Baghdad, a que o califa Al-Mansur chamou Madinat as-Salam (a Cidade da Paz), foi hoje novamente sacudida por duas violentas explosões que causaram cerca de 200 mortos e perto de um milhar de feridos. Para lá dos efeitos da guerra, incomensuráveis, os ataques, os atentados, as retaliações, as perseguições, sucedem-se.
Desde que em 2003 o Iraque foi invadido por uma "Coligação" encabeçada pelos Estados Unidos e o Reino Unido, a que, lamentavelmente se juntaram, por oportunismo ou cobardia, alguns outros países, a Cidade da Paz passou a ser um teatro de guerra. Não só Baghdad mas todo o Iraque.
Decidido o ataque por Bush e Blair, criminosos de guerra só comparáveis a Hitler, Stalin, Churchill e Roosevelt (ou Truman), na horrenda Cimeira das Lajes - onde se associaram Aznar (que teve azar com os ataques de Madrid) e Barroso (que recebeu como prémio a presidência da Comissão Europeia) - desde 2003 que um país onde se vivia em relativa segurança, ainda que sob um regime autoritário, porventura não muito diferente do dos seus vizinhos, passou a caracterizar-se pela intranquilidade absoluta, com um cortejo de mortos, feridos, estropiados, desalojados, emigrados, loucos, que ultrapassa já os cinco milhões de pessoas. Com mais um esforço, atingiremos a cifra simbólica dos seis milhões e poderemos então classificá-lo, segundo as normas em vigor, como um Holocausto.
É evidente que a primeira preocupação vai naturalmente para os seres humanos, mas que dizer das destruições, delapidações, saques, roubos, e toda a série de malfeitorias de que foi vítima o património histórico material da Mesopotâmia, herança máxima da história da Humanidade. E dos próprios animais, mortos, feridos, abandonados sem dó nem piedade.
A invasão do Iraque (por sua vez culpado de outras invasões com a cumplicidade ou conivência dos Estados Unidos, como o caso do Irão e do Kuwait), constituiu o acontecimento mais trágico do mundo desde a Segunda Guerra Mundial. Vivia o Iraque, sob Saddam Hussein, num clima de certo desenvolvimento económico e social, apesar da limitação de algumas das liberdades chamadas fundamentais e do eterno problema curdo, uma herança vinda do tempo da queda do Império Otomano e que o protectorado britânico, como de costume, não quis ou não soube resolver.
Afirmou um neoconservador americano, cujo nome a náusea me impede de escrever, referindo-se ao conflito israelo-palestiniano e à paz no Médio Oriente, que "o caminho para Jerusalém passa por Baghdad". Ao fim de seis anos de inferno, em que tudo está pior do que nunca, pode-se constatar a bondade desta afirmação.
Terra de muitas religiões, sempre no Iraque foram permitidos e protegidos todos os cultos e assegurado o seu livre exercício. Neste momento, em que sunitas e xiitas se digladiam ferozmente, que as outras confissões religiosas são perseguidas, nomeadamente os vários ramos do cristianismo, a população que ainda resiste, heroicamente, numa cidade que albergou, há séculos, a Casa da Sabedoria (Bayt al-Hikma) e num país de Entre-os-Rios (parte primordial do Crescente Fértil) recorda-se com saudade Saddam Hussein, e são muitos os que ansiariam pelo regresso de Saddam, não tivesse este sido eliminado fisicamente após um julgamento de farsa como o que se preparava para condenar Milosevic, em Haia, não tivesse este morrido (ou sido assassinado) antes de promulgada a sentença.
O problema do Iraque não terá solução, como o do Afeganistão, o da Palestina, e demais afins, sem que sejam tomadas medidas drásticas, inteligentes e corajosas. Mas uma parte do mal já feito é e será irreversível.
O Mundo Civilizado (ou o que quer que isso seja) deveria pedir desde já contas aos principais autores deste crime sem paralelo na história contemporânea. Importa que Bush e Blair e demais acólitos sejam presos, devidamente julgados e condenados à morte por enforcamento para exemplo das gerações vindouras. Esse será um primeiro passo para o começo da reconciliação mundial.
Outras atrocidades serão cometidas no percurso da História, porque o Homem (faça-se essa justiça), não foi criado à imagem de Deus. Mas o ataque ao Iraque é um caso ímpar e terá de servir de referência futura, para a Guerra e para a Paz.
domingo, 25 de outubro de 2009
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2 comentários:
Talleyrand: "Tout ce qui est excessif est sans portée".
ÉSTES AMERICANOS E INGLESES E SEUS SATÉLITES ANDAM A DESTRUIR O MUNDO. DEVIAM SER TODOS MORTOS
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