domingo, 29 de junho de 2014

RAMADAN



Começa hoje o mês islâmico do Ramadan, mês de jejum (sawm) diário e de oração (salat) que terminará com a celebração de 'Id Al-Fitr, que ocorrerá no primeiro dia do mês seguinte, Shawwal. A festa 'Id Al-Fitr é designada muitas vezes como 'Id Al-Saghir (a pequena festa) por oposição à outra festa dos muçulmanos , 'Id Al-Adha, a grande festa ('Id Al-Kabir), comemorada no décimo dia do mês de Dhu al-Hijjah, o último mês do calendário islâmico.

No 26º dia do mês de Ramadan (ou num dos dez últimos dias do mês) celebra-se a Noite do Poder ou do Destino (Laylat Al-Qadr), comemorando o aniversário da revelação do Corão ao profeta Muhammad (s.a.w.) pelo anjo Gabriel (Jibril), no ano de 610.

Saúdo todos os meus amigos muçulmanos e lamento profundamente as actuais confrontações entre muçulmanos que se verificam pelo mundo, nomeadamente na Síria e no Iraque, motivadas por questões só aparentemente religiosas, mas cuja verdadeira razão é de natureza política.

sábado, 28 de junho de 2014

SARAJEVO - CEM ANOS DEPOIS



Completam-se hoje cem anos sobre o assassinato do arquiduque Francisco Fernando de Habsburg, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e de sua mulher, Sofia, na cidade de Sarajevo, junto à Ponte Latina. Um acontecimento que desencadeou a Primeira Guerra Mundial e provocou milhões de mortos

Entre 1992 e 1995, durante a Guerra da Bósnia, a que o Ocidente não foi alheio, a cidade foi cercada e destruída pelos sérvios bósnios, num conflito de que resultaram milhares de vítimas.

Hoje, no edifício reconstruído da célebre Biblioteca Nacional (Vijecnica), a Orquestra Filarmónica de Viena realizou um concerto, promovido pela União Europeia (cujos dirigentes se abstiveram de comparecer), que terminou com a Ode à Alegria, de Beethoven. Assistiram os presidentes da Áustria, da Bósnia e Herzegovina, da Macedónia e do Montenegro, mas os sérvios primaram pela ausência, promovendo, em Visegrad,  comemorações paralelas de homenagem a Gavrilo Princip, o jovem que assassinou o casal e que consideram um herói da luta pela liberdade.

Como sempre, os dois lados da História.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

MARIA DE FÁTIMA BONIFÁCIO OU OS INFORTÚNIOS DA VIRTUDE




Transcreve-se, e comenta-se, o texto de Maria de Fátima Bonifácio (MFB) no PÚBLICO:


Um simples relance pelas últimas votações do Tribunal Constitucional mostra, como já tem sido sublinhado, que as divisões de opinião entre os magistrados que se sentam nesse augusto órgão de soberania não obedecem a puras divisões partidárias.

Isto sugere uma saudável independência dos eleitos em relação aos partidos que lhes concederam os sufrágios necessários para que lá chegassem, em particular no que se refere aos magistrados indicados pela Direita. Verifica-se, com efeito, uma indisfarçável consonância entre os pronunciamentos do Tribunal e a opinião geral da Esquerda, respaldada, neste particular, pela opinião do homem comum, compreensivelmente empenhado em defender o seu rendimento, venha o dinheiro lá de onde vier.

Esta indiferença pela existência ou não existência de dinheiro, questão que se reputa subalterna perante a preeminência indiscutível dos "Direitos Adquiridos" – ou simplesmente "Direitos" – ; indiferença que deixa perplexo o cidadão minimamente permeável à realidade, ocupa um lugar cada vez mais saliente no discurso da Esquerda, incluindo a do arco da governação, e conduziria, levada às suas últimas consequências lógicas, à recusa de pagar a dívida, que tantos lunáticos e até alguma boa gente reclamam.

Existe, pois, em Portugal um amplo e fundo consenso quanto à prevalência dos nossos direitos sobre os nossos deveres e os nossos meios, um pequeno problema que no entender de alguns se resolverá facilmente fazendo voz grossa na Europa. Nem a deplorável experiência do sr. Hollande levou os socialistas portugueses a compreender que as relações entre Estados se regem pela força dos interesses, e não por solidariedades afectivas ou sequer ideológicas. A parte mais substancial do "programa" de Antonio Costa para reerguer o país depende inteiramente da benevolência europeia, o que só pode inspirar a mais funda preocupação.

O Tribunal Constitucional, ao chumbar reiteradamente (ainda que com uma ou outra incoerência) medidas aprovadas pelo governo e julgadas contrárias à Lei Fundamental, beneficia pois de um larga audiência no país, na exacta medida em que o governo incorre na fúria da Esquerda e até em boa parte da opinião partidariamente desalinhada. Não será demasiado grosseiro dizer-se que os portugueses, de um modo geral, se revêem no Tribunal Constitucional. Mas não maioritariamente por escrúpulo jurídico, antes pelo prosaico e palpável motivo de que o Tribunal constitui uma peça integrante do regime, que até por mera intuição toda a gente percebe que protege as dimensões mais conservadoras da nossa Constituição. O tribunal, ao zelar – e bem – pelo cumprimento da Lei Fundamental, zela, do mesmo passo, pela conservação de toda a "tralha" socialista que nela se contém e que, como escreveu Henrique Raposo, impede a Direita de governar, como tem demonstrado a experiência em curso.

Não obstante, mau grado todos os inconvenientes resultantes dos sucessivos chumbos do TC, a verdade é que o Tribunal não se pode eximir a desempenhar as funções para que foi criado, e ao governo não resta outra solução que não seja, mesmo com muita azia, cumprir pronta e rigorosamente os acórdãos que quase sempre mais não fazem do que condenar medidas que em muitos casos se sabia antecipadamente serem inconstitucionais. A Lei é para respeitar, por dura ou incómoda que seja. Senão, quem amanhã vai punir o assaltante da minha casa?

De nada servindo protestar contra o Constitucional, parece que apenas restar a solução de reformular as suas competências - no âmbito de uma revisão constitucional que produza um texto em que a generalidade dos portugueses se possa finalmente rever e com que todas as forças políticas possam governar.

Seria óptimo mas não é possível. O PS está e estará proibido, pelas suas várias facções esquerdistas, de se entender com o Centro-Direita para beliscar uma Constituição que santifica o Socialismo como o Destino Superior de Portugal. O PS quer a todo o custo preservar o chamado Modelo Social Europeu introduzido a partir de 1976, quando, passados mais de 30 anos, o mundo está irreconhecível, esse mesmo modelo sofre em diversos países reformas que o vão desfigurando, e as populações da maior parte do planeta estão já engalfinhadas numa competição global sem tréguas, incompatível com as disposições que regulavam um mundo relativamente pacato e previsível.

Enquanto o PS se mantiver amarrado ao seu pólo radical, bloqueará toda a reforma constitucional que possa abrir caminho a uma governação mais consentânea com as exigências – e oportunidades – do mundo contemporâneo. A situação portuguesa está completamente bloqueada. Que fazer? Nada. Continuar a empobrecer enquanto esperamos resignadamente que a Europa se condoa... ou que os partidos se desagreguem e o regime chegue ao fim. Veremos o que então sobra de Portugal.


Este texto de MFB, que ela pretende virtuoso, encontra-se ferido de várias falácias. A partir dos meus  sublinhados, comento:

1) Ao contrário do que afirma a autora, parece que a Esquerda, ou, pelo menos, a maior parte dela, não se recusa a pagar a dívida, mas pretende apenas reestruturá-la. Deveria saber MFB que a dívida portuguesa, nas circunstâncias actuais (Pacto de Estabilidade e Convergência e Tratado Orçamental), é impagável. Ainda não houve quem demonstrasse o contrário;

2) É evidente que as relações entre Estados se regem por interesses. Só que a União Europeia se pretende (ou pretendeu) um Estado, constituído por diversas parcelas que deveriam ser solidárias. Era a ideia dos Estados Unidos da Europa, como são os Estados Unidos da América, ou do Brasil. Aquilo a que se assiste agora é à colonização de vários países pela Alemanha;

3) Não sei quem é Henrique Raposo, nem onde ele se louvou para afirmar que a "tralha" socialista impede a Direita de governar. Desde há três anos que a Direita vem pautando a sua governação pela ignorância dos direitos dos portugueses, ou dos Direitos Adquiridos, só não indo mais além pelo travão do Tribunal Constitucional, cujas decisões MFB considera deixarem perplexos os cidadãos minimamente permeáveis à realidade;

4) A revisão constitucional que MFB deseja, para que a generalidade dos portugueses se possa rever no texto, é certamente aquela que consagre a destruição do Estado Social;

5) Não serão as facções esquerdistas do PS que impedem que ele se entenda com o Centro-Direita. Penso que até já se entendeu demasiado. O que MFB não pode pretender é que o PS, deixe de ser um partido minimamente socialista, com um projecto que justifique o seu nome, e se transforme em mais um partido da Direita, o que lhe retiraria, obviamente, o direito à existência;

6) É verdade que o Modelo Social Europeu, de algum modo consagrado na nossa Constituição, já sofreu reveses em alguns países, embora não tão profundamente como em Portugal. Tal não se deve, como se apregoa, à sua insustentabilidade mas à desregulação do sistema financeiro internacional, protagonizada por Thatcher e Reagan, e porque se afigurou desnecessário ao mundo capitalista cultivar esse modelo social susceptível de seduzir os povos do Leste, numa altura em que a União Soviética desapareceu do mapa. Já não há ninguém para convencer, ao que parece, embora não tenhamos ainda chegado ao Fim da História;

7) A competição global sem tréguas que MFB refere, e contra a qual não parece insurgir-se, só poderá conduzir a uma guerra mundial. Veremos, então, o que sobra de Portugal.  


Afortunadamente, verifica-se, portanto, uma relação difícil entre as conclusões de MFB e a verdade dos factos. QED!


quarta-feira, 25 de junho de 2014

AS FALSAS REVOLTAS




Segundo Mustafa Abdul Jalil, presidente do Conselho Nacional de Transição em Benghazi, em 2011, Muammar Qaddafi nunca ordenou os fuzilamentos que estiveram na origem da falsa revolução na Líbia e da intervenção da NATO.

Transcreve-se a notícia:

«Les , ( et la Grande-Bretagne, ndt) et l’ ont mis fin à la laïcité en et ont porté des extrémistes islamistes au pouvoir, qui ont commis de nombreux crimes, y compris massacrer des milliers de Libyens noirs immédiatement après la destruction du régime de Kadhafi.

Mustafa Abdul Jalil, président du Conseil national de transition à en 2011, admet : Kadhafi n’a pas ordonné la fusillade qui a été à l’origine de la fausse révolution en Libye. Maintenant, après la destruction de la Libye, Jalil avoue au monde sur Channel One que les manifestants qui ont été tués à qui ont été le prétexte fourni à l’ONU et à l’OTAN pour attaquer la Libye ont été tués par un groupe d’espions et de mercenaires qui n’étaient pas de Libye. Il admet qu’il savait la vérité à l’époque mais cela a été fait pour abattre le gouvernement libyen et briser l’Etat. Il admet qu’il a été informé à l’avance que cela allait se produire et que les gens de la Libye n’ont pas reconnu les manifestants morts parce qu’ils portaient des vêtements civils et qu’il n’y a eu personne qui est venu à leurs funérailles comme ils n’avaient pas de parents ou d’amis en Libye.

Comme nous l’avons dit depuis Février 2011, la soit-disant révolution en Libye était sous fausse bannière. Le peuple libyen pour la grande majorité était heureux et vivait en sécurité. Les groupes extrémistes islamiques étaient illégaux en Libye. Maintenant la Libye est contrôlée par des groupes extrémistes islamiques (d’Al-Qaïda, le Groupe islamique combattant de la Jamahiriya (GICL), les Frères musulmans, Ansar Al Sharia et autres). Le pays est divisé, il n’y a pas de sécurité, des milliers depersonnes ont été illégalement emprisonnées et des centaines torturées à mort. Il n’ya pas de gouvernement, il n’y a plus de ventes de , plus de 2 millions de personnes sont toujours en exil, les psychopathes ont pris le pays et il est maintenant considéré comme un « Etat ​​gris » – sans frontières et sans gouvernement.»



É sabido que o espaço mediático e o ciberespaço são correntemente utilizados para promover falsas insurreições. Assim aconteceu na Roménia, com Ceausescu, na Sérvia, com Milosevic, na Ucrânia em 2004, com Yanukovitch (revolução laranja) e novamente em 2013 (praça Maidan). E também no Cairo (praça At-Tahrir) e na Síria (os gases tóxicos).

Não se pode ter, hoje, confiança na comunicação social ou na web. As notícias são habitualmente manipuladas e servem interesses alheios à verdadeira informação. Nem admira, uma vez que a independência da informação acabou. Mesmo nos países ditos democráticos, onde já não existe, oficialmente censura política, há uma censura do poder económico e financeiro que controla os jornalistas. Desengane-se quem pensar que vivemos num mundo livre, porque somos sistematicamente enganados.

terça-feira, 17 de junho de 2014

AS PROSTITUTAS E OS SOLDADOS




Agora, que o valor estimado da prostituição vai ser incluído no PIB dos países europeus, é oportuno revisitar o livro de Francisco Ignacio dos Santos Cruz, Da Prostituição na Cidade de Lisboa, publicado em 1841 e reeditado em1984, a que fiz referência no post que publiquei sobre a Preta Fernanda.

Trata-se do primeiro estudo sério sobre a prostituição feminina no nosso país, assunto abordado na literatura portuguesa do século passado em obras como A Princesa de Boivão, de Alberto Pimentel, Pérola, de Marcelino Mesquita, Severa, de Júlio Dantas, Rosa Enjeitada de D. João da Câmara ou Fado, de Bento Mântua. Também entre os autores estrangeiros a figura da prostituta foi largamente glosada, distinguindo-se o romance de Alexandre Dumas (Filho) A Dama das Camélias, que serviria de argumento à célebre ópera La Traviata, de Verdi.

O volumoso livro de Santos Cruz pretende, ao que parece, esgotar o assunto. Trata, e resumimos, da história da prostituição, das classes de prostitutas, de aspectos fisiológicos e patológicos das prostitutas, dos seus costumes e hábitos, do seu número e distribuição na cidade de Lisboa, dos lugares, famílias e idades das prostitutas, das causas da prostituição, do Virus venereo, das casas públicas de prostituição (taxas, polícia, visita sanitária, distribuição das casas pela cidade, donas das casas) e legislação antiga e moderna em Portugal e no mundo.

Pela sua curiosidade, transcrevemos da Secção Segunda (Virus venereo) da Primeira Parte, o Artigo 3º do Capítulo II (Meios influentes no incremento e propagação do Virus venereo - Exército de terra):


«É inegável que o aumento da propagação do Virus venereo está na razão directa do aumento da prostituição; e também se não pode duvidar de que o exército concorre para o incremento da prostituição. É portanto o exército uma causa influente na propagação do Virus venereo; a razão e a experiência provam suficientemente qualquer dos dois princípios enunciados. Todos os escritores sobre as enfermidades dos exércitos dizem que o maior número de moléstias que se encontram nas tropas são as venéreas, e até em número superior a todas as outras. A estatística provou a um escritor que as moléstias venéreas das prostitutas sujeitas à vigilância das autoridades administrativas eram na razão de 1:3 e que eram estas muito mais graves do que as outras. Também ele assevera que, se as leis da Natureza são sempre constantes e invariáveis, também as há na ordem social com esta constância e invariabilidade; sendo uma delas que por toda a parte onde se encontram soldados reunidos em certo número, aí se encontram prostitutas. Isto se observa em todas as nações e é o que se vê entre nós apesar de todas as leis repressivas e apesar de todos os rigores da disciplina militar.

Com efeito, os soldados são homens de ordinário bem constituídos, na flora dos seus anos, em plena liberdade, pela maior parte solteiros, e entregues a todo o fogo e violência das paixões da idade viril, etc. o que tudo produz infalivelmente o incremento da prostituição (e, portanto, o da propagação do Virus venereo, se não houver a devida fiscalização). Isto se observa nas meretrizes frequentadas pela tropa ou naquelas que acompanham a mesma tropa e que se pretendem decorar com o título de parentas ou como lavadeiras ou vivandeiras, etc. O nosso exército está hoje mui reduzido, por isso não representa aquela aluvião enorme de mulheres que se encontravam no tempo da campanha peninsular e quando todos os regimentos de infantaria de linha contavam acima de 1500 praças.
.....Os pais entregam para o serviço militar homens robustos e sadios, e pelos deboches de todos os géneros a que se entregam durante este serviço, quando voltam às suas casas, as suas famílias recebem em troca homens valetudinários e enfraquecidos pelo vírus sifilítico.....

.....................................................................................

É, pois, indispensável inspeccionar com todo o escrúpulo os soldados semanalmente, ou maior número de vezes, e logo enviá-los ao hospital quando doentes; e além dos órgãos sexuais, também o ânus e os órgãos vocais, se na voz houver qualquer alteração.

....................................................................................

E é preciso atender à idade e ao fogo violento das paixões que arrastam os homens a acções que por tais motivos merecem a nossa consideração.....»


O diagnóstico de Santos Cruz é pertinente mas não exaustivo, dado que o seu propósito se circunscrevia ao problema da contaminação venérea. Tivesse ele escrito o livro um século mais tarde, e sem preconceitos, e a abordagem seria certamente diferente.

Hoje, que já não existe exército de conscritos mas apenas tropas mercenárias, os comentários de Santos Cruz perderam actualidade. Aliás, ainda no tempo do serviço militar obrigatório, e mesmo quando ainda existiam casas de prostituição legais no nosso país, muitos soldados já satisfaziam os seus desejos utilizando esquemas alternativos, que não os obrigavam a esportular o magro soldo mas, ao contrário, lhes permitiam auferir simbólica remuneração por serviços prestados.

A propósito da extinção do serviço militar obrigatório (SMO), registe-se que tal iniciativa deveu-se à pressão desenvolvida pelas juventudes partidárias (as inenarráveis "jotas") que desde há décadas porfiam em destruir a democracia em Portugal.

Todavia, o fenómeno não é exclusivamente doméstico. Nos outros países da Europa (comunitária) verifica-se idêntica atitude, não pela intenção piedosa de evitar que os mancebos percam um ou dois anos de vida no serviço público antes de ingressarem numa profissão, mas porque tropas de recrutamento são sempre susceptíveis de derrubar regimes impopulares e ilegítimos, como se verifica actualmente no Mundo Ocidental. Com tropas mercenárias certamente não teria havido o 25 de Abril em Portugal. E a desculpa de começarem a carreira profissional mais cedo também não colhe numa Europa em que desde há anos é dificílimo encontrar emprego.

Voltando ao tema, forçoso é concluir que sempre os soldados, pelo menos os do SMO, mantiveram uma relação estreita com a prostituição. O mesmo se dirá dos marinheiros, sobre os quais Santos Cruz igualmente elabora no seu livro.

domingo, 15 de junho de 2014

UM NOVO RUMO PARA A EUROPA


Uma esclarecedora animação de ETUC-CES (European Trade Union Confederation - Confédération Européenne des Syndicats).

Para ver e meditar.



E concluir!

OS CONCORRENTES DE RONALDO


Nacer Chadli

Cristiano Ronaldo, para além de ser bom jogador de futebol, tem-se notabilizado pelas suas aparições em pelo, ou quase, nomeadamente a fazer publicidade de marcas internacionais de roupa interior.


Neymar

Assim, podemos observar as célebres fotografias em que se apresenta com slips da Armani, espalhadas um pouco por todo o mundo, como na Stazione Termini, de Roma. Já David Beckham fora, também ele, modelo da casa.


Stazione Termini - Roma

Mas CR7 que se cuide. Surgiram, mais recentemente, outros colegas, exibindo corpos não despiciendos, que começaram a dedicar-se às mesmas prestações visuais. É o caso do belga de origem marroquina Nacer Chadli (Tottenham), para Dolce & Gabbana, e do brasileiro Neymar (Barcelona), para Lupo.



Nos dias de hoje, e basta olhar para os estádios, os futebolistas são pessoas que se dedicam a várias actividades em que a generosidade do físico é indispensável, incluindo, quase diria acessoriamente (mas será talvez um exagero),  jogar futebol.

David Beckham

Sinais dos tempos.

Cristiano Ronaldo (mais novo e a cores)

sábado, 14 de junho de 2014

A MORTE SEM MESTRE




Acabou de ser publicado um novo livro de Herberto Helder: A Morte sem Mestre. Como os anteriores, esgotou-se no próprio dia, e quem não reservou um exemplar numa livraria habilitada para o efeito, terá dificuldade em encontrá-lo.

O lançamento de uma obra de Herberto Helder é sempre um acontecimento, pela qualidade da poesia a que nos habituou. E não sendo esta, em minha opinião, uma das suas produções mais conseguidas, indubitavelmente que se trata de uma notável criação poética.

O volume faz-se acompanhar de um CD que regista a voz do autor lendo cinco dos poemas.

Os versos, encerrando uma amarga ironia, constituem, como o título indica, uma singular reflexão sobre a morte.

Duas transcrições:

e eu que me esqueci de cultivar: família, inocência, delicadeza,
vou morrer como um cão deitado à fossa!


* * * * *

.........................................................................
agora parece que já ninguém nasce,
as pessoas agora querem é morrer,
e como não morrem bem porque no esplendor das obras as compensações são baixas,
procuram a morte módica,
vão todos juntos para as praias onde não há socorristas,
praias do inferno sem nenhuma salvação,
às vezes marcam-se encontros nos apogeus dessas tardes desmedidas,
e quando lá chegam já vomitam os bofes,
nestes lugares não há sombras que nos valham,
estes lugares, diz alguém, nem precisam ser simbólicos,
o poema agora por exemplo não tem simbolismo nenhum,
morro dentro dele sem força para respirar,
toda a gente a caminho das praias dominantes,
toda a gente calada com medo que a praia se tenha ido embora,
........................................................................


sexta-feira, 13 de junho de 2014

O ESTADO ISLÂMICO DO IRAQUE E DA SÍRIA




Transcrevemos do site do Council in Foreign Relations, uma notícia sobre o movimento jihadista que pretende implantar o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS):

Introduction
Islamic State in Iraq and Greater Syria (ISIS), a predominantly Sunni jihadist group, seeks to sow civil unrest in Iraq and the Levant with the aim of establishing a caliphate—a single, transnational Islamic state based on sharia. The group emerged in the ashes of the U.S.-led invasion to oust Saddam Hussein as al-Qaeda in Iraq (AQI), and the insurgency that followed provided it with fertile ground to wage a guerrilla war against coalition forces and their domestic allies.

After a U.S. counterterrorism campaign and Sunni efforts to maintain local security in what was known as the Tribal Awakening, AQI violence diminished from its peak in 2006–2007. But since the withdrawal of U.S. forces in late 2011, the group has increased attacks on mainly Shiite targets in what is seen as an attempt to reignite conflict between Iraq's Sunni minority and the Shiite-dominated government of Prime Minister Nouri al-Maliki. Burgeoning violence in 2013 left nearly eight thousand civilians dead, making it Iraq's bloodiest year since 2008, according to the United Nations

Meanwhile, in 2012 the group adopted its new moniker, ISIS (sometimes translated as Islamic State of Iraq and the Levant, or ISIL) as an expression of its broadened ambitions as its fighters have crossed into neighboring Syria to challenge both the Assad regime and secular and Islamist opposition groups there. By June 2014, the group's fighters had routed the Iraqi military in the major cities of Fallujah and Mosul and established territorial control and administrative structures on both sides of the Iraqi-Syrian border.
Origins
The insurgent group was launched by Abu Musab al-Zarqawi, an Arab of Jordanian descent, and flourished in the sectarian tensions that followed the U.S.-led invasion of Iraq in 2003. Zarqawi had commanded volunteers in Herat, Afghanistan, before fleeing to northern Iraq in 2001. There he joined with Ansar al-Islam (Partisans of Islam), a militant Kurdish separatist movement, for whom he led the group's Arab contingent. Analysts say this group, not al-Qaeda, was the precursor to AQI.

Ahead of the 2003 invasion, U.S. officials made a case before the UN Security Council linking Zarqawi's group with Osama bin Laden, though some experts say it wasn't until October 2004 that Zarqawi vowed obedience to the al-Qaeda leader. The U.S. State Department designated AQI a foreign terrorist organization that same month. "For al-Qaeda, attaching its name to Zarqawi's activities enabled it to maintain relevance even as its core forces were destroyed [in Afghanistan] or on the run," wrote Brian Fishman, a counterterrorism fellow at the New America Foundation.

According to a 2011 report by the Center for Strategic and International Studies, Zarqawi developed a four-pronged strategy [PDF] to defeat the coalition: isolate U.S. forces by targeting its allies; discourage Iraqi collaboration by targeting government infrastructure and personnel; target reconstruction efforts through high-profile attacks on civilian contractors and aid workers; and draw the U.S. military into a Sunni-Shiite civil war by targeting Shiites.

The Coalition Provisional Authority (CPA), the transitional government established by the United States and its coalition partners, made two decisions early in the U.S.-led occupation that are often cited as having fed the insurgency. The CPA's first order banned members of Saddam Hussein's Ba'ath party from government positions (so-called "de-Baathification"); its second order disbanded the Iraqi army and security services, creating hundreds of thousands of new coalition enemies, many of them armed Sunnis.
"For al-Qaeda, attaching its name to Zarqawi's activities enabled it to maintain relevance even as its core forces were destroyed [in Afghanistan] or on the run." —Brian Fishman, New America Foundation
AQI's fighters were drawn initially from Zarqawi's networks [PDF] in Pakistan and Afghanistan, and later merged with recruits from Syria, Iraq, and its neighbors. The group's makeup became predominantly Iraqi by 2006, the Washington Post reported. But while the group peaked in 2006 and 2007 at the height of Iraq's sectarian civil war—which AQI helped foment—its ranks were diminished by a counterterrorism campaign by U.S. Special Operations Forces and the U.S.-backed Sahwa, or Sunni Awakening movement.
Leadership
Osama bin Laden and Zawahiri believed AQI's indiscriminate attacks on fellow Muslims would erode public support for al-Qaeda in the region, and in July 2005 they questioned Zarqawi's strategy in written correspondence. Fishman said the relationship collapsed when Zarqawi ignored al-Qaeda instructions to stop attacking Shiite cultural sites.

A U.S. air strike that killed Zarqawi in June 2006 marked a victory for U.S. and Iraqi intelligence and a turning point for AQI. In its aftermath, Abu Ayyub al-Masri, an Egyptian-born explosives expert and former Zawahiri confidant, emerged as AQI's new leader. In October 2006, Masri adopted the alias Islamic State of Iraq (ISI) to increase the group's local appeal, which suffered just as Zawahiri had feared, and embody its territorial ambitions; it later came to be known as ISIS, reflecting its broadened ambitions as instability in neighboring Syria after the 2011 uprising there created new opportunities to exploit.

ISIS is currently led by Abu Bakr al-Baghdadi, also known as Abu Du'a. The U.S. government believes he resides in Syria.
Funding
Supporters in the region, including those based in Jordan, Syria, and Saudi Arabia, are believed to have provided the bulk of past funding. Iran has also financed AQI, crossing sectarian lines, as Tehran saw an opportunity to challenge the U.S. military presence in the region, according to the U.S. Treasury and documents confiscated in 2006 from Iranian Revolutionary Guards operatives in northern Iraq. In early 2014, Iran offered to join the United States in offering aid to the Iraqi government to counter al-Qaeda gains in Anbar province.

The bulk of ISIS's financing, experts say, comes from sources such as smuggling, extortion, and other crime. ISIS has relied in recent years on funding and manpower from internal recruits [PDF]. Even prior to ISIS's takeover of Mosul, Iraq's second-largest city, in June 2014, the group extorted taxes from businesses small and large, netting upwards of $8 million a month, according to some estimates.
Staying Power
Heavy-handed actions taken by Maliki to consolidate power in the wake of the U.S. withdrawal have alienated much of the Sunni minority, and ISIS has since exploited the "failed social contract," said former CFR press fellow Ned Parker. Maliki's Shiite-dominated government was reluctant to integrate Awakening militias into the national security forces, and critics say he has persecuted Sunni political rivals and stoked sectarian polarization for political gain.

Sunnis who felt marginalized by the Maliki government began protesting for reforms in Anbar province in December 2012, and prominent Shiite clerics such as the Grand Ayatollah Ali Sistani and Moqtada al-Sadr acknowledged the legitimacy of their grievances, Parker wrote. According to a report by the nonpartisan Congressional Research Service [PDF], there were roughly a dozen days in 2012 on which ISIS executed multi-city attacks that killed at least twenty-five Iraqis. On at least four of those days, coordinated attacks left more than a hundred Iraqis dead.

In April 2013, Iraqi security forces raided a protest camp at al-Hawijah, provoking an escalation in Sunni militancy. Car bombings and suicide attacks intensified, with coordinated attacks regularly targeting Shiite markets, cafes, and mosques. In 2013, 7,818 civilians (including police) were killed in acts of terrorism and violence, more than double the 2012 death toll, according to United Nations figures. An additional 17,891 were injured, making 2013 Iraq's bloodiest year since 2008. At the end of 2013, security forces sought to clear a protest camp in Ramadi. The move provoked an uprising in which security forces pulled out of the city as well as nearby Fallujah, and ISIS moved to fill the void.

Meanwhile, the civil war in neighboring Syria has drawn Sunni jihadists into the rebellion against the regime of Bashar al-Assad, which is dominated by the Alawite sect, an offshoot of Shiite Islam.
While al Qaeda-linked groups in Syria have fought among themselves and with the secular opposition, the Free Syrian Army signed a truce with ISIS in late September, an acknowledgment of their efficacy on the battlefield. But divisions within the Islamist opposition camp remain stark.

ISIS declared a merger with Jabhat al-Nusra, an al-Qaeda affiliate that has greater indigenous legitimacy in Syria, in April 2013. But Zawahiri, who succeeded bin Laden as head of so-called "core al-Qaeda," annulled the merger, ruling that Baghdadi's group's operations be limited to Iraq. Baghdadi rejected Zawahiri's ruling and questioned his authority, his group's pledge of fealty to al-Qaeda notwithstanding. Various rival Islamist militant groups coalesced in late 2013 as the Mujahedeen Army with the common goal of forcing ISIS to cede territory and leave Syria.

At odds with al-Qaeda's aims, ISIS has since expanded its territorial control, establishing a "de facto state in the borderlands of Syria and Iraq" that exhibits some of the traditional markers of sovereignty, note Douglas A. Ollivant and Fishman. Beyond fielding a militia, it provides limited services and administers its ultraconservative brand of justice. Much of Anbar province has remained outside the central government's authority since January 2014, and in June, ISIS wrested control of Mosul and its environs after the army, hobbled by desertions, retreated overnight. The takeovers highlighted Baghdad's weakness: In Fallujah, Maliki called on Sunni tribesmen to resist ISIS, and in Mosul, which had been considered a model for the surge and Awakening, he called on the Kurdish security forces, the Peshmerga, to do the same.

Insurgents' consolidation of territorial control is a concern for the United States, which believes such areas outside of state authority may become safe havens for those jihadis with ambitions oriented toward the "far enemy"—the West. The Obama administration has responded to the regional resurgence by increasing the CIA's support for the Maliki government, including assistance to elite counterterrorism units that report directly to the prime minister, and providing Hellfire missiles and surveillance drones. After Iraqi forces retreated from Mosul, the insurgents who routed them released more than one thousand prisoners and picked up troves of U.S.-supplied matériel.

Additional Resources

The International Crisis Group explains how Prime Minister Nouri al-Maliki's policies have benefitted al-Qaeda in Iraq as it took control of parts of Anbar province.

Will McCants describes factions within al-Qaeda, including the ISIS–al-Nusra internecine conflict.

Rania Abouzeid reports on the backlash against ISIS among rebel groups in Syria.


 *****

Foi para isto que Bush e Blair, com o apoio de alguns cúmplices, decidiram invadir o Iraque???

A resposta é: TALVEZ!




quinta-feira, 12 de junho de 2014

O CAMPEONATO DO MUNDO




O Campeonato do Mundo de Futebol, iniciado hoje, tem o condão de monopolizar as atenções, mesmo daqueles que pouco ou nada se interessam pela bola. Assim, dei comigo  a assistir (pela televisão, obviamente) ao desafio Brasil-Croácia, no monumental estádio do Rio de Janeiro.

Quase nada percebo do "desporto-rei", mas não posso deixar de salientar a exibição do jogador Neymar,  a quem se devem dois dos golos que garantiram a vitória ao Brasil.

Na perspectiva dos êxitos do jovem futebolista nas próximas competições, aqui se regista a notícia para memória futura.

sábado, 7 de junho de 2014

A EUROPA EM 2035




Transcrevemos do fórum NeoGAF uma projecção do mapa político da Europa para 2035, segundo a análise de especialistas russos:



After analyzing CIA, GRU and number of different intelligence institution available sources and also the works of Zbignew Brzezinski, Samuel Huntington -- a group of experts have compiled a possible political map of Europe for year 2035.

The territorial changes will start in British isles, where Scotland will declare independence after referendum in year 2013. That will give the impetus for unification of Ireland.

Basque and Catalonian states will declare Independence from Spain taking also a part of French territory.

The collapse of multiculturalism will start in France. Unable to assimilate various former colonial ethnicity of different colors, it will have to resort to their deportation. High concentration is Islamic groups will pave a way for a rise of Islamic Arabic state in southern France. Lorraine on federal basis will join Germany.


(Clique nas imagens para aumentar)

Belgium will finally divide and the Flemish will enter in union with the Netherlands.

Business savvy northern Italians will become fed up feeding their southern brethren, which will lead to division of Italy. Poor southern Italy will be unable to retain integrity and Sicily and Sardinia will declare independence from it.

Bosnia will be divided between Croatia and Serbia. Albania unites with Kosovo and part of Macedonia creating Great Albania.

Sad fate awaits Poland. It will have to give up Silesia, Pomerania and Prussia after rounds of new agreements between Berlin and Moscow. Moscow also will not able to retain Kaliningrad region and will transfer it back to Germany.

Belarus will disappear as a state and become province of Russia. Russia will also snatch eastern parts of Latvia, Estonia and Ukraine (also including southern Ukraine and Crimea). Large changes will undergo in Caucasus, because Russia unlikely will be able to keep Chechnia and Dagestan. A new borders will be drawn with Stalinist methods possibly along Terek river cutting densely populated mountain regions away from Russia.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

OS FANTASMAS DA EUROPA



Viriato Soromenho-Marques (VSM) publicou, há dias, o ensaio Portugal na Queda da Europa, onde procede a um diagnóstico lúcido da situação em Portugal, e na Europa, no momento conturbado que vivemos. É o olhar de um filósofo sobre os problemas financeiros, económicos, sociais e, principalmente, políticos que afectam o Velho Continente.


Este livro de VSM leva-nos recordar uma outra obra, publicada em 1945: Europa e os Seus Fantasmas, de João Ameal, designação, aliás, sugerida pelo título que Henrique Galvão deu à sua tradução portuguesa da peça de Eugene O'Neill Mourning becomes Electra: Electra e os Fantasmas.


A leitura do livro de João Ameal, escrito num contexto totalmente diferente do actual e, naturalmente, noutra perspectiva, não deixa de constituir um curioso exercício de meditação. As primeiras palavras das Palavras Prévias são elucidativas: "Crise da Europa  - ou agonia da Europa?". Inelutavelmente, a História repete-se.

Não subsistem dúvidas quanto ao facto da Europa continuar assombrada por fantasmas, que se erguem sistematicamente da Alemanha. Extinto o Sacro Império Romano-Germânico, parecia que a Prússia, depois de várias guerras e após o Conflito Franco-Prussiano de 1870, tinha conquistado o seu lebensraum e estabilizado o alargamento territorial da Alemanha, então convertida no Segundo Reich. O próprio chanceler Bismarck, um homem inteligente, inclinava-se nesse sentido, defendendo relações amistosas com Paris a seguir à queda de Napoleão III. Todavia, Guilherme II, que dispensou os serviços de Bismarck, apoiando-se em Hindenburg e Ludendorff, privilegiou a via militarista que culminaria na Primeira Guerra Mundial. Conhecem-se os resultados. Mas os fantasmas teutónicos continuaram a assolar a Europa. A frágil República de Weimar não resistiu a Hitler e deu lugar ao Terceiro Reich e à Segunda Guerra Mundial. A propósito dos alemães se poderia dizer, como Talleyrand, que nada aprenderam e nada esqueceram. A persistência na via do domínio germânico, agora sem a utilização de meios militares - por enquanto - não deixa de provocar as maiores e mais legítimas apreensões quanto às consequências da política imperialista prosseguida pelo governo de que Angela Merkel é o rosto visível. Esta permanente ressurreição dos velhos fantasmas não augura um futuro tranquilo para a Europa.

A análise de VSM é de grande clareza, ainda que o discurso nem sempre seja de irrepreensível estruturação. E nota-se a falta de um índice remissivo e de um glossário para os termos técnicos e para as siglas constantes do texto. Começa o autor por tratar da crise portuguesa, ocupa-se depois da situação na Europa, trata a seguir da inépcia da Alemanha na liderança da crise europeia e termina com a apologia do federalismo, que considera a única forma de salvar a União Europeia.

Não subscrevo integralmente todas as conclusões de VSM, nomeadamente no que respeita ao federalismo, mas reconheço que a publicação desta obra, pela descrição da situação, pelas propostas formuladas e pela oportunidade da publicação, é um inestimável serviço prestado aos portugueses.

Procede VSM a uma crítica frontal à leviandade com que alguns países, maxime Portugal, aderiram à União Económica e Monetária (UEM) e, particularmente, à Zona Euro, em 1999, considerando não terem sido criadas as condições indispensáveis para a introdução de uma moeda única. O estabelecimento do euro, exigido por Mitterrand em troca do reconhecimento da reunificação alemã, demonstra como uma ideia inicialmente bem intencionada se revelou de consequências trágicas.

Segundo o autor, o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), de 1997, que estabelece que a dívida pública não deve ultrapassar os 60% do PIB e o Tratado Orçamental (TO), oficialmente Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária, vigente desde 1 de Janeiro de 2013, e que estipula um défice orçamental inferior a 3% do PIB, são objectivos impossíveis de atingir por Portugal nas circunstâncias actuais de funcionamento da União Europeia. Por isso, VSM defende a alteração de tais metas ou a federalização da União Europeia.

Transcrevemos: «A hostilidade da UEM em relação ao Estado reside também na relação de desconfiança mútua entre os Estados participantes nessa união monetária. As regras de acesso ao clube da moeda única foram moldadas nessa doutrina neoliberal, com sotaque alemão, de que os Estados são despesistas, e, por natureza, geradores de inflação. Por isso, as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento incidem exclusivamente sobre a necessidade de um comportamento "virtuoso" dos Estados: a inflação não deveria ultrapassar os 3%; o défice orçamental deveria ficar abaixo dos 3% do PIB; a dívida pública não deveria ultrapassar os 60% do PIB. O PEC não coloca qualquer exigência de desempenho a outro nível. Por exemplo, não exige que os países tenham um determinado rendimento médio per capita, ou que a taxa de desemprego não seja superior a um determinado limite, ou que o índice de Gini (que mede a desigualdade na distribuição da riqueza) não ultrapasse certas metas. O ordoliberalismo e o monetarismo são isso mesmo, ideologias. Uma ideologia só consegue ver aquilo que na sua tabela de valores é considerado relevante. Os indicadores sociais não valem nada para essa ideologia, que é matricial na arquitectura da UEM.»...«É interessante notar que o PEC não identifique um limite para a "dívida externa", que é um dos factores mais negativos na actual crise, Portugal que o diga, ou para a dívida privada. As entidades bancárias, cuja gula pelo lucro foi um dos factores da precipitação de várias das bolhas desta crise, do imobiliário ao crédito, foram deixadas num sossego perigoso para a paz pública.»

Muito haveria a escrever acerca deste livro de quase 400 páginas como, por exemplo, sobre a sinistra desregulação dos mercados financeiros promovida por Reagan e Thatcher. Acrescentarei tão só que o federalismo defendido por VSM, ainda que este evoque os casos de sucesso dos Estados Unidos, do Brasil ou da Suíça, não me parece identicamente aplicável na Europa, de história milenar e de velhas culturas, línguas e tradições. Não ignora VSM as diferenças profundas existentes na Europa e sustenta que, tratando-se de um federalismo autêntico, tais diferenças não constituem impedimento para o seu êxito. Permito-me manter sérias dúvidas, tanto mais que se assiste a um progressivo renascer de nacionalismos.

Resta agradecer a Viriato Soromenho-Marques a sua valiosa contribuição para o debate de ideias em Portugal.