terça-feira, 8 de junho de 2010

OS JUDEUS E ISRAEL


A criação do Estado de Israel «foi um erro», diria Talleyrand se fosse vivo, parafraseando-se a si mesmo. E a prova de que foi um erro é amplamente demonstrada pelo situação de guerra permanente que se vive na região desde 1948. Ilegítimo desde o início, porque proclamado unilateralmente, é-o também pela sucessiva ocupação de terras não previstas na famigerada Resolução 181 das Nações Unidas, de 1947. Estado sem constituição, e sem fronteiras definidas (o território vai-se alargando ano após ano), proclama-se democrático mas não passa de um Estado confessional, que assume publicamente o seu carácter judaico.

Constituindo-se como vítima, não passa de agressor, desde a primeira hora. Os recentes acontecimentos são mais um testemunho da violência da sua actuação ao longo de 60 anos. Apesar de tudo, Israel contou durante este meio século com a simpatia ou pelo menos com a tolerância do mundo, com excepção dos árabes, bem entendido, que sempre o consideraram um usurpador. Mas parece que essa tolerância e essa simpatia, progressivamente diminuídas com o passar do tempo, se encaminham rapidamente para o grau zero, após o ataque à frota de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. 

Ora o que me espanta é o apoio incondicional dos judeus espalhados pelo mundo às políticas suicidas de Israel. Com algumas excepções, como é evidente. A quem evoque tratar-se de solidariedade, parece antes que é loucura. Naturalmente que o lobby judaico norte-americano estará solidário com todo e qualquer governo israelita, por mais extremista que seja. É da natureza das coisas. Mas, no resto do mundo, e Portugal serve de exemplo, as comunidades judaicas identificam-se sistematicamente com as políticas de Israel. Tendo em atenção o passado, um passado ainda não muito distante, aconselharia a inteligência a que essas comunidades procurassem exercer sobre os sucessivos governos israelitas uma acção moderadora conducente à obtenção da paz na região, que nunca será alcançada pelos métodos até hoje utilizados pelas lideranças sionistas. 

Os judeus do mundo, que neste último meio século têm desfrutado da simpatia das nações onde vivem, deveriam estar preocupados com a forma como Israel, ano sobre ano, aliena as simpatias do mundo. A argumentação de Israel já não convence ninguém e um módico de perspicácia seria o bastante para entenderem que, numa situação limite, serão considerados coniventes com as consequências de qualquer actuação demencial. E depois, não haverá muro para lamentações.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não é fácil comentar regularmente neste blog,pois ao lado de interessantes posts sobre temas culturais raramente abordados na pobre blogosfera nacional,surgem textos como este cujo facciosismo(para usar a palavra mais branda que consigo) é preocupante(tambem brandamente). Quanto à "ilegitimidade"de Israel,haverá que recordar que numerosíssimas nações,sobretudo as mais antigas,são pelo mesmo critério ilegítimas,pois decidiram pela armas ou de outro modo ser independentes,a começar por Portugal em 1640 contra o rei legitimíssimo Filipe III. É a continuidade histórica que no fundo legitima as nações,e mais de 60 anos no caso de Israel,já é alguma coisa. Quanto a tratar-se de um "agressor",é notável o grau de distorção(digamos)usado,pois até o cidadão não-historiador tem ideia de que o país em causa foi vitima de invasões logo após a independência,vivendo na proximidade de estados que proclamam insistentemente a sua eliminação. É compreensivel assim que reaja com brusquidão e por vezes infelizmente com inabilidade(como no caso actual) e excessos.
O governo do momento tem veementes opositores internos,a começar por numerosos generais na reserva,que sabem que esta politica jamais resolverá os problemas de fundo. Quanto aos judeus da diáspora,que o autor do blog afirma apoiarem firmemente o governo,limitar-me-ei a dar-lhe exemplos da imprensa responsável,mas dadas as limitações de espaço,no comentário seguinte.

Anónimo disse...

Continuando,daria como 1º exemplo o último nº do Nouvel Obs.,o principal semanário francês,dirigido pelo judeu Jean Daniel. A capa tem em grandes letras: "Israel - La Faute",e no editorial,entre outras,a frase: "...Israel a choisi l'arrogance de la force et,pour son image,c'est une catastrophe. Il semble qu'il n'y ait plus rien à attendre d'un pays qui se croit de plus en plus en état d'insécurité depuis le manque absolu de vision politique de ses dirigeants politiques l'a conduit à l'isolement."
E no último Economist,do editorial "Israel's siege mentality" : "Americans are still more sympathetic to the Israelis than to the Palestinians. But a growing number,especially Democrats,including many liberal Jews,are getting queasier about what they see as America's too robotic support for Israel,especially when its government is as hawkish as B. Netanyahu's". E ainda: "Barak Obama is more conscious that the Palestinian's failure to get a state is helping to spread anti-American poison across the Muslim world,making it harder for him to deal with Iran,Iraq and Afghanistan. His generals have strenuously made that point.
É isto o tal indefectivel apoio ao actual governo israelita,e o tal "lobby judaico" em acção? Se é,vou ali e já venho,como dizia o outro...