quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O PAQUISTÃO

Depois das trágicas explosões de domingo em Baghdad, eis que esta manhã se verifica outra terrível explosão num mercado de Peshawar, com uma centena de mortos e cerca de meio milhar de feridos.

O clima de violência que se vive no Oriente médio prossegue num crescendo a que as polícias, as tropas regulares e os contingentes estrangeiros não logram pôr fim. A incursão no Afeganistão (onde também prosseguem diariamente os ataques indiscriminados) como represália pelos supostos ataques dos talibans aos Estados Unidos - como se os actos (isolados) suicidas contra o World Trade Center e o Pentágono (?) justificassem a invasão de todo um país - seguida da ocupação do Iraque e da colocação de tropas no Paquistão, torna mais evidente, dia após dia, a insanidade da administração Bush, cujo fim último, começa a presumir-se, seria a eclosão de uma Terceira Guerra Mundial. É dos manuais que a ausência de um inimigo credível (e a União Soviética implodiu) exige sempre a criação de outro, por muito imaginário que seja, que possa ser vendido, através de toda uma máquina de propaganda, às populações incautas deste triste planeta.

Há contingentes de soldados americanos e europeus um pouco por todo o Médio Oriente, à excepção (curiosa) de Israel, onde muita falta fariam para exigir àquele Estado o cumprimento das Resoluções das Nações Unidas, que, em plena impunidade, sempre ignorou. "Malhas que o Império tece".

A situação no Paquistão, para lá de outros factores, releva ainda da desastrosa consequência do desmembramento do chamado Império das Índias, de que foi imperatriz (hoje dir-se-ia imperadora) uma mulher de má memória, a rainha Vitória, e cujo último vice-rei, Lord Mountbatten, presidiu, impávido e sereno, à formação de dois Estados artificiais, o Paquistão e a Índia (hoje União Indiana), com a deslocação forçada de muitos milhões de pessoas (tendo uma boa parte morrido na trasfega) em função da sua crença, muçulmana ou hindu. Por questões políticas, religiosas e demográficas houve no início dois Paquistões e não um, separados pelo imenso território da Índia, tendo o mais pequeno, o Paquistão Oriental, acabado por se cindir do actual único Paquistão, passando a constituir o Bangla Desh. E sobra ainda o conflito latente, periodicamente reacendido, de Jaipur e Caxemira, onde não foi possível encontrar uma solução, mesmo precária, de autonomia política.

Como várias vezes tenho escrito, os conflitos actuais decorrem principalmente das desastrosas políticas anglo-saxónicas e o futuro afigura-se sombrio. Não me permite o tempo alargar-me em outras considerações, mas não resisto a recomendar uma leitura ou releitura atenta do livro do falecido Samuel Huntington The Clash of Civilizations. Livro premonitório ou encomendado? Um dia voltaremos a este tema.

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