domingo, 7 de novembro de 2010
O FIM DA DEMOCRACIA
O professor e diplomata Jean-Marie Guéhenno, que foi subsecretário-geral das Nações Unidas de 2000 a 2008, publicou em 1993 um interessante livro, La Fin de la Démocratie, que importa revisitar.
Começa o autor por se interrogar se a democracia sobreviverá ao ano 2000. Afirma Guéhenno que a queda do muro de Berlim marcou o fim de uma época, que os "optimistas" pretendem ter começado em 1945 e que os "pessimistas" sustentam ter-se iniciado em 1917. Defende o autor a tese de que essa época começou em 1789 e que 1989 pôs um termo à era dos Estados-nações.
«Os cidadãos nostálgicos da República Romana moribunda apelavam, não sem grandeza, à virtude dos tempos antigos. As nossas lamentações de hoje não travarão mais do que as suas a marcha para um novo império. 1989 marca com efeito o crepúsculo de uma longa época histórica, de que o Estado-nação, progressivamente aparecido sobre as ruínas do Império Romano, foi a coroação. Esta forma política, muito mais europeia do que a ideia de império, foi, nos dois últimos séculos, imposta ao mundo, e nós tomámos por um resultado necessário o que não foi talvez mais do que o resultado precário de uma rara conjunção histórica, ligada a circunstâncias particulares e que poderia desaparecer com elas. Chamamos a era que chega de "imperial" em primeiro lugar porque sucede ao Estado-nação como o Império Romano sucedeu á República Romana: a sociedade dos homens tornou-se demasiado vasta para formar um corpo político. Os cidadãos formam cada vez menos um conjunto capaz de exprimir uma soberania colectiva; são apenas sujeitos jurídicos, titulares de direitos e submetidos a obrigações, num espaço abstracto com fronteiras territoriais cada vez mais indecisas.
Esta era pode ser qualificada de imperial também por uma segunda razão: a ideia de império não é exclusiva da Europa, e não está portanto prisioneira da nossa tradição política. Corresponde a uma nova época, em que a definição europeia da política será relativizada pelo sucesso do mundo asiático; descreve um mundo simultaneamente unificado e privado de centro. A existência de um centro reclama uma organização piramidal do poder que já não corresponde ao nosso mundo complicado. Entrámos na era da complexidade, sem saber se essa complexidade seria um progresso ou um handicap.»
Muita água correu sob as pontes desde 1993, mas este livro não só antecipa acontecimentos que vieram a verificar-se posteriormente como mantém ainda grande actualidade.
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