Completam-se hoje 40 anos sobre a morte de António de Oliveira Salazar. A efeméride é assinalada pela publicação do livro de António Simões do Paço Salazar - O Ditador Encoberto. Aos 81 anos, e depois de uma prolongada enfermidade decorrente do acidente cardiovascular sobrevindo na sequência da intervenção cirúrgica a que fora submetido em 1968, Salazar morre após quarenta anos de governo, tantos como aqueles que hoje nos separam do seu falecimento.
Quaisquer que sejam as opiniões sobre Salazar, é hoje indiscutível, pelo menos de boa-fé, que o "chefe" do Estado Novo se tornou para os portugueses numa figura incontornável, certamente, por boas e más razões, o mais notável político português do século XX.
A ele deve o País inestimáveis serviços, como o equilíbrio financeiro do Estado, a ordem pública e a segurança dos cidadãos, o ter logrado poupar-nos aos horrores da Segunda Guerra Mundial, e muito mais haveria a dizer.
Foi Salazar duplamente vítima das imagens que lhe criaram, vivo e morto. Durante o anterior Regime, uma hagiografia perfeitamente deslocada, para a qual terá eventualmente contribuído; depois da Revolução que pôs fim ao Estado Novo, uma demonização total, como se ao homem nada houvesse a creditar ao longo de quase meio-século, como se a Segunda República tivesse sido um período de total obscurantismo sem a mais ténue fresta de claridade, aquilo que muitos chamaram, e alguns ainda chamam, a "longa noite fascista". Nem tudo foi bom sob a governação de Salazar, tal como nem tudo foi mau. Terá o homem de ser avaliado em função de si mesmo e, como diria Ortega y Gasset, da sua circunstância. E a circunstância de Salazar, desde os fins dos anos vinte do século passado, era bem diferente da actual.
3 comentários:
Tendo em conta que o exercício de comentar não implica òbviamente a concordância com o teor geral dos blogues,pelo que vou esquecer que existem os dois últimos posts,não posso aqui deixar de concordar com o autor no seu apelo a uma visão equilibrada e não-preconceituosa de Salazar e do seu regime. Penso no entanto que felizmente já existem numerosos exemplos desse exercício,vide o excelente artigo de Rui Ramos no Expresso,que o incansável dr. Gonçalves já transcreveu,até em boa ortografia,no seu "Portugal dos Pequeninos",o próprio texto sobre a época na "História" coordenada pelo mesmo R.Ramos,os estudos parcelares (Politica Externa,Mocidade,Pide,Camisas Azuis,Corporativismo,etc,etc.). Há aliás que reconhecer que o actual regime não impediu que se publicasse,estudasse,criticasse,a hagiografia de Franco Nogueira,iniciada ainda,salvo erro nos anos 70. E há o manancial do "Dicionário da História de Porugal" de António Barreto e Filomena Mónica,com entradas muito desiguais,mas em geral de boa qualidade. Suponho assim que já é possivel hoje,com boa fé,formular uma apreciação imparcial dos méritos e deméritos do comemorado e do "seu" regime. Não o vou evidentemente fazer aqui e agora,mas deixaria, ao acaso da inspiração,estas notas:O mistério,ou não,da ausência da institucionalização do regime. Ele próprio(vide outras obras de F. Nogueira) tinha a noção de que o "Estado Novo" não lhe sobreviveria.E nos seus jogos de poder,militares contra militares,políticos contra políticos,) salvaguardou-se mas não salvaguardou o edifício que construira.Na base,julgo,uma intríseca desconfiança de tudo e de todos,que não lhe permitiu fundar uma base de apoio suficientemente extensa e relativamente autónoma. Quando alguns dos seus próximos se destacavam,afastava-os eliminando-os politicamente,como Marcelo ou Armindo. Preferia rodear-se de figuras de alguma competência(nem sempre) mas sobretudo "non entities" politicamente. Assim o regime estava viciado ou condenado à partida,o que ele sabia e é de estranhar para quem tanto valorizava o seu "lugar na História". Noutra área,é curioso o contraste entre a lucidez,a prudência,o engenho demonstrados na condução da politica externa na 2ª Guerra,notável para alguem com sua limitada formação intrnacional mas que demonstra grande inteligência e sensatez,e a não compreensão ou aceitação do movimento irreversivel da História quanto às descolonizações,defendendo à outrance um modelo de nação que podia ser alterado sem alterar o essencial,e que é o Portugal da primeira dinastia. O bom general,deve dizer o Sun-Tzu retira-se quando sabe que não pode ganhar a batalha,e o fracasso final da política de Salazar foi e ainda infelizmente é,uma terrivel herança. Mas,claro,sobrevivemos...
Tendo em conta que o exercício de comentar não implica òbviamente a concordância com o teor geral dos blogues,pelo que vou esquecer que existem os dois últimos posts,não posso aqui deixar de concordar com o autor no seu apelo a uma visão equilibrada e não-preconceituosa de Salazar e do seu regime. Penso no entanto que felizmente já existem numerosos exemplos desse exercício,vide o excelente artigo de Rui Ramos no Expresso,que o incansável dr. Gonçalves já transcreveu,até em boa ortografia,no seu "Portugal dos Pequeninos",o próprio texto sobre a época na "História" coordenada pelo mesmo R.Ramos,os estudos parcelares (Politica Externa,Mocidade,Pide,Camisas Azuis,Corporativismo,etc,etc.). Há aliás que reconhecer que o actual regime não impediu que se publicasse,estudasse,criticasse,a hagiografia de Franco Nogueira,iniciada ainda,salvo erro nos anos 70. E há o manancial do "Dicionário da História de Porugal" de António Barreto e Filomena Mónica,com entradas muito desiguais,mas em geral de boa qualidade. Suponho assim que já é possivel hoje,com boa fé,formular uma apreciação imparcial dos méritos e deméritos do comemorado e do "seu" regime. Não o vou evidentemente fazer aqui e agora,mas deixaria, ao acaso da inspiração,estas notas:O mistério,ou não,da ausência da institucionalização do regime. Ele próprio(vide outras obras de F. Nogueira) tinha a noção de que o "Estado Novo" não lhe sobreviveria.E nos seus jogos de poder,militares contra militares,políticos contra políticos,) salvaguardou-se mas não salvaguardou o edifício que construira.Na base,julgo,uma intríseca desconfiança de tudo e de todos,que não lhe permitiu fundar uma base de apoio suficientemente extensa e relativamente autónoma. Quando alguns dos seus próximos se destacavam,afastava-os eliminando-os politicamente,como Marcelo ou Armindo. Preferia rodear-se de figuras de alguma competência(nem sempre) mas sobretudo "non entities" politicamente. Assim o regime estava viciado ou condenado à partida,o que ele sabia e é de estranhar para quem tanto valorizava o seu "lugar na História". Noutra área,é curioso o contraste entre a lucidez,a prudência,o engenho demonstrados na condução da politica externa na 2ª Guerra,notável para alguem com sua limitada formação intrnacional mas que demonstra grande inteligência e sensatez,e a não compreensão ou aceitação do movimento irreversivel da História quanto às descolonizações,defendendo à outrance um modelo de nação que podia ser alterado sem alterar o essencial,e que é o Portugal da primeira dinastia. O bom general,deve dizer o Sun-Tzu retira-se quando sabe que não pode ganhar a batalha,e o fracasso final da política de Salazar foi e ainda infelizmente é,uma terrivel herança. Mas,claro,sobrevivemos...
Não li ainda o livro agora publicado mas vou fazê-lo para poder ter uma opinião. Obrigado pelo post.
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