Registaram-se hoje mais dois mortíferos atentados na capital iraquiana. As duas viaturas armadilhadas que explodiram provocaram pelo menos 29 mortos e o número de feridos é superior a uma centena.
A situação de insegurança permanente que se verifica em Baghdad e por todo o Iraque, desde o ataque ocidental de 2003, não tem paralelo na história contemporânea. Nenhum cidadão iraquiano pode sair à rua sem ter a certeza de ser morto ou ferido ao voltar da primeira esquina. Aliás, pode ser morto dentro da própria casa.
Prometeu Bush no início da invasão exportar a "democracia" para o Iraque. Esta afirmação envolvia à partida uma contradição nos termos, pois não se pode exportar o que não se possui e se há coisa que os americanos não possuem é uma democracia, salvo nos aspectos meramente formais. Mas, admitindo que existisse democracia autêntica nos EUA, a real vontade de Bush e do seu gang era a de exportar o sistema económico ultra-liberal que vigora no seu país e que se tem espalhado pelo mundo.Vae victis!
Além disso, a outra razão de peso que motivou Bush foi a de se apoderar dos poços de petróleo iraquianos. Este conflito provocou já milhões de vítimas. E ninguém ainda foi julgado e condenado, salvo Saddam Hussein e alguns dos seus apaniguados.
A retirada (parcial) dos soldados americanos do Iraque não melhorou, como se constata todos os dias, a situação no país. Nele se jogam os interesses das grandes, médias e pequenas potências, mais do que o interesse do povo iraquiano. De resto, o Iraque, estado artificialmente criado pelo Ocidente depois da Primeira Guerra Mundial, está destinado a ser desmembrado em três regiões, mais ou menos idênticas às três antigas províncias que faziam parte do Império Otomano. Essas três regiões correspondiam à predominância dos três grandes aglomerados populacionais: curdos, a Norte, sunitas, no Centro, xiitas, a Sul.
Todos concordam hoje publicamente, à excepção de Blair e de mais alguns incontinentes verbais, que mais valia ter chegado a um acordo, que Bush evitou, com Saddam, do que proceder a uma invasão que, para além dos benefícios para a indústria de armamento americana, começa a ser contestada mesmo nos Estados Unidos, não só devido à absorção de grande parte do orçamento federal mas especialmente por causa do elevado número de soldados americanos mortos e feridos. Vai-se gerando um estado de espírito um pouco como sucedeu com a guerra do Vietnam.
Saddam era um ditador e o responsável por muitas mortes, porém muito longe das que têm ocorrido desde a invasão. Nem era muito diferente dos outros chefes políticos que continuam a governar o Médio Oriente com o apoio ocidental. Garantia a segurança interna do país, assegurava a liberdade religiosa, fora grande colaborador dos americanos (uns mal agradecidos) ao fazer a guerra contra o Irão (do ayatollah Khomeiny) e tinha procedido a um gradual desenvolvimento económico e social do Iraque (isto é indesmentível) até à malfadada guerra contra Teheran.
Hoje, sobre os escombros da região onde floresceram, outrora, algumas das mais brilhantes civilizações da Humanidade, nada mais nos resta do que sangue, suor e lágrimas.
1 comentário:
"... não tem paralelo na história contemporânea". Como é que o autor define "história contemporânea"? A da semana que passa?
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