O presidente Ben Ali visita Bouazizi no hospital no dia 28 de Dezembro |
O jovem tunisino Mohamed Bouazizi, que se imolou pelo fogo em finais do mês passado, como aqui referimos, por a polícia lhe ter apreendido o carrinho onde, sem licença, vendia legumes, (encontrava-se desempregado), faleceu ontem no hospital da cidade de Ben Arous, próximo de Tunis.
A Tunísia, que tem sido um oásis de relativa tranquilidade (salvo alguns episódios esporádicos) no conturbado mundo árabe, conhece agora uma agitação sem precedentes, devido ao desemprego crescente (especialmente entre os jovens licenciados, como o caso do falecido), ao aumento do custo de vida, à corrupção, à progressão das desigualdades sociais.
A agitação alastrou a todo o país, tendo sido assaltadas várias sedes do partido no poder, e a polícia tem reprimido as manifestações com gás lacrimogéneo. As universidades e liceus estão sob controlo e foi impedida uma manifestação de estudantes da mais importante universidade de Tunis, a 9 de Abril. O governo tunisino, que está a exercer uma apertada censura sobre as notícias, cortou uma parte das comunicações via internet, como mails, blogs, etc.
Os governos e a imprensa ocidental têm-se igualmente abstido de comentar estes importantes acontecimentos, com a notável excepção do escritor e jornalista Brian Whitaker, autor do famoso livro Unspeakable Love, que relatou a situação no Guardian.
Também no Egipto continuam as manifestações e confrontos na sequência do ataque à igreja Al-Qiddissine, em Alexandria, o que tem obrigado à intervenção das forças policias e provocado algumas detenções. Refira-se que alguns muçulmanos se juntaram aos protestos dos cristãos coptas.
Khaled Abul Naga |
O jovem e famoso actor egípcio Khaled Abul Naga apelou no seu blogue aos muçulmanos egípcios para não ficarem quietos enquanto os coptas egípcios não se sentirem em segurança nos seus lugares de culto.
Entretanto, no Sudão aguarda-se com a maior expectativa e ansiedade o resultado do referendo relativo á secessão do sul do país, o Darfur, no próximo dia 9 deste mês, depois de um morticínio que já custou a vida a pelo menos 300.000 pessoas e a deslocação de três milhões. Receiam-se violentos incidentes e ignora-se a reacção do presidente sudanês Omar al-Bashir, caso a votação seja favorável à independência.
No Iraque, o líder shiita Muqtada al-Sadr, após o auto-imposto exílio de alguns anos no Irão, regressou a Najaf, supostamente para impulsionar a constituição do novo governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, o que consolidará a influência iraniana no país. O apoio de al-Sadr provocará inevitavelmente um aumento da violência sunita.
Há igualmente notícias, não confirmadas, de agitação, especialmente dos meios estudantis e intelectuais, em Marrocos, na Argélia e na Líbia.
2 comentários:
O pessimismo "institucional" do autor do blog tem aqui alguma razão de ser,embora o caso de Marrocos,como notou mas não suficientemente,seja diferente,nomeadamente pelos variados apoios e ligações europeias que se desenvolvem,com projectos concretos na educação,na agricultura,etc. Não esqueçamos que em 85/86,o Rei Hassan II solicitou formalmente a adesão à então C.E.E. O marroquino educado sente-se meio-europeu,e ainda bem. Agora Marrocos,como os restantes países do Maghreb e Mashrek,sofre dum grave e dificilmente resoluvel problema,o de uma demografia galopante,que conduz a que os progressos económicos, que todos têm conhecido, sejam ultrapassados pelo crescimento de uma população jovem,educada,sem emprego disponivel,e assim alvo fácil de radicalismos fundamentalistas. E a crise europeia actual veio dificultar a absorção tradicional de uma parte dessas populações. Dificilmente agora se repetiria o expansionismo/imperialismo árabe dos séculos VII e VIII,que os levaram a conquistar a nossa peninsula,e por pouco o resto da Europa. Mais tarde os turcos chegaram às portas de Viena. Suponho que estes fenómenos não se repetirão nos próximos tempos,mas vontade é capaz de não lhes faltar...
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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