quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

AS FORÇAS ARMADAS


Em públicas declarações recentes, o ministro da Defesa Nacional, Aguiar-Branco, afirmou, entre outras coisas,  que «as Forças Armadas são insustentáveis», presume-se que na situação actual, e que «os militares que não sentem vocação, estão no sítio errado. Se não sentem, antes de protestar precisam de mudar de carreira. Sem drama, sem ressentimento".

Estas declarações do ministro levaram á publicação de uma carta-aberta da Associação de Oficiais das Forças Armadas, que considera as afirmações de Aguiar-Branco «desprestigiantes dos militares e da própria Instituição Militar».

É um facto que o país atravessa uma situação económica e financeiramente difícil e que os sacrifícios deverão (deveriam) ser repartidos por todos. Os militares, durante anos, gozaram de especiais privilégios relativamente ao conjunto da população, privilégios que lhes têm sido sucessivamente retirados nos últimos anos. Parece que se ultrapassa agora a linha vermelha do admissível. É que a austeridade tem sido imposta a uma parte dos cidadãos, os que são habitualmente considerados mais desfavorecidos, enquanto outros continuam a auferir os rendimentos anteriores ou, quiçá, rendimentos superiores. Neste momento, os militares entendem que, para eles, de austeridade já chega.

As Forças Armadas são ainda, por natureza, apesar dos tempos conturbados que atravessamos, a "reserva moral da Nação". E a "condição militar", como ainda hoje lembrava em entrevista à TSF o general Loureiro dos Santos, reveste características que a distinguem da "condição civil". Faz parte do juramento militar dar a vida pela Pátria. Eu sei que para muitos políticos a Pátria é já uma coisa vaga, tal a dose de soberania alienada a favor de instituições comunitárias não eleitas e que nem sequer funcionam. Na Europa, os países estão a transformar-se em meros protectorados de um qualquer IV Reich, de vida efémera como o II e o III, de má memória. Mas pede-se, ao menos, um pouco de decoro.

O próprio bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira disse hoje, em declarações à TSF, que se «começa a sentir a dor que antecede as quedas de regime», acrescentando: «Não me admira que, de escombro em escombro, este Governo pudesse ter horas contadas. Neste momento, em que ainda não fez um ano [no poder], isso seria uma tristeza para um país que não sabe consolidar e fomentar a devida estabilidade».

Parece este Governo empenhado não só em desmantelar o Estado Social como em desmembrar as Forças Armadas, privilegiando as Forças de Segurança, teoricamente mais seguras para a defesa das instituições políticas. Puro engano, como eventualmente se poderá comprovar. A sistemática invocação da falta de dinheiro, que aparece para umas coisas e falece para outras, é argumento que já não engana ninguém.

O prof. Marcelo, na sua homilia dominical há alguns dias, declarou que a presença de Miguel Relvas no Governo fora um erro de casting. As declarações infelizes de Aguiar-Branco, pelo conteúdo e pela forma, revelam tratar-se de outro erro de casting. Álvaro Santos Pereira é um erro de casting clamoroso. Para não falar de Vítor Gaspar, e disso poucos já terão dúvidas, que se empenha de alma e coração em empurrar o país para  a falência económica e social.

Gostaria de me enganar, mas começo a suspeitar que também o actual Governo, no seu conjunto, resulta de um casting falhado, com consequências fatais para Portugal.

2 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais! Estamos entregues à nova tendência liberal, aliás claramente assumida por Passos Coelho e Cª. da qual não fazem qualquer segredo. Os que votaram neles, deveriam ser aqueles a quem os sacrifícios deveriam ser pedidos mas, infelizmente, a coisa não funciona assim. Estão clara e alegremente a desmantelar o País e, povinho não dá por nada.
Marquis

Anónimo disse...

Mas é que vão mesmo, disso não tenhamos a mais pequena dúvida. O mesmo se aplica ao Egipto, Líbia e se aplicará à Síria, caso o actual regime venha a cair. A Europa e os Estado Unidos que tanto embandeiraram com as quedas dos regimes aí vigentes e que tudo fazem para que o mesmo se passe com a Síria, ainda hão-de morder o pó do arrependimento, vezes sem conta.
Claro que a última coisa que lhes ocorre, é preocuparem-se com os respectivos povos. O que somente lhes interessa, são razões tácticas e económicas.
Marquis