terça-feira, 4 de outubro de 2011

PANAIT ISTRATI

Panait Istrati

No seu livro Rhapsodie roumaine, o grande escritor francês Dominique Fernandez, ao descrever os grandes vultos da literatura romena do século passado e do anterior (Mircea Eliade, Eugène Ionesco, Emil Cioran, Mihai Eminescu, o poeta nacional, etc.), detém-se, et pour cause, na figura de Panait Istrati (em romeno, sem trema no i), uma personagem "marginal" nas letras e na vida.


Panait Istrati naceu em Brâila, em 1884 e morreu tuberculoso e abandonado em Bucareste em 1935. Viajou pela Roménia, a Turquia, o Egipto, a Itália e finalmente a França, onde, por um acaso do destino (uma tentativa de suicídio em 1921), recebeu a amizade e protecção de Romain Rolland. Durante a sua breve vida, exerceu as profissões mais diversas, mesmo as mais íntimas, ao mesmo tempo que escrevia as suas obras, nomeadamente os contos do ciclo de Adrian Zograffi (um alter ego do escritor), cujo primeiro volume, Kyra Kyralina (Chira Chiralina, em romeno), mereceu o prefácio de Romain Rolland. Vagabundo por opção, prosseguiu as suas viagens depois da estada em França e, após dois casamentos falhados, voltou à Roménia. onde acabaria por morrer.


Partilhando os ideais de Rolland, seu mentor espiritual, foi partidário do bolchevismo. Contudo, duas viagens à União Soviética, em 1927 e em 1928/9, tornaram-no um dos primeiros intelectuais a manifestar o seu desencantamento com o regime comunista. A sua carreira revela uma certa ambiguidade (ou lucidez) política, que muito o atormentou, em simultâneo com problemas de natureza pessoal, incluindo a tuberculose persistente que haveria de vitimá-lo. Nos últimos anos escreveu num órgão marginal de tendência esquerdista ("Cruciada Românismului") da ultra-nacionalista Guarda de Ferro.

Panait Istrati é o exemplo do grande attachement da Roménia à França (Bucareste tem mesmo um Arco do Triunfo imitando o da Place de l'Étoile-Charles De Gaulle, mas mais pequeno). E sempre os romenos cultivaram a língua francesa e se interessaram pela respectiva literatura, sendo Bucareste considerada a Paris do leste europeu. É claro que hoje, na Roménia como em quase todo o mundo, a língua de contacto com os estrangeiros é, infelizmente, o inglês, mas ainda se encontram em muitos lugares cidadãos romenos capazes de utilizar o idioma de Voltaire, especialmente os mais velhos. Deve acrescentar-se que além dos nomes já citados, os escritores de língua francesa Paul Celan (Paul Antschel) e Tristan Tzara (Samuel Rosenstock) eram judeus romenos.

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