A praça At-Tahrir |
A contestação na Tunísia, que levou à queda do presidente Ben Ali, seguida de manifestações, imolações pelo fogo e/ou confrontos na Mauritânia, em Marrocos, na Argélia, no Iémen, no Líbano, tem a sua expressão mais dramática no Egipto, onde o presidente Mubarak, após ter nomeado um vice-presidente da República, se recusa a abandonar o cargo, como é exigido pela maioria da população.
A situação no Cairo, em Alexandria e em outras cidades começa a tornar-se insustentável, com grupos de manifestantes pró-Mubarak a enfrentar os que reclamam a sua imediata demissão. Além de dezenas de mortos (não confirmados pelas autoridades egípcias mas divulgados pela ONU), há centenas de feridos e imensas destruições, inclusive no Museu Egípcio do Cairo (que alberga alguns dos maiores tesouros da Humanidade). A fuga dos turistas provocará um rombo considerável na economia do país, tal como a partida de muitos estrangeiros que trabalhavam no Egipto.
Segundo fontes bem informadas, alguns dos principais actores políticos mundiais, como Obama, Medvedev, Merkel, etc., terão pedido ao Raïs, em público ou em privado, para que se retire já, pondo de parte o anunciado calendário que remete a sua saída para as eleições presidenciais de Setembro.
Ao contrário da Tunísia, onde os danos pessoais e materiais foram relativamente reduzidos e onde se procura assegurar a estabilidade governativa e preparar eleições gerais, o Egipto, mercê das suas condições específicas, ameaça mergulhar no caos. O presidente Hosni Mubarak disse hoje estar ansioso por se retirar mas que não o fará para evitar o caos; parece, no entanto, que o caos, que se está progressivamente a instalar, é precisamente a consequência da sua insistência em permanecer no poder. Amanhã é o Dia-D no Egipto, isto é, o prazo que os manifestantes anti-Mubarak lhe concederam para abandonar a chefia do Estado.
Manifestações em Sanaa |
Também hoje, no Iémen, em Sanaa e noutras cidades, se verificaram manifestações congregando milhares de pessoas, que pedem a saída imediata do presidente Ali Abdullah Saleh (há 32 anos no poder), ao mesmo tempo que se realizavam contra-manifestações, não se tendo, contudo, registado, até o momento, incidentes significativos.
Na Argélia, o presidente Abdelaziz Bouteflika prometeu hoje levantar o estado de emergência instaurado há 19 anos no país e, como dissemos anteriormente, o rei Abdullah II da Jordânia substituiu o governo.
Verificaram-se igualmente manifestações de solidariedade com os egípcios no Líbano e na Faixa da Gaza.A oposição síria ao regime de Bachar Al-Assad mantém-se vigilante, não havendo notícias concretas de movimentações na Líbia, um Estado policial governado há mais de 40 anos por Muammar Al-Qadhafi.
Manifestações em Beirute |
O estado de ebulição do mundo árabe mantém em suspenso o resto do mundo, por todas as consequências que advirão da instalação de um clima de absoluto descontrolo na região. Parece inverosímil que as chancelarias ocidentais, agora muito preocupadas com o desenrolar dos eventos, não tenham sabido prevenir a eclosão da presente contestação geral, que desde há muito qualquer observador atento adivinhava que ocorresse mais dia menos dia. Preferiram apoiar os ditadores em funções e esperar que se mantivesse o status quo. Acordaram tarde.
3 comentários:
Descontando o galicismo da utilização de "prevenir" como "impedir" ou "evitar",em vez do sentido português de "avisar", como é que as "chancelarias ocidentais" haveriam de impedir estas movimentações,quando estes chefes eram considerados carismáticos,apoiados pelas suas fieis populações,e até elogiados pelos numerosos núcleos filo-islâmicos que pululam pela Europa e não só? No fim de contas,têm que ser os povos a resolver os seus próprios problemas,como fizemos por cá há uns anitos...
Não se trata de um galicismo. A utilização do verbo "prevenir" foi aqui empregue no sentido de avisar. Mas, se consultar o dicionário, verá que prevenir é também sinónimo de impedir ou evitar.
Os galicismos pululam...
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