Nunca comentei qualquer artigo de Helena Matos. Mas a sua prosa, hoje publicada no Público, e que transcrevo, suscita-me a maior perplexidade. Helena Matos serve-se de gravatas como pretexto para falar de aventais, e mistura pelo meio símbolos fálicos e mulheres cobertas de pelos. Há ainda uma referência, inevitável, a serviços secretos. E um P.S. final sobre terrorismo e os atentados de Oslo, porventura a única intenção de Helena Matos ao escrever o artigo. Para cocktail, são demasiados ingredientes.
Sem mais comentários, transcrevo o artigo:
Gravatas e aventais
Por Helena Matos
Enquanto as gravatas lá andam no domínio do simbólico, os aventais da maçonaria movem-se no domínio do material
Portugal é um país que adora entreter-se com aparentes futilidades - no caso as gravatas -, enquanto ilude o que é verdadeiramente importante - ou seja, os aventais. Pelo que li, nas últimas semanas o país tem vivido uma guerra entre aventais, ou mais precisamente entre as diversas lojas maçónicas em que colocam o avental de irmãos diversos membros dos serviços secretos e de informações. Mas o que na verdade nos inebria é a decisão da ministra Assunção Cristas de abolir as gravatas no seu ministério, coisa que começou por ser apresentada como uma medida visando a poupança de energia e já vai a caminho de ser celebrada como um acto que, segundo a deputada Elza Pais, se "poderá traduzir na emergência de novas masculinidades, essas sim, fundamentais para mudar de paradigma".
Das energias tratarei noutro lugar, pois se existem muitas alternativas no que respeita às energias. O mesmo não se pode dizer dos símbolos fálicos (ao que consta as gravatas serão um símbolo fálico), coisa que até este bendito tempo nunca foi problema, antes pelo contrário, mas agora é. Vivemos rodeados de símbolos e francamente os símbolos fálicos parecem-me tão estimáveis quanto os outros. Presumo que os saltos altos nas mulheres devem ser um símbolo doutra coisa nefanda qualquer. Isto para já não falar dos soutiens, dos vestidos e das saias, que nestas coisas do simbólico o feminino é sempre mais reiterativo. Por este andar acabaremos, homens e mulheres, vestidos com aqueles fatos de poliuterano que fizeram a fortuna dos nadadores, de touquinha a cobrir os cabelos e quiçá com as mulheres cobertinhas de pêlos, pois ainda se há-de dar o bendito caso de a depilação passar a ser vista como um sinal da submissão feminina à sociedade falocrática.
Como é que dos homens sem gravata vão emergir novas masculinidades e por alma de quem é que tal coisa deverá acontecer e ainda por cima nos é apresentada como positiva é que me parece uma reactualização perigosa dos mistérios da fé. Mas não duvido que ainda vamos no princípio desta luta contra a falocracia das gravatas. E sou mesmo levada a acreditar que, caso os membros da maçonaria em vez de aventais (coisa tida como feminina) usassem uns adereços mais fálicos, talvez merecesse mais atenção o que acontece nessa sociedade de que alguns compagnons dessa route gostam de dizer que de secreta passou a discreta.
Antes de passarmos à maçonaria propriamente dita convém que faça uma declaração de desinteresse: não tenho qualquer interesse ou simpatia por sociedades secretas ou discretas e numa democracia nem percebo a sua razão de ser. Irrita-me solenamente a presunção dumas pessoas que a si mesmas se definem como homens bons e sobretudo todos aqueles rituais de igreja a fazer de conta que não é igreja, mais os aventais e os martelos que me parecem muito, mas mesmo muito ridículos. Tal como as gravatas parecerão a outros. Mas enquanto as gravatas lá andam despojadamente no domínio do simbólico, os aventais da maçonaria movem-se cada vez mais no domínio do material. Não há na política deste país negócio obscuro, tráfico de influências, cumplicidades entre público e privado que não nos levem à irmandade dos aventais. Para cúmulo somos também informados de que os membros dos serviços de informações têm outras lealdades para lá daquelas que devem ao país e que inevitavelmente conduzem a esse enredo de lojas, grémios e orientes.
Se alguns milhares de homens deste país se sentem felizes por andar de avental, chamando-se irmãos e dizendo-se homens bons, essa é sinceramente uma coisa que não nos diz respeito e a mim me causa particular fastio. Mas a democracia que somos tem o dever de investigar o tráfico de influências em que justa ou injustamente a maçonaria surge no cerne e muito particularmente os partidos, sobretudo o PS e o PSD, têm de ser capazes de olhar para dentro e analisar as consequências para si e para o país das cumplicidades maçónicas de muitos dos seus dirigentes.
Deixemos as gravatas em paz e já agora os símbolos fálicos e a masculinidade também, que bem precisam. E preocupemo-nos com os aventais que, ó deliciosa vingança feminina!, se tornaram no símbolo daquilo que em Portugal o poder não pode e muito menos deve ser. Ensaísta
P.S. É curioso como os jornalistas que investigam todos aqueles que por razões políticas contactaram ou foram contactados pelo terrorista de Oslo esquecem nessa averiguação os seus irmãos maçons.
Das energias tratarei noutro lugar, pois se existem muitas alternativas no que respeita às energias. O mesmo não se pode dizer dos símbolos fálicos (ao que consta as gravatas serão um símbolo fálico), coisa que até este bendito tempo nunca foi problema, antes pelo contrário, mas agora é. Vivemos rodeados de símbolos e francamente os símbolos fálicos parecem-me tão estimáveis quanto os outros. Presumo que os saltos altos nas mulheres devem ser um símbolo doutra coisa nefanda qualquer. Isto para já não falar dos soutiens, dos vestidos e das saias, que nestas coisas do simbólico o feminino é sempre mais reiterativo. Por este andar acabaremos, homens e mulheres, vestidos com aqueles fatos de poliuterano que fizeram a fortuna dos nadadores, de touquinha a cobrir os cabelos e quiçá com as mulheres cobertinhas de pêlos, pois ainda se há-de dar o bendito caso de a depilação passar a ser vista como um sinal da submissão feminina à sociedade falocrática.
Como é que dos homens sem gravata vão emergir novas masculinidades e por alma de quem é que tal coisa deverá acontecer e ainda por cima nos é apresentada como positiva é que me parece uma reactualização perigosa dos mistérios da fé. Mas não duvido que ainda vamos no princípio desta luta contra a falocracia das gravatas. E sou mesmo levada a acreditar que, caso os membros da maçonaria em vez de aventais (coisa tida como feminina) usassem uns adereços mais fálicos, talvez merecesse mais atenção o que acontece nessa sociedade de que alguns compagnons dessa route gostam de dizer que de secreta passou a discreta.
Antes de passarmos à maçonaria propriamente dita convém que faça uma declaração de desinteresse: não tenho qualquer interesse ou simpatia por sociedades secretas ou discretas e numa democracia nem percebo a sua razão de ser. Irrita-me solenamente a presunção dumas pessoas que a si mesmas se definem como homens bons e sobretudo todos aqueles rituais de igreja a fazer de conta que não é igreja, mais os aventais e os martelos que me parecem muito, mas mesmo muito ridículos. Tal como as gravatas parecerão a outros. Mas enquanto as gravatas lá andam despojadamente no domínio do simbólico, os aventais da maçonaria movem-se cada vez mais no domínio do material. Não há na política deste país negócio obscuro, tráfico de influências, cumplicidades entre público e privado que não nos levem à irmandade dos aventais. Para cúmulo somos também informados de que os membros dos serviços de informações têm outras lealdades para lá daquelas que devem ao país e que inevitavelmente conduzem a esse enredo de lojas, grémios e orientes.
Se alguns milhares de homens deste país se sentem felizes por andar de avental, chamando-se irmãos e dizendo-se homens bons, essa é sinceramente uma coisa que não nos diz respeito e a mim me causa particular fastio. Mas a democracia que somos tem o dever de investigar o tráfico de influências em que justa ou injustamente a maçonaria surge no cerne e muito particularmente os partidos, sobretudo o PS e o PSD, têm de ser capazes de olhar para dentro e analisar as consequências para si e para o país das cumplicidades maçónicas de muitos dos seus dirigentes.
Deixemos as gravatas em paz e já agora os símbolos fálicos e a masculinidade também, que bem precisam. E preocupemo-nos com os aventais que, ó deliciosa vingança feminina!, se tornaram no símbolo daquilo que em Portugal o poder não pode e muito menos deve ser. Ensaísta
P.S. É curioso como os jornalistas que investigam todos aqueles que por razões políticas contactaram ou foram contactados pelo terrorista de Oslo esquecem nessa averiguação os seus irmãos maçons.
1 comentário:
Artigo de grande lucidez.
Helena Matos no seu melhor e para todo o entendedor.Mais directa e explicita parece dificil.
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