quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

AS CHAVES DE SÃO PEDRO




No preciso momento em que escrevo este post (20 horas em Roma), Bento XVI, em Castel Gandolfo,  devolve as chaves de São Pedro ao Colégio de Cardeais que o elegeu para  Sumo Pontífice da Igreja Católica, em 19 de Abril de 2005.

Até à reunião do Conclave, a iniciar-se nos próximos dias, assegurá interinamente o governo da Igreja, para  gestão dos assuntos correntes, o cardeal Tarcisio Bertone, Camerlengo da Santa Sé. 

Muito se tem especulado acerca das verdadeiras razões que levaram Bento XVI a renunciar ao munus apostólico, facto inédito desde o século XV, e até desde séculos anteriores, já que as renúncias do século XV decorreram da situação excepcional do Cisma do Ocidente e as anteriores foram raríssimas.

Em termos gerais, no tempo e nas circunstâncias em que se verifica, esta renúncia é a primeira na história da Igreja. E atendendo à idade e ao estado de saúde de Bento XVI, quando comparado com os pontífices que o antecederam e nomeadamente com os vários papas de que já fui contemporâneo, em especial com João Paulo II, não parece que as razões invocadas sejam absolutamente convincentes, ou pelo menos absolutamente determinantes da atitude daquele que neste momento renuncia ao cargo.

Além do mais, conservando Bento XVI o título de Papa, embora Emérito, e habitando o Vaticano, embora num mosteiro, ele constituirá sempre uma sombra para o seu sucessor, e jamais se evitará a tentação de considerar que existem simultaneamente dois papas, mesmo sem cisma e ainda que Bento XVI se abstraia, como se espera, de qualquer intervenção pública. Irá meditar, orar, escrever e ler, e a sua biblioteca de 20.000 volumes (neste capítulo estamos praticamente empatados) abandonará o Vaticano, para onde fora transportada quando Josef Ratzinger trocou a sua morada em Roma pelos aposentos pontifícios, e seguirá para o mosteiro Mater Ecclesiae.

As verdadeiras razões da renúncia pontifícia serão conhecidas mais tarde, não se sabe quando, embora com a aceleração do tempo presente, de que fala o filósofo alemão Hartmut Rosa, os segredos do Vaticano, e quaisquer outros, já não sejam guardáveis por uma quase eternidade.

Não é novidade para ninguém que o Mundo se encontra numa encruzilhada, que se avizinha uma época que ainda é de profunda interrogação mesmo para os espíritos mais lúcidos e cultos, e que a Igreja Católica Apostólica Romana enfrenta desafios decisivos, porventura os mais difíceis da sua história. Como homem inteligente e erudito, entendeu Bento XVI (mas, em verdade, será o seu segredo, não partilhado ou partilhado por raros confidentes) que as chaves de Pedro deverão estar nas mãos de quem possa responder a esses desafios, até porque, a dar-se o caso de a Igreja ter de rever atitudes sempre sustentadas por ele, não seria curial (verdadeiramente de Cúria) que fosse o próprio a corrigir posições por si intransigentemente defendidas.

Creio que a eleição de um novo papa, atendendo ao seu perfil,  poderá lançar alguma luz sobre as perspectivas que se avizinham, ainda que não seja de admitir mudanças profundas, pelo menos imediatas, na orientação da Igreja, instituição bimilenar e naturalmente conservadora.

Nas páginas de "The New York Times", de ontem, Hans Küng, teólogo e professor emérito da Universidade de Tübingen, onde foi colega de Josef Ratzinger, interrogava-se sobre a possibilidade de uma "primavera vaticana", a exemplo da chamada "primavera árabe". Não creio em tal hipótese, e pelas consequências da dita "primavera árabe" será preferível evitar essa tentação, a despeito das esperanças nela depositadas e das radicais diferenças entre o Mundo Árabe e o Vaticano.

Para os amantes de literatura sobre a Santa Sé, deixamos a indicação de um livro que, ao tempo da sua publicação (1955), provocou escândalo nos meios católicos: Les clés de Saint Pierre, de Roger Peyrefitte. Que o autor, a quem voltaremos em breve, desejava a polémica, e a notoriedade, não há que duvidar. Mas o que lá se escreve tem mais a ver com a realidade do que com a ficção, e por isso, perdoem-me os leitores católicos (que hoje já não se escandalizarão), a leitura desta obra a ninguém fará mal. E, afinal, literatura é sempre literatura.


O ATAQUE À MESQUITA DE ALEPO




Os rebeldes sírios, na maioria criminosos de delito comum, que não acreditam nem em Deus nem no Diabo, atacaram hoje a mesquita dos Omíadas, em Alepo, construída no século VIII, um símbolo histórico e religioso da cidade e do mundo, considerada património mundial pela UNESCO.

O edifício sofreu consideráveis danos e o tecto do museu desabou em consequência do incêndio provocado pelos combates. A mesquita e o seu mobiliário antiquíssimo já haviam sofrido consideráveis danos aquando dos confrontos de Outubro passado.

Segundo informa o Gulf News, a fortaleza da Cidadela continua nas mãos das tropas fiéis a Bashar Al-Assad, mas os combates prosseguem em toda a cidade.

Deve acrescentar-se, como se tem feito em posts anteriores, que uma parte dos opositores ao regime é estrangeira, e que os grupos que o combatem são armados e financiados por estados vizinhos ou mesmo distantes.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

LA "COMMEDIA DELL'ARTE"



Segundo o jornal La Repubblica, a Itália está ingovernável face aos resultados para a Câmara dos Deputados e para o Senado. O nosso PÚBLICO antecipa o caos, na sequência da votação de ontem e hoje. Os resultados neste momento, ainda não definitivos, indicam que a coligação de Bersani terá ganho na Câmara por umas décimas e que a coligação de Berlusconi obteve no Senado mais um lugar do que Bersani.O actor Beppe Grillo, fundador do Movimento Cinco Estrelas, obteve 25% (!) dos votos para a Câmara e 23% (!) para o Senado. Sem qualquer desprimor para a vida artística, parece que a Itália, terra onde floresceram as artes desde a Antiguidade, regressa às suas tradições, desprezando a política e os políticos.

Não compreendo como Berlusconi alcançou os resultados já apurados, mas os italianos terão, certamente, as suas razões.

Creio que a confusão, agravada pelas incertezas da próxima eleição de um novo papa, se tenha instalado em Roma. E afigura-se-me que nada será como dantes, seja no Vaticano, na República Italiana, em toda a Europa.

Os resultados definitivos das eleições seguem dentro de momentos, e os da eleição do papa, dentro de dias.

A TUNÍSIA EM TODO O SEU ESPLENDOR



Os tunisinos são, realmente, um povo espectacular. Segundo relata o PÚBLICO, em notícia que se transcreve, a bem da fraternidade mediterrânica (os portugueses participam também, ainda que por extensão de conceito, do Mare Nostrum), os alunos de um liceu de Tunis resolveram dançar o Harlem Shake, com alusões aos grupos salafistas, no pátio da escola.

Gravado o divertimento em vídeo, eis que o ministro da Educação, Abdellatif Abid, anunciou através da comunicação social tratar-se de um comportamento "imoral", ameaçando a expulsão dos alunos e a demissão dos professores.

Não me parece que este seja para a Tunísia um bom ca«minho para a Democracia, mas nada como ler o jornal citado:

Na maior parte dos casos, um vídeo com um grupo de pessoas a dançar o Harlem Shake limita-se a ser divertido ou embaraçoso, mas para os alunos de um liceu da capital da Tunísia pode ser um pouco mais complicado do que isso.



Depois de terem divulgado a sua versão do mais recente fenómeno da Internet, os jovens da escola Menzah 6, em Tunes, arriscam-se a ser castigados por ordem do ministro da Educação.

No anúncio que fez ao país, através da rádio Mosaique, Abdellatif Abid classificou o comportamento dos alunos como "imoral" – entre os jovens que começam a dançar freneticamente há alguns com barbas falsas e túnicas, numa referência aos grupos salafistas radicais. No centro da imagem vê-se um deles a simular um acto sexual com uma aluna (ou com um aluno) vestida (ou vestido) com uma burqa, o longo véu que cobre a maior parte do corpo das mulheres e cujo uso foi imposto pelo regime taliban no Afeganistão entre 1996 e 2001.
 
Em resposta, "o Ministério da Educação ordenou uma investigação e irá tomar as medidas adequadas", declarou o governante, que admitiu mesmo a expulsão de alunos e a demissão de professores. Segundo o site da revista Tunivisions, Abdellatif Abid disse que a directora do Liceu Menzah 6 deveria ter consultado a direcção regional de educação ou o ministério.

Se o vídeo chocou o Governo da Tunísia, a decisão de abrir um inquérito chocou os responsáveis da escola e está a gerar uma onda de protestos nas redes sociais. Hafedh Mosrati, professor no Liceu Menzah 6, pediu ao ministro que deixe a direcção da escola resolver o assunto: "Eles gravaram este vídeo sem a autorização da direcção, o que é contra as regras, mas estes assuntos devem ser resolvidos internamente, pelo conselho de disciplina", disse Mosrati, citado pela agência AFP. Na próxima sexta-feira, milhares de pessoas vão dançar o Harlem Shake em frente ao edifício do Ministério da Educação, num protesto convocado através do Facebook.

A decisão do Ministério da Educação chega num momento particularmente delicado na vida política do país. O primeiro-ministro, Hamadi Jebali, da ala mais moderada do partido islamista Ennahda, demitiu-se na semana passada, depois de não ter conseguido apoios para formar um novo governo com personalidade sem filiação partidária. A ideia de Jebali era travar os protestos que se seguiram ao assassínio do activista da oposição Chokri Belaid, no dia 6 de Fevereiro.

Como o seu plano não vingou, Hamadi Jebali viu-se sozinho, sem o apoio do seu próprio partido, e será substituído por Ali Larayedh, até agora ministro do Interior e conotado com a ala mais radical do Ennahda.

A nomeação de Larayedh – que deverá formar um novo Governo em duas semanas – foi duramente criticada pela oposição, a começar pela Frente Popular, partido de que Belaid era secretário-geral: "Esta decisão aprofunda a crise, porque Larayedh chefiava o ministério responsável pela morte de Belaid e pela violência que se alastrou pelo país", disse Zied Lakdar, líder do partido da oposição.

Os islamistas do Ennahda são os mais representados no Parlamento, com 89 dos 217 lugares, mas precisaram de se aliar aos partidos seculares do centro-esquerda Congresso para a República e Ettakatol para formar governo, após as eleições de Outubro de 2011.


Nota: O sublinhado é meu, para mostrar que os tunisinos não são preconceituosos

AGUARDANDO O CONCLAVE



Enquanto se aguarda o início do conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI, recomenda-se a leitura do romance de André Gide, Les caves du Vatican, publicado em 1914, e de que existe uma adaptação teatral do próprio autor, estreada na Comédie Française em 1950.

Nunca é demais recordar que Gide (1869-1951), Prémio Nobel da Literatura em 1947, é um dos maiores escritores franceses e universais do século passado. As suas obras constituem um inestimável acervo da literatura contemporânea.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

WOLFGANG SAWALLISCH



Segunda informa hoje o jornal  "La Repubblica", o maestro e pianista alemão Wolfgang Sawallisch (n. 1923)  morreu sexta-feira passada, na sua casa da Baviera.

Considerado um dos maiores intérpretes de Richard Wagner e de Richard Strauss, mas também de Beethoven, Mozart e Bruckner, Sawallisch, entre as muitas funções que desempenhou, foi director da Orquestra Sinfónica de Viena (1960-1970) e da Orquestra Filarmónica de Hamburgo (1960-1973), director artístico da  Ópera de Munique (1971-1992) e director-geral da mesma (1982-1993). Foi ainda director artístico da Ópera de Filadélfia (1993-2003), onde sucedeu a Riccardo Muti. Em 2006, devido a problemas de saúde, retirou-se da actividade de direcção de orquestras.

Com a morte de Wolfgang Sawallisch desaparece um dos últimos "monstros sagrados" da vida musical europeia e mundial do século XX.

A GUERRA NA SÍRIA: UMA VERGONHA MUNDIAL

Damasco: 21-02-2013

Depois de dois conflitos mundiais sangrentos no século XX, a que se sucederam alguns conflitos regionais, igualmente mortíferos, surgira a esperança de que, à parte algumas escaramuças regionais ainda que igualmente letais, o mundo saísse do século transacto e entrasse no século XXI num ambiente relativamente pacífico, antes da prevista eclosão da Terceira Guerra Mundial. Tal não sucedeu.

A invasão do Afeganistão, a invasão do Iraque, a prossecução do conflito israelo-palestiniano, o apoio de muitos países à chamada "primavera árabe" (com o intuito de derrubar os ditadores de serviço - e porquê estes e não outros - que se tem traduzido por confrontações violentas e pela chegada ao poder de novos ditadores (mesmo que "escolhidos" pelo povo) e muito mais que se poderia dizer mas isto basta, desvaneceu as esperanças, ingénuas ou cínicas, de quem profetizava um princípio de século mais tranquilo.

Dos conflitos ainda em curso, que deveriam apavorar os dirigentes mundiais se estes tivessem um módico de vergonha, a guerra civil na Síria é exemplar.

Para evitar interpretações precipitadas ou mal-intencionadas, deverei, a título de registo de interesses, mencionar que sou um admirador da Síria - do país e dos seus habitantes - nada tendo a ver com o regime do presidente Bashar Al-Assad, ainda que considere que esse regime ditatorial era muito mais tolerante do que, por exemplo, os regimes, por ora vigentes, dos países da Península Arábica.

Existia, como nos diversos países do Maghreb e do Mashreq, uma oposição que revestia formas várias (é sempre assim), desde a oposição "fantoche" à oposição moderada e aos oposicionistas mais violentos. Para estes, não havia contemplações. As manifestações iniciadas há dois anos em Deraa, pacíficas na generalidade, foram reprimidas com desnecessária violência, com a intenção de evitar a repetição dos cenários da Tunísia, do Egipto e da Líbia, já que no Bahrein não se fala e no Yémen a situação estacionou.
Desencadeadas com o intuito de fazer alastrar à Síria a "primavera árabe", as manifestações contestatárias não contaram com a resistência do regime. Sendo os primeiros protestos quase exclusivamente de sírios, a escalada revolução/repressão que se seguiu atraiu, por razões óbvias, fundamentalistas de países vizinhos que aspiram a instalar um regime islâmico na Síria, país com um governo laico, onde convivem há séculos (umas vezes melhor, outras pior), crentes de cerca de 20 confissões religiosas e cidadãos de etnias diversas.

Não sendo, inicialmente, muito numerosos os sírios que protestatvam contra Assad, à medida que os combates prosseguiam, o número de mortos e feridos aumentava e as destruições se sucediam, é natural que cada vez mais sírios contestassem o regime. Quantas famílias destroçadas pela morte dos seus parentes ou amigos, quantas casas destruídas, quntas pessoas sem abrigo, sem alimentos, em remédios. Começava a guerra civil. Hoje, é já muito elevado o número de sírios que se opõe ao regime de Assad, embora não chegue, tanto quanto se pode avaliar, a metade da população. Mas há fortes contingentes estrangeiros, armados e financiados por potências interessadas na desestabilização da região. Por razões políticas e  por razões religiosas, sendo que estas também são políticas.

As potências do chamado Mundo Ocidental vêm, desde o princípio, dansando a valsa da interferência/não-interferência, com as trágicas consequências que se conhecem, por medíocre orientação política e escaldadas pelo espectáculo, que lhes tem sido dado contemplar, dos outros países árabes que ascenderam à "democracia". Não vale a pena entrar em pormenores que todos conhecem.

Segundo as mais recentes notícias, a oposição (ou as oposições) síria acusa o mundo de inacção, e isto até é verdade. O Conselho Nacional Sírio tem demonstrado que não é representativo do povo sírio, nem os seus membros se entendem. Inútil entrar em detalhes. E os grupos armados não obedecem a um comando unificado, agindo cada qual a seu bel prazer. A repressão governamental tem sido de uma severidade brutal, porventura desnecessária. Mas as oposições e os seus bandos têm cometido igualmente os mais atrozes crimes de guerra. Mais algum tempo, e ninguém será inocente.

O chamado mundo civilizado deveria ter medido as consequências ao incentivar e apoiar a revolução contra Assad, até porque, salvo melhor opinião, Assad é parte do problema mas é também parte da solução. A queda do regime e a sua eventual substituição por um outro cuja orientação se ignora mas que não é difícil prever, não só não travará a guerra civil mas mergulhará o país no caos absoluto. O país e toda a região. Talvez seja esta a oportunidade - e isto, como alguns poderão mais lestamente imaginar, não é teoria da conspiração - para se desencadear a Terceira Guerra Mundial que acima citei. Eu sei que esta hipótese provoca, por estes dias, alguns sorrisos. 

Porém, quando tudo estiver consumado, será, porventura, demasiado tarde.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

SPA RECUSA ACORDO ORTOGRÁFICO

 

SPA não adopta o novo acordo ortográfico perante as posições do Brasil e de Angola sobre a matéria


A SPA continuará a utilizar a norma ortográfica antiga nos seus documentos e na comunicação escrita com o exterior, uma vez que o Conselho de Administração considera que este assunto não foi convenientemente resolvido e se encontra longe de estar esclarecido, sobretudo depois de o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o Acordo Ortográfico e de Angola ter assumido publicamente uma posição contra a entrada em vigor do Acordo.

Assim, considera a SPA que não faz sentido dar como consensualizada a nova norma ortográfica quando o maior país do espaço lusófono (Brasil) e também Angola tomaram posições em diferente sentido. Perante esta evidência, a SPA continuará a utilizar a norma ortográfica anterior ao texto do Acordo, reafirmando a sua reprovação pela forma como este assunto de indiscutível importância cultural e política foi tratado pelo Estado Português, designadamente no período em que o Dr. Luís Amado foi ministro dos Negócios Estrangeiros e que se caracterizou por uma ausência total de contactos com as entidades que deveriam ter sido previamente ouvidas sobre esta matéria, sendo a SPA uma delas. Refira-se que também a Assembleia da República foi subalternizada no processo de debate deste assunto.

O facto de não terem sido levadas em consideração opiniões e contributos que poderiam ter aberto caminho para outro tipo de consenso, prejudicou seriamente todo este processo e deixa Portugal numa posição particularmente embaraçosa, sobretudo se confrontado com as recentes posições do Brasil e de Angola.

Lisboa, 9 de Janeiro de 2013

Filho DE puta ou filho DA puta?



Depois da polémica decorrente da parcial aplicação do (Des)acordo Ortográfico, o presidente da República, agora interessado em problemas filológicos, suscitou à Assembleia da República uma questão que se lhe afigura (a ele, presidente) muito pertinente: o diploma publicado há mais de sete anos sobre a re-eligibilidade dos autarcas, e onde se lê "presidente de câmara, ou de junta de freguesia", foi inicialmente aprovado no Parlamento na versão "presidente da câmara, ou da junta de freguesia".

No espírito do legislador só poderia estar (SÓ) a intenção de evitar que os mesmos autarcas permanecessem no poder mais de três mandatos consecutivos, mas as candidaturas de Seara a Lisboa e de Meneses ao Porto, impedidas pela lei em vigor, levam Belém a colocar a questão, não sei se para clarificar, se para produzir uma nova lei que permita a eternização dos dinossauros do poder local.

A Imprensa Nacional-Casa da Moeda já justificou a correcção da preposição na Lei, invocando as regras ortográficas vigentes naquela instituição. Vários juristas argumentam que é irrelevante qualquer modificação porque o espírito da lei (e foi para isso que ela foi elaborada) é precisamente a limitação de mandatos.

Contudo, nesta matéria, e voltando às acrobacias do (Des)acordo Ortográfico, a dúvida invocada por Cavaco Silva suscita a maior perplexidade nos portugueses. Quando quiserem classificar algum dos ilustres membros da Nomenklatura que nos governa, deverão dizer filho DE puta ou filho DA puta?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O EXÉRCITO LIVRE DA SÍRIA


Uma explosão no centro de Damasco, perto da sede do partido Ba'ath, provocada por um carro armadilhado, provocou hoje mais de 50 mortos e centenas de feridos. A luta prosseguida pelo Exército Livre da Síria, uma organização terrorista apoiada pela Arábia Saudita e pelo Qatar, dois estados terroristas, e também mais disfarçadamente pelos Estados Unidos, por alguns países da União Europeia (entre os quais a França e o Reino Unido) e a Turquia, estados igualmente aliados a movimentos terroristas (a menos que não lhes convenha), não poupa ninguém. A chamada Coligação Nacional Síria demarcou-se do violento atentado, declarando que fora organizado por forças terroristas, mas esta "coligação" abriga no seu seio os grupos islamistas extremistas, que deveriam ter sido dizimados já há muito tempo.
 

O auto-denominado Mundo Livre, que apoiou a dita "primavera" árabe, a qual mergulhou no caos os países cujos regimes foram derrubados, não tem tido em consideração o número brutal de vítimas que tal convulsão vem originando, na esteira do apelidado "choque de civilizações", uma criação devida ao recentemente falecido académico judeu-americano Samuel Huntington, que se tornou postumamente responsável por crimes de guerra que já provocaram milhões de mortos e feridos.


Não há primaveras políticas (como os acontecimentos dos últimos dois anos demonstram à saciedade), nem a "democracia representativa" se pode exportar para países com costumes e tradições totalmente distintas das que hoje vigoram ( e sabe Deus como) no Ocidente. Só indivíduos falhos de inteligência, cultura e carácter, como George W. Bush, afirmaram pretender alargar a democracia ao Médio Oriente, quando apenas lhes interessava o petróleo, o gás natural e a instauração de um sistema económico ultra-liberal que reduzisse as populações a um estado de pauperização superior àquele em que elas já se encontravam.
 

Deve daqui extrair-se a lição que todos os movimentos actuais que apregoam um "mundo novo" são fruto de sinistras maquinações e deverão ser combatidos pelos povos com a maior determinação. O reino da abundância que os mesmos anunciam só poderão trazer no futuro, para utilizar as palavras de um odioso político britânico já falecido, sangue, suor e lágrimas.
 

Nesta guerra, que só não é verdadeiramente fratricida porque a maior parte dos combatentes anti-regime são djihadistas estrangeiros, havemos de chorar os mortos e desejar que os vivos que provocaram tal tragédia possam morrer o mais rapidamente possível.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

SALAZAR E A DIPLOMACIA



Após um "período de nojo" no pós-Revolução de 1974, António de Oliveira Salazar e a sua actividade política tornaram-se progressivamente objecto de sistemático estudo, na sequência de duas obras devidas a colaboradores íntimos: Marcelo Caetano, com Minhas Memórias de Salazar e Franco Nogueira com Salazar (obra em seis volumes), a primeira biografia do fundador do Estado Novo. Ambas com ausência de fontes, dado os seus autores se encontrarem no exílio.

Desde então, têm sido publicadas, umas após outras, variadas obras sobre Salazar e a sua política, em registos diversos, as mais recentes suficientemente documentadas a fim de evitarem desnecessárias  especulações. Entre elas, os livros de dois portugueses residentes em Dublin: Filipe Ribeiro de Meneses (filho de embaixador), professor universitário no Trinity College, Salazar. A Political Biography, que referimos aqui e Bernardo Futscher Pereira (BFP), ele mesmo embaixador em Dublin, A Diplomacia de Salazar (1932-1949), a que nos referiremos hoje.

Citámos igualmente, em  post do mês passado, o recente livro de Fernando Rosas, Salazar e o Poder - A Arte de Saber Durar, especialmente consagrado aos passos sucessivos (Rosas enumera seis) de Salazar para conquistar e conservar o poder quase absoluto de que dispôs em Portugal ao longo de perto de 40 anos. Debruça-se Rosas essencialmente sobre a política interna, obviamente do seu ponto de vista ideológico, mas sem esquecer o seu ofício de historiador.

É diferente o trabalho de Bernardo Futscher Pereira. Recorrendo exaustivamente à indicação das fontes que utilizou, o autor chega ao pormenor de recordar que não pôde consultar alguns documentos, que deveriam ou devem existir, pelo facto dos mesmos terem sido subtraídos aos sítios onde era suposto encontrarem-se: o arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Arquivo Pessoal de Salazar. Recordo que um deles respeitava à descrição de parte da reunião de Sevilha entre Franco e Salazar. Tinha este o hábito de registar todas as suas conversas com terceiros, nomeadamente as de carácter político. Não o terá feito, relativamente à reunião com Franco, por motivos compreensíveis. Mas deu conta, posteriormente, do teor dessas conversações ao embaixador britânico em Lisboa, Ronald Campbell, especialmente interessado. Ora é uma parte do registo da reunião com Campbell que desapareceu.

Não é possível resumir num post um livro de quase 600 páginas, em que se descreve, pormenorizadamente, a acção diplomática de Salazar desde que assumiu a chefia do Governo até ao ano de 1949, que o autor escolheu para terminar a obra. Nem me permito tecer considerações de detalhe, já que não tomei notas enquanto procedi à leitura. Creio que BFP procurou exprimir com exactidão, naturalmente do seu ponto de vista, a política externa de Salazar, que sobraçou a pasta dos Negócios Estrangeiros de 1936 a 1947. Apenas dei conta de um lapso, a páginas 34: chamar ao recém-nomeado embaixador no Brasil Martinho Homem de Melo, quando se trata, realmente, de Martinho Nobre de Melo.

As ideias mestras de BFP parecem-me as seguintes:

1) Salazar esteve convencido até à desastrosa (como sempre) campanha da Rússia, da vitória da Alemanha, a qual condicionaria o futuro da Europa, mas nunca pensou em aliar-se ao Eixo, pois considerava perniciosas as influências estrangeiras;

2) Salazar procurou sempre a posição de neutralidade na Segunda Guerra Mundial, o que alguém chamou de "neutralidade colaborante". Por isso, a maioria dos portugueses considerou (e considera ainda) que ele nos salvou dos horrores da guerra;

3) Salazar, mesmo nos momentos mais críticos, defendeu sempre a manutenção da Aliança Luso-Britânica. Só se lamentou quando, na altura da invasão de Goa pela União Indiana, anos mais tarde, a Inglaterra, em nome da Commonwealth, se desvinculou das obrigações específicas do secular tratado;

4) Salazar, que detestava as democracias parlamentares (malgré a velha Inglaterra) era nitidamente simpatizante das potências do futuro Eixo (ideologia oblige), embora detestasse Hitler mas não Mussolini, que admirava e do qual conservou uma fotografia autografada sobre a sua secretária, até à aliança da Itália com a Alemanha;

5) Salazar apoiou claramente (e descaradamente) a revolução espanhola contra a República, já que esta, quanto a ele, representava um perigo para o Estado Novo.  O regime de Franco afigurava-se-lhe mais consentâneo com os seus ideais, embora as relações com o Caudilho nem sempre fossem fáceis. Aliás, Salazar não nutria especial admiração por Franco, por óbvias razões intelectuais, o que este lhe retribuía na mesma moeda, mas por razões opostas. Contudo, acreditou numa certa lealdade de Franco, enquanto este planeava, caso fosse necessário, invadir Portugal. Ainda assim, evitou que o ditador espanhol se aliasse formalmente ao Eixo. Mas a desconfiança Portugal/Espanha manteve-se (e mantém-se);

6) Salazar tudo tentou durante a Guerra para evitar a ocupação de qualquer parcela do território nacional, não conseguindo dissuadir, após intermináveis dilações, a instalação de bases inglesas e americanas nos Açores, em princípio apenas enquanto durasse o conflito. Mas os americanos mantiveram-se até hoje, como é seu costume, porque as bases lhes têm sido úteis (por exemplo, ainda recentemente na invasão do Iraque);

7) Salazar, no dizer de BFP, «abominava tanto o comunismo soviético quanto o imperialismo americano». Detestava os americanos, no que era acompanhado por muito boa gente (e, verdade se diga, que a história, ao longo destes duzentos anos, tem-se encarregado de demonstrar esse mesmo imperialismo, ora disfarçado ora ostensivo). Também os americanos, que Salazar classificava, pertinentemente, de ignorantes e novos ricos, não o compreendiam e estiveram mesmo no ponto crucial de invadir os Açores, ou Cabo Verde, sem o agrément do Governo Português;

8) Salazar, apesar das atrocidades alemãs (inicialmente pouco noticiadas), entendia que, para impedir a expansão do comunismo na Europa (e no Mundo), a Alemanha era a guarda-avançada, já que não acreditava na resistência da França, e considerava como último recurso de defesa de uma Europa conservadora e cristã, os Pirinéus. Daí, além doutras razões, uma certa simpatia pelo regime nazi;

9) Salazar, no fim da Guerra, e entendendo que chegavam novos tempos, resolveu realizar eleições «tão livres como na livre Inglaterra». Não o foram, e o regime voltou a fechar-se, com a insolubilidade do problema colonial, até à queda final, com Caetano, depois de uma curta e efémera "primavera", como o são normalmente as primaveras políticas;

10) Salazar procurava nunca tomar decisões difíceis para Portugal, enredando sempre as negociações em pormenores jurídicos, incompreensíveis para os seus parceiros, especialmente quando as mesmas se revestiam de carácter urgente. Só cedia, in extremis, e perante a ameaça da força, apesar das opiniões dos seus colaboradores, que escutava com atenção mas geralmente não aceitava. No entanto (jurista minucioso que era), cumpria escrupulosamente os compromissos assumidos (coisa que os actuais estadistas menosprezam, por ignorância ou má-fé);

11) Salazar procurou intransigentemente, até ao fim, e apesar dos "ventos da história", conservar integralmente todas as parcelas do território português, na extensão que lhe era então atribuída. Deve-se-lhe prestar justiça no aspecto em que, atendendo às suas profundas convicções (já deslocadas no seu tempo), defendeu, sem oportunismos conjunturais, a defesa do que ele considerava o território nacional;

12) Na opinião de BFP, Salazar era vaidoso, arrogante, implacável contra os que não seguiam fielmente as suas instruções, razoavelmente insensível às dores alheias, não esquecendo as ofensas (reais ou imaginárias) que lhe faziam e nunca perdendo a oportunidade de se vingar delas. Salazar e também o embaixador Teixeira de Sampaio, secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros e que foi o braço direito do ditador durante o período em que este ocupou interinamente a pasta dos Estrangeiros, costumavam dizer que o embaixador britânico Campbell era "um bloco de gelo". Julgo que esta expressão serviria também para caracterizar Salazar. Sujeito a frequentes depressões e padecendo regularmente de enxaquecas, pretextou várias vezes retirar-se da vida pública mas jamais concretizou esse propósito, não só porque os seus seguidores o dissuadiam mas porque o seu verdadeiro apego ao poder e a convicção de que seria insubstituível para o Regime (e foi) eram convencimento suficiente para se manter no cargo.

Faltando-me o engenho e a arte, e também a memória, para resumir as linhas fundamentais do livro de Bernardo Futscher Pereira, aqui ficam estas notas dispersas, em que espero não ter traído o pensamento do autor.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

UMA INTERPRETAÇÃO DA RENÚNCIA PAPAL




Eduardo Febbro: Renúncia expõe guerra direitista nos bastidores do Vaticano

publicado em 17 de fevereiro de 2013 às 0:01




A história secreta da renúncia de Bento XVI

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

por Eduardo Febbro, na Carta Maior

Paris – Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro.

O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas.

Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente.

Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox.

Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica. 

A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke.

Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar. 

Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa.

Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira.

O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano.

Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado.

A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época. 

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia.

Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres.

No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.

Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano.

Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas. 

Aí começou o infortúnio de Tedeschi.

Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco.

Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa. 

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa.

Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.

Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

MONCEF MARZOUKI NO PARLAMENTO EUROPEU




No passado dia 6, o presidente da República da Tunísia, Moncef Marzouki, proferiu no Parlamento Europeu o discurso que se reproduz:



Enunciando nobres propósitos, que comoveram os deputados de Estrasburgo, no próprio dia do assassinato de Chokri Belaïd, o presidente foi aplaudido de pé pela generalidade dos presentes.

Não estamos tão certos da concretização das suas aspirações, mas saudamos os votos formulados no sentido da Tunísia permanecer um país aberto ao mundo, socialmente mais justo e continuando a afirmar uma visão cultural independente de preconceitos religiosos fundamentalistas que nada têm a ver com o islão verdadeiro no actual contexto mental do século XXI.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

BENTO XVI



O mundo foi hoje colhido de surpresa com  a renúncia do papa Bento XVI. Surpresa que, nos altos círculos da Igreja, terá sido mais aparente do que real.

É certo que a renúncia de um papa não é um acto normal. O papado é por natureza de carácter vitalício e contam-se pelos dedos da mão as renúncias pontifícias na história da Igreja Católica.

A idade e a saúde não têm constituído razão bastante para renúncia, pois basta ver o estado físico em que se encontrava João Paulo II aquando da sua morte.

São pouquíssimas as renúncias de papas, sendo a mais evidente a de Celestino V (1294), que se retirou para recolhimento após quatro meses de pontificado e que terá sido provavelmente assassinado. A Igreja viria a canonizá-lo. As renúncias mais notórias são as decorrentes do chamado Cisma do Ocidente, que durou de 1378 a 1417. Neste período, existiram dois ou até três papas em simultâneo, arrogando-se todos serem o vigário de Cristo e excomungando-se mutuamente.

De 1309 (Clemente V) a 1377 (Gregório XI) a sede do Papado foi instalada em Avinhão, por imposição do rei de França. Em 1378, Gregório XI voltou a residir em Roma,  morrendo nesse ano. Inicia-se aqui o Cisma. Por sua morte, os italianos elegem em Roma Urbano VI. Devido ao seu feitio autoritário, uma parte do Colégio Cardinalício resolveu anular a eleição, elegendo um outro papa, Clemente VII que voltou a residir em Avinhão.

A Urbano VI (1378-1389), sucederam em Roma Bonifácio IX (1389-1404), Inocêncio VII (1404-1406) e Gregório XII (1406-1415, morreria em 1417). A Clemente VII (1378-1394), sucederam em Avinhão Bento XIII (1394-1423) e Clemente VIII (1423-1429). Entretanto, numa tentativa de resolver o Cisma, foi eleito, em Pisa, o papa Alexandre V (1409-1410), a que sucedeu João XXIII (1410-1415). Curiosamente, o V de Alexandre foi considerado na numeração dos papas, enquanto o XXIII de João o não foi.

Houve ainda mais dois papas, ou antipapas, em Avinhão, ambos usando o nome de Bento XIV, o primeiro, Bernard Garnier (1425-1430) e o segundo, Jean Carrier (1430-1437), cuja numeração não contou para a Igreja.

Para colocar um ponto final nesta lamentável mas apaixonante história, cujo estudo se recomenda, o Concílio de Constança (1417) elegeu papa Oddone Colonna, que tomou o nome de Martinho V.  Foi o fim do Cisma do Ocidente. Gregório XII renunciou em 1415 e João XXIII foi preso (o poder temporal teve, obviamente, uma importância decisiva neste longo conflito) e obrigado a renunciar também em 1415. Clemente VIII, que a Igreja considerou antipapa, foi obrigado a renunciar em 1429.

A Igreja não reconheceu na sua numeração nenhum dos papas de Avinhão (durante o período do Cisma).

Estas foram as renúncias mais espectaculares da história da Igreja.

Sobre a renúncia do actual papa, Bento XVI, marcada para o próximo dia 28 deste mês, importa recordar o que aqui escrevi em 18 de Fevereiro do ano passado. Nesse post, com o título "A Conspiração para Matar o Papa", referi que o cardeal Paolo Romeo, arcebispo de Palermo, numa inconfidência, declarara que existia uma conspiração para matar o actual papa até ao final do ano transacto. Felizmente o acto não se concretizou, mas surge agora uma "oportuna" renúncia, dois meses depois daquele prazo. Existe na Cúria Romana uma crescente contestação a Bento XVI (intelectualmente respeitado mas com algumas atitudes julgadas controversas no seio da Igreja), ou melhor, não tanto exclusivamente ao papa mas a uma sua figura muita próxima, que o tem acompanhado ao longo da carreira, o cardeal Tarcisio Bertone, Camerlengo e secretário de Estado do Vaticano, detestado pela maioria dos cardeais.

Aguardemos os próximos acontecimentos, para constatarmos se se trata apenas da resolução de questões pessoais ou se a Igreja pretende um novo Pontífice que adopte uma linha substancialmente (tanto quanto isso é permitido na Santa Sé) diferente da seguida no actual pontificado e destinada a enfrentar os cada vez mais complicados problemas com que se defronta a Igreja Católica.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

HOMENAGEM À TUNÍSIA



Abou El Kacem Chebbi (Tozeur, 1909 - Tunis, 1934) é um dos grandes poetas tunisinos de expressão árabe. No livro de Abderrazak Cheraït, cuja imagem é aqui representada, o autor (como a maior parte dos seus compatriotas) considera-o o poeta nacional da Tunísia.

Nestes dias de luto no país, que comungo com os tunisinos, impõe-se a referência a esta obra, que reúne, em língua francesa, a biografia e parte da poesia e do Diário de Chebbi, cujos primeiros versos do seu poema "A Vontade de Viver", figuram no final do hino nacional tunisino Humat Al-Hima (Defensores da Pátria".



Como amante da Tunísia, este post é a minha contribuição a favor de um país livre, nas consciências e nas acções, contra o obscurantismo dos extremismos religiosos que, um pouco por toda a parte (não só no Mundo Árabe, mas na Europa e nas Américas) pretendem escravizar o género humano.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A TUNÍSIA EM ESTADO DE CHOQUE


Chokri Belaid


O assassinato a tiro, hoje, em Tunis, do líder do partido de esquerda Patriotas Democratas, Chokri Belaid, deixou a Tunísia em estado de choque. O irmão do falecido, Abdelmajid Belaid, acusou o partido fundamentalista islâmico Ennahda, que lidera o governo tunisino, de ser responsável pela sua morte, apontando especificamente o respectivo líder, Rachid Ghannouchi, de ter ordenado o acto.

Muito crítico do actual governo, Chokri Belaid era uma proeminente figura política e o seu partido tinha aderido à coligação Frente Popular, que se apresenta como alternativa ao actual governo.

O assassinato provocou uma imensa manifestação de protesto na avenida Bourguiba, a principal da capital, e onde se encontra o ministério do Interior, tendo-se verificado violentas confrontações entre os manifestantes e a polícia, de que resultaram numerosos feridos e pelo menos um morto (um polícia), até ao momento em que escrevemos estas linhas. Realizaram-se também grandes manifestações de protesto nas principais cidades tunisinas, sendo imensa a indignação que reina em todo o país.



O primeiro-ministro Hamadi Jebali anunciou que, face ao ocorrido, o governo se demitia, devendo ser constituído um novo governo de "competências nacionais sem filiação partidária", provavelmente sob a chefia do mesmo Jebali (o que nada augura de bom),  com a incumbência de gerir os negócios correntes até à realização das próximas eleições.

Também em Marselha, onde vivem milhares de tunisinos, se realizaram manifestações em frente ao consulado da Tunísia.

Desde a queda de Ben Ali, a Tunísia tem sido palco de graves incidentes, como a profanação dos mausoléus dos "santos" muçulmanos e a contestação e impedimento de actividades culturais. Há uma radicalização religiosa levada a cabo pelo partido governamental Ennahda (cujo líder vivia exilado em Londres, ainda bem, e que regressou depois da revolução) e especialmente pelos salafistas, extremistas radicais que se reclamam de verdadeiros crentes mas que são inimigos dos autênticos muçulmanos e mesmo inimigos do Profeta Muhammad, em nome do qual cometem as maiores atrocidades, como se verifica, por exemplo, agora no Mali. Também os Irmãos Muçulmanos, no Egipto, deverão ser rapidamente derrubados, antes que o caos se instale no país. E há que impedir a todo o custo que os extremistas do islão derrubem o governo de Assad, na Síria.

As verdadeiras vítimas do que, ingenuamente (ou premeditadamente), se chamou de "Primavera Árabe", são em primeiro lugar os próprios árabes, pacíficos e acolhedores e depois os europeus e americanos que apoiaram, com cálculos mefistofélicos, as mudanças de regime e que irão pagar com o próprio sangue as consequências da sua imprudência.

Neste momento, verdadeiros criminosos incitam à violência nas suas pregações nas mesquitas, por todo o mundo árabe e islâmico, convencendo os menos esclarecidos ou mais permeáveis e exaltados de preceitos que eles inventaram e que não figuram nem no Corão, nem nos Hadiths, nem na Sunna.

Os extremismos religiosos que têm dilacerado o mundo desde há dois mil anos, em nome da pureza das religiões monoteístas, são, talvez, o pior flagelo da Humanidade.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

NÃO VÃO À GRÃ-BRETANHA



O governo britânico está a preparar uma campanha para dissuadir os trabalhadores búlgaros e romenos de emigrarem para o Reino Unido, afirmando que não é bom viver no país, que este é uma fonte de desencantos.

Segundo informa o PÚBLICO, em notícia que transcrevemos, o jornal romeno online "gandu.info", iniciou uma campanha de publicidade, convidando os ingleses a irem para a Roménia:

«A campanha que o Governo britânico pondera lançar na Roménia e na Bulgária para dissuadir trabalhadores destes dois países de emigrarem para o Reino Unido ainda não existe mas os seus efeitos já se sentem. O primeiro é político. O segundo, publicitário. A ideia partiu de um jornal online romeno, "Gandul.info", e de uma agência de publicidade e a campanha já circula. Mas ao contrário da que seria a campanha britânica, esta convida os britânicos a irem para a Roménia. Ao realçar os encantos deste país expõe os desencantos da Grã-Bretanha, mas talvez não nos termos desejados por Londres.

"Nós podemos não gostar da Grã-Bretanha, mas vocês gostarão da Roménia. Por que não vêm cá?", é o lema para toda a campanha que se desdobra em diferentes mensagens: "Os nossos jornais andam atrás das celebridades e não à escuta dos telefones das pessoas"; "O nosso Metro não foi desenhado tendo sardinhas em mente"; "A nossa cerveja de pressão é mais barata que a vossa água mineral" e "Metade das nossas mulheres parecem-se com Kate [Middleton]. A outra metade com a sua irmã", entre outros exemplos.

O efeito político, esse, aconteceu na sexta-feira, quando eurodeputados da Roménia e da Bulgária dirigiram uma carta conjunta ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, a lamentar o sentimento de serem tratados como cidadãos europeus de segunda classe, noticia a Reuters, que cita parte da missiva: "Acreditamos que uma vaga de declarações hostis desde o início do ano visa estigmatizar esses cidadãos como europeus de segunda classe que representam uma ameaça para os sistemas sociais simplesmente por quererem exercer os seus direitos básicos de liberdade de movimento e de trabalho."

Dias antes, o jornal britânico The Guardian avançava com a notícia quase certa embora não confirmada (mas também não desmentida) por um porta-voz do gabinete do primeiro-ministro David Cameron de que o Governo Tory se preparava para lançar uma campanha a avisar romenos e búlgaros: "Não venham, porque não é bom viver aqui"; uma notícia acompanhada antes e depois por uma torrente de outras, na imprensa tablóide, a alertar para o perigo de uma avalanche de imigrantes romenos e búlgaros a partir de Janeiro de 2014.

É nessa data que termina o prazo dado a certos países que o quiseram, como o Reino Unido, para aplicarem restrições à entrada a trabalhadores da Roménia e Bulgária, os últimos dois países a entrarem na União Europeia (UE), em 2007. Findos os sete anos previstos, a 1 de Janeiro de 2014, o acesso ao mercado de trabalho para trabalhadores de ambos os países passa a ser livre.

O Governo Tory está sobre pressão da ala mais à direita do partido, mas também de algumas figuras do Labour para impedir a entrada de imigrantes destes dois países. Além da campanha publicitária, põem a hipótese, segundo a imprensa britânica, de limitar o acesso de romenos e búlgaros (que emigrem para o Reino Unido) aos benefícios sociais. Os democratas liberais (centristas) britânicos lembraram o Governo que tem de agir de acordo com a lei e tratar romenos e búlgaros como todos os outros cidadãos da União Europeia a partir do próximo ano.»

Abstraindo dos receios britânicos quanto a uma vaga de imigração daqueles países, o que pode ser compreensível mas que estabelece, de facto, duas ou mais categorias de europeus, o que ainda é, creio, contrário aos tratados em vigor, acontece que tanto ingleses como romenos, e eventualmente búlgaros, têm razão.

Eu que já estive várias vezes em Londres, e também em Bucareste e em Sófia, devo confessar que Londres (exceptuando os museus, as temporadas de ópera no Covent Garden e pouco mais) é uma cidade muito pouco interessante, onde eu seria incapaz de viver.

Por outro lado, Sófia e, em especial, Bucareste, são cidades sem a desmesurada escala da capital britânica, muito mais humanizadas, com um agradável convívio com os seus habitantes, com um passado que nada desmerece, na História, o do actual Reino Unido e que, à parte uma situação económica e financeira difícil (que os ingleses também já estão a sentir), oferecem um acolhimento muito diferente (para melhor) do que o verificado em Londres.

Falo de capitais, mas presumo que nas outras cidades e na província a comparação se mantenha válida.

Julgo, pois, chegada a altura dos ingleses, altruisticamente (o que nunca aconteceu) fazerem as malas para passar uns dias nos Balcãs, deixando de ostracizar povos de antiquíssimas tradições alheias ao mundo anglo-saxónico.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

ABDELWAHAB MEDDEB SOBRE A TUNÍSIA (VI)

Abdelwahab Meddeb
 
Equilibrage politique

La scène politique tunisienne est en train d’être équilibrée. L’hégémonie de la mouvance islamiste est en cours de cantonnement. Et cela est dû à deux phénomènes.

1.
Le premier a trait à l’échec patent d’Ennahdha dans l’épreuve de la gouvernance. Gouverner exige une technique et une expertise qui ne sont pas de même nature que l’exercice de l’opposition politique. Ennahdha a privilégié l’idéologie sur l’expertise. Elle le paye aujourd’hui. Et ce qui a contribué à sa disqualification, c’est d’avoir laissé faire la mouvance salafiste dans son dessein de contrer les rites et les coutumes vernaculaires assimilés à des bida’, à des innovations blâmables qui entachent la pureté du culte. Ennahdha ne voit pas d’un mauvais oeil que la Tunisie soit réislamisée en l’enveloppant dans les plis de l’uniformisation wahhabite dont l’action vise à effacer les particularismes nationaux.
Il faut rappeler que l’islam historique a fonctionné selon une structure duelle :
- il y a d’abord la fonction qui avait agi à l’horizon de l’Histoire ; en ce domaine, une culture savante unitaire maniait la même échelle de valeur où se reconnaissaient oulémas, fuqahâs et qadîs, de Cordoue à New Delhi.
- Il y a ensuite la fonction qui était activée au plan vernaculaire, à une hauteur anthropologique qui prenait en considération la diversité des traditions locales.
Si la première fonction assume le principe d’identité, la seconde illustre le principe de différence. Et c’est la dialectique entre l’islam savant unitaire, identique et l’islam populaire divers, différent qui a produit la civilisation islamique.
Des vases communicants passaient de l’une à l’autre strate pour que le particulier fermente au contact de l’universel.
Or, l’islam qui est proposé aujourd’hui par les islamistes annule la sophistication et l’esprit de controverse qui ont caractérisé l’islam savant ; il abolit par le même geste les spécificités vernaculaires. L’islamisme propose une uniformisation simplificatrice qui correspond parfaitement à la sous-culture consumériste imposée à l’échelle de l’humanité entière par l’américanisation du monde.
Il se trouve qu’en Tunisie, le peuple refuse l’uniformisation proposée qui s’est manifestée récemment à travers la double fonction que nous venons de rappeler.
Sur la scène vernaculaire, cette politique d’uniformisation s’est exprimée par la destruction des mausolées soufis.
Et au plan de l’islam savant, la même politique a été illustrée par le rapt salafiste de l’imamat de la Zitouna.
La destruction des mausolées est perçue par le peuple comme un scandale. Et les salafistes, avalisés par les Nahdhawî, se sont attaqués au rite qui accompagne la célébration du mouled. A cette occasion, l’on prépare la délicieuse açida, crème et pudding de fruits secs tout de douceur destinés à nourrir la convivialité et l’hospitalité en circulant de maison en maison. Les Tunisiens y tiennent. Assimiler cette coutume à une bid’a est pour les Tunisiens irrecevable.
La résistance des Tunisiens est grande pour défendre les deux fonctions (le savant et le populaire) et la dialectique qui les met en tension. Elle s’est manifestée le même jour du mouled dans l’enceinte de la Mosquée Zitouna où l’imam illégitime a été abandonné à son véhément et interminable prêche rendu inaudible par la foule des orants qui récitèrent d’une voix unanime la hamzia comme le veut la tradition zitounienne, tunisoise.
Cet acte s’ajoute aux protestations suscitées par la destruction des mausolées. C’est que les Tunisiens refusent de se soumettre à une autre forme d’islam que celle produite par leur histoire telle qu’elle a été orientée par leurs aïeux dans leur maniement spécifique de la dialectique qui met en tension les deux fonctions, celles du savant et du populaire, de l’universel et du particulier.

2.
J’en viens maintenant au deuxième point, celui qui engage la défaillance dans la gouvernance. Il s’agit d’une question politique qui est en train de trouver sa réponse, laquelle s’est concrétisée avec la création de la nouvelle entité appelée Al-Wihda min ajli Tounis, « l’Unité pour la Tunisie » qui réunit désormais en une même structure les trois partis modernistes et séculiers de Nidâ’ Tounis, du Joumhuri et du Masâr : ce nouvel ensemble constitue un rassemblement porteur de la mémoire politique du pays : celle du Destour qui, débarrassé du tropisme autocratique, articulé au projet démocratique, retourne aux fonds baptismaux qui ont présidé à sa naissance dans les années 1930 ; comme celle de l’esprit progressiste qui a animé le courant travailliste syndicaliste de gauche depuis les années 1920.
La référence à une mémoire corrigée est précieuse. Elle est notamment destinée à rappeler à Ennahdha qu’elle n’agit pas sur un sol vierge ou en un terrain vague : le territoire est fort balisé, il est habité par une intense mémoire productrice d’énergie créatrice capable d’innover : aussi la table rase dont les islamistes rêvent n’aura-t-elle pas lieu.
J’ai assisté dimanche dernier, le 27 janvier, à Tunis, sous la coupole du palais des Congrès, à un meeting politique de Nidâ’ Tounis, « l’Appel de la Tunisie ». Cette séance est l’illustration vivante de ce que je viens d’écrire. Le meeting a commencé par un bref spectacle proposé et mis en scène par Fadhel Jaziri, artiste explicitement engagé en faveur de Nidâ’ Tounis, pour socialiser son opposition radicale aux illusions et autres chimères par lesquelles Ennahdha cherche à séduire le peuple.
Ce spectacle théâtralisait le chant soufi populaire qui glorifie Sidi Abû Sa’îd al-Bâji dont le catafalque a été calciné il y a quelques jours par les salafistes. Le poème, accompagné de ghaïtas, de cornemuses, de tambours, sortait de la bouche du chantre Hédi Donia, disciple de la tariqa qâdiriyya, homme de maintien hiératique, à la belle voix voilée, dont les solos étaient repris en chœur par la vingtaine d’interprètes qui l’entouraient, personnes parées de costumes traditionnels.
La salle comble a vibré à l’unisson, sans rien perdre de sa gravité ni de sa retenue, qualités qui signalent un engagement mûrement réfléchi, conscient du péril qui guette. En somme, je reconnais en ce public la solidarité nouée entre l’éthique de la conviction et l’éthique de la responsabilité.
Par le seul spectacle, le message est reçu par les présents dont l’adhésion semble dire : « ils veulent nous priver de ces beautés qui proviennent de notre génie. Eh ! bien, nous nous opposons à de telles prétentions et nous saurons défendre notre patrimoine en le pratiquant ». Tel est le sentiment qui émanait de cette masse de sept mille personnes serrées à l’intérieur de la coquille monumentale et débordant sur le parvis et au-dehors jusqu’aux alentours. Et pour une fois, l’opposition aux islamistes ne mobilisait pas l’unique élite. Parmi ceux qui étaient là, nous reconnaissons toutes les classes de la société. C’est le peuple qui était au rendez-vous pour manifester son attachement à l’islam vernaculaire et son refus de l’islam uniformisé que veut imposer Ennahdha à l’ensemble du pays.
Le peuple ici présent a acquiescé en un deuxième temps à l’opposition politique en suivant concentré le discours prononcé par Béji Caïd Sebsi : le président de Nidâ Tounis a procédé à une critique raisonnée des défaillances d’Ennahdha dans son exercice du pouvoir, dénonçant son incompétence dans la gestion du pays ainsi que son manque de vision des contraintes géopolitiques. Il n’a pas manqué non plus de railler le hasardeux projet de société dont les islamistes sont porteurs ; tel projet escamote, à tout le moins, les fragiles acquis d’une modernisation dont le processus a été mis en branle depuis les années 1840.
C’était dimanche dernier, deux jours avant l’annonce de la création de « l’Union pour la Tunisie » qui renforce la tendance d’équilibrage destinée à cantonner l’hégémonie d’Ennahdha. Avec toutes ces initiatives, l’initiation qui approfondit le processus démocratique est à l’œuvre dans notre pays.

ABDELWAHAB MEDDEB SOBRE A TUNÍSIA (v)

Abdelwahab Meddeb
 
Autodafé

En Tunisie la situation gagne en tension. Les salafistes s’attaquent au monde des arts et de la culture. Et les autorités gouvernementales islamistes prétendument modérées renvoient dos à dos ceux qui sèment la terreur et les artistes assimilés à des agents provocateurs extrémistes. Encore une fois se révèle la stratégie du parti islamiste Ennahda qui dirige le pays. Il laisse sévir les salafistes pour condamner ensuite dans le même élan et l’agresseur et la victime. Ainsi les nahdawis espèrent-ils neutraliser les forces séculières et modernistes assimilant leur existence dans la cité au mal qui motive les fous de Dieu. Après s’être attaqué aux médias (à travers l’affaire Persepolis programmée par Nesmaa), après avoir porté atteinte à l’espace académique (notamment dans la faculté des lettres et des arts de Manouba), est venu le tour du monde des arts. Chaque fois, l’argument est le même : la liberté ne peut s’exercer que dans les limites du sacré. Comme on ne sait pas ce qu’est le sacré, ni où il commence ni où il finit, cette restriction s’avère liberticide.
Dimanche dernier, après leurs menaces diurnes, les salafistes ont pénétré de nuit dans le palais hafside d'El-‘Ibdelliyya à La Marsa qui abritait l’exposition du printemps des arts. Ils y ont profané les œuvres contestées, une dizaine de toiles ont été déchirées, détruites. Par ce vandalisme, ils montrent leur barbarie et leur ignorance. Prenons l’exemple d’une des œuvres jugée profanatrice alors qu’elle appartient plus que toute autre au sacré tel que nous le définissons. Il s’agit d’une toile qui transcrit la formule rituelle Subhâna Allâh (« Gloire à Dieu », expression figée que les musulmans prononcent en guise d’exclamation pour dire leur admiration ou leur terreur). Un défilé de fourmis en trace les lettres. Et les fourmis de l’aleph par lequel commence le mot Allâh continuent leur chemin jusqu’à pénétrer la tête d’un humain pour faire provision de son cerveau et lui ôter la faculté de juger. Peut-être est-ce ainsi que l’artiste symbolise la lobotomie qui produit un salafiste.
Or cette œuvre est doublement légitimée : par le sacré de l’art comme par le sacré du soufisme. D’abord le recours aux fourmis dérive de l’usage qu’en fait Salvador Dali dans ses tableaux. On voit chez le surréaliste catalan les ouvrières noires tout à leur ménage sur les touches blanches d’un piano. Cette apparition insolite crée le choc de la vision qui provoque l’émotion. L’artiste tunisien adapte cet élément qui appartient à la mémoire de la peinture à la situation qu’il est en train de vivre dans son pays. Par cet emprunt réorienté, il agit en artiste cosmopolite. Et c'est ce statut qui choque l’islamiste arcbouté à une identité obsidionale se contentant d'une autarcie stérile.
Ensuite la tradition islamique propose une audace de l’imagination créatrice qui a détourné la formule sainte reprise par l’artiste tunisien. Subhâna Allâh sort transformée de la bouche d’un des premiers maîtres du soufisme Abû Yazid Bistami (mort en 842) : elle se change en Subhânî : « Gloire à Dieu » devient « Gloire à moi ». La première personne s'empare d'une expression que le rite conjugue à la troisième personne. Le Dieu absent est rendu présent dans le corps du locuteur. Une telle incarnation est théorisée par le Shat’h, terme appartenant au lexique technique du soufisme qui a été traduit « paradoxe inspiré », « locution théopathique », « dit d’extase », « débord ». Le mot veut dire dans le langage commun la crue du fleuve ou les bris de grains qui fusent de la meule. Cette parole signifie l’excès dionysiaque que connaît l’homme lorsqu’il est ravi par l’extase et qu’il est de toute part investi et débordé par l'Absolu.
"Gloire à moi" qui se substitue à "Gloire à Dieu" transforme un énoncé (qui est un donné convenu) en une énonciation qui engage une subjectivité subversive. Celle-ci exprime l’énergie poétique dramatisée par le mystique lorsque Dieu parle par lui. Le transfert de Dieu à la première personne a été médité pendant plus d’un millénaire ; une immense littérature en langue arabe comme en langue persane s'est penchée sur cette subversion pour l'accommoder au canon et au dogme. Telle reconnaissance paraphe une des formes subversives du sacré au sein de la croyance islamique. Mais ce sacré-là, nous savons que les islamistes le haïssent et le combattent. Ce qui reste de ce sacré dans le soufisme populaire et le culte des saints, ravivé ici par un artiste contemporain, est honni par les salafistes qui ont engagé en Tunisie la démolition des tombes consacrées, offrant des scènes où était théâtralisée la transe.
De fait, la position islamiste iconoclaste est construite sur le déni de la tradition et de la civilisation islamiques elles-mêmes. Dès lors l’œuvre contestée assimilée au harâm, à la transgression de l’interdit, au kufr, à la mécréance qui, dans la logique des ignorantins salafistes, doit être bannie de la cité, telle œuvre acquiert sa double légitimité sacrée par Dali pour la dignité picturale, et par Bistami en tant que fait de civilisation plus ouvert, plus paradoxal, plus complexe que ne le supportent salafistes et islamistes. Cette double légitimité honore la sainteté de l’Esprit bafouée par la censure islamiste.
Il faut admettre que l'art comme la poésie sont subversifs ou ne sont pas. Et le jeune artiste tunisien reste loin en subversion si on le compare et au poète qui provient de la tradition islamique (Bistami) et au peintre qui appartient à l'une des révolutions artistiques qu'a connu l'Occident au XXe siècle (Dali).
J’écris ce texte de ma résidence à Berlin. Or l’histoire de l’Allemagne propose des séquences capables d’éclairer les événements de Tunisie. Les islamistes d’Ennahda se réclament d’une démocratie islamique analogique à la démocratie chrétienne telle qu’elle est représentée, par exemple, par le parti conservateur CDU d’où émane le gouvernement dirigé par Angela Merkel. Or les démocrates chrétiens ne s’immiscent jamais ni dans la création artistique ni dans les mœurs. Leur conception de la liberté n’est pas limitée par le sacré. Berlin accueille quelque vingt mille artistes du monde entier qui vivent et créent dans la liberté absolue, sans la moindre contrainte morale. Les islamistes et leurs alliés qui invoquent le modèle des démocrates chrétiens doivent savoir que ceux-ci agissent avec une mémoire configurée par l’enseignement kantien cosmopolitique des Lumières dont le premier principe est le respect inconditionnel de l’individu libre.
En outre, j’ai rencontré à Berlin un responsable d’une fondation proche du gouvernement qui s’est spécialisée dans la transition démocratique. L’intégration de l’Allemagne communiste à l'Etat fédéral a apporté une expertise à cette fondation pour le passage du totalitarisme au libéralisme, de l’unanimisme au pluralisme, de la dictature à la démocratie. Et cette fondation s'était mobilisée en faveur de la révolution tunisienne depuis la fuite du dictateur le 14 janvier 2011. Ses responsables étaient prêts à investir pour contribuer à la réussite de la phase transitionnelle. Or l’expert en question m’a transmis l’appréhension de son institution face à ses interlocuteurs nahdawis qui gouvernent la Tunisie. Ceux-ci ne se sentent concernés que par la partie du programme qui efface les vestiges du système déchu ; et ils se révèlent plus que rétifs dès qu’est abordée la mise en place du dispositif qui empêche tout retour à la dictature. C’est comme si les nahdawis laissaient ouverte cette possibilité pour eux-mêmes.
Devant cette ambiguïté qui instaure le soupçon, apparaît la deuxième analogie allemande, celle qui ravive le funeste souvenir du National Socialisme. Celui-ci est parvenu au pouvoir par la voie démocratique pour imposer ensuite sa vision totalitaire. Et l’irrésistible avènement de la dictature a commencé par l’attaque contre la culture, contre les arts. Revenons à l’année 1933. Après leur victoire électorale, les nazis ont procédé au nettoyage de la culture et des arts avant que triomphe à l’échelle de tout un peuple leur idéologie destructrice. Le 10 mai 1933, place de l’Opéra, à Berlin, furent brûlés 20.000 livres décrétés non ou anti allemands. Très vite Berlin si hospitalier pour l’esprit était devenu irrespirable. Quelques semaines avant, dans la pièce de théâtre Schlageter écrite par Johst et créée le 20 avril pour célébrer l’anniversaire du Führer, un des personnages dit : « Quand j’entends le mot « culture », je sors mon revolver », mot d’ordre qu’appliqueront les nazis.
Et, dans le malheureux contexte que vit la Tunisie livrée aux fanatiques, je me souviens d’une autre phrase d’un poète allemand de l’âge romantique, Heinrich Heine qui a écrit : « Là où on brûle les livres, on finira par brûler les hommes ». La prémonition de Heine est, hélas ! régulièrement vérifiée par l’histoire. Déjà, dans l’effervescence des mosquées livrées à la discorde, circulent des fetwas condamnant à mort des artistes qui ont exposé à la Marsa. Ainsi rendent-ils licite, comme ils disent, le versement de leur sang à tout candidat au crime.
D’évidence ces fanatiques qui mettent le pays à feu et à sang estimeront l’intégralité de ce texte (s’ils en prennent connaissance) nul et non avenu de par ses références, en ses tenants et aboutissants comme dans son horizon de pensée. En vérité ce texte donne la part belle à l’universel qui, selon eux, n’est peuplé que de croisés (Dali, Kant), de juifs (Heine), de mécréants hérétiques (Bistami). Et celui-là même qui l’a écrit ajoutera son nom sur la liste des réprouvés. Quoi qu’il en coûte, c’est de cet universel que nous nous réclamons pour résister à la barbarie.

ABDELWAHAB MEDDEB SOBRE A TUNÍSIA (IV)



Abdelwahab Meddeb
 
Après le printemps de Tunis :
L’avenir de la liberté
à l’aune du conflit
entre séculiers et islamistes

Ce qui arrive aujourd'hui à la Tunisie incombe à la responsabilité de Bourguiba, l'homme qui avait fondé un Etat "instituteur du peuple" (Rousseau), afin de lui donner le degré d'instruction nécessaire pour parvenir à la culture démocratique sans laquelle l'avènement de la démocratie ne peut qu'être dévoyé (comme ce à quoi nous assistons aujourd'hui). Car en démocratie, un homme, une femme égalent chacun une voix. Et pour que l’esprit de la liberté rayonne sur la communauté, encore faut-il que chaque votant soit parvenu à la conscience qu’il est citoyen choisissant ce qu’il estime être le bien public à partager avec les autres en recourant à son seul libre-arbitre. Bourguiba a omis dans son instruction de mettre en place les étapes conduisant de l'Etat autoritaire qui inculque la culture de la liberté à l'Etat démocratique qui en assure l’exercice.
Il est d’autant plus condamnable qu’il disposait et de la formation intellectuelle et de la technique politique pour réaliser un tel dessein. Juriste frotté aux humanités arabes et françaises, il se disait pragmatique en politique, réalisant jalon après jalon les visées stratégiques qu’il élabore. Que de fois a-t-il loué dans ses discours sa siyâsat al-marâhil (« politique des étapes ») ! il l’a même recommandée aux Palestiniens et aux Arabes dans son discours de Jéricho en 1965, leur demandant d’abandonner le romantisme du tout ou rien pour entrer dans la légalité internationale en partant du plan de partage adopté par l’assemblée générale de l’ONU en votant la résolution 181 le 29 novembre 1947. Or, cette politique des étapes a été défaillante concernant le passage de l’Etat autoritaire à la démocratie.
Au lieu de s’atteler à la réalisation d’un tel projet, Bourguiba a renforcé la structure du parti-Etat autour du dictateur, il a bloqué la société civile, asséché le sol politique, renforcé le refoulement des référents qui tournent autour de l'arabité et de l'islam (ce qui nous submerge aujourd'hui c'est ce que la psychanalyse appelle "le retour du refoulé"). Ces multiples blocages vont favoriser la catastrophe du coup d’Etat qui fit accéder Ben Ali au pouvoir en novembre 1987. Avec lui l'Etat a été dérouté de sa vocation publique et le bien commun a été détourné vers l'intérêt privé. Tandis que la vocation didactique de l’Etat a été gauchie et déviée de son horizon. Bourguiba a eu deux points de cécité qui, s'ils lui étaient éclairées, nous aurait évité la catastrophe que nous sommes contraints de vivre dans les jours présents : une vision réductrice de la laïcité et le refus du pluralisme politique.

Référent islamique et laïcité
Bourguiba démantela la Zitouna en 1957 : je proviens d'un milieu zitounien, je connais de l'intérieur les effets de ce démantèlement accompagné de l'humiliation d'un corps "pontifical" qui était avant lui paré de gloire. Il faut rappeler à ceux qui ne le savent pas que la Zitouna est une mosquée cathédrale plus que millénaire. Elle a été fondée en 864 et dédiée par l’émir aghlabide au calife ‘abbaside Musta’în siégeant à Bagdad, comme le signale l’inscription dédicataire sur la base de la coupole précédant le mihrab (s’y lit aussi le nom de son architecte, Fath). De son enceinte a été diffusé très tôt un magistère qui a participé à la formation et à l’entretien du savoir sunnite, particulièrement dans sa version malékite. La Zitouna a acquis un prestige aussi universel que celui dont jouissent ses deux émules, al-Azhâr du Caire et la Qarawîn de Fès, toutes deux fondées plus tard au Xe siècle.
Avec la pérennité d’une Zitouna encadrée par la République, aurait perduré une institution où le "Pontife" sous l’autorité et le contrôle du « Prince », aurait pu jouer son rôle régulateur en tant que dispensateur de normes au nom de la croyance encore profondément enracinée dans le coeur d’une large part des citoyens.
Sur cet aspect, ma critique s'atténue car Bourguiba, en pur produit de la culture française de la IIIe République, ne pouvait envisager la nécessité de maintenir une niche traditionnelle dans une perspective de modernisation ; c'est qu'il partageait la vision laïque réductrice qui négligeait la part du sacré dans l'économie de l'humain. Telle vision étroite était dominante en milieu intellectuel. Elle me rappelle la querelle que suscita Georges Bataille au sein du comité de rédaction des Temps Modernes : Bataille a en effet été raillé et par Sartre et par de Beauvoir et par les phénoménologues ; il a été traité d’anachronique, de mystique inconsolé de la mort de Dieu lorsqu'il eut à présenter devant eux, en tant qu'athée, ses thèses autour de L’expérience intérieure (ouvrage violemment critiqué par Sartre dès sa parution en 1943). La "hiérologie" (à distinguer de la théologie) ne pouvait être reconnue par les philosophes comme discours raisonné sur le sacré débordant le logos que suscite le dogme divin.
Bref, Bataille n'était pas compris par la bande qui le recevait en 1956 lorsqu'il avait insisté sur la prégnance de l'expérience du sacré, laquelle excède la croyance ou l'adhésion à quelque credo établi. Le discours d'un mystique orphelin, d'un religieux athée ne pouvait pendant les années 50 être reçu par l’autorité qui donnait le la au sein du milieu intellectuel. C’était un paradoxe assimilé à une confusion mentale.
Il va falloir attendre une décennie pour que cette quête de l’impossible soit admise par l’entendement. Deleuze relira Nietzsche dans la distinction entre religion et religiosité. Le site sur lequel se réalise la mort de Dieu n’est pas déserté, il sera investi par un Zarathoustra réinventé, acteur transfigurant les valeurs, ce qui n’implique pas la liquidation de l’ancien mais sa mutation.
Et l’on reviendra à un Hölderlin relu par Heidegger. Chez le poète romantique le Dieu des chrétiens qui meurt et ressuscite est situé dans l’analogie avec le dieu païen grec d’origine asiatique Dionysos dont le retour restaurera avec Nietzsche le pôle de la démesure, de l’ivresse, de ce qui sera pour Bataille la dépense et l’excès positivé, en réponse à tout ce qui a été refoulé dans la tradition occidentale par la prudence aristotélicienne réorientée par Descartes (voir le début du Discours de la Méthode où la notion d’excès est négativement évoquée pour être écartée). Pourtant cette énergie dionysiaque s’avèrera féconde pour la création poétique et musicale qui procède d’une disposition comme animée sinon par le sentiment religieux, du moins par une énergie qui excède la raison, qui déborde la conscience, qui pénètre l’Invisible en scrutant l’ordre du visible.
Et Lacan introduira la référence mystique dans la tension entre loi et désir à travers le partage du féminin et du masculin dans la psyché humaine et dans la relation intersubjective qui met en jeu la question de l’altérité entre identité et différence.
Ainsi ces multiples approches ont-elles balisé le chemin qui conduira à l'acceptation en milieu intellectuel de Georges Bataille et à l’adoption de la nuance qui corrige la vision laïque réductrice.
On dira même qu’aujourd’hui c’est plutôt Georges Bataille et non Sartre qui est lu et étudié. C’est que Bataille nous parle plus en ayant voulu tirer toutes les conséquences de la mort de Dieu théâtralisée par Nietzsche. En substituant, dans le moteur de l’être, la pulsion à l’intention, la consumation à la consommation, Bataille demande à l’homme de s’inscrire dans la quête de l’impossible. De ce fait, il récupère l’archaïsme et l’actualise. C’est ainsi qu’il accorde au terme amérindien Potlach la dignité d’un concept qui cristallise sa vision de la dépense-consumation dans la pulsion du don et de l’émulation qu’il provoque en pure perte au sein des communautés originelles de l’Amérique du Nord.
Après tout, le savoir traditionnel, équivalent à celui qui émanait de la Zitouna, continue d'exister et de produire jusqu'à aujourd'hui dans la France républicaine qui tient tant à sa loi de 1905 séparant l'Eglise et l'Etat. Ce savoir, parfois d'origine proto-médiévale, est toujours protégé par des institutions que soutient le Saint-Siège, à l'instar des "Etudes augustiniennes" ou des « recherches thomistes ».
En outre, la Zitouna a joué un rôle en canalisant l’énergie populaire qui s’exprime à travers le soufisme confrérique. Ses accointances avec le courant sobre du shadilisme l’ont aidé à jeter des passerelles entre le saint et le sacré, entre théologie et hiérologie, entre savant et populaire, entre traditionnel et archaïque. Il s’agit de ce mouvement si présent du Maroc à l’Egypte initié par le maître du XIIIe siècle d’origine andalouse Abû al-Hasan Shâdili qui séjourna à Tunis avant de s’établir en Alexandrie et de mourir en 1262 en Haute-Egypte, sur la route du pèlerinage, précisément à Humaythura. Or, ce soufisme populaire, qu’on appelle « maraboutisme », a été perçu par Bourguiba et les siens comme signe d’archaïsme dont l’éradication s’impose pour qu’à la dépense en pure perte qu’il suscite soit substituée l’équilibre de la raison. Or la scène de l’excès où s’exprime le débord de la transe signale la part dionysiaque qu’assume la culture vernaculaire. Une fois empêchée, que faire de l’énergie populaire restée sans exutoire ? Sans doute a-t-elle trouvé dans l’islamisme une possibilité de translation. D’autant plus que ledit islamisme, dans son purisme fantasmatique, wahhabite et salafiste, voue une haine au culte des saints. Ainsi, en en annulant l’exercice, cette idéologie combattante canalise pour son propre compte l’énergie laissée sans objet.
Au-delà du contexte géopolitique marqué par le triomphe islamiste dans la territorialité islamique, j'attribue le culte sauvage de la lettre (qui fait des ravages aujourd'hui en Tunisie) au moins partiellement au retour du refoulé qu’a instauré la fin programmée du rayonnement de la Zitouna sur les multiples aires sociales soumises à sa régulation.
C’est d’autant plus fâcheux que, dans une lettre adressée en 1951 par Bourguiba à Ben Youssef (avant le conflit qui les sépara et les a rendus irréconciliables en raison du pragmatisme et du tropisme occidentaliste du premier opposé à l’irrédentisme et à la conviction arabiste du second), et justement consacrée à la question de la Zitouna, l’on découvre l’indice que Bourguiba a dû lire le Traité théologico-politique de Spinoza comme le Léviathan de Hobbes puisque, se voyant déjà « Prince », il cherche à juguler le « Pontife », figure explicitement présente sous sa plume. Dans cette lettre Bourguiba constate le danger et l’entrave que représente l’émergence en politique du référent islamique. Il en a perçu la potentialité partout où il est allé d’Afrique à l’Asie en terres d’islam.
Toutefois Bourguiba n’approche la Zitouna que comme un repaire de conservateurs qui comploteraient contre son projet de modernisation. Tel un joueur d’échecs dissipé, sur la question de la Zitouna, il répondait au coup par coup et n’anticipait pas quelques coups d’avance pour une stratégie gagnante. C’est qu’il a confondu le danger réel de l’instrumentation politique de l’islam et le rôle de régulation sociale que peut avoir le sentiment religieux géré par une autorité légitime et surtout historiquement reconnue par sa modération, par son recours au compromis, par sa manière naturelle de s’accommoder du pouvoir politique, par sa façon d’éviter l’affrontement et la confrontation pour préserver ce qu’elle estime l’essentiel, à savoir la pérennité du credo dans l’unicité divine qui, dans la tradition théologique, prime sur le rite, le culte, la norme.
Mais il est vrai que le pôle zitounien représente un indéniable conservatisme social qui le lie à la tradition patricienne de Tunis, la cité dont la culture aristocratique a été engendrée par une ouverture méditerranéenne ayant assimilé notamment les apports espagnols (à travers les Morisques), italiens (par les transfuges chrétiens convertis à l’islam), balkaniques et d’Asie mineure (après l’acclimatation au lieu du pouvoir ottoman dans la seconde moitié du XVIe siècle). Or, la volonté de Bourguiba était de se défaire de cette hégémonie aristocratique qui empêchait l’ensemble du corps social d’évoluer hors la dichotomie divisant la communauté entre ‘ammâ (« gens du commun » renvoyés à leur ignorance et misère) et khassa (l’élite qui jouit de tous les privilèges, et qui veut disposer sans partage du pouvoir-savoir même si elle a le secret de la tolérance l’amenant à admettre l’état de fait, inacceptable en théorie).
Outre l’absence de nuance idéologique, il y a donc eu chez Bourguiba cette surdétermination sociale qui a dû jouer et décider de son action contre la Zitouna, alors qu’il fallait en cantonner le magistère à la seule perpétuation de la théologie et des sciences religieuses, là où elle maintenait vive la Tradition, comme en témoigne le commentaire coranique (tafsîr) du Shaykh zitounien Mohamed Tahar Ben Achour (1879-1973), le plus ample du XXe siècle (il s’agit de son Tahrîr wa Tanwîr, en trente volumes), supportant la comparaison par sa qualité heuristique et monumentale avec les grands manuels qui ont fondé cette science et l’ont enrichi de Tabari (IXe-Xe siècle) à Fakhreddine Râzî (XIIe s.).
Certes, et malgré le démantèlement de la Zitouna, Bourguiba a réussi à mobiliser au moins deux de ses maîtres, et pas des moindres : il s’agit du fils du shaykh Mohamed Tahar Ben Achour, le shaykh Fadhel Ben Achour qui fut le premier mufti de la République et du shaykh Chédli Enneifar qui joua un rôle modérateur dans la constitution de 1959, légitimant particulièrement son article premier, lequel, en stipulant que la Tunisie dispose d’un Etat souverain dont le « régime est la république, la religion l’islam, la langue l’arabe », réussit à forclore toute référence à la shari’a et à mener l’opération hobbesienne qui désamorce l’agissement politique au nom de la religion en soumettant celle-ci à l’autorité du prince, en allant jusqu’à estimer que la religion du sujet est celle du prince, et que la question religieuse est un donné qui, ne se discutant plus, se trouve hors le domaine politique.
Or cet article, dans sa généralité et son ambivalence, continue de servir dans le contexte actuel où la revendication de la shari’a revient à l’ordre du jour avec les islamistes. Et la résistance de la société civile a su faire entendre raison aux pragmatiques parmi les islamistes qui, pour l’instant, ont reculé sur ce point et se sont contentés de reconduire tel quel cet article premier dans la constitution en cours d’élaboration.
Cette reconduction est le signe que la société n’a pas évolué au point d’exclure toute identification religieuse de l’Etat qui, dans l’idéalité séculière, a à être l’arbitre assurant la liberté de croyance et de culte, se situant à égale distance à l’égard de chaque credo. Cette non-avancée est le signe que le projet bourguibien est resté inachevé, inaccompli, puisqu’il n’a pas réussi à généraliser la culture qui eût pu s’accorder avec une telle avancée.

Le refus de la pluralité politique

La deuxième occasion qui s'est présentée à Bourguiba est strictement politique : elle s'est manifestée à travers le congrès destourien de Monastir (octobre 1971) : le parti s’était divisé en deux tendances quasi égales. Bourguiba aurait pu tirer les conséquences de cette réalité et encourager la division du parti en deux entités ; il aurait été ainsi le président arbitre qui aurait pour un temps veillé à la constitution d'une structure bi-partisane à l'Anglo-saxonne qui reste le gage le plus sûr pour consacrer la pérennité démocratique en aménageant les conditions de l’alternance. Il eût fallu pour réussir ce défi tempérer l'aspect régionaliste (Tunisois contre Sahéliens) qui avait estampillé le clivage exprimé à Monastir entre libéraux et socialisants. Au lieu d'emprunter cette voie de la clairvoyance, Bourguiba avait annulé les décisions du congrès et s'était enfoncé dans la cécité monologique qui allait le conduire à la désastreuse "présidence à vie".
Bourguiba, je l'ai écris maintes fois, était ambivalent ; en sa personnalité s'agglomérait deux opposés que rien ne concilie sinon la mystérieuse alchimie qui produit le caractère humain : il était l'homme instaurateur de l'Etat de droit tout en restant attaché à la tradition tyrannique de l'Emirat. A cette ambivalence s'ajoute le caractère clinique de sa paranoïa.
J’en veux à Bourguiba car il avait les moyens intellectuels pour réaliser son projet moderniste dans la rigueur, la cohérence, à travers sa fameuse politique des étapes qui auraient pu conduire de l’Etat autoritaire à l’Etat démocratique.
Cette critique des dérives et des carences de Bourguiba ne m’empêche pas d’être par ailleurs admiratif de la constitution de 1959 dont il fut l’inspirateur. Elle reste fidèle à la logique du droit malgré son caractère présidentiel excessif qui s'inscrit dans le sillage de l’exception accordant une capacité de décision au chef qui confirme la souveraineté de l’Etat, ensemble théorisé par Carl Schmitt, le philosophe allemand, qui a légitimé juridiquement la mue du chancelier Hitler en dictateur. Il faut avouer que la constitution française de 1958 est, elle aussi, marquée par le même pli. Cela n'est pas surprenant puisqu'elle a été conçue par un politique (Michel Debré) et surtout par le juriste strasbourgeois René Capitant, lui-même lecteur inspiré sinon disciple de Carl Schmitt. C’est en se fondant sur l’article 16 (si schmittien) que De Gaulle a pu en 1961 mater le putsch d’Alger en usant de la capacité de décision que lui a procuré l’état d’exception.
Mon admiration pour la constitution de 1959 m'a d'ailleurs conduit à exprimer dans Printemps de Tunis (Albin Michel, 2012) mes craintes à propos de l’annonce concernant l’élection d’une Assemblée Constituante qui, en raison des mauvais temps islamistes que nous traversons, risque d'accoucher d'un texte régressif par rapport à celui de 1959.
Je reste aussi admiratif du cantonnement de l'islam politique par Bourguiba qui a fait la juste analyse, celle qui perçoit dans un référent islamique non tempéré l'entrave à la reconstruction d'une communauté nationale rénovée, adaptée au siècle. Ses trois décisions prises très tôt, dès 1956, font de lui un homme politique des plus lucides : elles concernent l'émancipation des femmes, l'universalisation de l'instruction moderne sécularisée et la maîtrise de la natalité. L'anthropologie actuelle confirme qu'à travers ces trois points résident les paramètres qui font muter les sociétés traditionnelles vers la modernité démocratique.
En outre, Bourguiba a su affronter la prégnance de la norme islamique pour la soumettre à l’épreuve de la liberté. Il en a même théâtralisé l’effet lorsqu’en 1965, un jour de Ramadan, en pleine période de jeûne, il se saisit d’un verre d’eau qu’il boit, justifiant son geste en recourant à des catégories islamiques : il en fait un acte résultant d’un ijtihâd, d’un « effort d’interprétation » pour produire un ra’y, « une opinion personnelle » concernant l’extension du domaine du jihâd, de la « guerre sainte » : comme notre « guerre » pour le développement est une forme de jihâd, et comme il est autorisé à tout participant au jihâd de déjeuner, alors il est légitime de ne pas jeûner afin que ne baisse pas notre productivité. Je ne sais si tel argumentaire est efficient, je ne sais pas s’il entre dans la logique du manuel de droit d’Averroès qui, par le titre seul encourage l’’ijtihâd (Bidâyat al-Mujtahid wa Nihâyat al-Muqtaçid, « Ici commence celui qui fait effort d’interprétation, où finit celui qui en fait l’économie »), tout ce que je sais, c’est qu’une telle mise en scène eut un effet considérable sur le symbolique et l’imaginaire de ceux qui ont été formés en islam ; effet qui a sustenté le désir de liberté d’une jeunesse prête à défier la fixité et la permanence qu’impose à la communauté la prédominance de la norme.
Cette approche laudative de Bourguiba ne doit pas être perçue contradictoire par rapport à la critique que je lui adresse concernant la destruction de la Zitouna. La juste solution eût exigé de dépouiller la Zitouna de son hégémonie globale tout en lui accordant les conditions d’une existence régulatrice dans le domaine du culte, du rite, de la foi, de la transmission théologique, de l’établissement des passerelles qui aident à circuler entre les sites où logent les multiples composantes de la société.
La double critique présente dans l’analyse qui précède est celle qui introduit la nuance en confirmant le rôle historique qu'a joué Bourguiba en refondant sur des bases saines l'Etat qui a entre ses mains les destinées du pays.

Pour un front démocratique

Maintenant, ceux des modernistes qui se sentent lésés dans le contexte actuel n'ont pas à se lamenter sur leur sort. Ils ont à résister et à mener le combat pour trouver la voie du "sauf"dans un monde dévasté. Deux directions s'imposent à leurs pas.
D'abord plusieurs forces cherchent à s'agglomérer autour d'un parti politique moderniste aussi actif dans toute la société et aussi bien organisé que le parti islamiste an-Nahdha ; un parti qui devrait veiller à combler le fossé entre la khaçça et la 'âmma, entre l’élite et le peuple. Ce parti à venir peut être capable d'absorber l'atomisation du camp moderniste, si néfaste pour la naissante démocratie, si avantageuse pour la partie adverse. Si un tel parti voyait le jour, il rétablirait face aux islamistes la saine règle démocratique fondée sur le bi-partisme. Et ce parti désiré a pour vocation de ressembler plutôt à un front qui rassemblerait un large faisceau de nuances idéologiques, de droite comme de gauche, qui auraient à s’entendre sur un seul dénominateur commun : celui de l’histoire du réformisme et du processus de modernisation qu’a connu le pays depuis le milieu du XIXe siècle. Car, in fine, et même dans la stricte action politique, le combat de l’heure est celui des valeurs. Il oppose les tenants de la société ouverte aux adeptes de l’identité close et exclusive.
Pour promouvoir l’ouverture et la diversité, nous avons à nous réclamer de la chaîne qui va de Kheireddine Pacha (1822-1890) jusqu'à Bourguiba (circa 1903-2000) en passant par Abou Kacem Chabbi (1909-1934) et Tahar Haddad (1899-1935). Il est heureux de rencontrer dans cette généalogie en Kheireddine l’homme d’Etat, le « Prince » (qui a écrit au XIXe siècle, en tant que premier ministre du Bey, l’ouvrage le plus percutant pour promouvoir « la nécessaire réforme des Etats musulmans ») ; en Chabbi le poète (qui a chamboulé une tradition poétique millénaire en fustigeant l’intolérable somnolence du peuple tout en réclamant l’avènement de l’individu éclairé par la liberté) ; en Haddad l’essayiste, le « philosophe » (qui a mis le doigt sur le trauma patriarcal qui, sous couvert d’islam, barre l’accès au féminin). Nous avons en cette généalogie les trois acteurs (le prince, le poète, le philosophe) qui, selon Heidegger, décident du « destinal » qui oriente l’histoire des communautés humaines.
C’est dans ces parages que nous avons à revenir à Bourguiba en tant que bourguibiens, nous qui n’avons jamais été bourguibistes ; le bourguibien étant celui qui adhère aux principes philosophiques à partir desquels l’homme a tracé l’horizon de son action moderniste ; à distinguer du bourguibiste qui fut le partisan sans condition du même homme qui se fit appeler « combattant suprême », ayant contribué corps et âme au culte du dictateur.
Nous avons de même à retrouver en la personnalité de Bourguiba la haute dimension symbolique, celle qui a su pointer la faille dont nous héritons comme musulmans, celle qui entrave l’accès à l’altérité féminine et religieuse, celle qui fige aussi la loi par la prégnance d’une norme réduisant l’espace de la liberté en un enclos consensuel irrespirable. Finalement, le Bourguiba du bourguibien est dépouillé de la figure du dictateur égotique qu’adule le bourguibiste. Et se condense en lui toutes les positivités qui émanent des trois chaînons de la généalogie réformiste : en sa figure se concentrent en effet l’homme qui chercha à acclimater l’Etat de droit (Kheireddine), encadrant l’individu libre désiré par Chabbi, guéri du trauma qui entrave l’altérité féminine farfouillé par Haddad.
Et nous avons à nous inspirer de sa méthode et de sa rhétorique, ce par quoi il a réussi à persuader le peuple en adoptant sa langue pour adapter à son langage les leçons d’un Condorcet, d’un Rousseau, d’un Victor Hugo, d’un Averroès. N’a-t-il pas en effet réussi, comme le recommandait Jean-Jacques au début du Contrat social, à contraindre les gens à être libres ?
D’ailleurs, ce retour à Bourguiba est à l’ordre du jour. Ce n’est pas un hasard si c’est à Monastir, sa ville natale, que s’est tenu le meeting qui a rassemblé en mars dernier cinquante-deux partis politiques et cinq cents associations de la société civile pour activer la mise en place d’une structure destinée à rameuter les modernistes pour les fédérer. Bourguiba, condensé de la généalogie réformatrice, proprement tunisienne, peut devenir le symbole de ce parti qui compterait notamment des bourguibiens et non point des bourguibistes.
Bourguiba sera le symbole irréductible des modernistes d’autant plus que l’homme est honni par les islamistes ; ceux-ci l’assimilent à Ben ‘Alî, mettant l’un et l’autre dans le même paquet, à l’instar de leur chef Rached Ghannouchi qui a parlé maintes fois des « deux destitués ». Le terme arabe utilisé au duel – al-Makhlû’ayn -- est en train de prendre le statut d’une expression figée ; il est, au reste, beaucoup plus méprisant et négatif en arabe où il désigne ceux qui ont quitté le pouvoir humiliés et sous la contrainte ; dans son premier sens le mot évoque une porte dont la serrure a été forcée.
J’ai été moi-même à Monastir le 6 avril dernier, 12e anniversaire de la mort de Bourguiba. J’ai eu d’abord un frisson qui approche du malaise : à l’entrée de l’esplanade qui précède le mausolée, je me suis trouvé face à un de ces portraits peints monumentaux de Bourguiba qui obstruaient le champ visuel dans les villes, les bourgs, les villages, et même les paysages en rase campagne. Je me suis senti envahi par la révulsion de l’anti-bourguibiste. Heureusement, me suis-je dit, que cette pratique, perpétuée par Ben Ali d’une manière grotesque, est bel et bien derrière nous. Désormais, du moins jusqu’à ce jour où j’écris, aucune incarnation humaine ne représente l’Etat. Seul le fanion national est exhibé comme symbole d’identification, de reconnaissance, de ralliement pour la communauté des citoyens.
Ensuite je me suis fondu dans la foule des pèlerins qui se sont déplacés pour l’occasion, se bousculant dans l’enceinte du mausolée autour de la sépulture, admirant l’exposition de photos et d’objets personnels ayant appartenu à Bourguiba. Il y avait là un bout de sa bibliothèque, qui compte plusieurs volumes d’auteurs classiques publiés dans la collection de la Pléiade ; j’y ai aussi repéré relié plein cuir le Tafsîr évoqué plus haut de Mohamed Tahar Ben Achour qu’accompagnent des ouvrages de Taha Hussein, l’Egyptien propagateur des Lumières, voix dominant l’entre-deux-guerres, à peine audible aujourd’hui. Le bourguibien en moi était heureux de voir tant de signes de connivence, aussi bien dans les livres exposés que dans les effets personnels, costumes, chemises, cravates, châles, djebbas, chaussures, témoignant d’une élégance dans la mise et le port, signe d’une civilité dont sont dépouillés les islamistes qui peuplent aujourd’hui les cabinets ministériels ou l’hémicycle de l’Assemblée. Il y avait autour de moi surtout des femmes émues et reconnaissantes pour celui qui a fait avancer leur cause, inquiètes pour leurs acquis maintenant que les islamistes sont aux affaires. Mais la détermination de se défendre les anime au plus profond d’elles-mêmes.
Et les visiteurs qui arrivaient par vague savaient en leur gravité même qu’ils ont en la figure de Bourguiba le symbole de leur action politique imminente pour rendre le pays à la chaîne de ses acquis et l’affranchir de la régression qui guette et qui risque de le ramener à des temps qu’on croyait révolus. Mais l’histoire nous apprend qu’il n’y pas d’acquis définitifs. L’appel à la vigilance est en train de mobiliser les énergies autour du symbole qu’incarne Bourguiba dans la conscience des bourguibiens définitivement séparés des bourguibistes dans l’âpre combat qui agite au quotidien l’arène politique.

Pour la liberté de créer
Sur la scène sociale, les intellectuels, artistes, poètes n’ont point à déserter le front de la création et de la pensée où se mène par la conjonction de l’esprit et de la main le véritable combat des valeurs dont le pivot est la liberté. Qu’est-ce que la liberté sinon le refus de subir la tyrannie de la majorité (Stuart Mill, On Liberty) ? Pour se rendre à la hauteur de cette exigence, toute forme d'intériorisation de l'autocensure serait funeste. Je le dis car le dispositif de l’autocensure est bel et bien en place et fonctionne efficacement en raison de la mobilisation de la vox populi contre ce que les islamistes appellent les muqaddasât, les tabous, les intouchables de la croyance, c’est-à-dire toute atteinte qui pourrait choquer le sens commun islamique.
Cela peut aller de la représentation du prophète ou de Dieu jusqu’à toute proclamation d’insoumission qui troublerait quelque norme, tel le respect des règles théologiques de la pudeur impliquant l’impossibilité de montrer une rétrospective sur le nu dans la peinture arabe (qui a bel et bien existé, à travers une histoire dense : nous pouvons jouir en cette saison d’une exposition sur cette matière à l’Institut du Monde Arabe à Paris). Ou, encore, ne serait-il pas plus fâcheux d’être confronté à l’interdiction pour les femmes et même pour les hommes de s’exhiber sur les plages en pratique et agréable tenue de bain puisque la lettre de la ‘awra (code de la pudeur), établie par le consensus des docteurs, stipule qu’un homme doit couvrir la part du corps du nombril au genou et que la femme ne peut laisser à nu que le visage et les mains ?
C’est le dispositif de la hisba médiévale qui a été subrepticement introduit, cette police des mœurs dont le mot d’ordre est l’expression coranique qui clame « la commanderie du bien et le pourchas du mal » et qui avance masquée derrière des procédures pénales suivant les rouages du droit positif. Cette hisba, je la vois agir, je la débusque derrière de multiples condamnations : comme celle de la chaîne TV Nesmaa pour avoir projeté Persépolis de Marjane Satrapi ; ou encore celle d’un journal accusé d’atteinte aux bonnes mœurs après avoir repris en une la photographie déjà publiée en Espagne d’un footballeur tunisien du Real de Madrid tenant sa compagne largement dévêtue dans ses bras.

Autodafé

En Tunisie la situation gagne en tension. Les salafistes s’attaquent au monde des arts et de la culture. Et les autorités gouvernementales islamistes prétendument modérées renvoient dos à dos ceux qui sèment la terreur et les artistes assimilés à des agents provocateurs extrémistes. Encore une fois se révèle la stratégie du parti islamiste Ennahda qui dirige le pays. Il laisse sévir les salafistes pour condamner ensuite dans le même élan et l’agresseur et la victime. Ainsi les nahdawis espèrent-ils neutraliser les forces séculières et modernistes assimilant leur existence dans la cité au mal qui motive les fous de Dieu. Après s’être attaqué aux médias (à travers l’affaire Persepolis programmée par Nesmaa), après avoir porté atteinte à l’espace académique (notamment dans la faculté des lettres et des arts de Manouba), est venu le tour du monde des arts. Chaque fois, l’argument est le même : la liberté ne peut s’exercer que dans les limites du sacré. Comme on ne sait pas ce qu’est le sacré, ni où il commence ni où il finit, cette restriction s’avère liberticide.
Dimanche dernier, après leurs menaces diurnes, les salafistes ont pénétré de nuit dans le palais hafside d'El-‘Ibdelliyya à La Marsa qui abritait l’exposition du printemps des arts. Ils y ont profané les œuvres contestées, une dizaine de toiles ont été déchirées, détruites. Par ce vandalisme, ils montrent leur barbarie et leur ignorance. Prenons l’exemple d’une des œuvres jugée profanatrice alors qu’elle appartient plus que toute autre au sacré tel que nous le définissons. Il s’agit d’une toile qui transcrit la formule rituelle Subhâna Allâh (« Gloire à Dieu », expression figée que les musulmans prononcent en guise d’exclamation pour dire leur admiration ou leur terreur). Un défilé de fourmis en trace les lettres. Et les fourmis de l’aleph par lequel commence le mot Allâh continuent leur chemin jusqu’à pénétrer la tête d’un humain pour faire provision de son cerveau et lui ôter la faculté de juger. Peut-être est-ce ainsi que l’artiste symbolise la lobotomie qui produit un salafiste.
Or cette œuvre est doublement légitimée : par le sacré de l’art comme par le sacré du soufisme. D’abord le recours aux fourmis dérive de l’usage qu’en fait Salvador Dali dans ses tableaux. On voit chez le surréaliste catalan les ouvrières noires tout à leur ménage sur les touches blanches d’un piano. Cette apparition insolite crée le choc de la vision qui provoque l’émotion. L’artiste tunisien adapte cet élément qui appartient à la mémoire de la peinture à la situation qu’il est en train de vivre dans son pays. Par cet emprunt réorienté, il agit en artiste cosmopolite. Et c'est ce statut qui choque l’islamiste arcbouté à une identité obsidionale se contentant d'une autarcie stérile.
Ensuite la tradition islamique propose une audace de l’imagination créatrice qui a détourné la formule sainte reprise par l’artiste tunisien. Subhâna Allâh sort transformée de la bouche d’un des premiers maîtres du soufisme Abû Yazid Bistami (mort en 842) : elle se change en Subhânî : « Gloire à Dieu » devient « Gloire à moi ». La première personne s'empare d'une expression que le rite conjugue à la troisième personne. Le Dieu absent est rendu présent dans le corps du locuteur. Une telle incarnation est théorisée par le Shat’h, terme appartenant au lexique technique du soufisme qui a été traduit « paradoxe inspiré », « locution théopathique », « dit d’extase », « débord ». Le mot veut dire dans le langage commun la crue du fleuve ou les bris de grains qui fusent de la meule. Cette parole signifie l’excès dionysiaque que connaît l’homme lorsqu’il est ravi par l’extase et qu’il est de toute part investi et débordé par l'Absolu.
"Gloire à moi" qui se substitue à "Gloire à Dieu" transforme un énoncé (qui est un donné convenu) en une énonciation qui engage une subjectivité subversive. Celle-ci exprime l’énergie poétique dramatisée par le mystique lorsque Dieu parle par lui. Le transfert de Dieu à la première personne a été médité pendant plus d’un millénaire ; une immense littérature en langue arabe comme en langue persane s'est penchée sur cette subversion pour l'accommoder au canon et au dogme. Telle reconnaissance paraphe une des formes subversives du sacré au sein de la croyance islamique. Mais ce sacré-là, nous savons que les islamistes le haïssent et le combattent. Ce qui reste de ce sacré dans le soufisme populaire et le culte des saints, ravivé ici par un artiste contemporain, est honni par les salafistes qui ont engagé en Tunisie la démolition des tombes consacrées, offrant des scènes où était théâtralisée la transe.
De fait, la position islamiste iconoclaste est construite sur le déni de la tradition et de la civilisation islamiques elles-mêmes. Dès lors l’œuvre contestée assimilée au harâm, à la transgression de l’interdit, au kufr, à la mécréance qui, dans la logique des ignorantins salafistes, doit être bannie de la cité, telle œuvre acquiert sa double légitimité sacrée par Dali pour la dignité picturale, et par Bistami en tant que fait de civilisation plus ouvert, plus paradoxal, plus complexe que ne le supportent salafistes et islamistes. Cette double légitimité honore la sainteté de l’Esprit bafouée par la censure islamiste.
Il faut admettre que l'art comme la poésie sont subversifs ou ne sont pas. Et le jeune artiste tunisien reste loin en subversion si on le compare et au poète qui provient de la tradition islamique (Bistami) et au peintre qui appartient à l'une des révolutions artistiques qu'a connu l'Occident au XXe siècle (Dali).
J’écris ce texte de ma résidence à Berlin. Or l’histoire de l’Allemagne propose des séquences capables d’éclairer les événements de Tunisie. Les islamistes d’Ennahda se réclament d’une démocratie islamique analogique à la démocratie chrétienne telle qu’elle est représentée, par exemple, par le parti conservateur CDU d’où émane le gouvernement dirigé par Angela Merkel. Or les démocrates chrétiens ne s’immiscent jamais ni dans la création artistique ni dans les mœurs. Leur conception de la liberté n’est pas limitée par le sacré. Berlin accueille quelque vingt mille artistes du monde entier qui vivent et créent dans la liberté absolue, sans la moindre contrainte morale. Les islamistes et leurs alliés qui invoquent le modèle des démocrates chrétiens doivent savoir que ceux-ci agissent avec une mémoire configurée par l’enseignement kantien cosmopolitique des Lumières dont le premier principe est le respect inconditionnel de l’individu libre.
En outre, j’ai rencontré à Berlin un responsable d’une fondation proche du gouvernement qui s’est spécialisée dans la transition démocratique. L’intégration de l’Allemagne communiste à l'Etat fédéral a apporté une expertise à cette fondation pour le passage du totalitarisme au libéralisme, de l’unanimisme au pluralisme, de la dictature à la démocratie. Et cette fondation s'était mobilisée en faveur de la révolution tunisienne depuis la fuite du dictateur le 14 janvier 2011. Ses responsables étaient prêts à investir pour contribuer à la réussite de la phase transitionnelle. Or l’expert en question m’a transmis l’appréhension de son institution face à ses interlocuteurs nahdawis qui gouvernent la Tunisie. Ceux-ci ne se sentent concernés que par la partie du programme qui efface les vestiges du système déchu ; et ils se révèlent plus que rétifs dès qu’est abordée la mise en place du dispositif qui empêche tout retour à la dictature. C’est comme si les nahdawis laissaient ouverte cette possibilité pour eux-mêmes.
Devant cette ambiguïté qui instaure le soupçon, apparaît la deuxième analogie allemande, celle qui ravive le funeste souvenir du National Socialisme. Celui-ci est parvenu au pouvoir par la voie démocratique pour imposer ensuite sa vision totalitaire. Et l’irrésistible avènement de la dictature a commencé par l’attaque contre la culture, contre les arts. Revenons à l’année 1933. Après leur victoire électorale, les nazis ont procédé au nettoyage de la culture et des arts avant que triomphe à l’échelle de tout un peuple leur idéologie destructrice. Le 10 mai 1933, place de l’Opéra, à Berlin, furent brûlés 20.000 livres décrétés non ou anti allemands. Très vite Berlin si hospitalier pour l’esprit était devenu irrespirable. Quelques semaines avant, dans la pièce de théâtre Schlageter écrite par Johst et créée le 20 avril pour célébrer l’anniversaire du Führer, un des personnages dit : « Quand j’entends le mot « culture », je sors mon revolver », mot d’ordre qu’appliqueront les nazis.
Et, dans le malheureux contexte que vit la Tunisie livrée aux fanatiques, je me souviens d’une autre phrase d’un poète allemand de l’âge romantique, Heinrich Heine qui a écrit : « Là où on brûle les livres, on finira par brûler les hommes ». La prémonition de Heine est, hélas ! régulièrement vérifiée par l’histoire. Déjà, dans l’effervescence des mosquées livrées à la discorde, circulent des fetwas condamnant à mort des artistes qui ont exposé à la Marsa. Ainsi rendent-ils licite, comme ils disent, le versement de leur sang à tout candidat au crime.
D’évidence ces fanatiques qui mettent le pays à feu et à sang estimeront l’intégralité de ce texte (s’ils en prennent connaissance) nul et non avenu de par ses références, en ses tenants et aboutissants comme dans son horizon de pensée. En vérité ce texte donne la part belle à l’universel qui, selon eux, n’est peuplé que de croisés (Dali, Kant), de juifs (Heine), de mécréants hérétiques (Bistami). Et celui-là même qui l’a écrit ajoutera son nom sur la liste des réprouvés. Quoi qu’il en coûte, c’est de cet universel que nous nous réclamons pour résister à la barbarie.

Il ne faut surtout pas être intimidé par de telles pressions militant pour une mise au pas de médiocre horizon. Chacun est tenu de persister à penser, à créer en se réclamant de sa seule conscience, en suivant la voix qui grouille en son for intérieur. Et en n’oubliant pas qu’il est enfant d’un siècle où règne le soupçon et la critique, celui de l’incessante interrogation qui passe au crible tout jugement qui prétend à la vérité. La fragilité de notre condition nous a appris que bien des vérités qui ont été pensées pérennes se sont avérées caduques. Certes, c’est là une assertion élémentaire mais va-t-on hésiter à la redire lorsque l’on est politiquement et intellectuellement affronté aux fanatiques de l’incontestable qui rusent pour que l’ensemble du corps social se mette à marcher au rythme que commande leur vision de l’ici-bas et de l’au-delà ?