sábado, 29 de janeiro de 2011
O EGIPTO EM ESTADO DE SÍTIO
Após quatro dias de violentos protestos em todo o país, o presidente Mubarak acaba de anunciar pela televisão que demitiu o governo, e que um novo executivo tomará posse amanhã.
Mubarak, que os egípcios aguardam que abandone o poder, está a tentar controlar uma situação demasiado difícil, devido ao generalizado descontentamento nacional. A população, especialmente os jovens, desafia o recolher obrigatório e manifesta-se neste momento nas ruas do Cairo, de Alexandria, do Suez, etc.
O exército ocupa as principais artérias do Cairo, verificando-se um retroceder da polícia, e muitos jovens acompanham já os soldados, empoleirando-se nos carros de combate, o que lembra a recente rebelião na Tunísia, e a mais antiga em Portugal. Não sei qual a flor que será enfiada no cano das espingardas, depois dos cravos e dos jasmins, uma vez que os meus conhecimentos de botânica egípcia são praticamente nulos.
Há vários edifícios e veículos incendiados, muitos departamentos governamentais saqueados e o exército tomou posições em torno do Museu do Cairo (onde se encontram preciosidades de incalculável valor, entre as quais o tesouro do faraó Tut-Ankh-Amun), bem como da Televisão e da residência de Mubarak, em Heliópolis, nos arredores da capital.
Há vários mortos e centenas de feridos entre os manifestantes e a polícia. Mohamed El-Baradei, Prémio Nobel da Paz e ex-director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, que se posicionou como potencial sucessor de Mubarak, foi detido pela polícia mas libertado seguidamente.
A grande indignação que desde há anos se instalou no mundo árabe, fruto da miséria, da corrupção dos dirigentes, das injustiças sociais e da repressão policial, agravou-se com a invasão do Iraque, decidida por dois criminosos de guerra, Bush e Blair, que foram acompanhados nos Açores por outros dois indivíduos pouco recomendáveis, Aznar e Barroso. Juntando-se a tudo isto o descarado apoio do Ocidente a Israel e o indefinido protelamento da solução da questão da Palestina, foram criadas as condições para o despoletar das manifestações violentas que já levaram à queda de Ben Ali, na Tunísia, a que se sucederá a de Mubarak, no Egipto, e a de outros dirigentes dos países árabes. É só uma questão de tempo. Está a "comunidade internacional" finalmente preocupada com a situação e faz apelo ao diálogo. Parece que acordou um pouco tarde.
Em qualquer caso, o Egipto não voltará a ser como dantes.
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2 comentários:
Espero que se respeitem os lugares históricos, que são património de toda a humanidade.
E que surja um novo regime não islamista mas antes progressista.
Por mim,nem islamista nem progressista no sentido dos anos 60/70. A normal democracia,como praticada no maior país islâmico do mundo,ou seja a Indonésia,já me chega,e talvez lhes chegue a eles. Porque não os deixam escolher livremente?
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