Alerta o PÚBLICO de hoje para mais uma indignidade surgida na aplicação das praxes académicas. Transcreve-se, a seguir, a notícia:
"Os estudantes alegam que, durante as tertúlias académicas ("um nome pomposo para designar os rallys das tascas"), os caloiros são obrigados a circular de bar em bar, bebendo até não poderem mais, sendo no final encaminhados para uma discoteca ou bar dançante, de onde o Conselho de Viriato retira supostos dividendos.
"Os caloiros não devem ser obrigados a sair de casa à noite, faltando às aulas de manhã, para que superiores da praxe [Conselho Viriato] ganhem dinheiro com isso", lê-se no e-mail. A mandatária de todo este esquema, apontam, é a líder do Conselho de Viriato, Ana Pinto, aluna do curso de Engenharia Civil e empregada num dos bares da zona do Politécnico.
A confirmarem-se as queixas, Fernando Sebastião, presidente do Instituto Politécnico de Viseu, diz que a situação é "inadmissível". Aquele responsável já se reuniu com a Associação Académica de Viseu e anunciou que, "para acabarem as suspeições", as actividades de praxe só serão retomadas em Novembro, quando começar a semana de recepção ao caloiro.
Porém, em conferência de imprensa, Rafael Guimarães, presidente da AAV, sublinhou, vezes sem conta, que acredita não haver quaisquer negócios de enriquecimento pessoal, entendendo que são "calúnias".
Ana Pinto, líder do CV, esclarece que as tertúlias são reuniões que servem para debater temas relacionados com a praxe e que se desenrolam em diversos bares "que patrocinam legalmente as tertúlias" e que o dinheiro é destinado a suportar as despesas com os festejos dos caloiros, explica. Garante também que ninguém é obrigado a consumir, muito menos bebidas alcoólicas.
O PÚBLICO contactou vários proprietários de bares que garantiram já ter pago 25 euros, sem recibo, para garantir a presença dos caloiros. Um deles contou que, no ano passado, lhe foi proposto pagar 50 euros, mas, como recusou, os caloiros não voltaram a entrar no bar.
O PÚBLICO teve acesso às chamadas folhas de pontuação, que o presidente da AAV afirma desconhecer, nas quais estão definidos os pontos que cada estudante ganha, de acordo com o tipo de bebidas que consome. Por exemplo, um fino (5 pontos) vale menos do que um shot (15 pontos). A maior valorização (100 pontos) é dada a quem beber de uma só vez mais de meio litro de cerveja."
Quanto a esta prática de praxar os caloiros, escrevi há dias, em comentário a um post do blogue "Portugal dos Pequeninos", o seguinte:
Já a violência, qualquer violência, deverá ser severamente condenada. Quanto às praxes académicas, que se pretendem iniciáticas na vida universitária, elas decorrem de costumes já antigos, criados por espíritos mesquinhos e constituem hoje um aviltamento da pessoa humana. Passando há dias frente ao Teatro Nacional D. Maria II, vi alguns "veteranos" obrigarem os "caloiros" a tomar banho vestidos nos lagos do Rossio; sem a menor intervenção da polícia. Não sei qual é o poder dos reitores e directores de faculdades para se evitarem estas manifestações abjectas e fundamentalistas. Mas para os seus autores, que já várias mortes têm provocado, esta cena que presenciei no Rossio, aconselharia a que, neste local de tantas tradições, os mesmos fossem queimados vivos, como no tempo da Santa Inquisição.
O que agora o PÚBLICO denuncia vem apenas confirmar a pertinência da minha convicção. Os cortejos de praxe que invadem as ruas em horas de ponta paralisando o trânsito, que provocam o alarido e o alarme público, que sujeitam os "caloiros" às provas mais infames, muito mais graves do que alguns actos que são hoje julgados pelos nossos tribunais , constituem uma perturbação da vida democrática. As praxes deverão ser rapidamente extintas por disposição governamental, com o patrocínio do presidente da República, e os infractores deverão ser presentes a tribunal e sujeitos a condenação exemplar, a bem da Nação.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
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1 comentário:
Se frequentemente discordo do autor do blog,que no entanto acolhe as minhas curtas e longas argumentações,neste caso só o posso aplaudir,clamando como na ópera,bis,bis. As praxes são mais um sinal de regressão civilizacional,re-instaurando pseudo-costumes tribais e humilhantes,em nome de uma tal "integração" numa verdadeira associação de malfeitores,como se deduz do artigo citado. Se queremos formar indivíduos livres e dignos,o caminho não é submetê-los a práticas degradantes para uma socialização forçada,em que os mais primitivos são os "chefes". Graças a Deus,nunca passei por tal coisa,não usada na Universidade de Lisboa,no "meu tempo",curiosamente o tempo do antigamente,com tantos defeitos,mas não o de submeter os universitários de Lisboa à degradação boçal iniciática. Parabens pelo post,sem reservas desta vez!
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