sábado, 15 de outubro de 2011

A INDIGNAÇÃO



No início deste ano Stéphane Hessel publicou em França um pequeno manifesto intitulado Indignez-vous!. O opúsculo foi traduzido até hoje em dezenas de línguas, incluindo a portuguesa, e dele foram vendidos milhões de exemplares em todo o mundo. Referi-me aqui a esse grito de indignação de Hessel, que termina com uma citação de Albert Camus: "Os governos, por definição, não têm consciência".

Madrid

Contra a ditadura dos mercados, a especulação financeira, a corrupção da classe política, as medidas de austeridade que se abatem sempre sobre os mais fracos e desprotegidos, a incompetência da governação, realizaram-se hoje em todo o mundo manifestações de protesto que contaram com a participação de milhões de pessoas. Em Nova Iorque, Washington, Boston, Los Angeles, Londres, Madrid, Barcelona, Roma, Lisboa, Zurique, Seul, Hong-Kong, Manila, Marselha, Estocolmo, Atenas, Frankfurt, Paris, Berlim, Bruxelas, São Paulo, Santiago e em mais cerca de 100 cidades, a população saiu à rua para exprimir a sua indignação.

Roma

Começa a constatar-se hoje a falência do actual modelo capitalista, que o ultra-liberalismo prostituiu. Economia de mercado é uma coisa, o roubo institucionalizado é outra. Igualmente, o sistema político da democracia representativa também faliu, não porque não seja teoricamente uma forma admissível de governação, mas porque os candidatos aos cargos passaram a ser eleitos de acordo com programas cujo conteúdo invertem em absoluto mal ocupam os lugares. A perda de confiança dos cidadãos eleitores é total.

Londres - Julian Assange fala à multidão

Esta indignação a nível global, consequência quiçá inesperada da globalização económica, promete traduzir-se em acções mais concretas e permanentes que impliquem a revisão do sistema vigente. Proclamou-se durante anos que o poder político estava na dependência do poder económico; em Portugal era um dos cavalos de batalha no tempo de Salazar. Pois nunca, em todo o mundo o poder político dependeu tão intimamente do poder económico como hoje. Chegamos a interrogar-nos se vale a pena eleger dirigentes políticos que não são mais do que instrumentos nas mãos dos grupos económicos e financeiros que controlam cada vez mais estreitamente a vida dos povos.

Lisboa

Será preciso mudar realmente alguma coisa para que tudo não continue na mesma.

1 comentário:

lawrence disse...

Já há uns tempos que deixei de acreditar na democracia representativa exactamente porque quem ouve os políticos na oposição e depois os vê no governo, não bate a bota com a perdigota!
E ainda se dão ao luxo de cobrarem pelo meu voto, ou seja, voto, e na volta ainda pago, como cidadão, uns euros para o partido onde votei.
Como tal deixei de votar e nem me dou ao trabalho do voto branco nem me sujeito a escrever alarvosidades no boletim.
A pulhice, a ladroagem, as máfias, os aventais, a corrupção tomaram conta das nossas vidas e do nosso suor.
Não sei como mas há que dar a volta a isto.
Como dizia (mais ou menos) alguém: "não sei para onde ir. Só sei que por aí não vou!"
Desobediência precisa-se!