sexta-feira, 30 de novembro de 2012

FERNANDO PESSOA (EVOCAÇÃO)



Fernando Pessoa morreu em Lisboa, em 30 de Novembro de 1935. Porque nunca é demais evocar uma das maiores figuras portuguesas do século XX, aqui se regista a efeméride, para recordar os distraídos e assinalar a data aos que desconhecem o facto.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A PALESTINA NAS NAÇÕES UNIDAS



A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou hoje uma resolução admitindo a Palestina como estado-observador, por 138 votos a favor (entre os quais os de Portugal, Espanha, França e Itália) e nove contra, registando-se 41 abstenções (entre as quais a da Alemanha). A Palestina passa a gozar de um estatuto idêntico ao do Estado do Vaticano.

A decisão, histórica, provocou grande entusiasmo no país, em especial em Ramallah, onde representantes do Fatah, do Hamas, da Jihad Islâmica e da Frente Popular para a Libertação da Palestina, comemorarm conjuntamente esta vitória diplomática.

O site da Al Jazira fornece uma notícia

NOTA: Votaram contra Israel, os Estados Unidos, o Canadá, a República Checa, o Panamá e umas ilhotas do Pacífico.

CARTA ABERTA AO PRIMEIRO-MINISTRO



Cerca de uma centena de personalidades dos mais variados sectores da vida nacional enviaram ao primeiro-ministro, com cópia para o presidente da República, a carta que a seguir se transcreve, encabeçando Mário Soares a lista dos subscritores:


Exmo. Senhor Primeiro-Ministro,

Os signatários estão muito preocupados com as consequências da política seguida pelo Governo.

À data das últimas eleições legislativas já estava em vigor o Memorando de Entendimento com a Troika, de que foram também outorgantes os líderes dos dois Partidos que hoje fazem parte da Coligação governamental.

O País foi então inventariado à exaustão. Nenhum candidato à liderança do Governo podia invocar desconhecimento sobre a situação existente. O Programa eleitoral sufragado pelos Portugueses e o Programa de Governo aprovado na Assembleia da República, foram em muito excedidos com a política que se passou a aplicar. As consequências das medidas não anunciadas têm um impacto gravíssimo sobre os Portugueses e há uma contradição, nunca antes vista, entre o que foi prometido e o que está a ser levado à prática.

Os eleitores foram intencionalmente defraudados. Nenhuma circunstância conjuntural pode justificar o embuste.

Daí também a rejeição que de norte a sul do País existe contra o Governo. O caso não é para menos. Este clamor é fundamentado no interesse nacional e na necessidade imperiosa de se recriar a esperança no futuro. O Governo não hesita porém em afirmar, contra ventos e marés, que prosseguirá esta política - custe o que custar - e até recusa qualquer ideia da renegociação do Memorando.

Ao embuste, sustentado no cumprimento cego da austeridade que empobrece o País e é levado a efeito a qualquer preço, soma-se o desmantelamento de funções essenciais do Estado e a alienação imponderada de empresas estratégicas, os cortes impiedosos nas pensões e nas reformas dos que descontaram para a Segurança Social uma vida inteira, confiando no Estado, as reduções dos salários que não poupam sequer os mais baixos, o incentivo à emigração, o crescimento do desemprego com níveis incomportáveis e a postura de seguidismo e capitulação à lógica neoliberal dos mercados.

Perdeu-se toda e qualquer esperança.

No meio deste vendaval, as previsões que o Governo tem apresentado quanto ao PIB, ao emprego, ao consumo, ao investimento, ao défice, à dívida pública e ao mais que se sabe, têm sido, porque erróneas, reiteradamente revistas em baixa.

O Governo, num fanatismo cego que recusa a evidência, está a fazer caminhar o País para o abismo.

A recente aprovação de um Orçamento de Estado iníquo, injusto, socialmente condenável, que não será cumprido e que aprofundará em 2013 a recessão, é de uma enorme gravidade, para além de conter disposições de duvidosa constitucionalidade. O agravamento incomportável da situação social, económica, financeira e política, será uma realidade se não se puser termo à política seguida.

Perante estes factos, os signatários interpretam – e justamente – o crescente clamor que contra o Governo se ergue, como uma exigência, para que o Senhor Primeiro-Ministro altere, urgentemente, as opções políticas que vem seguindo, sob pena de, pelo interesse nacional, ser seu dever retirar as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República, poupando assim o País e os Portugueses ainda a mais graves e imprevisíveis consequências.

É indispensável mudar de política para que os Portugueses retomem confiança e esperança no futuro.

PS: da presente os signatários darão conhecimento ao Senhor Presidente da República.

Lisboa, 29 de Novembro de 2012


Além de Mário Soares, subscrevem a carta, entre outros, os professores Adelino Maltez, Alfredo Bruto da Costa, António Reis, Boaventura de Sousa Santos, Eduardo Lourenço, Fernando Rosas, João Ferreira do Amaral, José Barata-Moura, José Medeiros Ferreira, Luís Reis Torgal, Manuel Maria Carrilho, Pedro Bacelar de Vasconcelos e Teresa Pizarro Beleza, os generais Pires Veloso, Lemos Ferreira e Manuel Monge, o coronel Antero Ribeiro da Silva, o arquitecto Siza Vieira, o pintor Júlio Pomar, o escultor João Cutileiro, os jornalistas Ana Sousa Dias, Baptista-Bastos, Cesário Borga, Clara Ferreira Alves e Daniel Oliveira, os escritores Alice Vieira, Inês Pedrosa, José Jorge Letria, Lídia Jorge e Maria Teresa Horta, os sindicalistas Carvalho da Silva, Carlos Trindade e Vítor Hugo Sequeira, os músicos Pedro Abrunhosa e Fernando Tordo, os deputados Eduardo Ferro Rodrigues, Duarte Cordeiro, Helena Pinto, Inês de Medeiros, João Galamba, Pedro Delgado Alves e Pedro Nuno Santos, o advogado António Arnaut, Frei Bento Domingues, a psicanalista Maria Belo, a economista Manuela Morgado, as realizadoras Maria de Medeiros e Teresa Villaverde, o secretário-geral da Juventude Socialista João Torres, etc., etc.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A TRIBUTAÇÃO SOBRE PENSÕES



Transcrevemos do blogue "Da Literatura" excertos do artigo de Bagão Félix, A grosseira inconstitucionalidade da tributação sobre pensões, hoje publicado no PÚBLICO, com sublinhados do blogger:


«Aprovado o OE 2013 [...] os pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da Constituição da República Portuguesa], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP]. Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045€ de impostos do que se estivesse a trabalhar com igual salário [...] Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada “contribuição extraordinária de solidariedade”, que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%.

Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. [...] Haverá casos em que a soma de todos os tributos numa cascata sem decoro [...] poderá representar uma taxa marginal de impostos de cerca de 80%! Um cataclismo tributário que só atinge reformados e não rendimentos de trabalho, de capital ou de outra qualquer natureza! Sendo confiscatório, é também claramente inconstitucional.

Aliás, a própria “contribuição extraordinária de solidariedade” não é uma contribuição. É pura e simplesmente um imposto. Chamar-lhe contribuição é um ardil mentiroso. Uma contribuição ou taxa pressupõe uma contrapartida, tem uma natureza sinalagmática ou comutativa. Por isso, está ferida de uma outra inconstitucionalidade. É que o já citado art.º 104.º da CRP diz que o imposto sobre o rendimento pessoal é único.

Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. [...] Foi lamentável que os deputados da maioria (na qual votei) tenham deixado passar normas fiscais deste jaez mais próprias de um socialismo fiscal absoluto e produto de obsessão fundamentalista, insensibilidade, descontextualização social e estrita visão de curto prazo do ministro das Finanças. E pena é que também o ministro da Segurança Social não tenha dito uma palavra sobre tudo isto, permitindo a consagração de uma medida que prejudica seriamente uma visão estratégica para o futuro da Segurança Social. Quem vai a partir de agora acreditar na bondade de regimes complementares ou da introdução do “plafonamento”, depois de ter sido ferida de morte a confiança como sua base indissociável? Confiança que agora é violada grosseiramente por ditames fiscais aos ziguezagues sem consistência, alterando pelo abuso do poder as regras de jogo e defraudando irreversivelmente expectativas legitimamente construídas com esforço e renúncia ao consumo. [...] Um abuso de poder sobre pessoas quase tratadas como párias e que, na sua larga maioria, já não têm qualquer possibilidade de reverter a situação. Uma vergonha imprópria de um Estado de Direito. Um grosseiro conjunto de inconstitucionalidades que pode e deve ser endereçado ao Tribunal Constitucional. [...]»

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A IGREJA E O ESTADO SOCIAL



Pela voz do arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, a Igreja Católica assume a defesa do Estado Social.

Segundo o "Jornal de Notícias", disse o prelado, na abertura da Semana Social, no Porto: "Se não chegarmos à verdadeira responsabilidade do Estado e não contribuirmos efectivamente para uma sociedade solidária só chegaremos a considerações".

Transcrevemos a notícia:
 
A situação social "é dramática", ninguém o esconde. Por isso, a Igreja diz que é chegada a hora de olhar para as causas da crise e para os verdadeiros factores capazes de oferecerem soluções estáveis.

"Se não chegarmos à verdadeira responsabilidade do Estado e não contribuirmos efetivamente para uma sociedade solidária só chegaremos a considerações", disse, ontem, D. Jorge Ortiga, na abertura da Semana Social, que decorre no Porto.

O arcebispo de Braga, que é também o responsável máximo da Igreja Católica pela Pastoral Social, adverte que o Estado social tem o seu papel "insubstituível", admitindo não acreditar que os múltiplos cortes de prestações sociais, anunciados pelo Governo, ponham em causa o Estado Social.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O QUE FAZ ANDAR VÍTOR GASPAR?



O que faz mover Vítor Gaspar, nestas novas andanças do Demónio, é coisa que nem me atrevo a aventar. Mistério que a seu tempo se desvendará, ou não. Porque não acredito que Gaspar seja suficientemente estúpido para estar convencido de que vai resgatar Portugal, quando está a conduzir o país a uma das maiores tragédias da sua história.

O PÚBLICO transcreve hoje excertos de uma conferência, no Instituto de Ciências Sociais, de Paul De Grauwe, professor da London School of Economics e membro do Center for European Policy Studies, onde o economista belga alerta o Governo português para a possibilidade de estar a dirigir o país para a insolvência com o esgotamento da política de austeridade, aconselhando que "Vítor Gaspar não exagere".

Não creio que os caminhos do ministro das Finanças sejam absolutamente insondáveis; há sempre quem esteja atento. Mas a não ser travada, rapidamente e em força, a actividade de Gaspar, arriscamo-nos a uma crise sem paralelo nas últimas décadas. Nem mesmo Salazar, governando em ditadura (mas Salazar, com todas as suas virtudes e defeitos tinha uma estatura humanística que Gaspar não possui, nem nunca atingirá) se atreveu alguma vez a impor aos portugueses as medidas draconianas que este homúnculo recém-chegado do estrangeiro pretende aplicar no nosso país.

Para elucidação dos leitores, transcrevemos a notícia do PÚBLICO:

Paul De Grauwe, professor da London School of Economics e investigador no Center for European Policy Studies, afirmou nesta segunda-feira, em Lisboa, que "tem dúvidas" que Portugal volte aos mercados em 2013 e alertou para a possibilidade de o Governo português estar a fazer o país caminhar para uma insolvência imposta pela austeridade.

O economista belga, que falava na conferência "Portugal em Mudança", que celebra os 50 anos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, centrou grande parte da sua argumentação na perspectiva de que os países do norte da Europa estão a fugir às suas responsabilidades, crítica que lhe custou uma disputa com o embaixador alemão em Portugal, Helmut Elfenkämper.

Apesar de Vítor Gaspar ser "um bom amigo" de Paul De Grauwe, como este último fez questão de referir, o economista belga fez também questão de fazer referência à linha de acção do Governo: "Vítor Gaspar, não exagere".

"O Governo português pode estar a levar o rumo da austeridade demasiado longe e a puxar a economia portuguesa para uma espiral recessiva. Não vai conseguir curar o défice orçamental e reestruturar a dívida pública assim", disse Paul De Grauwe, afirmando ainda que o esgotamento desta via já mostrou várias vezes que pode levar os países em reestruturação para a insolvência.

O economista reconhece que não existe uma grande liberdade na contestação às metas para a reestruturação orçamental dos países do sul mas, alertou, isto não deve significar que os países deixem de pedir uma redução da austeridade. Para Paul De Grauwe, "há uma opção de reduzir a austeridade".

Paul de Grauwe defendeu que os países do norte da Europa devem apoiar a reestruturação económica dos países recessivos do Sul, a braços com um crescimento da dívida soberana que, disse, é também fruto das políticas de austeridade que são impostas pelos parceiros europeus: "Os países do norte não querem estimular a economia", afirmou o economista belga, em referência ao receio de fraco crescimento que a Alemanha, por exemplo, tem vindo a mostrar.

O professor da London School of Economics apelou a uma partilha das responsabilidades na retoma económica da Zona euro, afirmando que à medida que os países do Sul assumem políticas de austeridade que impedem o seu crescimento económico, os países do Norte deveriam acompanhar este esforço "com investimento económico". "Mas não, estes países querem manter os seus excedentes económicos", acusou Paul De Grauwe.

A este argumento, Paul De Grauwe juntou outra crítica: o Banco Central Europeu (BCE) está a agir "tanto como polícia e bombeiro da Europa" o que, defendeu, lhe retira independência na sua linha de acção. Como exemplo, o economista utilizou a ambiguidade da posição do BCE enquanto rede de segurança do sistema financeiro - que agora quer assumir com o anunciado programa de compra ilimitada de dívida - e enquanto "moralizador" da situação dos países que encabeçam a crise da dívida externa europeia, ao apelar à adopção de medidas de austeridade para a retoma do crescimento. "É horrível que o BCE faça parte da troika", disse, reforçando esta postura com a metáfora de um bombeiro que deixa as casas arder - leia-se, países com uma austeridade consumidora - para que "o dono da casa receba um castigo".

Na fase reservada às questões do público, ergueu-se das cadeiras do segundo auditório da Fundação Calouste Gulbenkian Helmut Elfenkämper. "Tenho a dizer-lhe que não gosto da sua metáfora do bombeiro", afirmou o embaixador alemão em Portugal. "A Alemanha não pode investir mais dinheiro sem o risco de criar bolhas económicas", atirou o diplomata em resposta a acusação de Paul De Grauwe, que colocou várias vezes em causa o facto de os países do Norte, particularmente a Alemanha, estarem a aplicar medidas de austeridade desnecessárias, arrastando a economia da Zona Euro para uma dupla recessão. A isto, Paul De Grauwe ripostou: "Está-me a dizer que não existem investimentos na Alemanha [que não apresentem riscos de bolhas económicas]? Olhe à sua volta. Parece-me que há um problema de imaginação na Alemanha", disse.

domingo, 25 de novembro de 2012

A EXUMAÇÃO DE YASSER ARAFAT



Segundo se lê aqui, a exumação do corpo de Yasser Arafat está marcada para a próxima terça-feira, em Ramallah, na presença de juízes franceses e com a participação de peritos suíços e russos. A operação é realizada a pedido da sua viúva, Suha, e os restos mortais do antigo líder palestiniano serão novamente sepultados numa cerimónia "digna e protocolar".

Como referimos aqui e aqui, continuam a desconhecer-se as causas da estranha morte de Arafat, e o hospital francês onde esteve internado os últimos dias da sua vida recusou-se a indicar as razões do falecimento, invocando segredo de Estado.

Recorde-se que Arafat esteve prisioneiro dos israelitas no seu quartel-general da Muqata, em Ramallah, durante dois anos, tendo sido transferido para Paris quando os seus padecimentos se agravaram e a situação da sua saúde se tornou irreversível.

A sua morte, há oito anos, ficou envolvida em mistério e sempre constou que não se devera a causas naturais mas a envenenamento por parte dos israelitas, ou até de alguma das facções palestinianas.

Julgo que será possível determinar agora se realmente o antigo chefe da Autoridade Palestiniana foi vítima de um crime ou não. Já creio mais difícil, a concluir-se pela tese do homicídio, determinar quem o praticou, autores materiais e morais incluídos.

Mas como a esperança é, dizem, a última coisa a morrer, aguardemos pelos resultados da exumação.

sábado, 24 de novembro de 2012

A ANULAÇÃO DO DESTINO



Transcrevemos, pelo seu interesse, do blogue "Da Literatura", excertos do artigo de José Pacheco Pereira, hoje publicado no PÚBLICO,  com o título "Os intelectuais e a 'anulação do destino'". Os sublinhados são da responsabilidade do blogger:

«Pode-se sempre dizer que qualquer tempo é um tempo de exigência para os intelectuais, embora os intelectuais não tenham uma história particularmente brilhante de “interpretação” dos tempos. Bem pelo contrário, os intelectuais têm uma história no século XX de participarem activamente nas grandes mentiras do século, fascismo e comunismo em particular [...] Mas, também por isso, tempos como os de hoje são particularmente exigentes para a réstia de função que ainda podemos atribuir aos intelectuais. Por duas razões: há uma enorme circulação de mentiras em curso, e há um enorme sofrimento na maioria das pessoas comuns e uma perda colectiva da esperança, em si mesmos, na sociedade, na democracia, no país. Esta é a crise perfeita, como a tempestade perfeita. [...] Foi tudo uma ilusão artificial, como agora nos dizem? Teve aspectos ilusórios, expectativas excessivas, mas não foi uma ilusão, foi uma melhoria. Não precisamos que nos venham dar lições morais com a parte da ilusão, para nos arrancarem as melhorias, porque a melhoria de vida dos portugueses deve ser defendida ao limite. [...] Daí as mentiras e a petulância [...] cujo melhor exemplo é o Orçamento do Estado e as sucessivas avaliações positivas da troika, peças de uma política cujos perigos dois ou três dias depois vem o FMI enunciar. [...] Na verdade, os portugueses também já “ajustaram” os governantes. “Miúdos”, “garotos”, como o povo manifestante bem intui, percebendo a sua inexperiência da “vida”, saídos da pior escola, carreiristas e espertos, obcecados pela “imagem” mediática, conhecedores de mil e um truques, tão vingativos como ignorantes, deslumbrados pelo seu poder actual, subservientes face a todos os poderosos, e que incorporaram um profetismo grandioso sobre “refundar” o país, que rapidamente se torna numa luta pela própria sobrevivência política, custe o que custar. O resto é expendable, no inglês técnico de que gostam. Pode ser que, mais uma vez, os intelectuais traiam, com a obsessão de respeitabilidade, o respeitinho moderado e o sufoco dos bens escassos para distribuir. Mas a obrigação do intelectual, como escreveu Emerson, é “anular o destino”, pensar para haver “liberdade”. Presos neste miserável destino, o sofrimento de muitos é uma efectiva ameaça à liberdade

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

GOLPE DE ESTADO NO EGIPTO



O presidente egípcio Mohamed Morsi assumiu ontem plenos poderes, neutralizando o sistema judicial e demitindo o procurador-geral da República, Abdel Meguid Mahmud. Segundo o decreto que fez publicar, Morsi proclamou que todas as suas decisões são inquestionáveis.

Ao actuar desta maneira, Morsi fica com mais poderes de que o seu antecessor Mubarak, transformando o Egipto numa ditadura religiosa. Mohamed El-Baradei, prémio Nobel da Paz, reagiu de imediato, chamando-lhe o "novo faraó".

Há grande agitação no Egipto que, face à instalação do fascismo verde, poderá mergulhar numa guerra civil.


domingo, 18 de novembro de 2012

A ORIGEM DA TRAGÉDIA



Em 2 de Novembro de 1917, Lord Arthur James Balfour, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros do gabinete do primeiro-ministro David Lloyd George (1º conde de Dwifor), enviou a Lord Lionel Walter Rothschild (2º Barão de Rothschild), presidente da Federação Sionista Britânica, a seguinte carta, que ficou conhecida como "Declaração Balfour":




Caro Lord Rothschild, 

Tenho o grande prazer de endereçar a V. Exª., em nome do Governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao Gabinete e por ele aprovada: 

 “O Governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objectivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das comunidades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.” 

Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Exª pela gentileza de encaminhar esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista. 

Arthur James Balfour 



FOI ESTA A ORIGEM DA TRAGÉDIA

sábado, 17 de novembro de 2012

NANI (26 ANOS)



Ocorre hoje o 26º aniversário do futebolista português, de origem cabo-verdiana, Luís Carlos Almeida da Cunha, mais conhecido por Nani, que demonstra as suas aptidões ao serviço do Manchester United.

Nani, que foi jogador do Sporting até 2007, data em que se transferiu para o clube britânico, treinado pelo talentoso Sir Alex Ferguson, um verdadeiro caçador de talentos, participa regularmente na Selecção Nacional de Portugal, da qual é um dos elementos mais valiosos.

Por isso, desejamos ao Nani um feliz aniversário e os maiores êxitos na sua brilhante carreira.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

GAZA OUTRA VEZ



Israel voltou a atacar a Faixa de Gaza. Na passada quarta-feira, num atentado cirúrgico, assassinou o chefe militar do Hamas, Ahmad Jabari. Depois prosseguiu com os bombardeamentos, que tiveram alguma resposta por parte dos palestinianos, que conseguiram fazer explodir rockets na capital, Telavive, e mesmo um nos arredores de Jerusalém, o que demonstra que o Hamas está mais bem equipado do que em ocasiões anteriores.
 

Esta escalada, em vésperas de eleições em Israel, tem um significado político interno, mas também externo, atendendo ao contexto explosivo que se vive na região. A situação de guerra civil na Síria, que foi também bombardeada pelas forças israelitas, a agitação na Jordânia, onde os manifestantes pedem a resignação do rei Abdullah II, a instabilidade no Líbano, a situação caótica no Iraque, a vizinhança com o Egipto, agora governado pelos Irmãos Muçulmanos, e a posição hostil do Irão, contribuem para um clima propício a mais uma aventura israelita no sentido de consolidar e alargar o seu espaço geográfico.

Porque a situação é diferente da verificada em outras alturas, o Egipto enviou a Gaza o seu primeiro-ministro Hesham Qandil, devendo chegar amanhã ao território o ministro dos Negócios Estrangeiros tunisino. Para a semana é esperado na região o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

Como não poderia deixar de ser, os Estados Unidos e o Reino Unido responsabilizaram de imediato o Hamas  pelo desencadear das hostilidades.

Todavia, no Mundo Ocidental, ninguém se preocupa com a forma justa de resolver o problema, que poderia decorrer da simples aplicação das resoluções das Nações Unidas, que nunca foram aceites por Israel. Até Angela Merkel, a caminho de Moscovo, entendeu dizer que a culpa era dos palestinianos. Estará esta luterana obstinada conluiada com as seitas evangélicas americanas que se solidarizaram, numa perspectiva milenarista, com os lobbies sionistas dos Estados Unidos?

JOSÉ SARAMAGO (EVOCAÇÃO)



Se fosse vivo, José Saramago completaria hoje 90 anos. O escritor que disse: «Escrevo para desassossegar os meus leitores», será hoje evocado com um Dia do Desassossego, promovido pela Fundação que ostenta o seu nome.

Assinalando a data, realizar-se-ão diversos actos culturais, recordando o combate cívico do Prémio Nobel da Literatura, em defesa dos direitos das vítimas da sociedade capitalista, nomeadamente do capitalismo financeiro que começou a dominar o mundo nos últimos anos, conspiração silenciosa que Saramago ainda pôde presenciar.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

NEOLIBERALISMO: FOUCAULT COMPREENDERA TUDO



Texto de Eric Aeschimann no Nouvel Observateur nº 2505, de 8-14/11/2012, a propósito da eventual aquisição, por 3,8 milhões de euros, pela Bibliothèque National de France, dos textos inéditos de Michel Foucault, considerados "tesouro nacional":

NÉOLIBÉRALISME: IL AVAIT DÉJÀ TOUT COMPRIS!

«Cinquante-trois ans après son première essai, "Histoire de la folie à l'âge classique", l'oeuvre de Michel Foucault n'est toujours pas achevée. Ce mois-ci paraît "Du gouvernement des vivants". C'est l'onzième volume des cours données par le philosophe au Collège de France de 1970 jusqu'à sa disparition, en 1984. Au point qu'il existe aujourd'hui autant d'ouvrages de lui publiés après sa mort que de son vivant. Le fait pourrait être anecdotique si ces publications posthumes ne faisaient apparaître la puissance anticipatrice de ses analyses du pouvoir. Pour preuves le cours intitulé "Naissance de la biopolitique", prononcé en 1978-1979 et publié en 2004, où il analyse le néolibéralisme avec une étonnante prescience. Il exhume des textes désormais largement commentés, mais que personne ne connaissait á l'époque, comme les actes du coloque Lippmann ou les ouvrages de Friedrich Hayek. Surtout, il montre que le néolibéralisme n'est nullement une politique du "laisser-faire", mais une technique de gouvernement qui transforme l'indidu en «entrepreneur de lui-même», en Homo oeconomicus rationnel et «éminemment gouvernable». Soit exactement ce qu'une nouvelle génération de philosophes politiques comme Myriam Revault d'Allonnes ou Pierre Dardot et Christian Laval met en lumière depuis quelques années, à la faveur de la crise... et en s'inspirant largement de "Naissance de la biopolitique"!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

ATRÁS DAS PORTAS AZUIS...



Et derrière les portes bleues, les garçons aux yeux noirs


Michel Giliberti, pintor, fotógrafo e escritor (e ocasionalmente cantor, há 40 anos, com discos editados), nasceu em Ferryville (hoje Menzel-Bourguiba), próximo de Bizerte, na Tunísia. Tem vivido entre a França e o seu país-natal.

Autor de uma obra que denota, nos géneros que tem cultivado, um elevado sentido estético e um inequívoco bom-gosto, Giliberti é também um "blogger" que nos brinda periodicamente com imagens de qualidade indiscutível.

Vem este post a propósito do seu romance Derrière les portes bleues, publicado há uns anos mas que só agora tive oportunidade de ler. Trata da história do encontro em Paris de um homem jovem, Jérémie, cantor e compositor de música ligeira (uma estrela do showbusiness) e de Tarek, um rapaz francês de origem tunisina, desempregado, para quem o cantor é um ídolo. Não só do encontro mas das consequências previsíveis e imprevisíveis do encontro. Escrito parcialmente em verlan, o calão francês que inverte as sílabas das palavras e que passou a ser usado principalmente pela juventude da banlieue parisiense, em meados do século passado, e especialmente pelos beurs, que o arabizaram, o livro adquire uma autenticidade acrescida. Pena é que o autor não tenha incluído um glossário dos termos no final, para os leitores menos familiarizados com o tema, ou talvez seja melhor assim, para os levar à descoberta do significado das palavras.




A leitura desta obra é um prazer, muito em especial para quem conheça bem a Tunísia e o seu povo.  Michel Giliberti, que no final se introduz a si mesmo como personagem, é indiscutivelmente um profundo conhecedor do país e dos seus habitantes, usos e costumes, o que não admira pois, ainda que francês, nasceu nessa terra maravilhosa.

Michel Giliberti é também autor de uma peça de teatro, Le centième nom, sobre o problema israelo-palestiniano, em que um dos intérpretes foi o conhecido actor francês de origem argelina Salim Kechiouche, um ícone beur em França, também modelo, e que foi descoberto para o cinema quando tinha 15 anos pelo realizador Gaël Morel.

domingo, 11 de novembro de 2012

A CONVENÇÃO DO BLOCO



Realizou-se ontem e hoje em Lisboa a VIII Convenção do Bloco de Esquerda (BE). Venceu a moção A e João  Semedo e Catarina Martins foram eleitos coordenadores do partido. Uma liderança "bicéfala", talvez para contrastar, como referiu Daniel Oliveira,  com a liderança "acéfala" do Partido Socialista.

A fractura entre as moções A e B passou pelo facto de a segunda considerar que sem o Partido Socialista não se pode constituir um governo de esquerda em Portugal. E foi vontade expressa pelos bloquistas que este governo seja derrubado já.

Todos conhecemos, desde a Revolução de Abril, melhor dizendo, desde o 25 de Novembro, a dificuldade de constituir um governo do PS com formações à sua esquerda, designadamente com o PCP, uma vez que o BE é uma criação mais recente. Assim, existem em Portugal apenas três partidos, os ridiculamente chamados partidos do "arco da governação", que estão "autorizados" a formar governo em Portugal: CDS-PP, PSD e PS.

É verdade que as propostas políticas dos partidos considerados à esquerda do PS divergem substancialmente das defendidas por aqueles três partidos. O que não deixa de ser, no mínimo, irónico é que, considerando-se o PS um partido de esquerda, ele só tenha vocação para se aliar aos partidos da direita. Mas uma coisa é a teoria e outra a prática. Na realidade, o PS não é há muito tempo um partido de esquerda, no sentido comum da palavra. Como o não é a maior parte dos partidos socialistas ou sociais-democratas europeus. Desde que Mário Soares "meteu o socialismo na gaveta" e Mitterrand lançou às urtigas o "programa comum da esquerda", que as coisas mudaram muito. Em Portugal, especialmente a partir de Guterres, tudo se foi inclinando para a direita, em nome da realpolitik. Ainda que a actual versão ultra-liberal do nosso Partido Social-Democrata seja, mesmo assim, ainda surpreendente não só para os sociais-democratas mas para os portugueses e o mundo em geral. Como diria um escritor francês meu amigo, de quem traduzi, em tempos, uma peça: «Está o mundo às avessas.»

Acredito que existem "verdadeiros socialistas" dentro do PS, mas não é socialista a direcção que representa o Partido. Para ser sincero, nem sei o que ela é, como também não sei em que valores assentam os outros dois partidos do "arco da governação". A crise serve para iludir alguns mas não explica tudo.

Considera o BE que se verificará em breve uma grande transformação política em Portugal.  “A situação vai mudar muito nos próximos meses. E haverá governo de esquerda queira ou não a direcção do PS”, Fernando Rosas dixit.

Como não sou profeta, não possuo a capacidade de adivinhar o nosso futuro político a curto prazo. Mas creio que a política prosseguida em Portugal, a que não é alheia a situação política da Europa, conduzirá a alterações profundas no Velho Continente. E que essas alterações não serão precisamente aquelas que agora flutuam no horizonte do neo-liberalismo triunfante. Arriscar-me-ia a escrever que esta cavalgada da financiarização da economia, se assim me posso exprimir, resultará numa tragédia não só para os povos atingidos pelas suas consequências mas para os seus promotores. Quem tiver ainda uns anos de vida pela frente poderá constatar da bondade da minha previsão.

Voltando ao Bloco, e consignando de passagem uma saudação à inteligência, competência e combatividade de Francisco Louçã (que agora se retira da liderança, que não da política), acredito que é possível encontrar uma plataforma de entendimento governamental entre o BE e o PCP (se este abdicar de algumas coisas mais formais do que essenciais). Não acredito que esse entendimento possa englobar o PS com a direcção actual. Mas acredito numa coisa. Ou uma parte dos "verdadeiros socialistas" vota PCP e BE em próximas eleições, reduzindo o PS a uma organização evanescente, ou surje um PS alternativo, se para tal estiverem disponíveis algumas figuras de referência do actual Partido Socialista.

Não creio é que a actual situação portuguesa (e europeia) se possa prolongar indefinidamente. Disse Carl Von Clausewitz que "a guerra é a continuação da política por outros meios". Quando a segunda não basta, avança-se para a primeira. Como aquilo a que se assiste presentemente (e para lá de todas as outras considerações) é uma guerra económica, e não chegando esta, então seguir-se-á a guerra tout court. Cujos resultados são imprevisíveis. Nunca é demais recordar que, no século passado, a Alemanha se enganou já duas vezes. Uma terceira seria excessivo.

sábado, 10 de novembro de 2012

A MANIFESTAÇÃO DOS MILITARES



O desfile de militares dos três ramos das Forças Armadas, entre a Praça do Município e a Praça dos Restauradores contou, segundo o  PÚBLICO, com cerca de dez mil pessoas. As associações de oficiais, sargentos e praças protestaram contra a "descaracterização da condição militar", contra a aprovação do Orçamento do Estado para 2013 e para mostrar ao Governo que "Portugal é um país independente".

O presidente da Associação de Oficiais afirmou que "está em causa a soberania nacional". As associações que convocaram a marcha garantiram que "tudo farão para impedir a utilização dos militares em acções que visem reprimir a expressão democrática das preocupações e indignação dos portugueses e do seu correspondente descontentamento”.

Esta inquietação, expressiva, das Forças Armadas, não prefigura um ambiente de grande tranquilidade, ainda que os desfilantes não fossem todos militares no activo. Também é verdade que muitos que estão no activo, embora não tendo desfilado, apoiam os manifestantes.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

REGRESSANDO AOS MORTOS



No mês passado publicámos um post sobre o Cemitério do Père Lachaise. Voltamos hoje ao "reino dos mortos" discreteando sobre o Panthéon.

Templo cívico da França, o Panthéon começou por ser uma igreja dedicada a Santa Genoveva, em cumprimento de uma promessa de Luís XV, que atribuiu à santa a cura de uma doença grave. O projecto desta basílica foi confiado ao arquitecto Soufflot em 1755, tendo como ambição rivalizar com a basílica de São Pedro, em Roma. O edifício foi concluído em 1790, já sob a direcção de Jean-Baptiste Rondelet.

No mesmo local, fora erigida uma igreja real, por ordem de Clovis (ou Clodoveu), rei dos francos, em 496, dedicada à mesma Santa Genoveva, padroeira de Paris, cujo corpo foi inumado na cripta. Saqueada pelos normandos em 857, foi reconstruída no século XII mas com o passar dos anos o edifício foi-se degradando, encontrando-se no século XVII em perigo de ruir.

Todavia, em 1790, a França encontrava-se em ebulição revolucionária e o templo não chegou a ser consagrado. Surgiu então a ideia, devida ao marquês Charles de Villette, de transformar a igreja em "panteão" dos homens ilustres. Em 1791 são colocados no Panteão Mirabeau (que será retirado mais tarde) e Voltaire e em 1794, Marat, que será também posteriormente retirado. Em 1795 o edifício apresenta fissuras e a comissão nomeada para resolver a situação não chega a um acordo. A solução acabará por vir de Napoleão Bonaparte. A concordata de 1801, celebrada  com o papa Pio VII, previa a reabertura dos lugares de culto. Em 1806, o imperador visita o templo, desbloqueia a verba necessária para o restauro e devolve o Panteão ao culto religioso (de Santa Genoveva), reservando todavia a cripta para a sua vocação cívica de túmulo dos homens ilustres, como se lê no frontão: "Aux grands hommes la patrie reconnaissante". Em 1816, Luís XVIII coloca a basílica sob a autoridade do arcebispo de Paris e assiste à cerimónia de consagração em 1822, após a realização de diversas obras.

Em 1830, Luís-Filipe restabelece o culto cívico e o clero abandona o templo. Em 1848, a II República, que sucedeu á monarquia de Julho, pretende fazer do Panteão o "Templo da Humanidade". Durante alguns meses, o físico Léon Foucault utiliza a cúpula para demonstrar a existência do movimento da Terra, suspendendo o pêndulo que o tornou célebre. O clero volta a regressar sob Napoleão III, em 1851, e o edifício volta a ser basílica nacional sob a invocação de Santa Genoveva. Estas voltas e reviravoltas levam Edgar Quinet a escrever: «Monument de Janus au double visage, l'un tourné vers le passé, l'autre vers l'avenir, il change de nom suivant la différence des temps.»

Com a queda do Segundo Império, em 1870 é proclamada a III República, mas as forças prussianas que cercam Paris disparam sobre a basílica, provocando significativos estragos. Em 1871, uma facção revolucionária insurge-se contra as condições da paz de Versalhes e constitui a Comuna de Paris, que pretende substituir-se ao Estado centralizado. Os "communards" ocupam a basílica mas são desalojados, num banho de sangue, pelas tropas regulares de Mac-Mahon. Esta III República, cuja assembleia nacional é maioritariamente católica e monárquica, repara os estragos e mantém o culto religioso.

Com a morte de Victor Hugo, em 22 de Maio de 1885, o governo pode já, sem protestos, decretar o regresso do edifício ao seu destino cívico. Os funerais do escritor têm lugar a 1 de Junho, e o cortejo leva nove horas a desfilar. O Panteão será desde então, com sucessivas redecorações, o lugar dos túmulos dos grandes homens que mereceram o reconhecimento nacional. Aí estão sepultadas figuras que todos conhecemos, e muitas que, notáveis no seu tempo, são hoje praticamente desconhecidas não só dos estrangeiros como dos próprios franceses.

Já na V República, em 1964, o general De Gaulle preside à trasladação das cinzas de Jean Moulin, e em 1981 François Mitterrand entra sozinho no Panteão para depor uma uma rosa vermelha nos túmulos de Jean Jaurés, Victor Schoelcher e Jean Moulin, três defensores dos direitos do homem.

Em 1987 é inumado René Cassin, prémio Nobel da Paz, em 1989, Jean Monnet, fundador da comunidade europeia e em 1989, bicentenário da Revolução, o matemático Gaspar Monge, o Abbé Grégoire e o filósofo Condorcet. Em 1995 é a vez dos físicos Pierre e Marie Curie. Sob a presidência de Jacques Chirac, André Malraux entra em 1996 e com a maior pompa e circunstância, em 2002, Alexandre Dumas.

Registámos algumas imagens:


O pêndulo de Foucault
A Convenção Nacional
O coração de Léon Gambetta
Voltaire
Soufflot, o arquitecto do Panteão
Jean Moulin, André Malraux, René Cassin, Jean Monnet
Marie Curie
Pierre Curie
Alexandre Dumas
Victor Hugo
Jean Jaurés
Rousseau

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O DESMANTELAMENTO DO ESTADO-PROVIDÊNCIA



O saneamento das contas públicas é o pretexto para o desmantelamento do Estado-providência. Uma análise de Jorge Bateira no jornal "i" , que constituiu uma reflexão importante e por isso, com a  devida vénia, transcrevemos:


Ao assinar o Memorando de entendimento para obter o financiamento que lhe permitiria satisfazer todos os compromissos financeiros, Portugal estava a sujeitar-se a um programa de ajustamento estrutural idêntico ao de muitos países de África, da América Latina, da Ásia e até da Rússia. O currículo do FMI é um verdadeiro desastre no que toca às políticas de ajustamento que impôs, a ponto de diversos países (destaque para Malásia, Rússia e Argentina) se verem forçados a romper com ele para, com políticas diferentes, finalmente porem as suas economias a crescer, criar emprego e desendividar-se. Com uma diferença crucial: esses países tinham uma moeda própria, embora no caso da Argentina com uma paridade fixa e irrevogável com o dólar. Já agora, desmentindo a narrativa posta a correr pelos comentadores neoliberais acerca do caso da Argentina, importa recordar um facto central: no segundo trimestre após a ruptura com o dólar (Janeiro de 2002), a economia argentina retomou o crescimento. Seis anos depois tinha acumulado 63% de crescimento do produto, deixando para trás três anos e meio de recessão e a desastrosa política de “desvalorização interna” que bem conhecemos.

Guiados por um governo devoto do neoliberalismo em versão radical, ao fim de um ano e meio estamos mais conscientes de que entrámos numa espiral idêntica à da Grécia. Sabíamos que, ao contrário dos anteriores contratos com o FMI, desta vez não poderíamos contar com a desvalorização, e também sabíamos que a “austeridade expansionista” nunca passou de um mito porque na verdade a desvalorização sempre fez parte do pacote das políticas nos países apontados como exemplo. Por isso estava escrito nas estrelas que a execução orçamental de 2012 ia ser um fiasco, como será a a de 2013, embora agora o fiasco seja proclamado aos quatro ventos por muita gente que está bem na vida, sobretudo porque agora também vão ter de pagar algum… para nada.

A UE conhece esta dinâmica mas não muda a política porque o liberalismo alemão (ordoliberalismo) não só está inscrito nos tratados, como é ideologicamente hegemónico na UE. Os sociais-democratas alemães e os socialistas franceses também defendem que os estados devem financiar-se exclusivamente nos mercados financeiros. Os portugueses, tal como os restantes povos do Sul da Europa, pensavam que tinham aderido a uma comunidade de estados solidários e que, integrando a moeda única, poderiam prosperar saudavelmente (sem endividamento excessivo) no seio de uma União cada vez mais integrada também do ponto de vista dos direitos sociais. Enganaram--se, porque embarcaram numa aventura que tinha todos os ingredientes para acabar mal. De facto, não há moeda sem estado, pelo que, ou a UE cria rapidamente um estado europeu federal, o que implica impostos e dívida europeus e transferências de recursos para os estados mais pobres, ou esta zona euro acabará, pelo menos para os seus membros menos desenvolvidos.

A Alemanha fez a sua escolha. As exigências serão implacáveis até que o nosso país, destroçado como a Grécia, finalmente desista. Por isso fechou os olhos à (inevitável) derrapagem do Orçamento português. O preço da benevolência foi agora revelado: em 2013 dar-se-á início à destruição do modesto Estado-providência que a custo fomos construindo segundo os princípios da Constituição de 1976.

Chegados a esta encruzilhada, já não podemos adiar a escolha. Desmantelamos o Estado-providência a pretexto de sanear as contas públicas após o que, já sem financiamento europeu, acabaremos por deixar o euro. Ou assumimos que chegou a hora de dizer basta!, recuperamos a soberania sobre a nossa moeda e reestruturamos a dívida pública.

RAMALHO EANES ALERTA PARA O RISCO DA VIOLÊNCIA



Na conferência "Portugal, o país que queremos ser", promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, na Fundação Gulbenkian, o general Ramalho Eanes alertou, segundo o jornal "i" , para a necessidade de um "projecto comum", sem o qual as sociedades deixam de ser "tolerantes" e correm até o risco de ser "violentas".

Transcrevemos a intervenção do general:

O antigo Presidente da República Ramalho Eanes defendeu hoje um "pacto de crescimento e modernização do país", argumentando que o ajustamento do Estado tem que acautelar uma "remuneração mínima" e serviços públicos que garantam "integração social e unidade".

Questionado pelos jornalistas sobre o papel do PS no "pacto" para o crescimento que defendeu numa conferência em Lisboa, Ramalho Eanes, respondeu que os socialistas devem, como outro atores políticos e da sociedade "empenhar-se na análise da situação para, a partir daí, encontrar soluções que possam ser consensualizadas, nomeadamente através de um pacto de crescimento e modernização do país" que faça o país sair da situação em que se encontra.

"É indispensável que o Estado, os partidos políticos também e a sociedade em conjunto, em relação dialógica, analisem correctamente a situação, vejam o que é indispensável para que a unidade se mantenha, e aquilo que é indispensável para que o país possa crescer e satisfazer os seus encargos, satisfazer as necessidades dos seus cidadãos e abrir-lhes um horizonte de mobilização e esperança", argumentou.

Interrogado sobre se está a referir-se a uma "refundação", o antigo Chefe de Estado disse não querer "falar em refundações", considerando, contudo, que é "indispensável olhar as funções do Estado, ajustá-las".

"Não esquecendo nunca que o Estado tem que exercer funções que são como segurança, justiça, defesa, mas também assegurar aquilo que é necessário para que um povo se mantenha unido, que é responder a todos, com uma remuneração mínima, que lhes garanta dignidade suficiente, responder a todos nas crises pessoais e familiares - desemprego, doença, incapacidade - e também fazer com que toda a população disponha de serviços de saúde, educação, que lhe garantam a integração social e a unidade", sustentou.

Sobre o papel do Presidente da República, Cavaco Silva, o general respondeu que "tem que ser um trabalho conjunto de todos os órgãos de Governo, do sistema político, dos partidos, e também, naturalmente, do senhor Presidente".

Relativamente à posição que Cavaco Silva tem tido, Ramalho Eanes afirmou que como antigo Chefe de Estado sabe "que é necessário ter um cuidado muito grande em apreciar as atitudes e os comportamentos do senhor Presidente da República".

"É preciso ter muito cuidado porque há um ditado português extremamente inteligente que diz 'só quem mexe a panela é que sabe o que vai nela' e eu não tenho informação suficiente para saber o que vai na panela", defendeu.

Na conferência "Portugal, o país que queremos ser", promovido pela Comissão Nacional de Justiça e Paz, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Ramalho Eanes defendeu que "não há democracia real que não seja também participativa", defendendo a importância das recentes manifestações no país.

Essas manifestações, mesmo que inorgânicas, representam "energia" e "grande vontade de participação", que devem ser aproveitadas, assinalou.

O general defendeu a importância da reflexão, que "prepara para a acção".

"A acção hoje é extremamente exigente, a ação hoje é extremamente necessária para que Portugal volte a ter esperança de ter um futuro", argumentou.

Ramalho Eanes sublinhou que a força da sociedade civil já obrigou a mudanças de decisões, dando como exemplo a decisão de localização do futuro aeroporto de Lisboa, que passou da Ota para Alcochete.

Para o antigo Presidente, é necessário um "projecto comum", sem o qual as sociedades deixam de ser "tolerantes" e correm até o risco de ser "violentas".
 

domingo, 4 de novembro de 2012

O GOLPE DE ESTADO



Em declarações ao jornal "i" , António Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, afirmou que está em curso "um golpe de Estado palaciano" para subverter a Constituição.

Transcrevemos, com a devida vénia:

O bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho e Pinto, afirmou hoje que se está a querer “subverter” e não rever a Constituição, estando em curso no país uma “espécie de golpe de Estado palaciano”.

“É uma espécie de golpe de Estado palaciano. Quer-se destruir a Constituição, quer-se alterar radicalmente a fisionomia do Estado constitucional por um Estado que corresponde aos modelos ideológicos de quem hoje tem as rédeas do poder”, salientou António Marinho e Pinto, à margem da Universidade da Juventude Popular (JP) que termina hoje em Vila Real.

Para o bastonário, quer-se “subverter, não é rever a Constituição”. “Porque para isso era preciso respeitar as regras de revisão que estão na própria Constituição, designadamente as maiorias da Assembleia Constituinte”, acrescentou.

O debate à volta da “refundação” foi lançado pelo primeiro-ministro, no encerramento das jornadas parlamentares do PSD e do CDS-PP.

Na altura, Pedro Passos Coelho afirmou que até 2014 vai realizar-se uma reforma do Estado que constituirá "uma refundação do memorando de entendimento" e defendeu que o PS deve estar comprometido com esse processo.

Desde então que se debate no país a “refundação” e uma revisão constitucional.

Marinho e Pinto lembrou o projecto de revisão constitucional apresentado há dois anos pelo PSD e que foi da autoria de Paulo Teixeira Pinto.

“Essa refundação está lá nessa revisão constitucional que foi retirada à pressa da discussão pública pelo escândalo que provocou”, sublinhou.

O O NOVO PATRIARCA COPTA



A Igreja Copta Egípcia elegeu hoje, na Catedral de Abbassiya, no Cairo o seu novo Papa e 118º Patriarca de Alexandria (sucessor de São Marcos). Trata-se do bispo Tawadros, da província de Beheira, no Delta do Nilo.

Dos três candidatos finais, cujos nomes haviam sido depostos numa urna sobre o altar, um rapaz de olhos vendados retirou um dos boletins com o nome do que haveria de ser proclamado, pelo papa interino Pachomios, o sucessor de Shenuda III, que pontificou a Igreja Copta durante cerca de quatro décadas  e morreu em Março com 88 anos.

Numa população de mais de 80 milhões de habitantes, os cristãos coptas representam entre 10 a 15% da totalidade dos cidadãos. Durante o governo do presidente Hosni Mubarak manteve-se uma paz relativa entre muçulmanos e coptas, só quebrada violentamente pelo atentado a uma igreja em Alexandria em 1 de Janeiro de 2011, e que aqui fizemos referência, sob o título "Alexandria - O Fim de um Tempo". E foi.

Pouco depois estalaram sucessivas revoluções em diversos países árabes, e aguarda-se, com curiosidade e inquietação, o novo desenho geo-político do mundo árabe. E, aliás, também o do mundo ocidental e do planeta em geral.

Os tempos que se avizinham são de grande angústia, e prefiguram já a eclosão de uma terceira guerra mundial.

"LE GRAND MACABRE" E PORTUGAL



A ArtHaus Musik editou recentemente em bluray a ópera de György Ligeti, Le Grand Macabre. Trata-se de um espectáculo apresentado no Gran Teatre del Liceu, de Barcelona, encenado por La Fura dels Baus, dirigido por Michael Boder à frente da Orquestra Sinfónica do Teatro e realizado conjuntamente com o Théâtre Royal de la Monnaie, com a Opera di Roma e com a English National Opera.



O argumento da ópera é baseado na Balade du Grand Macabre (1934), do escritor belga  Michel de Ghelderode, com adaptação do próprio Ligeti e de Michael Meschke. Tivemos acesso à peça, durante anos esgotada, através da edição castelhana, mas existe hoje uma reedição francesa (língua original) em formato de bolso.



É forçoso reconhecer-se que Le Grand macabre se assemelha cada vez mais a Portugal. Ou vice-versa. Embora, provavelmente, com um fim mais sinistro. Quem tiver dúvidas leia a peça ou veja a ópera. Registamos um clip da versão apresentada em Barcelona:



De uma observação atenta, as dúvidas dissipar-se-ão. O grande Nekrotzar está entre nós.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

NÃO HÁ ALTERNATIVA ???



Num livro publicado em França o ano passado, Il n'y pas d'alternative, mas cuja leitura é particularmente aconselhável aos portugueses de hoje, os autores evocam a desregulação dos mercados protagonizada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan e a famosa frase daquela que ficou conhecida pela Dama de Ferro: " There Is No Alternative" ou o seu acrónimo "Tina". Esta frase tem sido repetida vezes sem conta pelos políticos dos mais diversos países, nomeadamente na Europa e nos Estados Unidos. Bush disse-a a propósito da Guerra do Golfo, e ela foi citada até à exaustão sobre as mais diversas matérias, mas sempre com o objectivo de justificar o injustificável. Porque existem obviamente alternativas, mas não no quadro do capitalismo neo-liberal.

A respeito de Thatcher, referem os autores: « Elle déteste toutes les formes de socialisme, de la social-démocratie au communisme. Pour Maggie, il n'y a aucune différence: c'est stalinisme et compagnie». E ainda: «Elle n'a peur de rien et surtout pas du regard des autres. Elle a conquis un parti historiquement tenu par la gentry masculine britanique. Maggie n'hésite pas à rappeler  le peu de respect que lui inspirent ses prédécesseurs, tous issus de la grande bourgeoisie. Elle s'est faite à la force du poignet et sait parfaitement jouer de ses origines modestes. Lorsqu'elle refuse que la contribuition britanique européenne aide d'autres pays que le sien, elle assume sans complexe son rôle de ménagère ladre: "I want my money back."

«Ronald Reagan, lui, arrive à la Maison Blanche après une suite de catastrophes: le Watergate et le départ de Richard Nixon, le désastre vietnamien, la prise d'otages de l'ambassade de Téhéran et la présidence de Jimmy Carter... Cela fait beaucoup pour un seul pays. Reagan comprend vite l'intéret qu'il peut tirer de cette situation. Gouverneur de Californie, ancien acteur de second plan, il obtient enfin le premier rôle: celui du héros qui rendra sa fierté aux États-Unis. Son numéro est parfaitement point. Rendant grâce à Dieu à chaque discours, patriote, proche des gens, émaillant des interventions publiques de clins d'oeil, l'homme sait être charmeur et persuasif.»

Não me vou alongar em citações mas aconselho vivamente a leitura do livro.

A emergência destas duas figuras sinistras, ambas anglo-saxónicas (como posteriormente se haveria de verificar com a maldita aliança Bush/Blair), demonstra à evidência a relação privilegiada entre os dois países. Razão tinha o general de Gaulle, que detestava ingleses e americanos, em considerar que a Inglaterra não fazia propriamente parte da Europa. Coisa que os seus sucessores, nomeadamente Sarkozy ignoraram totalmente. Seria um favor que a placa geotectónica empurrasse, definitivamente as Ilhas Britânicas para o Novo Mundo, sobre o qual, lamentavelmente, Dvorak escreveu uma belíssima sinfonia. O título é que deve estar errado.

Qualquer estudioso, minimamente objectivo, da História Universal, conhece os malefícios que o Reino Unido, o Império das Índias, a Commonwealth, têm provocado no resto do mundo. E os dois séculos da pseudo-democracia americana, com a invasão militar e depois económica da Europa e o controlo de uma parte do globo através da fomentação de golpes militares, nada abona em favor da confiança que os americanas pretextam a Deus. Verdadeiramente "In God we Trust" significa "In Gold We Trust".

Leiam o livro.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O EMBAIXADOR E O HOLOCAUSTO



Na sessão de encerramento do ciclo de conferências realizado na Fundação Gulbenkian sobre o tema "Portugal e o Holocausto, aprender com o passado, ensinar para o futuro", o embaixador de Israel em Lisboa, Ehud Gol, dirigiu severas críticas a Portugal, afirmando, entre outras coisas, segundo o PÚBLICO, que o facto do governo português ter colocado a bandeira a meia-haste, há mais de meio-século, pela morte de Adolf Hitler, "É uma nódoa que para nós, judeus, vai aparecer sempre associada a Portugal" e exortou Portugal a assumir as suas responsabilidades.

Num país com um Governo com o mínimo de dignidade, coisa que não se verifica em Portugal,  este senhor deveria ter sido considerado persona non grata e convidado a abandonar imediatamente o território nacional. Não é o caso. Não têm os portugueses de hoje qualquer responsabilidade quanto à política de Salazar no tempo, sendo que os estudos mais recentes têm demonstrado que ela nada teve de uma "cumplicidade involuntária", coisa para que não se encontra uma definição apropriada,  e que também já foi precipitadamente evocada nesse círculo de conferências.

O escritor judeu Norman Finkelstein, num oportuno livro, A Indústria do Holocausto, demonstra como a perseguição nazi aos judeus tem sido aproveitada por estes para justificar todo o tipo de acções, a começar pela espoliação dos palestinianos dos seus territórios. E não me alargo sobre este assunto que tem feito correr rios de tinta a judeus (israelitas ou não) e a não judeus. Parece que o embaixador Gol pretende dinheiro de Portugal para reconstrução da casa de Aristides de Sousa Mendes, ou mesmo para outras coisas não devidamente especificadas. Sendo certo que os banqueiros judeus continuam a dominar o mundo, Goldman Sachs como exemplo mais sinistro, talvez o senhor Gol possa dirigir-se a essas instituições e solicitar a ajuda que julga necessária.

Toda a gente sabe, mesmo os mais néscios, que o Governo de Israel, na sua perseguição aos palestinianos, prossegue uma política semelhante à de Adolf Hitler, ainda que por outros meios, tal como a entendia também o famoso Clausewitz. O mundo é testemunha, desde há mais de meio século, dessa realidade. E por ínvios caminhos, a finança mundial continua a ser dominada por cidadãos judeus, constituídos em poderosíssimos lobbies, como se pode constatar à vista desarmada nos Estados Unidos da América.

Nada nos move contra os judeus, assim como nada nos move contra qualquer outra raça, etnia ou confissão religiosa. Mas exige-se, pelo menos, um pouco de decência.