 70 km da costa líbia, de um pesqueiro proveniente de Tripoli, com 700 pessoas a bordo, cuja maioria terá perecido na tragédia, suscita inevitavelmente alguns comentários, apesar de  casos semelhantes começarem a tornar-se "normais" na região, nomeadamente depois da eclosão das chamadas "primaveras árabes".

A passagem marítima de clandestinos rumo à Europa, através do sítio mais próximo da costa africana, a ilha italiana de Lampedusa, verifica-se desde há mais de 20 anos, inicialmente em número muito restrito, que foi progressivamente aumentando, embora de forma lenta.

Foi a turbulência registada no Médio Oriente, depois da invasão do Iraque, "decidida" na reunião que juntou nos Açores dois grandes criminosos (Bush e Blair), acompanhados por dois comparsas menores (Aznar e Barroso), que determinou o começo de uma grande deslocação de populações, ainda que nessa altura não especialmente, embora também, através do Mediterrâneo.

As revoltas no mundo árabe, tanto quanto hoje se sabe comandadas do exterior, agravaram a situação dos povos, que se entusiasmaram pela promessa de um "regime democrático", quando o verdadeiro objectivo era o da instauração de um regime de economia ultra-liberal, que pretendia substituir-se a algumas resistências dos governos autoritários vigentes.

De um balanço feito hoje, resulta que a Tunísia se encontra muito mais pobre, insegura e dividida do que no tempo de Ben Ali. O Egipto, após os gravíssimos incidentes aquando da queda de Mubarak, e especialmente depois, regressou a uma situação mais restritiva das liberdades do que na época do presidente deposto, tem a sua economia desfeita, o turismo praticamente inexistente, o terrorismo instalado. A Líbia, deixou de ser um Estado e é hoje uma região que vive em absoluto caos. A sua destruição, programada pela NATO, incentivada por  criminosos, como Sarkozy, Hollande ou Cameron, entre outros, com o apoio de Obama e o entusiasmo do sinistro pseudo-filósofo sionista Bernard-Henri Lévy, não só desencadeou todas as rivalidades tribais como permitiu a livre circulação dos movimentos terroristas que já operavam no norte da África Sub-Sahariana. Há que concordar que embora o coronel Qaddafi não fosse uma personagem muito frequentável, a sua manutenção no poder era infinitamente melhor, não só para os líbios como para a própria Europa. A Síria, pela violência da destruição, é um caso paradigmático do desprezo pelo género humano. Um país verdadeiramente encantador, onde se vivia em paz, com relativo desafogo económico, não obstante a existência de um regime também ele autoritário. Um regime que a maioria dos sírios preferia sem dúvida não só às duvidosas oposições "democráticas" como ao "Estado Islâmico", surgido não se sabe publicamente donde, embora haja quem saiba. E é ainda o regime de Assad que luta por segurar os restos de um país com verdadeira liberdade para todos os cultos. Nada mais vale acrescentar, tal a dimensão da tragédia em curso.

Ora são os refugiados destas guerras fratricidas, alimentadas por interesses que hoje nem sequer são inconfessáveis, que, desde 2011, em número exponencialmente crescente, demandam a Europa, já não propriamente à procura de um futuro economicamente mais atraente, mas pura e simplesmente para salvarem a vida. Perante o afluxo de originários dos mais variados países, a resposta da Europa tem sido quase um fechar de portas, e mesmo as operações de socorro aos mais que previsíveis náufragos é manifestamente (e se calhar intencionalmente) insuficiente.

A propósito das migrações, em conferência pronunciada a 23 de Janeiro de 1997 (há quase vinte anos), na abertura do convénio organizado pelo Município de Valência sobre as Perspectivas do Terceiro Milénio, o filósofo e romancista Umberto Eco disse: « Os fenómenos que a Europa tenta ainda enfrentar como casos de emigração são pelo contrário casos de migração. O Terceiro Mundo está a bater às portas da Europa, e entra mesmo quando a Europa não está de acordo. O problema já não é decidir (como os políticos fingem acreditar) se se admitem em Paris raparigas estudantes com o chador ou quantas mesquitas devem erigir-se em Roma. O problema é que no próximo milénio (e como não sou profeta não posso especificar a data) a Europa será um continente multirracial, ou se preferirem "colorado". Se lhes agradar, será assim; e se não lhes agradar, será assim na mesma.»*

Noto que, hoje mesmo, o primeiro-ministro italiano, por causa de mais este imenso naufrágio, solicitou uma cimeira urgente da União Europeia. Para quê? Quantas reuniões já se realizaram com o mesmo propósito? Até o Papa Francisco, num dos primeiros actos do seu pontificado, se deslocou, inutilmente, a Lampedusa. Estamos fartos das piedosas intenções da canalha que governa a Europa e o  Mundo. As declarações a que costumamos assistir não passam da mais refinada hipocrisia.

Porque se esta questão existe, e com a acuidade especial com que agora se manifesta, ela deve-se especialmente aos actos ocorridos a montante e cujos danos são hoje muito difíceis de controlar. Actos praticados num passado recentíssimo, alguns, num passado mais remoto, outros.

Não acredito em soluções milagrosas.


* Umberto Eco, Cinco Escritos Morais. Difel (1998)

OS IDIOTAS ÚTEIS DA FRENTE NACIONAL



O "Obs" publicou no seu nº 2630 (2 a 8 de Abril 2015) uma interessante entrevista que o filósofo Jacques Rancière concedeu a Éric Aeschimann e que, pela sua extraordinária importância,  transcrevemos com a devida vénia. Segundo Rancière «certains intellectuels dits "républicains" ont fait depuis quelques années le lit du Front national. Il montre comment les valeurs universalistes ont été dévoyées au profits d'un discours xénophobe.»

LES IDIOTS UTILES DU FN

L’OBS: Il y a trois mois, la France défilait au nom de la liberté d’expression et du vivre-ensemble. Les dernières élections départementales ont été marquées par une nouvelle poussée du Front national. Comment analysez-vous la succession rapide de ces deux événements, qui paraissent contradictoires?

Jacques Rancière : Il n’est pas sûr qu’il y ait contradiction. Tout le monde, bien sûr, est d’accord pour condamner les attentats de janvier et se féliciter de la réaction populaire qui a suivi. Mais l’unanimité demandée autour de la «liberté d’expression» a entretenu une confusion. En effet, la liberté d’expression est un principe qui régit les rapports entre les individus et l’Etat en interdisant à ce dernier d’empêcher l’expression des opinions qui lui sont contraires.
Or, ce qui a été bafoué le 7 janvier à «Charlie», c’est un tout autre principe: le principe qu’on ne tire pas sur quelqu’un parce qu’on n’aime pas ce qu’il dit, le principe qui règle la manière dont individus et groupes vivent ensemble et apprennent à se respecter mutuellement.
Mais on ne s’est pas intéressé à cette dimension et on a choisi de se polariser sur le principe de la liberté d’expression. Ce faisant, on a ajouté un nouveau chapitre à la campagne qui, depuis des années, utilise les grandes valeurs universelles pour mieux disqualifier une partie de la population, en opposant les «bons Français», partisans de la République, de la laïcité ou de la liberté d’expression, aux immigrés, forcément communautaristes, islamistes, intolérants, sexistes et arriérés.
On invoque souvent l’universalisme comme principe de vie en commun. Mais justement l’universalisme a été confisqué et manipulé. Transformé en signe distinctif d’un groupe, il sert à mettre en accusation une communauté précise, notamment à travers les campagnes frénétiques contre le voile. C’est ce dévoiement que le 11 janvier n’a pas pu mettre à distance. Les défilés ont réuni sans distinction ceux qui défendaient les principes d’une vie en commun et ceux qui exprimaient leurs sentiments xénophobes.

Voulez-vous dire que ceux qui défendent le modèle républicain laïque contribuent, malgré eux, à dégager le terrain au Front national?

On nous dit que le Front national s’est «dédiabolisé». Qu’est-ce que cela veut dire ? Qu’il a mis de côté les gens trop ouvertement racistes ? Oui. Mais surtout que la différence même entre les idées du FN et les idées considérées comme respectables et appartenant à l’héritage républicain s’est évaporée.
Depuis une vingtaine d’années, c’est de certains intellectuels, de la gauche dite «républicaine», que sont venus les arguments au service de la xénophobie ou du racisme. Le Front national n’a plus besoin de dire que les immigrés nous volent notre travail ou que ce sont des petits voyous. Il lui suffit de proclamer qu’ils ne sont pas laïques, qu’ils ne partagent pas nos valeurs, qu’ils sont communautaristes…
Les grandes valeurs universalistes – laïcité, règles communes pour tout le monde, égalité homme-femme – sont devenues l’instrument d’une distinction entre «nous», qui adhérons à ces valeurs, et «eux», qui n’y adhèrent pas. Le FN peut économiser ses arguments xénophobes: ils lui sont fournis par les «républicains» sous les apparences les plus honorables.

Si l’on vous suit, c’est le sens même de la laïcité qui aurait été perverti. Qu’est-ce que la laïcité représente pour vous?

Au XIXe, la laïcité a été pour les républicains l’outil politique permettant de libérer l’école de l’emprise que l’Eglise catholique faisait peser sur elle, en particulier depuis la loi Falloux, adoptée en 1850.
La notion de laïcité désigne ainsi l’ensemble des mesures spécifiques prises pour détruire cette emprise. Or, à partir des années 1980, on a choisi d’en faire un grand principe universel. La laïcité avait été conçue pour régler les relations de l’Etat avec l’Eglise catholique. La grande manipulation a été de la transformer en une règle à laquelle tous les particuliers doivent obéir. Ce n’est plus à l’Etat d’être laïque, c’est aux individus.
Et comment va-t-on repérer qu’une personne déroge au principe de laïcité ? A ce qu’elle porte sur la tête… Quand j’étais enfant, le jour des communions solennelles, nous allions à l’école retrouver nos copains qui n’étaient pas catholiques, en portant nos brassards de communiants et en leur distribuant des images. Personne ne pensait que cela mettait en danger la laïcité. L’enjeu de la laïcité, alors, c’était le financement: à école publique, fonds publics ; à école privée, fonds privés.
Cette laïcité centrée sur les rapports entre école publique et école privée a été enterrée au profit d’une laïcité qui prétend régenter le comportement des individus et qui est utilisée pour stigmatiser une partie de la population à travers l’apparence physique de ses membres. Certains ont poussé le délire jusqu’à réclamer une loi interdisant le port du voile en présence d’un enfant.

Mais d’où viendrait cette volonté de stigmatiser ?

Il y a des causes diverses, certaines liées à la question palestinienne et aux formes d’intolérance réciproque qu’elle nourrit ici. Mais il y a aussi le «grand ressentiment de gauche», né des grands espoirs des années 1960-1970 puis de la liquidation de ces espoirs par le parti dit «socialiste» lorsqu’il est arrivé au pouvoir.
Tous les idéaux républicains, socialistes, révolutionnaires, progressistes ont été retournés contre eux-mêmes. Ils sont devenus le contraire de ce qu’ils étaient censés être: non plus des armes de combat pour l’égalité, mais des armes de discrimination, de méfiance et de mépris à l’égard d’un peuple posé comme abruti ou arriéré. Faute de pouvoir combattre l’accroissement des inégalités, on les légitime en disqualifiant ceux qui en subissent les effets.
Pensons à la façon dont la critique marxiste a été retournée pour alimenter une dénonciation de l’individu démocratique et du consommateur despotique – une dénonciation qui vise ceux qui ont le moins à consommer… Le retournement de l’universalisme républicain en une pensée réactionnaire, stigmatisant les plus pauvres, relève de la même logique.

N’est-il pas légitime de combattre le port du voile, dans lequel il n’est pas évident de voir un geste d’émancipation féminine ?

La question est de savoir si l’école publique a pour mission d’émanciper les femmes. Dans ce cas, ne devrait-elle pas également émanciper les travailleurs et tous les dominés de la société française ? Il existe toutes sortes de sujétions – sociale, sexuelle, raciale. Le principe d’une idéologie réactive, c’est de cibler une forme particulière de soumission pour mieux confirmer les autres.
Les mêmes qui dénonçaient le féminisme comme «communautaire» se sont ensuite découverts féministes pour justifier les lois anti-voile. Le statut des femmes dans le monde musulman est sûrement problématique, mais c’est d’abord aux intéressées de dégager ce qui est pour elles oppressif. Et, en général, c’est aux gens qui subissent l’oppression de lutter contre la soumission. On ne libère pas les gens par substitution.

Revenons au Front national. Vous avez souvent critiqué l’idée que le «peuple» serait raciste par nature. Pour vous, les immigrés sont moins victimes d’un racisme «d’en bas» que d’un racisme «d’en haut»: les contrôles au faciès de la police, la relégation dans des quartiers périphériques, la difficulté à trouver un logement ou un emploi lorsqu’on porte un nom d’origine étrangère. Mais, quand 25% des électeurs donnent leur suffrage à un parti qui veut geler la construction des mosquées, n’est-ce pas le signe que, malgré tout, des pulsions xénophobes travaillent la population française ?

D’abord, ces poussées xénophobes dépassent largement l’électorat de l’extrême droite. Où est la différence entre un maire FN qui débaptise la rue du 19-Mars-1962 [Robert Ménard, à Béziers, NDLR], des élus UMP qui demandent qu’on enseigne les aspects positifs de la colonisation, Nicolas Sarkozy qui s’oppose aux menus sans porc dans les cantines scolaires ou des intellectuels dits «républicains» qui veulent exclure les jeunes filles voilées de l’université ?
Par ailleurs, il est trop simple de réduire le vote FN à l’expression d’idées racistes ou xénophobes. Avant d’être un moyen d’expression de sentiments populaires, le Front national est un effet structurel de la vie politique française telle qu’elle a été organisée par la constitution de la Ve République. En permettant à une petite minorité de gouverner au nom de la population, ce régime ouvre mécaniquement un espace au groupe politique capable de déclarer: «Nous, nous sommes en dehors de ce jeu-là.»
Le Front national s’est installé à cette place après la décomposition du communisme et du gauchisme. Quant aux «sentiments profonds» des masses, qui les mesure ? Je note seulement qu’il n’y a pas en France l’équivalent de Pegida, le mouvement allemand xénophobe. Et je ne crois pas au rapprochement, souvent fait, avec les années 1930. Je ne vois rien de comparable dans la France actuelle aux grandes milices d’extrême droite de l’entre-deux-guerres.

A vous écouter, il n’y aurait nul besoin de lutter contre le Front national…

Il faut lutter contre le système qui produit le Front national et donc aussi contre la tactique qui utilise la dénonciation du FN pour masquer la droitisation galopante des élites gouvernementales et de la classe intellectuelle.

L’hypothèse de son arrivée au pouvoir ne vous inquiète-t-elle pas?
Dès lors que j’analyse le Front national comme le fruit du déséquilibre propre de notre logique institutionnelle, mon hypothèse est plutôt celle d’une intégration au sein du système. Il existe déjà beaucoup de similitudes entre le FN et les forces présentes dans le système.

Si le FN venait au pouvoir, cela aurait des effets très concrets pour les plus faibles de la société française, c’est-à-dire les immigrés…

Oui, probablement. Mais je vois mal le FN organiser de grands départs massifs, de centaines de milliers ou de millions de personnes, pour les renvoyer «chez elles». Le Front national, ce n’est pas les petits Blancs contre les immigrés. Son électorat s’étend dans tous les secteurs de la société, y compris chez les immigrés. Alors, bien sûr, il pourrait y avoir des actions symboliques, mais je ne crois pas qu’un gouvernement UMP-FN serait très différent d’un gouvernement UMP.

A l’approche du premier tour, Manuel Valls a reproché aux intellectuels français leur «endormissement»: «Où sont les intellectuels, où sont les grandes consciences de ce pays, les hommes et les femmes de culture qui doivent, eux aussi, monter au créneau, où est la gauche?», a-t-il lancé. Vous êtes-vous senti concerné ?

«Où est la gauche ?», demandent les socialistes. La réponse est simple: elle est là où ils l’ont conduite, c’est-à-dire au néant. Le rôle historique du Parti socialiste a été de tuer la gauche. Mission accomplie. Manuel Valls se demande ce que font les intellectuels… Franchement, je ne vois pas très bien ce que des gens comme lui peuvent avoir à leur reprocher. On dénonce leur silence, mais la vérité, c’est que, depuis des décennies, certains intellectuels ont énormément parlé. Ils ont été starisés, sacralisés. Ils ont largement contribué aux campagnes haineuses sur le voile et la laïcité. Ils n’ont été que trop bavards.
J’ajouterai que faire appel aux intellectuels, c’est faire appel à des gens assez crétins pour jouer le rôle de porte-parole de l’intelligence. Car on ne peut accepter un tel rôle, bien sûr, qu’en s’opposant à un peuple présenté comme composé d’abrutis et d’arriérés. Ce qui revient à perpétuer l’opposition entre ceux «qui savent» et ceux «qui ne savent pas», qu’il faudrait précisément briser si l’on veut lutter contre la société du mépris dont le Front national n’est qu’une expression particulière.

Il existe pourtant des intellectuels – dont vous-même – qui combattent cette droitisation de la pensée française. Vous ne croyez pas à la force de la parole de l’intellectuel ?

Il ne faut pas attendre de quelques individualités qu’elles débloquent la situation. Le déblocage ne pourra venir que de mouvements démocratiques de masse, qui ne soient pas légitimés par la possession d’un privilège intellectuel.

Dans votre travail philosophique, vous montrez que, depuis Platon, la pensée politique occidentale a tendance à séparer les individus «qui savent» et ceux «qui ne savent pas». D’un côté, il y aurait la classe éduquée, raisonnable, compétente et qui a pour vocation de gouverner ; de l’autre, la classe populaire, ignorante, victime de ses pulsions, dont le destin est d’être gouvernée. Est-ce que cette grille d’analyse s’applique à la situation actuelle ?

Longtemps, les gouvernants ont justifié leur pouvoir en se parant de vertus réputées propres à la classe éclairée, comme la prudence, la modération, la sagesse… Les gouvernements actuels se prévalent d’une science, l’économie, dont ils ne feraient qu’appliquer des lois déclarées objectives et inéluctables – lois qui sont miraculeusement en accord avec les intérêts des classes dominantes.
Or on a vu les désastres économiques et le chaos géopolitique produits depuis quarante ans par les détenteurs de la vieille sagesse des gouvernants et de la nouvelle science économique. La démonstration de l’incompétence des gens supposés compétents suscite simplement le mépris des gouvernés à l’égard des gouvernants qui les méprisent. La manifestation positive d’une compétence démocratique des supposés incompétents est tout autre chose.

NOTA: Sublinhados meus

quarta-feira, 15 de abril de 2015

EVOCAÇÃO DO "ORPHEU"




Realizou-se hoje na Academia das Ciências de Lisboa uma sessão comemorativa do centenário da publicação do nº 1 da revista "Orpheu", dirigida por Luiz de Montalvôr (Portugal) e Ronald de Carvalho (Brasil), editada por António Ferro, e que contou com a colaboração de Luiz de Montalvôr, Mário de Sá-Carneiro, Ronald de Carvalho, Fernando Pessoa, Alfredo Pedro Guisado, José de Almada-Negreiros, Côrtes Rodrigues e Álvaro de Campos (conforme Sumário), sendo a capa desenhada por José Pacheco.


O programa da sessão apresenta-se abaixo:


Oportunamente teceremos algumas considerações sobre as intervenções produzidas.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

GÜNTER GRASS




Morreu hoje, em Lübeck, com 87 anos,  o escritor alemão Günter Grass, uma das mais importantes figuras da literatura alemã do pós-Guerra e também uma das mais controversas.

Autor de vasta obra (romancista, poeta, dramaturgo mas também artista plástico), tornou-se mundialmente famoso por Die Blechtrommel (O Tambor), publicado em 1959 e que Volker Schlöndorff, em 1979, adaptou ao cinema.

Em 2006, no primeiro volume das suas memórias, Beim Häuten der Zwiebel (Descascando a cebola), declarou ter pertencido na sua juventude às Waffen-SS do regime nazi, revelação que provocou algum mal-estar por ter sido considerada tardia.

Colaborou com o chanceler Willy Brandt mas foi mais tarde um activo opositor da reunificação alemã, com o sentido premonitório de que a Alemanha procuraria estabelecer de novo a sua hegemonia sobre o continente europeu. Era também inimigo declarado do Estado de Israel, que considerava uma ameaça à paz mundial, e um contundente adversário da política de Angela Merkel, conforme publiquei aqui em 28 de Maio de 2012.

Membro da Academia das Artes de Berlim, recebeu várias distinções literárias, entre as quais o Prémio Georg Büchner, em 1965, o Prémio Hermann Kesten, em 1995, o Prémio Literário Príncipe das Astúrias, em 1999 e o Prémio Nobel da Literatura, também em 1999.

Ao longo da sua carreira de escritor e de activista político, foi considerado, quer por compatriotas, quer no mundo, como a figura que incarnava a "consciência moral" da Alemanha.

domingo, 12 de abril de 2015

RECORDANDO ANTÓNIO FERRO

Devido a várias solicitações, e porque António Ferro volta a ser notícia, quando se completam 120 anos sobre o seu nascimento, reedito o post publicado em:

 

 

segunda-feira, 17 de agosto de 2009


ANTÓNIO FERRO


Passam hoje 114 anos sobre o nascimento de uma das mais interessantes figuras da vida político-cultural do século XX português: António Ferro.

Homem de pensamento e de acção, possuidor de um multifacetado talento, Ferro é o vanguardista que edita o Orpheu, o jornalista que percorre a Europa, o Brasil, os Estados Unidos, recolhendo o testemunho das mais célebres personagens da época, o inspirador e impulsionador de uma política cultural que, independentemente do ângulo por que se perspective, constituiu até hoje a única tentativa séria, consistente e duradoura de promover com o apoio do Estado a criação e a divulgação artística e literária.

A sua permanência à frente do Secretariado da Propaganda Nacional (S.P.N.), mais tarde Secretariado Nacional de Informação (S.N.I.), ao longo de 17 anos (1933-1950), permitiu-lhe fomentar a criatividade dos autores portugueses, nas artes e nas letras, difundir as correntes modernistas estrangeiras e estabelecer as estruturas básicas de uma acção cultural a nível nacional. O trabalho de Ferro abrange campos tão diversos como as artes plásticas, o teatro e o cinema, a música e o bailado, a poesia e a literatura em geral, a rádio, o turismo, o cartazismo, a arte de expor. Arquitecto da “política do espírito”, António Ferro é um homem de “bom gosto” que serve um Regime (o de Salazar) e que se serve do Regime para impor convicções próprias, nem sempre consonantes com a Figura Tutelar (mas que esta inteligentemente aceita até entender que não é possível prosseguir a coexistência de orientações que na ordem estética e no plano prático (por exemplo a Censura) ameaçam uma fissura no edifício do Estado Novo. Nunca ficou devidamente esclarecida a saída de Ferro do S.N.I. para a Legação de Portugal em Berna. Não teria de o ficar publicamente, para mais naquela época, mas mesmo em conversas com os filhos, há um quarto de século, nada consegui adiantar, porque no fundo estes também nada sabiam, para além do desejo do pai em ocupar um posto mais tranquilo.

Ao longo de três décadas, António Ferro é, de facto, uma figura intrinsecamente polémica, que desencadeia ódios e paixões, privilégio, aliás, daqueles que, sabendo o que querem, são os únicos capazes de despertar interesse na paisagem monótona e cinzenta das unanimidades castradoras. Navegando entre as tendências modernistas da sua juventude, em que acompanha Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, o entusiasmo pelos regimes fortes, que o leva a admirar Mussolini, e o desejo de realizar em Portugal um renascimento cultural, que tenta com o apoio inequívoco de artistas e escritores e o apoio condicional de Salazar, primeiro, e com uma já translúcida oposição de parte da intelligentsia nacional e uma cautelosa reserva de Salazar, depois, António Ferro prossegue a (sua) política do espírito, discutível, sem dúvida, mas merecedora do reconhecimento nacional. Ele foi, avant la lettre e “avant Malraux”, o nosso primeiro ministro da Cultura.

* * *
Não é possível dar conta, aqui, da vida e obra (obra literária e obra de política cultural) de António Ferro. Por isso, limitar-me-ei a algumas indicações, escusando-me, desde já, das omissões indesejáveis:

Em 1895 nasce em Lisboa, a 17 de Agosto, filho de António Joaquim Ferro e de Maria Helena Tavares Afonso Ferro.

Em 1912, com 17 anos, publica (em colaboração com Augusto Cunha) Missal de Trovas, livro de quadras ao gosto popular.

Em 1913 escreve poesia e teatro, textos que se perderam. A esse respeito, Fernando Pessoa anota no seu diário, em 30-3-1913: “Das 2 ¼ às 4 ½ em casa de António Ferro a ouvir-lhe três (?) peças. – Leu duas. – Depois para a Baixa com ele.” (Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, pág. 55 – Edições Ática, 1966). Ingressa na Faculdade de Direito, que frequentará até 1919, não tendo concluído o curso, que será preterido a favor do jornalismo.

Em 1915 é editor da revista Orpheu que, fundada por Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Luís de Montalvor, etc., constitui o marco inicial do modernismo em Portugal e da qual são publicados apenas dois números. Segundo Alfredo Guisado, um dos seus directores, convém que (o editor) seja ele (António Ferro) porque é menor e se surgir qualquer complicação a sua responsabilidade não tem consequências

Cinema Olympia

Em 1917, a 1 de Junho, profere no Salão Olímpia (que mais tarde, já velho cinema de reprise, se notabilizaria por outro tipo de espectáculos) a conferência As grandes trágicas do silêncio, dedicada às três maiores artistas do cinema mudo italiano, Francesca Bertini, Pina Menichelli e Lyda Borelli. Trata-se de uma manifestação histórica, por ter sido a primeira conferência sobre cinema pronunciada em Portugal, sendo editada nesse mesmo ano.


Em 1918 parte para Angola como oficial miliciano, sendo nomeado ajudante do governador-geral, o comandante Filomeno da Câmara, que pouco depois o nomeia (aos 23 anos), secretário-geral da Província.

Em 1919, regressado a Lisboa, é nomeado chefe de redacção de O Jornal.


Em 1920 é redactor de O Século e publica Árvore de Natal e Teoria da Indiferença, livro que o lança como escritor. Desloca-se ainda a Fiume para entrevistar Gabriele d’Annunzio.


Em 1921 publica Colette, Colette Willy, Colette e a famosa Leviana, que o consagra como modernista e mesmo futurista, e ainda o manifesto Nós, que mais tarde constituirá a contribuição portuguesa para o modernismo brasileiro.


Em 1922 publica Gabriele d’Annunzio e Eu, que reúne as reportagens, entrevistas e conversas com o grande poeta italiano. Faz crítica teatral no Diário de Lisboa, é director da Ilustração Portuguesa e escreve a peça Mar Alto. Desloca-se ao Brasil com a Companhia Lucília Simões/Erico Braga e casa por procuração com a poetisa Fernanda de Castro (a cerimónia em Lisboa tem lugar na Igreja de Santa Isabel, com o cunhado Augusto Cunha a servir de duplo do noivo, sendo testemunha no Brasil a actriz Lucília Simões) que pouco depois vai reunir-se com ele no Rio de Janeiro. A 18 de Novembro, Mar Alto estreia-se no Teatro Sant’Ana, em S. Paulo, cidade onde Ferro profere as conferências A Idade do Jazz-Band e A Arte de Bem Morrer, posteriormente editadas em livro. A peça é depois representada no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.
Fernanda de Castro

Em 1923 prossegue a tournée de conferências no Brasil e publica Batalha de Flores, em edição brasileira. José Lins do Rego e Carlos Drummond de Andrade dedicam-lhe entusiásticos artigos. A 10 de Julho Mar Alto tem a sua estreia em Lisboa, no Teatro de São Carlos. O argumento provoca um escândalo, há apupos e discussões exaltadas e para acalmar a tempestade o próprio Ferro é obrigado a vir à boca de cena. No dia seguinte a peça é proibida pelo governador civil de Lisboa, o que dá origem a um protesto dos escritores portugueses dirigido ao então presidente do Conselho de Ministros e ministro do Interior António Maria da Silva, subscrito por Raul Brandão, António Sérgio, Fernando Pessoa, Raul Proença, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, Alfredo Cortez, João de Barros, Luís de Montalvor, etc. Em Agosto a proibição é levantada mas a peça só voltará a subir á cena em 1984. Ainda neste ano entrevista Mussolini em Roma, no Palácio Chigi. A 14 de Julho, nasce o primeiro filho do casal, o futuro escritor António Quadros.

António Quadros
Em 1924 é publicado Mar Alto.


Em 1925, dedicado á memória de Mário de Sá-Carneiro, é publicado A Amadora dos Fenómenos. Funda com José Pacheco o Teatro Novo, a primeira tentativa de um teatro português de vanguarda, que funcionará no foyer do Cinema Tivoli, de saudosa memória. São apresentadas as peças Knock, de Jules Romain e Para Cada Um Sua Verdade, de Pirandello e programadas peças de Almada Negreiros, Bernard Shaw, Jean Cocteau, Tchekov, Alfredo Cortez, Carlos Selvagem, etc., mas dificuldades económicas impedirão a continuidade da iniciativa.

Cinema Tivoli

Em 1927 publica Viagem à Volta das Ditaduras, com as entrevistas e reportagens que fizera na Itália (Pio XI, Ezio Garibaldi, Mussolini), em Espanha (Jacinto Benavente, Primo de Rivera) e na Turquia (Kemal Atatürk). 



Em 1929 publica Praça da Concórdia, reunindo entrevistas realizadas em Paris entre 1924 e 1926.


Em 1930 publica Novo Mundo, Mundo Novo, reunindo reportagens efectuadas nos Estados Unidos em 1927.

Em 1931 publica Hollywood, Capital das Imagens, incluindo as reportagens e entrevistas efectuadas na capital americana do cinema.
Salazar e António Ferro

Em 1932 estreia no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, a sua peça O Estandarte, com alguns dos melhores actores portugueses da época. E realiza para o Diário de Notícias as cinco famosas entrevistas com Salazar, em que este expõe as linhas gerais do seu programa político. No mesmo jornal, publica o artigo Política do Espírito, em que esboça os princípios de um novo tipo de acção cultural.


Em 1933 publica Prefácio da República Hespanhola, que é o inquérito realizado em 1930 para o Diário de Notícias em que entrevistara Miguel de Unamuno, Ortega y Gasset, Ramón del Valle-Inclán, etc. Organiza em Lisboa o primeiro Congresso da Crítica Dramática e Musical, com a presença de Pirandello, Vuillermoz, Robert Kemp, etc. e publica Salazar. O Homem e a sua Obra, em que reúne as citadas entrevistas ao Chefe do Governo, livro imediatamente traduzido para francês, inglês, espanhol, italiano, polaco, etc. É convidado por Salazar para dirigir um novo organismo, o Secretariado de Propaganda Nacional (S.P.N.).

Sociedade Nacional de Belas Artes
Em 1934, na primeira festa de distribuição dos Prémios Literários do S.P.N., define a sua política do espírito, que será, disse, não só a defesa material da inteligência, da literatura e da arte e o apoio aos artistas e aos pensadores, mas também uma política que se oponha fundamental e estruturalmente à política da matéria, proclamando a independência do espírito.

Em 1935 organiza a I Exposição de Arte Moderna, anunciando, na Sociedade Nacional de Belas Artes, a sua intenção de apoiar sobretudo os artistas de vanguarda. Respondendo-lhe em nome dos premiados, Almada Negreiros afirma: “Mais do que com júbilo, é com grande respeito que vejo pela primeira vez na minha terra os poderes públicos ao lado da arte mais nova de Portugal”.

Em 1936 inaugura o Teatro do Povo, sob a direcção de Francisco Lage e de Ribeirinho. Convida um grupo de intelectuais a visitar Portugal, tendo aceite o convite Miguel de Unamuno, Pirandello, Maurice Maeterlinck, Gabriela Mistral, François Mauriac, Georges Duhamel, etc.

Em 1937 é comissário da Exposição de Paris, organizando o Pavilhão de Portugal com Keil do Amaral, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Tom, Estrela Faria, Manuel Lapa, etc. Promove os Cinemas Ambulantes que iniciam a sua actividade, percorrendo as vilas e aldeias do país.

Em 1939 promove o Concurso da “Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”, que não voltará a ser repetido, e cujo troféu, o Galo de Prata, é atribuído a Monsanto.

Exposição do Mundo Português
Em 1940 é secretário geral dos Centenários, sendo também responsável pelo Pavilhão de Portugal na Exposição do Mundo Português. Ainda neste ano, estreia-se no Teatro da Trindade o Grupo de Bailado Verde Gaio, que António Ferro imaginou segundo Os Bailados Russos de Diaghilev.

Em 1941 publica Homens e Multidões, reunião de entrevistas e reportagens sobre Franz Lehar, Lloyd George, o rei Afonso XIII de Espanha, a rainha Maria da Roménia, Primo de Rivera, o rei Leopoldo III da Bélgica, o Papa Pio XI, Mussolini e Salazar. É nomeado presidente da Direcção da Emissora Nacional e assina o I Acordo Cultural Luso-Brasileiro.

Em 1942 começa a ser publicada (até 1950) a revista luso-brasileira “Atlântico”, de que é o director português. Apresenta o plano das Pousadas de Turismo, aquando da inauguração da primeira, em Elvas.

Em 1943 é lançada a revista de arte e turismo “Panorama”, publicada pelo S.P.N., com direcção literária do poeta Carlos Queiroz e artística do pintor Bernardo Marques. O Grupo Verde Gaio estreia no Teatro de São Carlos o bailado D. Sebastião, com argumento de Ferro, música de Ruy Coelho, coreografia de Francis e cenários de Carlos Botelho e Milly Possoz.

Em 1944 o S.P.N. é remodelado e passa a designar-se Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (S.N.I.), continuando a ser dirigido por António Ferro.

Em 1945 iniciam a sua actividade as Bibliotecas Ambulantes do S.N.I.

Em 1946 o S.N.I. e o Círculo Eça de Queiroz, fundado por António Ferro, promovem as comemorações do centenário do nascimento do grande romancista português.

Palácio Foz

Em 1947 o S.N.I. instala-se no Palácio Foz.

Em 1948 é inaugurada nas novas galerias do Palácio Foz a Exposição “Catorze Anos de Política do Espírito”, procedendo Ferro a um balanço da sua obra à frente do S.P.N./S.N.I. É inaugurado o Museu de Arte Popular, em Belém, e é promulgada a Lei de Protecção ao Cinema Nacional, que cria, no âmbito do S.N.I. o Fundo do Cinema e a Cinemateca Nacional, cuja direcção é entregue a Félix Ribeiro.

Em 1949, a 6 de Maio, António Ferro inaugura, conjuntamente com o 13º Salão de Arte Moderna, o Salão retrospectivo de galardoados com os prémios artísticos do S.N.I; estão presentes Mário Eloy, António Soares, Dórdio Gomes, Jorge Barradas, Sarah Afonso, Carlos Botelho, Eduardo Viana, Almada Negreiros, Frederico George, Maria Keil, António Dacosta, Manuel Bentes, Ofélia Marques, Paulo Ferreira, António Cruz, Tom, Manuel Lapa, Álvaro de Brée, António Duarte, Martins Correia, João Fragoso, Canto da Maya, Barata Feyo, etc. São criados os Prémios de Arte Dramática para as sociedades de recreio. Realiza-se no Teatro de São Carlos o primeiro concerto do Gabinete de Estudos Musicais, que Ferro criou na Emissora Nacional, encomendando obras aos compositores de música popular e erudita.

Em 1950, ao fim de 15 anos de trabalho à frente do S.P.N./S.N.I., António Ferro solicita a Salazar um posto mais tranquilo e é nomeado ministro plenipotenciário de Portugal em Berna.

Em 1952/53 exerce uma acção em prol da cultura portuguesa na Suíça e prepara o livro Saudades de Mim. Escreve uma peça, que se perdeu, Eu Não Sei Dançar, cujos protagonistas deveriam ser Amália Rodrigues e João Villaret.
Em 1954 é transferido para ministro de Portugal em Roma. Publica D. Manuel II, o Desventurado.

Em 1955 escreve o livro, ainda inédito, Poemas Italianos e participa, a título particular, nos Décimos Encontros Internacionais de Genebra, dedicados ao tema “A Cultura estará em perigo?”, com Georges Duhamel, Ilya Ehrenbourg, Jean Wahl, etc. A Legação portuguesa em Roma é elevada a Embaixada e Ferro deverá apresentar novas credenciais como embaixador.

Em 1956 desloca-se a Lisboa para uma intervenção cirúrgica supostamente sem gravidade, mas morre uma semana depois, a 11 de Novembro, num quarto particular do Hospital de São José. Tinha 61 anos.

Em 1957 é publicado postumamente o livro Saudades de Mim.

Em 1958, no 25º aniversário do S.P.N./S.N.I., é descerrado
no Palácio Foz um seu busto, da autoria de Álvaro de Brée, réplica do que se encontra no Círculo Eça de Queiroz.

Em 1963 as Edições Panorama publicam a antologia António Ferro, incluindo alguns dos Poemas Italianos e excertos do seu Diário de Berna e Roma.

Em 1978 as Edições Tempo publicam uma nova edição de Salazar.

Em 1980 as edições Delraux publicam novas edições de Teoria da Indiferença e de Leviana.

Em 1984 o Teatro Primeiro Acto, de Algés, sob a direcção de Júlio de Magalhães, repõe Mar Alto (que não mais subira à cena desde a sua proibição em S. Carlos, em 1923) e organiza um ciclo de debates sobre a peça e a “Política do Espírito”, em que participam Afonso Botelho, António Braz Teixeira, António Lopes Ribeiro, António Quadros, António Rodrigues, Artur Portela, Cecília Barreira, Dórdio Guimarães, Duarte Ivo Cruz, Franco Nogueira, Jorge Borges de Macedo, Martins Correia, Natália Correia, Ruy de Matos, etc.

Em 1986, a 11 de Novembro, no 30º aniversário da sua morte, o Círculo Eça de Queiroz organiza uma sessão de homenagem a António Ferro. São oradores António Lopes Ribeiro, Domingos Mascarenhas e Luiz Forjaz Trigueiros. Intervêm também Jorge Borges de Macedo, Arnaldo Ródo e João Bigotte Chorão, a nora Paulina Roquette Ferro e o neto António Roquette Ferro, que leu uma mensagem do pai, António Quadros, ausente no Brasil em missão cultural.

Em 1987 a Editorial Verbo inicia a publicação das Obras de António Ferro, sob orientação de António Rodrigues, tendo sido publicado apenas um primeiro volume.
* * *
Esta cronologia bio-bibliográfica resumida dá uma ideia do que foi a vida e a obra de António Ferro. E permite avaliar das linhas mestras do que constituiu a sua política do espírito, uma intervenção absolutamente inovadora em Portugal pela qualidade e globalidade dos temas abordados.
Não é comum no nosso país alguém desenvolver uma intensa actividade na esfera político-cultural e ser ao mesmo tempo um criador cultural em domínios tão diversificados como António Ferro o foi. 

Acusam-no hoje de não ter sido um verdadeiro democrata. Talvez não o tenha sido pelo actual paradigma, mas importa não esquecer que o conceito de Democracia sofreu diversas interpretações ao longo da História, desde a antiga e precursora Atenas às democracias populares do Leste Europeu. Estaria Ferro porventura mais próximo da chamada “democracia orgânica” de Salazar do que das chamadas “democracias representativas”, que neste dealbar do século XXI são, antes de tudo, as defensoras estrénuas da teologia do dinheiro e do monoteísmo do mercado? Com certeza que sim! 

Mas ainda hoje se não sabe exactamente se Ferro ao trocar o S.N.I. por uma missão diplomática o fez por vontade própria, ou por vontade de Salazar, ou pela vontade de ambos. Se o fez apenas para ocupar um posto mais tranquilo ou antes por ter constatado a impossibilidade de ir mais além, como se depreende de muitos dos seus escritos, num regime autoritário que o entusiasmou mas que, mercê de circunstâncias de vária ordem, não poderia permitir-lhe a concretização final dos projectos que no íntimo sempre acalentara.

Para os interessados, referimos a seguir a lista das obras de António Ferro:

As Grandes Trágicas do Silêncio - 1917
Teoria da Indiferença – 1920
Árvore de Natal – 1920
Nós - 1921
Colette, Colette Willy, Colette – 1921
Leviana – 1921
Gabriele d’Annunzio e Eu – 1922
A Arte de Bem Morrer – 1923
A Idade do Jazz-Band – 1923
Batalha de Flores – 1923
Mar Alto – 1924
A Amadora dos Fenómenos – 1925
Viagem à Volta das Ditaduras – 1927
Praça da Concórdia – 1929
Novo Mundo, Mundo Novo – 1930
Hollywood, Capital das Imagens – 1931
Salazar – 1933
Prefácio da República Hespanhola – 1933
Homens e Multidões – 1941
Política do Espírito – 1950
D. Manuel II, o Desventurado – 1954
Saudades de Mim – 1957 (editado postumamente)
Obras de António Ferro: 1 – Intervenção Modernista (Cartas do Martinho; Teoria da Indiferença; O Elogio das Horas; Batalha de Flores; Nós; A Arte de Bem Morrer; A Idade do Jazz-Band; Uma Hora com Asas; Ilustração Portuguesa) - 1987

16 comentários:

Carlos Freitas Almeida Nunes disse...
Ferro inventou o país turístico recuperando algumas ideias desenvolvidas por Magalhães Lima através da Sociedade Propaganda de Portugal. É talvez a sua faceta menos conhecida mas uma das mais importantes.
Anónimo disse...
Grande homem, António Ferro. Parabéns ao autor do post.
Mafalda disse...
Comemorámos, no dia 17 de Agosto, 114 anos sobre o nascimento do grande Homem que foi António Ferro e alegro-me em saber que a data foi lembrada por tantos; a sua actividade não pode e não deve ser esquecida.
Também a newsletter de Agosto da Fundação António Quadros achou por bem assinalar esta data, demonstrando que a obra de António Ferro continua a constituir objecto de estudo para inúmeros investigadores.
A biografia, aqui publicada, representa uma justa homenagem a António Ferro. Parabéns ao seu autor, cujo nome gostaria de conhecer.
Mafalda Ferro
Anónimo disse...
Ferro foi o melhor ministro da cultura de Portugal. Foi também um escritor inovador e progressista. A nação deve-lhe muito.
Anónimo disse...
No actual panorama "rasca" da blogosfera portuguesa,sem dúvida este post sobressai pelo estudo e investigação que subjazem,pela magnífica iconografia,até pelo entusiasmo quiçá excessivo do autor pelo retratado. Mais,atendendo a que está por fazer uma história séria da cultura portuguesa na época do Estado Novo,os elementos pacientemente coligidos pelo autor virão certamente a servir para um futuro investigador. Ainda antes de algumas sumárias observações,insistiria na estranheza da ausência (a meu conhecimento,claro) dessa história da cultura. Curiosamente duas das principais fontes para o estudo da época salazariana,o suplemento ao "Dicionário da História de Portugal"(vols 7 a 9)coordenado por Barreto e Mónica,tal como o Dicionário de Rosas e Brito, nada,mas mesmo nada apresentam como rubrica "Cultura". Espantoso,mas verdadeiro. Verdade seja que o Dicionário de Barreto e Mónica contem uma excelente entrada intitulada "Intelectuais e Estado Novo" da responsabilidade de Rui Ramos,elaborada com informação,objectividade e equilíbrio. Poderá ser uma boa base de trabalho,mas não é obviamente a História que se desejaria. Há tambem apontamentos sobre cultura nas grandes Histórias coordenadas por Mattoso e outros,mas tudo disperso e insuficiente para a visão de conjunto que se aguarda.
Breves observações: Poderia ter assinalado,como curiosidade biográfico-política, que Ferro,não só foi ajudante militar de Filomeno da Câmara,como terá activamente conspirado na célebre "Revolta dos Fifis" em Agosto de 27 (Filomeno da Câmara e Fidelino de Figueiredo).
Ponto mais relevante: a Saída de Ferro do SNI em 50. Houvesse ou não razões pessoais, a sua linha de acção estava esgotada num regime em involução. O Portugal de 32 a 45,em traços gerais,tem um regime,melhor ou pior,"do seu tempo". A partir daí inicia-se um longo processo de anquilosamento,de rigidez,de afastamento do "seu tempo". Não vamos agora discutir se sim ou não Salazar tinha razão em mantermo-nos "orgulhosamente sós",mas Ferro tinha sido o homem da modernidade,do "mundo",do "actual" e apesar de promover as tradições populares,dificilmente se reveria na cada vez maior rigidez política e censorial dessa fase do regime.É no fim dos anos 40 que muitos escritores e artistas se afastam definitivamente do SNI,aparecem nas listas do MUD e similares. É nessa altura que falha a "política do espírito" e,diria,que falha o regime e se inicia o processo da sua decadência. O regime não tinha de copiar servilmente os modelos da Europa civilizada,mas devia ter-se adaptado,e isso não o soube fazer. O fim do Ferro do SNI marca assim o começo do fim do regime, e a sua derrota, provavelmente às mãos dos "duros",significou a inadaptabilidade irreversivel do Estado Novo. Isto tudo não é incompativel com o texto do autor do blog,nem pretende sê-lo,é outra maneira de sintetizar as coisas numa perspectiva mais política.
Tambem não sei se o autor utilizou as Memórias de Fernanda de Castro,dos livros mais "simpáticos" que conheço,e bem útil para o conhecimento da vida cultural da época. Aí se vê como os Ferros mantiveram até ao fim um convívio de grande abertura com intelectuais e artistas de todos os quadrantes,mesmo os que se tinham afastado do SNI e se opunham activamente ao regime. Ah se Ferro e mais alguem(mas quem?) tivesse prevalecido sobre os "duros"!
(Continua)
De Portugal disse...
Sendo importante e diversificada a obra de António Ferro, porque não se reedita a mesma?

Porque apenas foi publicado o I volume da sua obra completa?

São graves as lacunas da edição em Portugal, onde se publica toda a merda, passe a expressão, e não vêem a luz do dia os textos dignos de ser lidos.

Mas é este o país infeliz onde vivemos. Esperemos que mude rapidamente... e em força.
Anónimo disse...
Ainda bem que alguém nos relembra António Ferro que foi uma figura extraordinária em Portugal. É preciso reler as suas afirmações sobre a política do espírito, ver o que foi feito e o que não pôde ser e também o estado a que chegámos. E depois tirar conclusões.
Anónimo disse...
Continuando o comentário da 1.57,resta-me dizer que os limites das caixas de comentários não permitem os desenvolvimentos de ideias que certas afirmações suscitam. Em "concentrado" fico-me por assinalar a a minha discordância com as considerações do post sobre os conceitos de democracia.Há regimes democráticos e há regimes ditatoriais de esquerda ou de direita que se intitulam "democratas" para supostamente fingir que enganam o seu próprio povo ou a plateia internacional.Não se trata aqui de "conceitos de democracia" mas de mal amanhadas falsificações da palavra "democracia". É o caso dos regimes comunistas(as pseudo "democracias populares")muitas "democracias" africanas,e a nossa "democracia orgânica",que nunca enganou ninguem.
A democracia preza antes de mais o valor da Liberdade,que parece algo esquecido,liberdade individual e social.E procura,tanto quanto possivel,garanti-lo,o que não é tão óbvio como isso. Procura tambem que os poderes políticos mudem sem revoluções sanguinolentas,mas por meios certamente imperfeitos,como as eleições,mas não destrutivos do tecido social. Muito,muito,haveria mais a dizer,mas devo estar a esgotar a capacidade da "caixa". Talvez se possa prosseguir noutra ocasião.
Do Médio-Oriente e afins disse...
A propósito, e em abono, do último parágrafo do comentário do Anónimo da 1:57, quero notar que José Carlos Ary dos Santos me disse, por mais de uma vez, que sendo perseguido pela PIDE, esteve vários dias escondido em casa de Fernanda de Castro, viúva de António Ferro, mulher de rara sensibilidade e cultura, que muito o estimava e que o acolheu nesse momento difícil, num sítio onde a polícia dificilmente imaginaria que ele estivesse.
Anónimo disse...
Embora os posts tenham normalmente vida curta na blogosfera (ainda bem para a maioria e injustamente para este) venho ainda associar-me ao protesto de um comentador anterior quanto à não prossecução da edição da Obra completa pela Verbo.Parecia bem encaminhada,apesar do esquelético comentário e quase inexistente aparato crítico,mas ficou-se pelo I volume. Nunca percebi porquê. Seria esta uma boa ocasião para a Fundação de Mafalda Ferro exigir, ou da Verbo,se ainda existir(o que ignoro) ou de qualquer editora responsãvel a continuação da Obra. E porque não utilizar para essa promoção este excelente post,devidamente excisado das considerações políticas,resumida mas lucidamente rebatidas pelo comentador das 23.57,ao que o seu autor certamente não se oporia? Neste momento não vejo melhor introdução à obra e à personalidade de Ferro, e a sua difusão ajudaria a quebrar a estupidificante lacuna que é o desconhecimento dos seus textos. Aqui fica a sugestão,que espero frutifique.
Mafalda disse...
Caro anónimo
Começo por partilhar a dificuldade que sinto em conversar com um anónimo. Como saber se estamos a responder a alguém com quem já falámos porque, como calcula, há mais que um anónimo.
Durante muitos e longos anos foi tabu elogiar António Ferro. Creio que, enfim, ultrapassámos essa fase mas entendo a necessidade de reservar a sua opinião (como sua) para os seus amigos. Um pseudónimo resolveria o problema e dar-lhe-ia uma identidade própria. É só uma ideia. Pense nisso.
A bibliografia e o espólio documental de António Ferro, património da Fundação António Quadros, estão abertos à consulta e são investigados quase diariamente por historiadores e particulares, nacionais e estrangeiros. A dificuldade de adquirir a sua obra impressa é expressa por todos eles por isso já reuni com um editor a fim de estudar a possibilidade de concretizar a publicação da obra completa de António Ferro mas, obrigada pela ideia, guardarei os vossos comentários para fundamentar a importância do projecto.
É com imenso orgulho e alegria que, depois de tantos anos de silêncio, me apercebo através das suas palavras e das de todos os admiradores da obra de António Ferro que, António Ferro ocupa em termos históricos o lugar que merece. Obrigada por lhe fazerem justiça.
Mafalda Ferro
Do Médio-Oriente e afins disse...
A Obra Completa de António Ferro, na Verbo, estava a ser publicada sob a orientação do meu amigo António Rodrigues, crítico de arte e professor de História da Arte na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, recente e prematuramente falecido com 50 anos.

Não foi contudo a sua morte, agora ocorrida, que motivou a suspensão da publicação da Obra, já que o I e único volume saiu em 1987. Outras razões terão motivado essa decisão.

Por isso, congratulo-me com o que acima escreveu Mafalda Ferro, quanto a uma reedição da obra completa, a fim de dar ao público português, que o desconhece, como aliás desconhece, hoje, a maior parte das coisas da cultura, um pensamento e uma estética que marcaram, goste-se ou não, os meados do século passado.
Anónimo disse...
Tambem me regozijo com as notícias de Mafalda Ferro sobre o projecto de edição das Obras Completas. Esperemos que melhor apresentadas,comentadas e criticamente analisadas do que o volume da Verbo que,pese embora à amizade do autor do blogue pelo coordenador,que respeito,é pobrezinho apesar das boas intenções.
Tem ainda razão a Mafalda Ferro quanto aos anonimatos,frequentemente de mau cariz. Julgo não ser o caso,e os meus leitores costumam reconhecer-me pelo estilo. No meu caso,é apenas um desejo de neutralidade no contexto blogosférico,ou seja que liguem mais ao que digo do que a quem sou. Bom trabalho!
Anónimo disse...
Será que alguém me pode indicar o nome de quem assina este texto?
Anónimo disse...
Será que alguém me pode indicar o nome de quem assina este texto?
Do Médio-Oriente e afins disse...
Para o Anónimo das 12:48, de 22/03/2010:

Queira fazer o favor de indicar concretamente o que pretende; a responsabilidade do texto é globalmente do blogue.