Juan Diego Flórez em La Fille du régiment, de Donizetti (Wiener Staatsoper - 2007)
Acabei de ler Hotel de Dream (2007), de Edmund White, na tradução francesa. White, um dos mais francófilos escritores norte-americanos, pode ler-se perfeitamente em francês. Aliás, devem-se-lhe notáveis biografias de autores franceses: de Jean Genet (ainda hoje a biografia de referência), de Marcel Proust, de Rimbaud.
Este livro de White, sobre o romancista, poeta e jornalista americano Stephen Crane, que morreu tuberculoso aos 28 anos em 1900, que foi amigo de Henry James e de Joseph Conrad e que é hoje praticamente ignorado, pelo menos na Europa, contém uma história, supostamente escrita por Crane (quiçá realmente) e que é, afinal, o objecto do livro..
Essa história, que anda à volta de um jovem prostituto nova-iorquino por cuja vida Crane se interessou, regista aspectos verdadeiramente curiosos em torno do círculo frequentado pelo rapaz, Elliot, permitindo a White deter-se em excitantes pormenores tão do seu agrado.
Não resisto à tentação de transcrever algumas linhas da fala de uma das personagens masculinas, que me proporcionou a oportunidade de apresentar no início deste post a célebre ária de Donizetti:
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«Je suis vite devenue la fille du régiment (...), je n'avais qu'à me pointer à l'entrée des casernes, les yeux fardés, dans mon chemisier quasi transparent et mes pantalons bouffants qui révélaient l'ampleur de mes hanches.»
Acrescentarei que a citação acima não passa de uma mera curiosidade, e que este livro de White, aliás como toda a sua obra, é uma profunda reflexão sobre os sentimentos (e os pressentimentos) do homem, sobre as inquietações do espírito, sobre o significado da vida. O livro, não sendo uma biografia de Crane, toma como pretexto os últimos tempos da vida do escritor, já muito doente, para o pôr a ditar à mulher a história de Elliot, o romance que afinal gostaria de ter escrito mas que a morte o impedirá de concluir. Porém, nem tudo é criação literária neste texto de White, já que Crane, segundo testemunhos da época, conheceu realmente o rapaz Elliot. O resto é efabulação, ou talvez não.
2 comentários:
Ainda que o excerto que cita não seja exactamente "my cup of tea",parabens pela excelente reprodução da capa. E as grandes biografias do White,são realmente de muita qualidade.
Magnífica articulação entre o livro e a ópera, pelo que não têm a ver e pelo que eventualmente possam ter.
MAIS UMA VEZ MAGNÍFICO POST.
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