segunda-feira, 7 de março de 2011

FOTOGRAFIA ARTÍSTICA NO MAGHREB

 
Mohamed

O nº 77 da revista Qantara, a publicação trimestral do Institut du Monde Arabe, sediado em Paris, insere uma curiosa reportagem sobre os pioneiros da fotografia artística no Maghreb (e também no Mashreq), verdadeiros cultores de imagens românticas que, durante décadas, alimentaram o fascínio pelo "orientalismo". Foram eles Rudolf Lehnert e Ernst Landrock, cujo percurso deixou marcas indeléveis, como o comprova uma exposição de parte do seu acervo (nus excluídos, porque associados pelos tunisinos a um colonialismo ocidental e pelos europeus porque contrários à cruzada moralista em curso) realizada em 2006 na Tunísia.

Diga-se, entre parênteses, que caminhamos a passos largos, num retrocesso histórico, para a época em que os papas mandaram colocar parras sobre os sexos das estátuas da antiguidade clássica existentes no Vaticano.

Rudolf Lehnert nasceu na Boémia em 1878 e viria a morrer em Redeyef, no oásis de Gafsa, na Tunísia, onde residiu nos últimos anos da sua vida. Passou a sua adolescência em Viena, tendo-se formado no Instituto das Artes Gráficas da capital austríaca. Depois de uma viagem pela Itália, descobriu a Tunísia em 1903. Algum tempo depois encontra Ernst Landrock na Suiça, e os dois homens associam-se para abrir um atelier de fotografia na medina de Tunis. 

Um jovem

Pouco a pouco vão difundindo uma obra orientalista inédita: composições pictóricas de um equilíbrio perfeito, domínio absoluto dos efeitos de luz. Os "tipos" tornam-se finalmente retratos; a rua árabe e o sul tunisino nunca foram tão sublimados. Os nus orientais valeram ao estúdio o seu primeiro reconhecimento internacional em 1906. L & L vendem tiragens de grande luxo mas difundem igualmente heliogravuras e bilhetes postais de qualidade superlativa. O sucesso permitiu-lhes abrir outro estabelecimento em Tunis, em 1907, na prestigiada avenida de France, e um terceiro em 1911. Porém, a Primeira Guerra Mundial levou ao seu encerramento em 1914. Refugiados na Suíça, relançaram a carreira no Egipto em 1924. A concorrência é aqui maior e a produção mais documental. Em 1930, zangam-se e separam-se. Landrock continua a gerir o fundo no Cairo e Lehnert, tornado cidadão francês, regressa à Tunísia, onde virá a morrer em 1948. 

Um jovem

Redescoberto a partir dos anos 1980, Rudolf Lehnert é considerado hoje o mais talentoso dos fotógrafos orientalistas; e, por isso, também o mais controverso.


A casa Lehnert & Landrock continua a existir no Cairo, rua Sherif, nº 44, sendo hoje uma livraria, mas dispondo ainda de um bom stock de fotografias, gravuras, mapas, guias turísticos, etc. Um local de paragem obrigatória nas estadas na capital egípcia.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quando for ao Cairo irei a essa livraria. Deve ser uma relíquia.

Anónimo disse...

A relação das igrejas (e não só da nossa) com o corpo e com o sexo tem sido sempre ou quase sempre complicada quando não sinistra ao longo dos tempos.Estes artistas,como outros estabelecidos na Sicília em tempos idos,ultrapassaram essas barreiras,mas ainda hoje se erigem barreiras de incompreensão e censura. Deviam-nos servir de exemplo os indios Awa,do Amazonas,fotografados e filmados pela BBC e talvez ainda presentes no site dessa excelente estação,relatando as cómicas experiências de um dos membros da equipa da reportagem.