A criação do Estado de Israel «foi um erro», diria Talleyrand se fosse vivo, parafraseando-se a si mesmo. E a prova de que foi um erro é amplamente demonstrada pelo situação de guerra permanente que se vive na região desde 1948. Ilegítimo desde o início, porque proclamado unilateralmente, é-o também pela sucessiva ocupação de terras não previstas na famigerada Resolução 181 das Nações Unidas, de 1947. Estado sem constituição, e sem fronteiras definidas (o território vai-se alargando ano após ano), proclama-se democrático mas não passa de um Estado confessional, que assume publicamente o seu carácter judaico.
Constituindo-se como vítima, não passa de agressor, desde a primeira hora. Os recentes acontecimentos são mais um testemunho da violência da sua actuação ao longo de 60 anos. Apesar de tudo, Israel contou durante este meio século com a simpatia ou pelo menos com a tolerância do mundo, com excepção dos árabes, bem entendido, que sempre o consideraram um usurpador. Mas parece que essa tolerância e essa simpatia, progressivamente diminuídas com o passar do tempo, se encaminham rapidamente para o grau zero, após o ataque à frota de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
Ora o que me espanta é o apoio incondicional dos judeus espalhados pelo mundo às políticas suicidas de Israel. Com algumas excepções, como é evidente. A quem evoque tratar-se de solidariedade, parece antes que é loucura. Naturalmente que o lobby judaico norte-americano estará solidário com todo e qualquer governo israelita, por mais extremista que seja. É da natureza das coisas. Mas, no resto do mundo, e Portugal serve de exemplo, as comunidades judaicas identificam-se sistematicamente com as políticas de Israel. Tendo em atenção o passado, um passado ainda não muito distante, aconselharia a inteligência a que essas comunidades procurassem exercer sobre os sucessivos governos israelitas uma acção moderadora conducente à obtenção da paz na região, que nunca será alcançada pelos métodos até hoje utilizados pelas lideranças sionistas.
2 comentários:
Não é fácil comentar regularmente neste blog,pois ao lado de interessantes posts sobre temas culturais raramente abordados na pobre blogosfera nacional,surgem textos como este cujo facciosismo(para usar a palavra mais branda que consigo) é preocupante(tambem brandamente). Quanto à "ilegitimidade"de Israel,haverá que recordar que numerosíssimas nações,sobretudo as mais antigas,são pelo mesmo critério ilegítimas,pois decidiram pela armas ou de outro modo ser independentes,a começar por Portugal em 1640 contra o rei legitimíssimo Filipe III. É a continuidade histórica que no fundo legitima as nações,e mais de 60 anos no caso de Israel,já é alguma coisa. Quanto a tratar-se de um "agressor",é notável o grau de distorção(digamos)usado,pois até o cidadão não-historiador tem ideia de que o país em causa foi vitima de invasões logo após a independência,vivendo na proximidade de estados que proclamam insistentemente a sua eliminação. É compreensivel assim que reaja com brusquidão e por vezes infelizmente com inabilidade(como no caso actual) e excessos.
O governo do momento tem veementes opositores internos,a começar por numerosos generais na reserva,que sabem que esta politica jamais resolverá os problemas de fundo. Quanto aos judeus da diáspora,que o autor do blog afirma apoiarem firmemente o governo,limitar-me-ei a dar-lhe exemplos da imprensa responsável,mas dadas as limitações de espaço,no comentário seguinte.
Continuando,daria como 1º exemplo o último nº do Nouvel Obs.,o principal semanário francês,dirigido pelo judeu Jean Daniel. A capa tem em grandes letras: "Israel - La Faute",e no editorial,entre outras,a frase: "...Israel a choisi l'arrogance de la force et,pour son image,c'est une catastrophe. Il semble qu'il n'y ait plus rien à attendre d'un pays qui se croit de plus en plus en état d'insécurité depuis le manque absolu de vision politique de ses dirigeants politiques l'a conduit à l'isolement."
E no último Economist,do editorial "Israel's siege mentality" : "Americans are still more sympathetic to the Israelis than to the Palestinians. But a growing number,especially Democrats,including many liberal Jews,are getting queasier about what they see as America's too robotic support for Israel,especially when its government is as hawkish as B. Netanyahu's". E ainda: "Barak Obama is more conscious that the Palestinian's failure to get a state is helping to spread anti-American poison across the Muslim world,making it harder for him to deal with Iran,Iraq and Afghanistan. His generals have strenuously made that point.
É isto o tal indefectivel apoio ao actual governo israelita,e o tal "lobby judaico" em acção? Se é,vou ali e já venho,como dizia o outro...
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