quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

UM CASO ESPANTOSO



Pelos anos 80, costumava dizer-me um amigo, pessoa de grande cultura e de fina ironia, que foi membro dos governos de Sá Carneiro e de Pinto Balsemão, que na vida já nada o espantava, "nem as coisas normais". Inferindo-se daqui que as coisas anormais se revestiam então para ele do mais vulgar quotidiano.

Há, contudo, para mim, algumas coisas que, não sabendo já se são normais ou anormais, ainda me provocam espanto e perplexidade. Como, por exemplo, as recentes declarações do principal acusado do Processo Casa Pia, Carlos Silvino, ao confessar numa entrevista que mentiu ao tribunal por pressão da polícia.

O Processo em questão, cujos contornos foram sempre estranhos, alimentado pela comunicação social durante anos consecutivos como se nada mais houvesse a tratar no país, ficou envolto em sombras, como se escreve aqui, e sobre ele pairarão as mais densas dúvidas, como decorre deste post.

Em entrevista à RTP, há alguns meses atrás, o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, afirmou categoricamente que este Caso era eminentemente político, destinando-se a afastar da liderança do Partido Socialista pessoas consideradas "mais à esquerda", como Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso, sendo que se verificou mesmo uma tentativa para envolver o presidente da República, Jorge Sampaio, e o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.

Ensinam-nos os romances policiais que há sempre, ou quase, alguém a quem o crime aproveita. Não sei se alguma vez se escreverá a verdadeira história deste Processo, mas o que dele sabe o comum dos mortais, como eu, daria para argumento de um romance, peça de teatro ou filme.

Aguardam-se, como nas telenovelas, os próximos episódios.

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