Inicia-se hoje, e prolonga-se por uma semana, o referendo no sul do Sudão, onde quatro milhões de habitantes se pronunciarão sobre a unidade ou a secessão do país: o norte árabo-muçulmano e o sul afro-cristão. A partição parece inevitável na sequência desta consulta prevista no acordo de paz concluído em 2005 e que pôs fim a uma guerra civil que durou mais de 20 anos e provocou dois milhões de mortos, além dos feridos, dos desaparecidos, dos desalojados. O presidente sudanês Omar al-Bachir, a contas com a justiça internacional, comprometeu-se a reconhecer, e mesmo a apoiar a construção do novo Estado, que saia dos resultados de um referendo "livre e transparente". Também o presidente da região semi-autónoma do Sul, Salva Kir (o futuro presidente da nova república, que terá a capital em Juba) manifestou a sua vontade de manter com o "Norte" uma coexistência pacífica.
Há, todavia, um pormenor, que na verdade não o é, antes se tratando do problema fundamental e que é a questão energética: grande parte da riqueza petrolífera do país situa-se no sul; o escoamento do combustível terá de se efectuar, pelo menos por ora, pelos pipelines do norte. Há ainda, na presumível zona de fronteira (os detalhes não foram definidos) o riquíssimo enclave de Abyei, que será objecto de um referendo separado quanto á sua adesão ao Norte ou ao Sul.
Sudanês (foto de Leni Riefenstahl) |
A população do Sul é estimada em 8,5 milhões de habitantes e a população total do país em 45 milhões, tudo estimativas já que não existe um censo oficial (de resto, sempre precário) desde 1993. A constituição do novo país, a concretizar-se, como se espera, suscita dois tipos de preocupações: a primeira é a viabilidade do novo Estado que, independentemente do petróleo, se arrisca a tornar-se um dos mais pobres do planeta; a segunda é a alteração, pela primeira vez, em África, das fronteiras resultantes da descolonização, exceptuando o caso da Etiópia e da Eritreia, contudo de natureza totalmente diferente. Esta modificação de fronteiras (que eram artificiais) suscita as maiores inquietações em muitos estados africanos, como a Nigéria, Angola, o Congo, os Camarões, a Guiné, a Costa do Marfim, etc.
Aguardemos, pois, o anúncio dos resultado do referendo.
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