sexta-feira, 12 de junho de 2009

ANA ZANATTI



Interessante e lúcida a entrevista de Ana Zanatti. Ao reconhecer-se como homossexual, primeiro em cerimónia de apresentação do Movimento pela Igualdade e agora publicamente ao “Público” nesta entrevista de hoje, Zanatti evoca a sua vida de ocultação ao longo de 40 anos face a uma sociedade pretensamente aberta mas recheada de preconceitos que 35 anos de democracia não foram suficientes para eliminar.


As famílias “bem” consideram de bom-tom ter um amigo homossexual (desde que não seja seu filho, o que constituiria uma calamidade), que abrilhante as suas reuniões sociais. E as outras, modestas e de bairro, atreitas aos comentários das vizinhanças, expulsam muitas vezes os rapazes de casa, que as raparigas, essas, passam mais despercebidas aos olhos dos outros.


A homossexualidade como estigma vem de tempos antigos, imemoriais, da Torah judaica, que veio a ser incorporada no Antigo Testamento da Bíblia cristã, tendo a marca infamante transitado finalmente para o Corão muçulmano. Ainda hoje se está para saber se o castigo dos habitantes de Sodoma e Gomorra, referido no Génesis teve alguma coisa a ver com o exercício da homossexualidade, normal na Antiguidade, ou se a alusão à destruição das duas cidades bíblicas ficou registada nos “textos” antigos por razões de outra natureza.


A verdade é que a homossexualidade se tornou um pecado para as três religiões monoteístas e um ferrete, quando não um crime, para as sociedades que as adoptaram; pior do que isso, passada que foi a supremacia religiosa nas nações ocidentais, que não nas islâmicas, o preconceito social manteve-se, mesmo para os ateus mais convictos, o que prova a que ponto a influência religiosa penetrou no âmago da in(consciência) cívica.


Critica Ana Zanatti, na entrevista, algumas afirmações de Bento XVI contra a homossexualidade, mas é evidente que Ratzinger, preso ao dogma (e menos flexível que João XXIII ou Paulo VI) não poderia pronunciar-se favoravelmente sobre o tema; bem bastaram à Igreja outras questões dolorosas (algumas já esquecidas) como a condenação de Galileu. Mas poder-se-ia esperar que o Papa fosse mais discreto nesta matéria de costumes, conhecendo ele tão bem – homem culto que é – a longa caminhada da Humanidade.


Já se compreende menos bem a igualmente referida declaração do presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, que defendeu a ajuda médica para quem quisesse deixar de ser homossexual. Não sendo a homossexualidade uma doença (como acabou por ser internacionalmente reconhecido em 1973) só se compreende essa afirmação do facultativo como uma contribuição para angariar clientes para si ou para os seus colegas, que ainda existem por aí muitos incautos à solta!


Há, aliás, quem sustente que não se é homossexual mas se está homossexual, que não são as pessoas mas os actos que são homo ou heterossexuais, conforme os parceiros do momento, embora existam tendências prevalecentes que conduzem o indivíduo a aproximar-se mais para um ou outro lado. Infindável vexata quaestio que não é para debater neste lugar.


Por hoje, os parabéns para Ana Zanatti nesta sua luta pela Igualdade. Quanto aos casamentos same-sex, será assunto para outra ocasião.


2 comentários:

Anónimo disse...

O assunto é vasto e obviamente uma caixinha de comentários não pode dar para grandes desenvolvimentos. Observações rápidas:1) o autor,na linha de outros textos seus,parece querer atirar para a Torah a origem das condenações.Curioso. Por acaso,enquanto que a história de Sodoma é susceptivel de interpretações várias,a condenação do "Levítico" é indubitável.Mas aparece misturada com muitos outros interditos,hoje ultrapassados e até ridicularizados. Porque será que esse foi transmitido e aceite e os outros não? E notemos que os Evangelhos não têm uma palavra sobre o assunto,e os primeiros séculos do Cristianismo,apesar da mensagem paulina,foram assaz flexiveis. 2)O preconceito anti-homo não será mais uma questão de época, dada a preocupação da Antiguidade,ocidental e extra-ocidental, da salvaguarda da procriação e da continuidade da espécie,hoje correctamente desvalorizadas,dada a profusão de humanos à superfície do planeta? E nunca mais acabam de perceber o Foucault e outros,para desistir do mito da "aceitação" homo na Grécia e em Roma,dado que as práticas aí mais ou menos aceites pouco tinham a ver com a homossexualidade defendida hoje pelos respeitáveis militantes,essa muito mal vista socialmente (e literariamente)? E repito,que pena que este blogue,do qual muitas vezes discordo, mas bem escrito com ieias estimulantes e densamente defendidas,não suscite mais comentários. É a preguiça nacional?

Anónimo disse...

As pessoas são livres de escolher a sua orientação sexual, pois todos temos livre arbítrio,


sou contra é a imposição da sexualidade perante os outros ,e as manifestações sexuais a entrarem no dito chocante,

tal como foi referido no anterior comentário, sodoma e gomorra , ate na rua faziam sexo e violações, sem qualquer controlo moral fossem homens ou mulheres e crianças ,bebes inclusive, como tal era um foi descrito como um bastião de imoralidade não um bastião de homossexualidade .


sendo homossexual ou hetero ou bi seja qual for a inclinação,

a que exigir o mínimo de respeito para com as pessoas em volta, e não entrar no chocante como meio de afirmação

considero isso algo muito baixo...

seja qual for a orientação sexual,

dentro do respeito façam o que quiserem.

obedecendo as leis instituídas, tal como a cidadania exige, óbvio que o mundo não é perfeito, homofóbicos e racistas existem,

Educação e compreensão é o que é necessário para levar algo a avante.
Pois todas as outras formas só podem ter um efeito Retroactivo numa sociedade conservadora.