domingo, 24 de outubro de 2010
OS RESPONSÁVEIS
Durante as últimas décadas recebeu Portugal, das Comunidades Europeias primeiro e da União Europeia depois, importâncias astronómicas para o seu desenvolvimento económico e, em consequência, para a sua estabilização financeira. Ignora-se o que aconteceu a grande parte desse dinheiro. Em alguns casos, especialmente no dos fundos destinados às chamadas "acções de formação", chegaram a ser levantados processos que não chegaram a qualquer conclusão. É hoje convicção generalizada dos portugueses que parte substancial das verbas recebidas entraram directa ou indirectamente em bolsos a que não se destinavam mas jamais se conheceu quem fosse responsável pelo desvio ou pela má utilização dos dinheiros públicos.
Clamam todos, ou quase todos, os políticos actuais, com inaudito "descaramento democrático", que a culpa da situação crítica a que chegámos é dos seus predecessores, ainda que alguns dos actuais protagonistas políticos estejam no poder desde o golpe de Estado de 1974.
Mas é um facto que nunca foram pedidas responsabilidades (ao menos políticas) a ninguém. Realmente, o que se tem verificado são sucessivos pedidos de sacrifícios aos mais desprotegidos, sejam os idosos, os doentes, os desempregados, os reformados ou outros enteados da sorte e a quem a vida foi madrasta.
Diga-se até que alguma parte dos dinheiros comunitários se destinou à destruição da nossa agricultura e das nossas pescas. Em nome de uma Europa solidária que nos está cada vez mais distante.
Julgo, por isso, que o actual "discurso político", da direita à esquerda, é de uma incomensurável falta de vergonha. E que temos assistido, nas últimas semanas, a uma má encenação de um péssimo espectáculo, a que não tem faltado a prestimosa colaboração de parte da comunicação social. Mesmo os mais distraídos se dão conta do "déjà vu", da impunidade triunfante, do enriquecimento súbito de poucos (já não tão poucos como isso) à custa da miséria de muitos, da progressiva extinção da classe média que é o alicerce do regime democrático e o sustentáculo das instituições.
Será que não existem mesmo responsáveis pelo roubo e pelo desgoverno? Ao longo de 35 anos?
Não acredito.
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2 comentários:
Bravo. Até que enfim que alguém põe o dedo na ferida
Mas é do que se trata, ou seja, do descaramento, da absoluta falta de vergonha na tromba, para virem afirmar na praça pública o que afirmam. E, os portugueses ignaros e fatalistas como sempre, lá vão, atentos, venerandos e obrigados, despejarem o seu voto na urna. Pobrezinhos, tão pequeninos!
Marquis
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