segunda-feira, 5 de novembro de 2012

RAMALHO EANES ALERTA PARA O RISCO DA VIOLÊNCIA



Na conferência "Portugal, o país que queremos ser", promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, na Fundação Gulbenkian, o general Ramalho Eanes alertou, segundo o jornal "i" , para a necessidade de um "projecto comum", sem o qual as sociedades deixam de ser "tolerantes" e correm até o risco de ser "violentas".

Transcrevemos a intervenção do general:

O antigo Presidente da República Ramalho Eanes defendeu hoje um "pacto de crescimento e modernização do país", argumentando que o ajustamento do Estado tem que acautelar uma "remuneração mínima" e serviços públicos que garantam "integração social e unidade".

Questionado pelos jornalistas sobre o papel do PS no "pacto" para o crescimento que defendeu numa conferência em Lisboa, Ramalho Eanes, respondeu que os socialistas devem, como outro atores políticos e da sociedade "empenhar-se na análise da situação para, a partir daí, encontrar soluções que possam ser consensualizadas, nomeadamente através de um pacto de crescimento e modernização do país" que faça o país sair da situação em que se encontra.

"É indispensável que o Estado, os partidos políticos também e a sociedade em conjunto, em relação dialógica, analisem correctamente a situação, vejam o que é indispensável para que a unidade se mantenha, e aquilo que é indispensável para que o país possa crescer e satisfazer os seus encargos, satisfazer as necessidades dos seus cidadãos e abrir-lhes um horizonte de mobilização e esperança", argumentou.

Interrogado sobre se está a referir-se a uma "refundação", o antigo Chefe de Estado disse não querer "falar em refundações", considerando, contudo, que é "indispensável olhar as funções do Estado, ajustá-las".

"Não esquecendo nunca que o Estado tem que exercer funções que são como segurança, justiça, defesa, mas também assegurar aquilo que é necessário para que um povo se mantenha unido, que é responder a todos, com uma remuneração mínima, que lhes garanta dignidade suficiente, responder a todos nas crises pessoais e familiares - desemprego, doença, incapacidade - e também fazer com que toda a população disponha de serviços de saúde, educação, que lhe garantam a integração social e a unidade", sustentou.

Sobre o papel do Presidente da República, Cavaco Silva, o general respondeu que "tem que ser um trabalho conjunto de todos os órgãos de Governo, do sistema político, dos partidos, e também, naturalmente, do senhor Presidente".

Relativamente à posição que Cavaco Silva tem tido, Ramalho Eanes afirmou que como antigo Chefe de Estado sabe "que é necessário ter um cuidado muito grande em apreciar as atitudes e os comportamentos do senhor Presidente da República".

"É preciso ter muito cuidado porque há um ditado português extremamente inteligente que diz 'só quem mexe a panela é que sabe o que vai nela' e eu não tenho informação suficiente para saber o que vai na panela", defendeu.

Na conferência "Portugal, o país que queremos ser", promovido pela Comissão Nacional de Justiça e Paz, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Ramalho Eanes defendeu que "não há democracia real que não seja também participativa", defendendo a importância das recentes manifestações no país.

Essas manifestações, mesmo que inorgânicas, representam "energia" e "grande vontade de participação", que devem ser aproveitadas, assinalou.

O general defendeu a importância da reflexão, que "prepara para a acção".

"A acção hoje é extremamente exigente, a ação hoje é extremamente necessária para que Portugal volte a ter esperança de ter um futuro", argumentou.

Ramalho Eanes sublinhou que a força da sociedade civil já obrigou a mudanças de decisões, dando como exemplo a decisão de localização do futuro aeroporto de Lisboa, que passou da Ota para Alcochete.

Para o antigo Presidente, é necessário um "projecto comum", sem o qual as sociedades deixam de ser "tolerantes" e correm até o risco de ser "violentas".
 

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