sábado, 10 de julho de 2010

ISALTINO ALIVE



Há uns sessenta anos, a praia de Algés chegava à linha férrea. Do outro lado da Avenida Marginal existiam diversas esplanadas, que ficavam abertas até tarde. No verão, a população local, e os forasteiros, passeavam à noite entre Algés e o Dafundo, gozando a brisa do rio.

Depois, tudo mudou. A praia tornou-se primeiro aterro para estaleiros da construção da ponte sobre o Tejo, a seguir, local de construção de edifícios vários. O rio, esse foi remetido para umas centenas de metros de distância. As esplanadas foram desaparecendo, e as que subsistem, reduzidas ao mínimo, estão fechadas à noite. Toda a topografia da zona foi alterada, e o saudoso jardim de Algés quase desapareceu.

Durante o longo consulado de Isaltino Morais à frente da Câmara de Oeiras, já quase tão longo como o do Doutor Salazar, embora entre ambos não haja, evidentemente, a menor semelhança, o "progresso" foi chegando a Algés, porque, segundo o autarca, "Oeiras vale a pena", com certeza para ele. Tudo se foi transformando, sendo uma das últimas inovações a construção do passeio marítimo de Algés. Pensaram alguns, ingénuos, que nesse passeio, além de se passear, poderia haver cafés e restaurantes que substituíssem os desaparecidos e onde os indígenas e os visitantes pudessem desfrutar da proximidade do rio. Puro engano.

Serve esse passeio para a realização de "concertos" de música rock ou quejanda, que atrai, isso é verdade, milhares de apreciadores do barulho ensurdecedor que se prolonga até alta madrugada, não deixando dormir os infelizes moradores da zona. Um ano houve em que o ruído era tão grande que ninguém dormiu em todo Algés. Além disso, o incauto que saia com o seu carro nessas noites, já sabe que não terá lugar para o estacionar no regresso em Algés ou arredores até à madrugada do dia seguinte.

Decorre desde quinta-feira uma coisa chamada Optimus Alive, destinada a estragar a qualidade de vida à população local. Não sei quem ganha com a realização destes "concertos" no passeio marítimo, cuja vocação deveria ser outra. Nem se consegue perceber, mas isso é outra história, como tanta gente se deixa seduzir por um ruído acima dos decibéis que o ouvido humano pode suportar. Nas discotecas é idêntico. Há que impedir que as pessoas falem, que convivam, há que anestesiá-las pelo barulho para as tornar inofensivas. É uma estratégia sinistra, mas parece que ganhadora. Pelo menos, no imediato, há quem ganhe com ela.

Quando é que ficaremos livres de Isaltino e da sua vereação? Oeiras merecia melhor, merecia especialmente, aliás como todo o país, a tranquilidade para os seus habitantes, devendo remeter-se estes "festivais musicais" para zonas inofensivas para as populações, e onde os apreciadores se pudessem entregar a todos os desmandos que estas realizações sempre justificam.

O direito ao sossego deveria ser constitucionalmente garantido, mas as novas gerações são educadas exactamente no culto do barulho. E assim, pouco a pouco, discretamente, vai apodrecendo o relacionamento social. Aliás, parece que é esse o objectivo. Conseguirão os seus mentores alcançá-lo? Os tempos novos o dirão.

1 comentário:

ZÉ DOS ANZÓIS disse...

ESTES FESTIVAIS QUE ALTERAM A VIDA E O SOSSEGO DE TODOS OS HABITANTES DE ALGÉS E ARREDORES DEVERIAM SER BANIDOS PER OMNIA SAECULA SAECULORUM.

ISALTINO PARA A RUA (OU PARA A CADEIA) JÁ!!!