segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

AMEAÇA ÀS LIBERDADES NA TUNÍSIA


A detenção, a semana passada, de três jornalistas tunisinos, por "conduta imoral", responsáveis pela reprodução na primeira página do jornal Attounisia da fotografia da capa da revista masculina alemã GQ, mostrando o futebolista alemão (de origem tunisina) Sami Khedira, actualmente a jogar no Real Madrid, a abraçar a namorada nua, o modelo Lena Gercke, provocou uma onda de indignação no país.

Referi, num post do passado dia 8, que o ministro tunisino do Ensino Superior, Moncef Ben Salem, afirmara que o "Estatuto Pessoal" concedido pelo presidente Habib Bourguiba às mulheres tunisinas, atribuindo-lhes direitos quase idênticos aos dos homens, se devera ao facto de Bourguiba ser judeu e de ter tomado essa medida devido à pressão do então primeiro-ministro francês, Pierre Mendès-France, esse realmente judeu.

Também o ministro dos Direitos do Homem e porta-voz do Governo, Samir Dilou entrou nesta cruzada integrista e pseudo-moralista, considerando a homossexualidade uma perversão, que deverá ser objecto de tratamento médico e retirando a autorização de publicação à revista Gayday, que defende os direitos da comunidade LGBT., e que começou a publicar-se em Março último, após a queda de Ben Ali. Em entrevista a uma cadeia de televisão tunisina, em 4 deste mês, o ministro declarou que "se devem respeitar as linhas vermelhas fixadas pela nossa religião, a nossa herança e a nossa civilização".


Membro do partido islâmico Ennahda, Samir Dilou acusou ainda os antigos presidentes da República, Habib Bourguiba e Ben Ali, de fomentarem a homossexualidade na Tunísia, que é punida até três anos de prisão pelo artigo 230º do Código Penal tunisino.

Este mesmo ministro pretende também que a poligamia seja inscrita na nova Constituição da Tunísia, uma vez que é um dos princípios fundamentais do programa do partido Ennahda.

Entretanto começam a ser exercidas pressões sobre as mulheres para usarem o véu islâmico e são restringidos os poucos lugares públicos onde se pode beber bebidas alcoólicas no país. Elas são servidas nos hotéis turísticos e vendidas em pouquíssimos estabelecimentos e mesmo o consumo e venda nestes locais poderá ser proibido.

As declarações do primeiro-ministro Hammadi Jebali, no Fórum Económico Mundial de Davos, em Janeiro passado, parece não passarem de piedosas intenções para estrangeiro ouvir. Assim como as afirmações do ministro dos Negócios Estrangeiros Rafik Abdessalem (genro do líder do partido Ennahda, Rached Ghannouchi) em Lisboa, a semana passada, evocando a defesa das liberdades dos cidadãos, não convencerem a assistência presente na conferência que proferiu na Universidade Católica.

A Tunísia, desde a proclamação da independência em 1956 por Habib Bourguiba e durante o consulado de Ben Ali, sendo um país muçulmano foi também, de alguma forma, um estado laico, sem interferência do Poder na vida dos cidadãos, no que respeitava aos preceitos religiosos. A vitória do partido islâmico Ennahda nas eleições de 23 de Outubro passado deixou antever uma intromissão religiosa na governação, mas não tão rápida e profunda como está a verificar-se.

Sendo a Tunísia um destino turístico por excelência, a adopção das medidas já tomadas e das que se prevê sejam proximamente adoptadas não auguram  um futuro auspicioso para o país. O fluxo turístico, já hoje reduzido ao mínimo, corre o risco de se extinguir, com consequências fatais para a economia, neste momento extremamente debilitada. Tem sido o turismo, nos últimos anos, uma das mais importantes fontes de receita do país.

Também no Egipto, nas últimas eleições, a Irmandade Muçulmana e o partido salafista Al-Nur obtiveram cerca de 70% dos votos. Ignoro o que acontecerá a curto prazo no Egipto, embora admita que a Irmandade Muçulmana tenha algum cuidado na execução do seu programa. Todavia, a Tunísia não é o Egipto e as restrições religiosas que estão na ordem do dia poderão conduzir a uma de duas coisas: ou os tunisinos acabam por correr com o Ennahda como correram com Ben Ali ou o país transformar-se-á num estado fundamentalista, com as consequências que se podem adivinhar.

3 comentários:

Anónimo disse...

BOM SE AS LEIS AGORA EMITIDAS PELO
GOVERNO TUNISINO NÃO AGRADAM AO
AO SENHOR, APENAS RECOMENDO NÃO VÁ
Á TUNISIA.
COM ESSA ATITUDE SEGURAMENTE ESTA A
CONTRIBUIR PARA UMA POSSIVEL MUDANÇA E QUANDO ISSO ACONTECER ENTÃO
RECOMENDO QUE VOLTE AQUELE PAIS

Anónimo disse...

Sendo a Tunísia um agradável país será lamentável que fique espartilhada por leis religiosas. O Médio Oriente está a sofrer um ataque do islamismo fundamentalista, tal como a Europa, até à Revolução francesa, foi condicionada pela religião católica. E a religião ortodoxa ainda tem um peso desproporcionado no Leste europeu, apesar de mais de meio século de governos comunistas supostamente ateus.

Só quando os países se libertarem do controle das religiões, que deverão ser um assunto estritamente da esfera privada e concederem liberdade de vida privada aos seus cidadãos, dentro de normas pacificamente aceitáveis e sem pressões ou imposições descabidas é que se poderá falar de LIBERDADE.

Anónimo disse...

Como se esperava, aí estão elas, as tais leis islâmicas fundamentalistas. Só quem embandeirou em arco antes de tempo e julgou que agora seria tudo um mar de rosas,se pode considerar enganado. Mais, mesmo que as populações urbanas reclamem e tentem derrubar este tipo de governos, convém não esquecer, uma vez mais, as populações rurais do país profundo, que atavicamente conservadoras, sempre elegerão quem mais se aproximar dos seus ideais, sejam eles religiosos ou outros.
Marquis