sexta-feira, 3 de setembro de 2010

PINA MANIQUE


Diogo Inácio de Pina Manique nasceu em Lisboa em 3 de Outubro de 1733 e faleceu na mesma cidade em 30 de Junho de 1805, encontrando-se sepultado no cemitério do Alto de S. João, no jazigo nº 471, rua nº 5, urna nº 4073. Casou em 1773 com Inácia Margarida Umbelina de Brito Nogueira de Matos e foi pai de Pedro António de Pina Manique Nogueira de Matos de Andrade, que foi agraciado em 1801, por D. Maria I, com o título de Barão de Manique do Intendente e depois elevado a Visconde do mesmo título por D. João VI.


Licenciou-se em Leis pela Universidade de Coimbra em 1758 e foi um colaborador eficiente do Marquês de Pombal,  tendo sobrevivido ao afastamento político deste em 1777. Assim, em 1780 foi nomeado Intendente-Geral da Polícia da Corte e Reino, cuja autoridade se estendia a todos os magistrados judiciais do país, cargo que acumulou com outras importantes funções.


Contemporâneo da Revolução Francesa, viveu Pina Manique numa época conturbada, a do fim do Antigo Regime e da eclosão do liberalismo. Inimigo dos "afrancesados" e do iluminismo, exercendo uma acção repressiva sobre os divulgadores das novas ideias, passou à história como um fanático contra-revolucionário, o que de todo não corresponde à verdade. Não está ainda feito o balanço desapaixonado da sua actividade política, mas é um facto que há a creditar-lhe obra que perdura até aos nossos dias.


Para lá do restabelecimento da tranquilidade em Lisboa, que antes da sua nomeação como Intendente-Geral da Polícia era uma cidade muito perigosa, onde sair à noite constituía uma aventura, deve-se a Pina Manique a criação de duas instituições que funcionam até hoje: a Real Casa Pia de Lisboa (ordem régia de 20 de Maio de 1780, oficialmente inaugurada a 3 de Julho, sendo a sessão solene de inauguração no Castelo de S. Jorge, a 29 de Outubro, em que discursou o Duque de Lafões), destinada a recolher e educar crianças de ambos os sexos e também à recuperação social de prostitutas e mendigos.  E o Real Teatro de S. Carlos, inaugurado em 30 de Julho de 1793, pela rainha D. Maria I, e que substituiu a Ópera do Tejo, destruída pelo terramoto de 1755. O Teatro foi integrado na Casa Pia a fim de, cessado o período de exploração concedido à sociedade de mercadores e capitalistas constituída por Pina Manique para a sua fundação, ficar a fazer parte do fundo de rendimentos da instituição.


É curioso referir que Pina Manique, embora avesso a progressos de carácter ideológico, foi buscar a Évora, onde se encontrava com residência fixa, para director pedagógico da Casa Pia, o antigo professor da Universidade de Coimbra e eminente matemático José Anastácio da Cunha, condenado e afastado do lugar pela Inquisição. Ministrou a Casa Pia desde o início não só cursos de índole técnica directamente destinados ao exercício de uma profissão, como igualmente de natureza artística; aliás, em 23 de Abril de 1781, foi criada na instituição uma Aula do Nu. E vários alunos foram enviados para Roma, a fim de frequentarem a Academia de Belas Artes que a Casa Pia fundara naquela cidade. Um deles, João José de Aguiar, seria o autor do monumento em mármore de Carrara, dedicado a D. Maria I, que hoje se encontra em frente do Palácio de Queluz e que chegou a Portugal em 3 de Setembro de 1798, faz hoje precisamente 212 anos. A Academia de Belas Artes de Roma foi extinta em 1797, aquando da entrada das tropas napoleónicas na cidade, tendo os estudantes casapianos regressado a Portugal.


Entre 1792 e 1794, Domingos Sequeira, que foi aluno da Casa Pia, pinta em Roma a "Alegoria à Fundação da Casa Pia", que esteve no Palácio de Pina Manique, no Largo do Intendente, pertenceu mais tarde ao rei D. Fernando II e se encontra hoje no Museu Nacional de Arte Antiga.


Em 1801, chega a Lisboa, o general Lannes, embaixador de Napoleão que se indispõe com Pina Manique, que também era administrador-geral das Alfândegas, por este controlar o contrabando francês para Portugal. Lannes pressiona o Príncipe-Regente D. João (D. Maria I já havia enlouquecido) para demitir Pina Manique. Em 1803, o Regente cede ás pressões francesas e Pina Manique é exonerado do cargo das Alfândegas, sendo nomeado Chanceler-Mor do Reino, com funções puramente honoríficas.

O Intendente-Geral morrerá em 30 de Junho de 1805, sendo substituído por Lucas de Seabra da Silva.

Em 1807, a Família Real foge para o Brasil e Junot entra em Lisboa. Ainda neste ano o novo Intendente encerrará a Casa Pia do Castelo, cujas instalações foram ocupadas pelas tropas francesas, sendo as crianças dispersas pela cidade, em orfanatos, asilos e outros recolhimentos, ficando muitas a viver na rua.

A Casa Pia só ressurgirá em 1811, no Convento do Desterro. Será instalada em 1833 nas traseiras do Mosteiro dos Jerónimos, e posteriormente descentralizada em outros edifícios.


Ao longo de mais de dois séculos, passaram pela Casa Pia rapazes (e raparigas) que se distinguiram nos mais variados domínios da vida nacional, tantos e tão famosos que se torna impossível mencioná-los. Entre os seus mestres, contaram-se professores portugueses notáveis, cujo contributo para a vida nacional, nas letras, nas artes e nas ciências foi de inestimável valor. Tem sido a instituição uma autêntica escola de virtudes, no sentido latino do termo, mais tarde conceptualizado por Maquiavel (a virtù), que proporcionou a gerações de alunos os meios necessários para triunfar na vida.

O Teatro de S. Carlos, a outra grande iniciativa de Pina Manique, tornou-se também, durante os últimos duzentos anos, o grande centro lírico português, e pelo seu palco passaram os mais famosos  cantores do mundo. Maria Callas, considerada a maior soprano de todos os tempos, aí cantou, em 1958, a ópera La Traviata.

Além das inúmeras medidas que tomou enquanto exerceu uma fatia do Poder em Portugal, as duas grandes obras de Pina Manique, a Casa Pia e o Teatro de S. Carlos, bastam para o imortalizar, apesar dos seus detractores, ignorando o contexto do tempo e as rápidas mutações que se processaram na época, procurarem denegrir a sua imagem.

Tem, por isso, Pina Manique o direito ao eterno reconhecimento de todos os portugueses.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pina Manique é um dos grandes nomes da política portuguesa. O S. Carlos e a Casa Pia foram duas criações notáveis. Em especial a Casa Pia, cujo nome foi tão vilipendiado nos últimos anos, e que é uma instituição de relevo na vida nacional.

Anónimo disse...

Parabéns pela exposição sobre a grande figura pública que foi Pina Manique, apesar de alguns excessos que este cometeu.

Rosa Machado disse...

Boa noite,
Em Julho de 2012 estive no Cemitério dos Prazeres e passei pelo jazigo de Pina Manique, que nem sabia que estava lá. Tirei foto.

Rosa Machado

Rosa Machado disse...

Boa noite,

Em Julho de 2012 estive no cemitério dos Prazeres e vi o jazigo de Pina Manique, que nem sabia estar lá.

Tirei foto.
Atenciosamente,
Rosa Machado