sábado, 14 de junho de 2014

A MORTE SEM MESTRE




Acabou de ser publicado um novo livro de Herberto Helder: A Morte sem Mestre. Como os anteriores, esgotou-se no próprio dia, e quem não reservou um exemplar numa livraria habilitada para o efeito, terá dificuldade em encontrá-lo.

O lançamento de uma obra de Herberto Helder é sempre um acontecimento, pela qualidade da poesia a que nos habituou. E não sendo esta, em minha opinião, uma das suas produções mais conseguidas, indubitavelmente que se trata de uma notável criação poética.

O volume faz-se acompanhar de um CD que regista a voz do autor lendo cinco dos poemas.

Os versos, encerrando uma amarga ironia, constituem, como o título indica, uma singular reflexão sobre a morte.

Duas transcrições:

e eu que me esqueci de cultivar: família, inocência, delicadeza,
vou morrer como um cão deitado à fossa!


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agora parece que já ninguém nasce,
as pessoas agora querem é morrer,
e como não morrem bem porque no esplendor das obras as compensações são baixas,
procuram a morte módica,
vão todos juntos para as praias onde não há socorristas,
praias do inferno sem nenhuma salvação,
às vezes marcam-se encontros nos apogeus dessas tardes desmedidas,
e quando lá chegam já vomitam os bofes,
nestes lugares não há sombras que nos valham,
estes lugares, diz alguém, nem precisam ser simbólicos,
o poema agora por exemplo não tem simbolismo nenhum,
morro dentro dele sem força para respirar,
toda a gente a caminho das praias dominantes,
toda a gente calada com medo que a praia se tenha ido embora,
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