domingo, 31 de outubro de 2010

A PRESIDENTA


Segundo as mais recentes previsões, Dilma Roussef foi hoje eleita, à segunda volta, presidente do Brasil. É a primeira vez que uma mulher alcança a mais alta magistratura do país, após uma campanha renhida com o seu adversário José Serra e beneficiando do incondicional apoio do presidente cessante Lula da Silva.

É um facto que durante os dois mandatos de Lula da Silva o Brasil registou não só um franco progresso económico mas uma significativa melhoria das condições de vida da população mais pobre (e são milhões) do país. Deve dizer-se que Lula beneficiou da herança de estabilidade do seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, mas não se lhe pode negar nem o carisma que sempre o caracterizou, nem o esforço desenvolvido para erradicar a imensa miséria existente no país.

Ouvindo muitos testemunhos das centenas de milhar de brasileiros e brasileiras que hoje vivem em Portugal, onde se dedicam às mais diversas actividades, públicas e privadas, registamos que a sua preferência é nitidamente por Dilma Roussef, a pessoa que Lula (e o Partido dos Trabalhadores -  PT) escolheu para lhe suceder. Acontece, todavia, que nem sempre a "Criatura" corresponde à vontade do "Criador", antes pelo contrário. E sendo Dilma a "Criatura" de Lula, não tem nem a sua aura, nem o seu poder de convencimento, nem o seu trajecto. Nem é certo que siga obedientemente as instruções de Lula, quando investida do supremo poder. Observando o seu percurso, constata-se que Dilma Roussef tem mudado sucessivamente muitas das suas convicções, porventura ao sabor das conveniências do momento, e nada assegura que a sua presença na presidência seja uma garantia da continuidade da política de Lula.

Nem tão pouco se pode esperar de Dilma uma intervenção na cena política internacional como a que manteve o presidente cessante, obtendo para o Brasil um estatuto de parceiro privilegiado, como uma das novas potências emergentes.  Os seus contactos com Obama, mas também com Castro e Chávez, com os líderes europeus, mas também com Putin e finalmente com Erdogan e Ahmadinejad, dois homens-chave do momento actual no Médio Oriente, garantiram-lhe uma projecção que Dilma, certamente, nunca alcançará.

Diz-se que o mandato desta senhora constituirá um interregno para que Lula, impedido pela Constituição de se recandidatar a um terceiro mandato consecutivo, volte a apresentar-se em 2014. Quem viver verá.

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