Esta questão, que apaixona a opinião pública francesa, só tem paralelo com o caso Liliane Bettencourt, a quem a filha acusa de já não estar na posse da plenitude das suas faculdades intelectuais e de delapidar a imensa fortuna de que é proprietária, o império L'Oréal. Esta dama, muito "vieille France", de 87 anos de idade, cujas ofertas a pessoas amigas totalizam alguns milhares de milhões de euros, não estará tão falha de lucidez como pretende a filha, que está, juntamente com o marido já na posse de parte da administração da empresa de cosméticos, mas, como sabemos, a cupidez dos herdeiros não tem limites. O problema maior, contudo, é de carácter político e fiscal. A velha senhora é acusada de fugas ao fisco e de financiamento ilegal do partido de Nicolas Sarkozy, entre outras coisas.
Voltando aos ciganos. Originários do norte da Índia, tradicionalmente nómadas, espalharam-se pelo mundo, nomeadamente pelo leste da Europa, donde têm emigrado para Ocidente. A própria Hungria, donde provém Sarkozy, detém uma das maiores comunidades ciganas da Europa.
Os seus costumes, marginais às sociedades onde habitam, porque começaram a sedentarizar-se, não se compaginam com os hábitos ocidentais. A sua "estranha forma de vida", que rejeita o trabalho normal para subsistir à custa de negócios por vezes pouco claros, a sua frequente delinquência, tornou-os indesejáveis para as populações ditas normais. É claro que muitos têm sido assimilados, alguns há já várias gerações, nada os distinguindo dos outros cidadãos "originais". Mas essa não é a regra, é a excepção.
Não me vou debruçar, aqui e agora, sobre a bondade da política de Sarkozy, porque me parece que se é um facto que esta etnia, pelo seu aumento exponencial, vem provocando frequentes atritos em França, e noutros países, também é verdade que esta medida de recambiar famílias e comunidades inteiras para os pretensos países de origem não se coaduna nem com a justiça, nem com o direito comunitário.
Pretendo, sim, salientar que há ciganos e ciganas de grande beleza (quem não usufruiu já das benesses de alguém dessa etnia?) e a quem são também atribuídos poderes sobrenaturais. A literatura e a ópera estão cheias de ciganos, mais propriamente de ciganas, et pour cause, e por isso não resisto a consignar três exemplos.
A ópera Carmen, de Bizet, baseada na novela de Prosper Mérimée:
Maria Callas, em Carmen (Covent Garden, versão de concerto, 1962)
A ópera Il Trovatore, de Verdi, baseada no romance de Antonio Garcia Gutierrez:
Fiorenza Cossotto, em Azucena (Wiener Staatsoper, 1978)
A ópera Un Ballo in Maschera, de Verdi, baseada na peça de Eugène Scribe:
Elena Obraztsova, em Ulrica (Opéra de Paris, 1978)
Três famosas interpretações de "ciganas" na ópera. Poderíamos ainda acrescentar a ópera portuguesa A Vingança da Cigana, de António Leal Moreira, mas não existem registos vídeo disponíveis das interpretações no Teatro Nacional de S. Carlos ou no Teatro da Trindade.
1 comentário:
O caso dos ciganos na Europa é tão complicado,que nem se presta muito a comentários com originalidade ou que proponham soluções aceitáveis. Por um lado parecem na maioria rejeitar a integração nas sociedades onde vivem,por outro acabam por se conotar com a criminalidade,os tráficos vários,etc. Quando são poucos dão folclore Bizetiano,quando são muitos,atrapalham. E são e querem continuar a ser diferentes,coisa que as sociedades sempre rejeitaram,ou queimando nas fogueiras várias até há pouco tempo os "diferentes",ou expulsando-os,como faz neste caso específico o Sarkozy,embora saiba tão bem como nós que daqui a umas semanas estão lá outra vez. Uma assimilação paciente e progressiva pareceria a solução,mas já deve ter sido tentada sem grandes resultados. De qualquer modo,antes expulsá-los que incinerá-los como fizeram bárbaros recentes a uma minoria,essa integrada e autora de contribuições inultrapassáveis para as Ciências,as Humanidades,as Artes do Ocidente e da Civilização em geral. Nem tudo piora nesta terra.
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