Começou ontem e termina hoje em Lisboa uma cimeira da chamada Aliança Atlântica. Como vem sendo habitual, a realização destes encontros suscita vivo repúdio de parte das populações, não só a nível local mas mundial. Essa hostilidade provém dos manifestantes profissionais e dos activistas políticos ditos de esquerda, naturalmente, mas também de muita gente que considera a NATO um instrumento dos desígnios do "imperialismo ocidental" capitaneado pelos Estado Unidos. E há igualmente os que protestam pelo facto de reuniões deste tipo, que exigem rigorosíssimas medidas de segurança, prejudicarem largamente a vida quotidiana dos cidadãos.
Por isso, seria desejável que estes conclaves tivessem lugar em regiões desérticas (ou na Antártida) a fim de não alterarem significativamente o dia a dia das pessoas normais e também porque, dispensando tão ostensiva panóplia securitária, os tornaria menos dispendiosos.
Realizar esta cimeira em Lisboa, no centro da cidade, com um pais à beira da falência, é coisa de doidos. É certo que o local estava escolhido há largo tempo, mas já nessa ocasião a situação económica aconselhava alguma moderação relativamente a tais eventos.
Afirmam alguns que estas reuniões magnas prestigiam o país. Mas também há opiniões exactamente opostas.
Foi a NATO criada em 1949, sob a égide americana, para "proteger" a Europa Ocidental do "perigo comunista". Em 1955, a União Soviética promoveu o Pacto de Varsóvia, como contraponto. Desmoronada a URSS, caído o Muro de Berlim, dissolvido o Pacto de Varsóvia e transformadas as "democracias populares" em aliadas do Ocidente (e membros da própria NATO), deixa de fazer sentido a existência da Aliança Atlântica. Aliás, e ainda antes destes acontecimentos, o general De Gaulle, em 1966, retirara a França da estrutura militar da NATO, a que só regressou em 2009 pelas mãos de Nicolas Sarkozy.
O bombardeamento da Jugoslávia, em 1999 (por exigência da sinistra Albright) constituiu um triste episódio da história da Aliança, que pretende agora alargar a sua influência a todo o mundo, actualizando o seu conceito estratégico para poder actuar (na prática já podia) "legalmente" nas mais remotas paragens, sempre que os seus próceres considerarem que existe uma ameaça, real ou virtual, contra os países que a compõem.
Nesta reunião, a NATO vai procurar obter o apoio da Rússia (outrora inimiga) contra o terrorismo internacional. O terrorismo é um flagelo (todos o sabemos) mas mais do que por causas políticas ou religiosas é provocado pelas desigualdades sociais que são cada vez mais gritantes no planeta que habitamos. Também se dedicará, diz-se, ao ambiente e à pirataria informática.
Aguardemos, pois. Nisto, como em tudo, importa ter presente a máxima evangélica: "Pelos frutos os conhecereis".
2 comentários:
Longe vão os tempos que justificaram a criação da NATO designadamente a guerra fria que opunha dois blocos liderados, respectivamente pela URSS e os EUA.
Após o colapso da URSS, a Nato faz sentido? Para combater o regime dos talibans no Afeganistão? Para criar um escudo protector europeu a fim de o defender de eventuais ataques terroristas?
Um jornalista afegão que se encontrava na cimeira da Nato, manifestava-se estupefacto por não haver qualquer referência ao Paquistão que é a principal base de apoio dos talibans e da Al-Kaida. Sem este problema resolvido não haverá paz no afeganistão. Mas o Paquistão é um imenso País, mergulhado em contradições e ainda por cima nuclear! Tal como o Irão.
Por estas razões talvez se justifique a existência da NATO como dissuasora de extremismos que ainda são reais no mundo de hoje
A NATO alargou o seu conceito para poder bombardear onde quiser. E pede a anuência da Rússia. Parece que foi dada, mas só provisoriamente. Porque na realidade as coisas serão mais complicadas, certamente.
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