terça-feira, 13 de julho de 2010

DELÍRIOS

Nas Jornadas Parlamentares do PSD, dois antigos ministros das Finanças de governos do Partido Socialista, Ernâni Lopes e Campos e Cunha, fizeram propostas algo delirantes para resolver a crise financeira nacional, pela qual os portugueses, na sua generalidade, não são minimamente responsáveis.

Assim, segunda a comunicação social, Ernâni Lopes terá sugerido a diminuição dos vencimentos dos funcionários públicos em pelo menos 20%.

Por seu turno, Campos e Cunha considera que o problema resulta dos baixos vencimentos dos políticos, pelo que sugeriu que fossem aumentados até cerca de 30%, além de outras considerações estranhas sobre os votos em branco, etc.


Não se percebe bem que resultados pretendem atingir. Certamente que a Ernâni Lopes não faria muita diferença receber menos 20% dos seus salários ou pensões de reforma ou o que for. Em caso de necessidade, até poderia vender a sua colecção de obras de arte, que parece valer alguns milhões, segundo visitas de sua casa. Mas para a generalidade dos cidadãos, trabalhadores no activo ou pensionistas, uma redução de 20% afectaria dramaticamente o respectivo orçamento familiar. É que o nível de vida dos portugueses (com exclusão da classe política e da classe dos gestores) é dos mais baixos da Europa.  Por outro lado, a ideia de Campos e Cunha de que a elevação em cerca de 30% dos salários dos políticos aumentaria a qualificação dos mesmos e seria garantia de maior competência e de maior honestidade no desempenho das suas funções, não lembra ao diabo. Campos e Cunha, que tem 56 anos, não se deveria permitir tamanha ingenuidade, a menos que as suas declarações se insiram no processo de delírio colectivo que atingiu o país. Também Ernâni Lopes, que tem 68 anos, e portanto, presume-se, experiência da vida, e que foi ministro de Mário Soares e responsável por um notável aperto de cinto decorrente das liberalidades do consulado gonçalvista, tem a obrigação de saber que a situação social é totalmente diferente da de então e que importa impedir a ruptura do tecido social, de imprevisíveis consequências.

Pensam estes dois "venerandos" economistas que o facto das Forças Armadas terem sido mercenarizadas pôs o país ao abrigo de um golpe de estado ou de uma revolução. Puro engano. O facto de Portugal estar a saque há muitos anos, sem que os responsáveis pela delapidação do tesouro nacional sejam julgados e condenados, não significa que os portugueses estejam dispostos a ser sugados até ao tutano por uma classe incompetente e venal que, salvo raras e honrosas excepções, governa o país há 35 anos.

Que são necessárias medidas, ninguém duvida. Mas que sejam aplicadas com equidade e bom-senso.  Aqui, como em toda a Europa, a fim de se evitar o pior.

Não pretendendo alongar-me, faço minhas as palavras outrora proferidas pelo Marechal Carmona: «A Pátria está doente».

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