quinta-feira, 14 de julho de 2011

CORFU



Durante uns breves dias passados numa praia da Dalmácia, reli Corfou, do australiano Robert Dessaix (n. 1944), autor de várias obras, nomeadamente as interessantíssimas Night Letters.

Lera o livro há cerca de dez anos, quando foi publicado, e voltei agora a ele, não em Corfu (o que não deixo de lamentar) mas numa zona próxima. A ilha não é hoje o que Dessaix descreve e o próprio Dessaix refere que já não era, quando a conheceu, o que a tornou famosa. Não esqueçamos que a aldeia de Gasturi foi um local de refúgio (e meditação) da imperatriz Elisabeth de Áustria (Sissi), que ali edificou um palácio. Mas com o turismo de massas e a globalização acelerada deste nosso mundo, tudo muda, certamente para pior. A vida autêntica das gentes de Corfu, que era motivo de atracção dos viajantes e constituía, como em tantos outros lugares, um encanto para o espírito (e não só) e as paisagens soberbas entre o Adriático e a Albânia, pertencem ao passado.

A obra de Robert Dessaix não é um guia turístico, embora aluda a locais, usos e costumes da terra. É um romance inspirado na vida do actor e autor australiano Kester Berwick, mas é também, de certo modo, ainda que não confessado, uma biografia de Dessaix. Num permanente flash-back, mais literariamente em analepse, percorre a vida do narrador (o próprio Dessaix ?), a vida de Berwick, e as de umas tantas pessoas que o autor assegura serem fictícias.

Trata-se de um exercício sobre os comportamentos humanos, as ilusões e desilusões da vida, a felicidade (?), o teatro (especialmente Tchekov, já que Dessaix estudou em Moscovo nos anos 70), o sexo, o amor, a amizade, a morte. Recheada de referências culturais (talvez em excesso, ainda que não pretensiosas), Corfou é uma obra que seduz o leitor, que o prende até o fim.  Escrita com elegância, aconselha-se vivamente a sua leitura, em especial às pessoas de gosto requintado.

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