quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

SALÓNICA XI - OS TÚMULOS REAIS DE VERGINA








A cidade de Aigai foi a capital do antigo reino da Macedónia até ao tempo do rei Arquelau, que cerca de 400 AC decidiu transferi-la para Pella. Há notícia de que a cidade já era habitada no terceiro milénio AC, mas foi especialmente entre os séculos XI e VIII AC que nela se instalou uma rica e numerosa comunidade. O período mais brilhante de Aigai situa-se entre os séculos VII e IV AC, quando são construídos o palácio, o teatro e o templo de Eukleia. Era, também, em Aigai que se encontravam os túmulos reais. Em 168 AC a cidade foi destruída e saqueada pelos romanos, embora reconstruida mais tarde parcialmente e habitada por um breve período, após o qual o nome desapareceu do mapa. No século XIV EC, alguns documentos bizantinos mencionam no seu lugar uma pequena aldeia chamada Palatitsia, nome cuja origem remete obviamente para as ruínas do palácio, que eram as mais bem preservadas, mesmo antes do início das pesquisas arqueológicas. A actual aldeia de Vergina, criada no local em 1922 pelos refugiados do Ponto tirou o seu nome de uma rainha lendária da região e fica a  70 km de Salónica.


A primeira escavação no local efetuou-se em 1861, dirigida pelo arqueólogo francês Léon Heuzey, tendo sido descobertos um túmulo e uma parte do palácio. As escavações continuaram por volta de 1930, sob a direcção do arqueólogo grego Constantin Roméos, tendo sido interrompidas pela Segunda Guerra Mundial e retomadas nos anos 1950 pelo arqueólogo grego Manolis Andronicos, com bons resultados. Finalmente, em 1977, Manolis Andronicos trouxe à luz do dia os túmulos reais de Mégali Tumba, de que o mais importante é o de Filipe II (359-336), uma descoberta das mais importantes do nosso século. A continuação das pesquisas permitiu fossem encontrados outros importantes monumentos.

Vista aérea

O sítio arqueológico de Vergina compreende o Cemitério dos Túmulos, o Palácio Helenístico, o Teatro de Aigai e os Túmulos Reais (Mégali Tumba).

O Cemitério dos Túmulos:

As escavações nesta necrópole, que remonta à Idade do Ferro, estendem-se por uma superfície ao sul da estrada que liga Vergina à aldeia de Palatitsia. Trata-se de uma necrópole compreendendo centenas de túmulos. Além das ossadas dos defuntos, foram encontradas oferendas funerárias, vasos de cerâmica, armas de ferro, jóias e insígnias assinalando a posição social e a função dos mortos. Estes achados respeitam ao período 1000-300 AC . Desta época encontrou-se um pequeno túmulo macedónio que, apesar de já se encontrar pilhado, possuía importantes objectos de cerâmica. À volta da antiga necrópole, e principalmente na propriedade Bellas, encontraram-se também muitos monumentos funerários e túmulos. Num túmulo de 490 AC, que não foi saqueado, encontraram-se oferendas funerárias de técnica excepcional, jóias de ouro e vasos de ferro, prata e bronze. Foi também descoberto um túmulo, de grande importância, provavelmente destinado a Eurídice, mãe de Filipe, e constituído por duas câmaras e coberto por uma abóbada. A sua fachada está representada na parede de fundo da câmara principal e frente a essa decoração da fachada encontrou-se um trono de mármore  com dois metros de altura. Um outro túmulo importante, datando do século III AC foi descoberto pelo arqueólogo Roméos e tem o seu nome. Tinha uma fachada jónica e no interior encontrou-se um trono de mármore junto ao qual estava a urna funerária contendo as ossadas do defunto.

Ruínas do Palácio

O Palácio e o Teatro:

Estes dois monumentos particularmente importantes estão integrados no complexo arquitectural que data do século IV AC. Construído no grande planalto natural, com uma vista excepcional para a planície e para a montanha, o palácio, com a sua imponente grandeza (104 m x 80 m), dominava a cidade. Encontrava-se protegido pelas fortificações da acrópole e pelo troço ocidental das muralhas. O palácio estava organizado em torno de um vasto pátio com peristilo e compreendia um sanctuário circular (tholos) dedicado a Hércules Patroos e luxuosas salas de banquete para o rei e seus dignitários. O acesso ao interior era efectuado por degraus de mármore e ao centro quatro portas dóricas delimitavam um grande pátio. As paredes das divisões que rodeavam o pátio eram cobertas por pinturas vermelhas, amarelas, brancas e negras. O chão das salas estava pavimentado  com mosaicos representando flores e outros motivos. Hoje, só a imaginação do visitante pode reconstituir a magnificência do palácio no seu conjunto, já que o lugar apresenta apenas blocos dispersos de mármore e de pedra. Contudo, as oferendas reais encontradas no túmulo (inviolado) de Filipe II, dão uma ideia quanto à forma como eram mobiladas e decoradas as divisões do palácio. Um elemento importante e inédito encontrado foi um terraço de cerca de 100 m de comprimento que se encontrava no lado norte. A oeste encontrou-se outra construção análoga, rodeada de colunas, que servia, provavelmente, para responder às necessidades práticas quotidianas dos habitantes do palácio.

Ruínas do Teatro

O teatro antigo foi descoberto abaixo do palácio e estende-se sobre um flanco em declive suave da colina. Alguns bancos de pedra que ainda vemos hoje confirmam que a maior parte dos lugares destinados aos espectadores consistiam em bancos de madeira, dado que a localização não possuía a inclinação natural que os antigos gregos procuravam habitualmente para os teatros. No centro do palco, bem conservada, está a base de pedra da thymele, o altar em honra de Dionisos. A orquestra do teatro, com um raio de 14,20 m, é uma das maiores dos teatros antigos conhecidos. É, pois, evidente, que o teatro de Vergina possuía uma importância particular, não apenas cultural mas também política, já que era o principal lugar de reunião do povo de Aigai e dos poderosos reis da Macedónia. A norte do teatro foi descoberto um santuário antigo dedicado a Eukleia, compreendendo dois templos, um do século IV AC e o outro do século III AC, onde se encontraram um ídolo de argila de Cybele, algumas pequenas estátuas e altares, e ainda as bases de duas inscrições da rainha Eurídice, avó de Alexandre Magno.

Fachada do túmulo de Filipe II

Os Túmulos Reais:

Cuidadosamente preservados no meio natural em que foram descobertos, os túmulos reais de Vergina  (Mégali Tumba - os grandes túmulos) constituem um monumento único no género. O próprio lugar e a concepção arquitectónica particular deste museu de túmulos impressionam o visitante pelo seu aspecto imponente. A grande colina de terra (13 m de altura e 110 m de diâmetro) preserva no seu seio um dos capítulos mais importantes da história da antiga Macedónia. Segundo rezam as fontes, parece provável que este túmulo gigantesco tenha sido erigido durante o reinado de Antígono II Gónatas (319-239 AC) para proteger os monumentos sagrados contra as profanações dos exércitos inimigos. Os túmulos mais importantes que foram encontrados são o de Filipe II (e, no vestíbulo deste, um túmulo de mulher), o túmulo de um efebo (sem dúvida o de Alexandre IV, filho de Alexandre Magno) e o túmulo de Perséfone. A escavação de Mégali Tumba deve-se ao já citado arqueólogo Manolis Andronicus, a quem é dedicada uma retrospectiva especial no museu tumular.

Cabeça de Filipe II em marfim

O túmulo de Filipe II, ainda que subsistam algumas ligeiras dúvidas quanto à sua atribuição ao rei da Macedónia (há quem sustente que pertencia a Filipe III Arrideu, meio-irmão de Alexandre) , é o maior túmulo encontrado nas escavações, com 9,5 m x 5,5 m. Construído em abóbadas, tem a forma de um mégaro (apartamento real) com vestíbulo e fachada de templo. A fachada é em estilo dórico, com colunas dos lados de uma pesada porta de mármore com dois batentes. Em cima, encontra-se um friso dórico, onde pode ainda distinguir-se a decoração polícroma, azul, branca e vermelha. O grande fresco sobre a fachada dórica do monumento, com 5,60 m de comprimento, representa uma cena de caça com diversas personagens no quadro luxuriante de um bosque. Entre as personagens que compõem a cena, os especialistas consideram que se encontram representados Filipe II e seu filho Alexandre. Os pormenores e as cores do fresco, onde se distingue o amarelo, o violeta, o rosa e o castanho - bem como a provável data, o século IV AC - fornecem elementos importantes para o estudo da pintura grega clássica. Sobre a abóbada da entrada do túmulo, encontraram-se os restos da zona onde o defunto foi incinerado com a sua coroa e as suas armas, bem como os cavalos que foram sacrificados em sua honra e de que se encontraram pedaços. Na câmara funerária, estava o sarcófago de mármore onde foi colocado o cofre em ouro contendo as ossadas do rei defunto, envolvidas num tecido de púrpura. As ossadas estavam cobertas por uma coroa de ouro constituída por folhas de carvalho e bolotas. Sobre a tampa da urna, figurava um sol em relevo, emblema do reino da Macedónia, com os seus dezasseis raios. Entre as oferendas encontradas na câmara estavam os restos do leito do defunto, tendo o tempo destruído a madeira mas conservando-se elementos decorativos em marfim, ouro e vidro. Também se encontraram um diadema circular de prata coberto de ouro, um tripé de bronze com os pés em patas de leão, vinte vasos de prata, seis de cerâmica e dois de bronze, ânforas, enócoas, crateras, etc. Ainda no interior da câmara principal, encontraram-se as armas de ferro, o escudo de ouro e marfim, em que estava esculpida a clava de Hércules, e a couraça de ferro do rei, decorada com leões de ouro. Estas peças estão expostas nas vitrinas ao lado do túmulo. Podem também ver-se cinco pequenos bustos em miniatura, representando membros da família real: Filipe, Olímpia e Alexandre. No vestíbulo encontrava-se um segundo túmulo, provavelmente o de Cleópatra, uma das mulheres de Filipe, achando-se no interior, tal como no túmulo de Filipe, um tecido de púrpura e ouro envolvendo os ossos, e sobre ele o diadema de ouro da defunta.

Fachada do túmulo do Príncipe

O túmulo do Príncipe (6,35 m, de largura por 5 m,, de altura) estava também ricamente decorado. Infelizmente, as suas pinturas e gravuras, feitas sobre madeira, estuque ou couro, tinham sido colocadas sobre o mármore e ficaram destruídas com o correr dos séculos. A fachada do túmulo estava decorada com dois grandes escudos em relevo. A decoração interior era mais rica que a exterior, com representação de corridas de cavalos. Considera-se que o príncipe defunto era Alexandre IV, filho de Alexandre III Magno. Os ossos calcinados foram encontrados numa hídria de prata, cobertos de púrpura, o que atesta a ascendência real. A hídria, escondida numa cavidade do vestíbulo, tinha por cima uma coroa de folhas de carvalho e bolotas de ouro. Também vasos de prata e de bronze, jóias, um leito com decorações de ouro e de marfim, estrígilos de bronze e de ferro banhados de ouro, um lampadário em bronze, vasos de perfumes, baldes de prata e uma cratera foram outros objectos encontrados no túmulo.

O túmulo de Perséfone, datado do século IV AC, era construído em blocos de pôros (calcário macio) e fora pilhado já na Antiguidade. Tinha a forma rectangular, com 3,5 m, de comprimento, 2,1 m, de largura e 3 m, de altura e assemelhava-se a uma caixa. Algumas ossadas foram encontradas no chão do túmulo, indicando que ali alguém havia sido enterrado. São raros os objectos encontrados neste túmulo e os elementos decorativos também se perderam. Porém, alguns frescos que chegaram aos nossos dias são inspirados na mitologia. O principal representa o rapto de Perséfone, por Plutão. Daí o nome dado a este túmulo. Pensa-se que o autor da obra tenha sido o grande pintor da época, Nicómaco.

Cabeça de Alexandre em marfim

A sul de Mégali Tumba encontraram-se as fundações de um monumento (Heroon) destinado ao culto dos reis defuntos, de que se conservam alguns elementos de mármore. A sua parte norte é contígua ao túmulo que se encontra ao lado e que foi provavelmente destruída aquando da pilhagem desse túmulo, antes de ter sido erigido o grande túmulo. Em Mégali Tumba foram encontradas muitas estelas funerárias da segunda metade do século IV AC ao começo do século III AC.

Urna funerária e coroa do túmulo de Filipe II

O interior do monte que abriga os túmulos reais foi também arranjado como Museu, para acolher as riquezas encontradas nas escavações: jóias, armas, equipamentos de guerra, vasos, cofres, etc.

Escudo de ouro e marfim de Filipe II

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Infelizmente, e como verifiquei ser um hábito na Macedónia grega, não existe, na Recepção do Complexo, um catálogo dos Túmulos Reais. Quis a sorte que encontrasse numa loja de recordações e comida frente à entrada das ruínas uma pequena, e medíocre, brochura, cujas ilustrações servem todavia para documentar este post, pois no interior de Megali Tumba é absolutamente proibido fazer fotografias. É mesmo proibido falar, salvo em surdina, pois logo se é repreendido pelos funcionários de serviço. Lembrei-me imediatamente da minha primeira visita à Sala das Múmias dos Faraós do Museu Egípcio do Cairo (da Praça At-Tahrir, agora em mudança para o Grande Museu Egípcio de Gizeh). Nessa ocasião, e havia famílias a visitar a Sala, os guardas impunham silêncio absoluto aos presentes em sinal de respeito pelos faraós mortos, cujas ossadas se encontravam mumificadas em caixões de vidro. Deve dizer-se que esta sala permaneceu encerrada ao público durante o tempo em que foi presidente da República egípcia o marechal Anwar as-Sadat, um antigo Irmão Muçulmano que mais tarde mandou prender os seus antigos correligionários e acabou morto por um deles durante uma parada militar.

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Na cidade de Salónica consegui adquirir o opúsculo abaixo, especialmente dedicado ao teatro de Vergina, mas contendo também informação sobre o Complexo local. 


Vista aérea do teatro de Vergina no final das escavações




Dionisos com uma Ménade e Pan tocando flauta (relevo de ouro e marfim encontrado no túmulo do Príncipe)

Enócoa de prata encontrada no túmulo de Filipe II

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O teatro de Vergina, exumado em 1982, foi o palco (na plenitude do termo) do assassinato do rei Filipe II, no decorrer das cerimónias do casamento de sua filha Cleópatra com o rei Alexandre do Epiro, irmão de Olímpia. A conspiração contra Filipe foi uma acção dramática de grande envergadura política, pois tinham sido convidados para o casamento representantes de todas as cidades gregas, os nobres e os dignitários da corte real. Estavam também presentes o seu filho Alexandre e a mãe deste, Olímpia, que escolhera um exílio voluntário. Depois da abertura da brilhante cerimónia, em presença do sacerdote e das estátuas dos doze deuses do Olimpo, Filipe caiu morto sob os golpes de Pausânias, um dignitário da corte da Macedónia. Na confusão que se seguiu, Pausânias tentou fugir mas acabou por ser preso e executado no local. Imediatamente Alexandre foi proclamado rei da Macedónia, tendo começado os preparativos para o imponente funeral do rei defunto, a curta distância do local  onde este fora assassinado.

O assassinato de Filipe é descrito por vários historiadores, entre os quais Diodoro da Sicília (90-30 AC), conforme "Book XVI 91.3 - 92.3 e 93.9 - 94.4 - Tradução inglesa de C. Bradford Welles, Cambridge, 1970)".


Parece que a razão do assassinato terá sido a seguinte: Pausânias mantinha uma relação sexual com um jovem pajem do rei a quem insultou depois da relação ter acabado. O jovem ficou muito chocado e manifestou a Átalo (outro dignitário) a intenção de cometer suicídio, o que veio a fazer na batalha de Plêurias (337 AC). Para vingar o rapaz, Átalo convidou Pausânias para um jantar em que o embebedou, fazendo depois com que ele fosse violado por vários homens. Pausânias queixou-se a Filipe, que lhe deu uma promoção e presentes mas não tomou partido contra Átalo, como aquele desejava. Então, Pausânias decidiu assassiná-lo. Os pormenores podem não ser exactamente os aqui mencionados, mas o essencial está correcto, conforme o confirmou Aristóteles, que se encontrava então na corte macedónica.



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O EXÍLIO DE SALIM BACHI



O escritor argelino Salim Bachi, a residir em França, publicou recentemente L'exil d'Ovide, obra de que tive conhecimento através de uma recensão crítica. Como lera na minha juventude um livro que me marcou profundamente, Deus nasceu no exílio, do escritor romeno Vintila Horia (1915-1992), que obteve o Prémio Goncourt em 1960 (numa época em que este prémio ainda tinha algum significado) e que tratava exactamente do exílio do poeta romano, decidi encomendar a obra.


Devo confessar que ao lê-la, experimentei uma certa desilusão. É que Salim Bachi utiliza o exílio de Ovídio como pretexto para nos testemunhar quanto ele se sente também exilado, em França, país que o acolheu quando saído da sua terra natal, e na Argélia, das vezes que lá regressa e onde se considera um estrangeiro. Não viria grande mal ao mundo se o livro tivesse a profundidade da obra de Vintila Horia. Mas não tem.

O autor expressa o sentimento doloroso do exílio experimentado por Ovídio quando, por ordem de Augusto, foi desterrado para Tomis (a actual Constança, na Roménia), nas margens do Mar Negro, em 8 EC. Não são verdadeiramente conhecidas as razões do banimento, mas suspeita-se que estejam relacionadas com uma possível ligação do poeta a Júlia, a filha do imperador, ou a alguns dos textos do autor de Metamorfoses que Augusto considerasse imorais, num tempo em que este pretendia restabelecer as virtudes familiares e impor uma restrição à liberdade dos costumes em Roma.

É certo que Ovídio foi autorizado a levar para Tomis os seus bens e os seus escravos, e manteve no exílio uma confortável existência material, mas deixarar em Roma a mulher e os amigos e passou os restantes dez anos da sua vida, em que escreveu os Tristes e os Pônticos, quiçá amargurado pela solidão e pelo afastamento da pátria. E, morrendo depois de Augusto, nem mesmo o seu corpo, segundo determinação imperial, pôde regressar a Roma para ser inumado.

Esclarece-nos Bachi que para a austeridade moral de Augusto, e isso ajuda-nos a compreender a desgraça de Ovídio, pudesse ter contribuído uma progressiva dissolução dos costumes de que é um exemplo o grande escândalo que abalou Roma em 61 AC, por ocasião da festa da "Bona Dea". Esta festa, exclusivamente reservada a mulheres, era um pretexto para práticas sáficas que a cidade não ignorava mas a que fechava os olhos, enquanto não dessem motivo a especiais reparos.

Aconteceu que na festa então dada em casa de Júlio César por sua mulher Pompeia, Publius Clodius, suposto amante desta, resolveu travestir-se de tocadora de lira para a encontrar. Como ainda era imberbe, pensou enganar as convivas mas a voz acabou por traí-lo e foi desmascarado. Cícero comentou amplamente o caso e Júlio César entendeu repudiar Pompeia, pois a mulher de César deveria estar acima de qualquer suspeita, uma máxima que passou à posteridade.

À boleia do exílio de Ovídio, e do seu próprio, Salim Bachi evoca depois outros escritores exilados: James Joyce, Stefan Zweig, Thomas Mann, Fernando Pessoa, Hermann Broch (que escreveu A Morte de Virgílio, esse outro famoso poeta romano), Alfred Döblin. A propósito das viagens dos exilados, Bachi cita Sciascia (aliás é pródigo em citações): «J'étais parti sans rien comme le préconisait Sciascia, l'écrivain sicilian que plus personne ne lit à présent: "Voyager juste, c'est ne connaître personne dans les lieux où l'on va, ou fort peu de gens; n'avoir ni lettre de recommandation  à remettre ni rendez-vous auxquels se rendre; n'avoir d'engagements qu'avec soi, pour voir sans hâte les choses - d'une région, d'une ville - que nous avons désiré voir et qui d'ordinaire ne sont pas légion. Je parle aussi pour moi."» Salim Bachi não refere donde retirou a citação mas afirma, e isso não é verdade, que hoje já ninguém lê Leonardo Sciascia.

De Joyce, realça que o escritor deixou Dublin em 9 de Outubro de 1904, para não mais regressar, salvo episodicamente. E assinala que Joyce detestava a Itália, e que encontrou uma pátria provisória em Trieste, antes de viver em Paris, e finalmente em Zurich, onde morreu. Mas que, ao contrário de Ovídio, não abandonou tudo ao deixar a pátria, pois pôde levar consigo Nora, a sua companheira.

Pelo meio da narrativa, Bachi vai aludindo à Villa Médicis, de Roma, onde esteve como pensionista. E aproveita para dizer mal da Piazza di Spagna e da Piazza Navona. Mas parece que gostou da Piazza della Rotonda, da fonte de Giacomo Della Porta e do Panteão. Para evitar os colegas da Villa Médicis, vai almoçar na Via del Babuino, ou na Piazza del Popolo (e não Populo, mas Bachi engana-se muitas vezes na ortografia). 

Sobre Pessoa, Bachi, que conhece Lisboa, fala de Vasco da Gama e do seu piloto Ahmed Ibn Majid, sem o qual o navegador não teria chegado à Índia. Perde-se no dédalo das ruas e tenta reconstituir o trajecto de Pessoa entre a Rua Coelho da Rocha (e não Coehlo!!!) e os cafés Martinho da Arcada e A Brasileira. Do 3º andar que alugou na Calçada do Garcia ("à deux pas de la place Dom Pedro V", o que é mentira, a calçada é bem longe da praça), Bachi compara Pessoa a Cavafy, e aqui está certo, eu mesmo já referi em público e em privado essa extraordinária semelhança. E no grande café da Praça do Comércio, evoca com os empregados a figura de Pessoa, que aqueles já esqueceram, e a de Saramago, essa bem presente, (como se Saramago, que conheci e com quem privei alguns anos, fosse um frequentador de cafés!!!). Salim Bachi deveria melhor documentar-se antes de escrever disparates. Também não se afigura que Pessoa, embora tenha passado a infância na África do Sul, se possa considerar um exilado em Lisboa. O autor de Mensagem será um exilado, mas um exilado do Mundo. E nem as referências a Bréchon e a Tabucchi conseguem confirmar a sua tese. Nem mesmo o rápido mergulho no Livro do Desassossego.

No que a Thomas Mann respeita, Bachi não sabe se o exílio lhe foi feliz, mas entende que foi fecundo, por lhe ter permitido escrever o Doutor Fausto. Considera também célebre o irmão, Heinrich Mann, mas opina que o filho, Klaus, foi um escritor menor, devorado pelo álcool, ainda que ignore a sua homossexualidade. Como também, relativamente a Thomas, além do romance já mencionado, cita A Montanha Mágica e Os Buddenbrooks (e não Buddenbroks!!!), mas omite A Morte em Veneza, o que suscita a questão do autor ter algum problema mal resolvido em relação à homossexualidade. De resto, ignora também Erika Mann, a irmã de Klaus!

Sobre Stefan Zweig, acha que Thomas Mann o considerava um autor de segunda ordem, do qual até teria inveja, atendendo ao espantoso e súbito sucesso dos seus livros, obras breves, como Vinte e quatro horas na vida de uma mulher ou A Confusão de sentimentos. Recorda, e ainda bem, O Mundo de Ontem, seu verdadeiro testamento literário e uma evocação da Mitteleuropa. Zweig, esse austríaco que a ascensão de Hitler ao poder o levaria a deixar Viena, correu mundo e acabaria por fixar-se no Brasil, onde se suicidou.

Não sei a que propósito figura García Lorca nesta galeria de exilados, a não ser porque Salim Bachi passou algum tempo na Andaluzia. Mas Lorca, que viajou, inclusive aos Estados Unidos, nunca se considerou um exilado. Nasceu e morreu em Espanha, que era para si não um lugar estrangeiro ou de adopção mas a sua verdadeira pátria. É claro que a referência a Lorca permite a Bachi lembrar o passado mourisco de Espanha, discorrer sobre Córdova e Granada, desfeitear os Reis Católicos e Carlos Quinto.

Como escrevi acima, Salim Bachi sente-se exilado em França e na Argélia, é feliz em Espanha, em Portugal, em Marrocos ou na Grécia, mas esse equilíbrio precário, incessantemente ameaçado, é destruído quando regressa a Paris.

Não conheço os outros livros de Salim Bachi, mas fico com a impressão de que o presente livro, mais do que uma obra literária é um desabafo do autor, que convocou para o efeito, a pretexto de Ovídio, alguns dos grandes exilados da literatura universal.


domingo, 3 de fevereiro de 2019

SALÓNICA X - O SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE PELLA



A cidade de Pella foi a capital do antigo reino da Macedónia, depois da sua transferência de Aigai (localizada junto à actual cidade de Vergina) pelo rei Arquelau, cerca de 400 AC., e aí nasceu Alexandre Magno. A cidade foi alargada por Filipe II (pai de Alexandre) e atingiu o seu esplendor no tempo de Cassandro e de Antígono II Gónatas.


Desde o século IV AC, Pella estava organizada em espaços ortogonais, segundo o sistema hipodâmico. A Agora, um largo quadrado de vastas dimensões, era o ponto de referência por excelência da cidade. Estava rodeada por quatro alas de galerias abertas sobre o espaço central. Estas alas (pórticos) albergavam lojas, oficinas e serviços públicos. Nas galerias leste, sul e oeste funcionavam oficinas de cerâmica e de metalurgia e lojas de venda de produtos (grão, carne, vinhos, perfumes etc.). Alguns estabelecimentos dispunham mesmo de caves. Os serviços públicos encontravam-sr nas galerias norte, onde se identificaram uma sala de reuniões dos magistrados e uma estrutura em arcadas destinada ao culto. No ângulo sudoeste da Agora estavam situados os Arquivos Públicos.


Ao sul da Agora encontravam-se duas das mais ricas residências da cidade: a Casa de Dionisos e a Casa do Rapto de Helena, ocupando cada uma a superfície de um bloco residencial. O chão das salas de simpósio estavam decorados com magníficos mosaicos, feitos de pedras naturais, e por vezes inspirados por grandes obras de pintura. Os mosaicos da primeira casa foram, como se escreveu em post anterior, transferidos para o Museu Arqueológico de Pella.  Os da segunda casa encontram-se no local onde foram descobertos. Outras duas residências da dimensão das anteriores, e situadas mais a sul, são a Casa dos Estuques e a Casa de Poseidon. Da primeira foi retirada uma parede revestida de estuque colorido e da segunda uma estátua de Poseidon, estando ambas as peças igualmente no Museu de Pella.



Além destes locais nas imediações da Agora, encontraram-se mais a sul oficinas de cerâmica, fornos para cozer os artigos de barro, bacias para limpeza da argila, etc. A norte deste bloco ficavam os Banhos Públicos, os mais antigos banhos conhecidos da época helenística. Este sítio conheceu três fases de construção, e foi ininterruptamente usado do século IV ao século I AC.


Dois dos mais antigos santuários públicos da antiga Pella encontram-se no perímetro do plano da cidade e abertos ao público: o santuário da Mãe dos Deuses e de Afrodite (as padroeiras da cidade), a norte da Agora, e o santuário de Darron (referido por Hesíquio), uma divindade local conhecida pelas suas propriedades de curandeiro, a sudoeste. Algumas partes do chão deste santuário estavam decoradas com mosaicos expostos no Museu de Pella. No nordeste da cidade foi investigado outro santuário, o Thesmophorion (do nome de um antigo festival religioso em honra da deusa Deméter e de sua filha Perséfone, divindades ligadas à agricultura e à fertilidade), uma área circular ao ar livre destinada a esse culto.


A cidade da época helenística era o prolongamento da cidade clássica, uma grande cidade à beira-mar, dotada de um porto muito movimentado. Os limites da cidade de Filipe II e de Alexandre são indicados pelos vestígios da parte norte das muralhas da época clássica, sendo visíveis numa das ruas centrais da cidade helenística.


A presença acentuada de de artigos de cerâmica provenientes da Ática confirma as estreitas relações com Atenas na primeira metade do século IV AC. Igualmente se nota a influência da Ática em outros domínios, como na escultura, campo em que a influência ática se sucedeu à das ilhas da costa da Jónia. Na segunda metade do século IV AC, o incremento das oficinas de cerâmica, terracota, metalurgia e mosaicos para o solo determinou uma produção que floresceu continuamente até a cidade ter sido abandonada devido a um violento sismo nos começos do século I AC. A transferência das autoridades administrativas para a província romana vizinha não impediu que continuasse parcialmente habitada, pelo menos na parte sul, onde foram descobertas residências do período romano Séculos I a IV EC.


A cidade antiga ocupava uma área de cerca de 400 hectares e possuía um traçado rectangular, com os edifícios dispostos em blocos de dimensões semelhantes, separados por ruas com 6 a 9 m de largura. Foi a cidade mais desenvolvida do mundo grego. O seu comprimento norte/sul era de 2,5 km e leste/oeste de 1,5 km. As ruas principais estavam pavimentadas e rodeadas por passeios e colunatas e possuíam drenagem de águas. Túneis escavados nas rochas transportavam a água das montanhas para as fontes, cisternas e edifícios públicos e privados e muitas residências tinham instalações para banhos. A superfície das residências mais pequenas oscilava entre os 150 e os 200 m2 e das maiores entre 2.500 e 3.000 m2, com um peristilo central decorado com elementos arquitectónicos jónicos e dóricos, salas de banquete com o chão revestido de mosaicos, paredes pintadas no estilo mais tarde adoptado pelas cidades italianas (Pompeia é um exemplo), santuários domésticos, apartamentos privados, etc.


O palácio de Pella ocupava uma área de 60.000 m2 e compreendia cinco edifícios com vastos peristilos, salas de recepção, salas de reunião, espaços dedicados ao culto, armazéns e instalações de banhos incorporadas numa vasta "palestra". A Agora, acima referida, vasto centro comercial e administrativo, ocupava uma superfície de 70.000 m2, e era atravessada no sentido leste/oeste por uma rua de 15 m de largura, a maior da cidade.


Também foram encontradas várias oficinas em outras zonas da cidade exteriores ao complexo da Agora, o que confirma a continuação das indústrias de produção mesmo depois da conquista romana em 168 AC. e pelo menos até ao terramoto já mencionado.





Nos cemitérios de Pella encontram-se todos os tipos de arquitectura funerária, túmulos talhados na rocha, túmulos subterrâneos, túmulos cobertos por telhas, etc., e os artigos neles encontrados fornecem preciosas indicações sobre a estrutura da sociedade local, a economia, a vida privada, o custo das sepulturas e sobre as preocupações relativas ao pós-vida ou à vida pós-morte.












Além de dois modestos desdobráveis, não existe catálogo do Sítio Arqueológico de Pella.



O MÉDIO-ORIENTE E O CAOS




Foi publicado no fim do ano passado um novo livro do eminente arabista e islamólogo francês Gilles Kepel, com o título Sortir du Caos - Les Crises en Méditerrnée et au Moyen-Orient. Deve-se a Kepel uma vasta obra sobre o Mundo Árabe e o Islão, e não será exagero considerá-lo como um dos maiores especialistas contemporâneos na matéria.

É famosa a divergência que tem mantido, desde há tempos, com o seu colega Olivier Roy, também ele um profundo conhecedor da mesma área do saber. Para Kepel, a violência djihadista é a "radicalização do islão", enquanto que para Roy é a "islamização do radicalismo". Diríamos a este respeito que ambos tem uma quota-parte de razão, que o mundo não é a preto e branco, que as tendências se interpenetram e que a complexidade da nossa época acaba por impedir se determine exactamente o que é a causa e o que é o efeito.

Neste novo livro, grosso de 500 páginas e escrito em Julho de 2018, Kepel divide o texto em três partes: 1) Le baril et le Coran; 2) Des "Printemps arabes" au "Califat" jihadiste"; 3) Après Daesh: désagrégation et recompositions.

Na primeira parte o autor analisa «A islamização da ordem política (1973-1979)», "A irrupção da jihad internacional: contra "o inimigo próximo" (1980-1997)», «A segunda fase jihadista: Al-Qaïda contra "o inimigo distante" (1998-2005)» e «A terceira geração djihadista: redes e territórios (2005-2017)».

Na segunda parte são tratadas «As insurreições do primeiro tipo: da queda dos déspotas à transformação das sociedades» e «As insurreições do segundo tipo: fissura entre xiismo e sunnismo e colapso das rebeliões».

Na terceira parte é desenvolvida «A fractura do "bloco sunnita"» e «O desafio planetário da batalha do Levante».

Em Conclusão da obra, Gilles Kepel expõe «Failles du Moyen-Orient et tectonique mondiale».

O livro inclui uma preciosa cronologia, resumida, desde a Hégira (622) à publicação de L'or de Paris (1836), pelo sheikh Rifaat al-Tahtawi, e largamente desenvolvida, desde a assinatura dos Acordos Sykes-Picot (1916) ao encontro de Helsínquia entre Donald Trump e Vladimir Putin (2018). E um não menos precioso índice onomástico.

Após algumas generalidades introdutórias, Gilles Kepel procede a uma descrição pormenorizada, e culta, da evolução da situação no Médio Oriente, desde o fim dos nacionalismos árabes (de que Nasser e Bourguiba foram os grandes protagonistas) até às convulsões dos nossos dias.

O Médio Oriente tem sido, ao longo dos séculos, uma das regiões mais perturbadas do globo. Talvez não por acaso, foi no seu epicentro que nasceram as três religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islão, que haveriam de provocar, directamente ou através dos seus ramos, as mais sangrentas guerras da História. Aí coexistem hoje árabes, turcos, persas, curdos, judeus. Com o predomínio esmagador do islão, dividido entre sunnitas, xiitas e subdivisões: alauítas, ismaelitas, ibaditas, zayditas. E também cristãos católicos, protestantes, ortodoxos, maronitas, arménios, coptas. E ainda os drusos, os yezidis e os zoroastrianos.

A exposição do autor é clara, geralmente objectiva, por vezes um pouco repetitiva, mas com a intenção, em tão longa descrição, de relembrar os factos. Como bom arabista, procede à indicação de muitos termos em árabe, o que facilita a intelecção do leitor.

Um dos pontos mais aprofundados é a criação do "Estado Islâmico" ou Daesh, ISIS, ISIL, ou como se quiser chamar, com a capital em Raqqa, que funcionou, espantosamente, de 2014 a 2017, com a inicial complacência, ou conivência, ou estupidez, do Mundo Ocidental. O conflito do Levante, pela sua extensão universal, constitui para o autor (p. 279) uma espécie de guerra mundial pós-moderna.

A situação na Síria, consequência da invasão do Iraque, das "primaveras árabes", e de outros factores acessórios, onde o conflito começou em Deraa, em 18 de Março de 2011, levou à quase destruição do país, provocou milhões de mortos, feridos, estropiados, deslocados, emigrantes, pôs em grave perigo o regime de Bashar Al-Assad (que subsistiu à contestação em que Ben Ali e Mubarak foram afastados e Qaddafi foi assassinado; Saddam Hussein já havia sido enforcado) e determinou uma vaga migratória inédita para os países da Europa. O papel da Rússia foi fundamental no combate ao Daesh e Raqqa caiu em 17 de Outubro de 2017. Agora, as cartas estão sobre a mesa, para uma nova distribuição das zonas de influência de russos, turcos e iranianos no Médio Oriente. O Ocidente, que, em diversas fases, se envolveu na contenda, saiu desprestigiado e derrotado.

Também a Arábia Saudita teve de rever a sua política de alianças, bem como os Emirados Árabes Unidos, o Egipto e o Qatar. E também a Turquia. No Iraque, as duas principais tendências do partido Da'wa, relativas às linhagens principais dos ayatollahs iraquianos, os Sadr e os Hakim, disputam o poder. Moqtada Al-Sadr, que entretanto renunciou à violência, visitou em 2017 os príncipes herdeiros saudita e emirati, Mohammed Bin Salman e Mohammed Bin Zayed, e aliou-se mesmo ao Partido Comunista Iraquiano na sua lista para as eleições de Maio de 2018, Sa'iroun, que significa "En Marche" (p. 373), e cujo nome, longe vá o agouro, lembra Emmanuel Macron.

O leitor interessado encontrará nesta obra os dados para a compreensão do caos que se instalou na região depois da famigerada intervenção no Iraque, em 2003, protagonizada pelo americano George W. Bush e pelo britânico Tony Blair. Não terá necessidade de consultar, dia após dia, os jornais da época. E este é um dos méritos da obra, a que acresce o conhecimento e a visão que o autor possui desde há muitos anos da política no Médio Oriente.

Na impossibilidade de resumir o livro, não desejo terminar o texto sem anotar um pormenor chocante. Na sua viagem a Moscovo, a primeira deslocação à Rússia de um soberano saudita, em 5 de Outubro de 2017, o rei Salman Ben Abdelaziz Al-Saud desceu do seu avião particular por uma escada em ouro!!! (p. 425).