Foi inaugurado oficialmente anteontem e abriu ontem ao público o Neues Museum de Berlim, criminosamente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, nomeadamente pelos bombardeamentos de 1943 e 1945.
Conclui-se assim o restauro dos cinco edifícios que compõem a Ilha dos Museus, no rio Spree, no centro de Berlim e que integra, além do Neues (Novo) Museum, agora reaberto, o Altes (Antigo) Museum, o Pergamonmuseum, o Bode Museum e a Alte Nationalgalerie. Este conjunto foi considerado Património Mundial pela UNESCO e a sua recuperação completa deverá estar terminada em 2028.
A construção do Neues Museum iniciou-se em 1843, segundo um projecto de Friedrich August Stüler, sendo inaugurado em 1855 (algumas dependências abriram ao público posteriormente), e destinou-se a acolher várias colecções que o Altes Museum já não conseguia albergar, nomeadamente as relativas à Pré-História, ao Egipto e à Grécia Pré-Clássica.
Após a guerra foi criado um plano para recuperar estes notáveis museus de Berlim, embora muitas peças raras tivessem sido destruídas pelos bombardeamentos aliados. Algumas, pelas suas menores dimensões, foram transferidas para lugares seguros e salvaram-se, sendo agora expostas nos cinco museus, para fruição dos amantes da arte. Estes museus, nomeadamente o Pergamonmuseum, pela sua monumentalidade, passaram a fazer também parte do roteiro dos turistas que, em permanente desassossego, perturbam a serena contemplação de obras de valor inestimável, algumas verdadeiros tesouros da humanidade.
Os trabalhos de recuperação do Neues Museum começaram em 1986, ainda no tempo da República Democrática Alemã, mas foram suspensos em 1989 com a queda do muro de Berlim. Em 1997, o arquitecto britânico David Chipperfield foi encarregado da reconstrução e remodelação interior do Museu, tentando manter a estrutura original, mas deixando visíveis na fachada os buracos das balas do tempo da guerra.
Entre as peças mais notáveis agora expostas no Neues Museum encontra-se o busto de Nefertiti, mulher do faraó Akhenaton (obra reclamada pelo Governo Egípcio e cuja autenticidade foi recentemente posta em causa), que tive o prazer de ver em Abril passado, no Altes Museum, onde se encontrava provisoriamente colocada, o Tesouro de Príamo, descoberto em Tróia por Heinrich Schliemann, que o ofereceu à cidade de Berlim e o crânio do Homem de Neanderthal.
domingo, 18 de outubro de 2009
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8 comentários:
Estive há anos em Berlim com as colecções dos museus da ilha dispersas por vários sítios.
Vale a pena voltar agora a Berlim para ver tudo no seu lugar.
Todos estamos de parabens pela reabertura e reconstrução do Neues Museum nessa Ilha paradisíaca que é a Ilha dos Museus. Tambem queria manifestar o meu acordo com uso do termo "criminoso" para a destruição,não só do património alemão,como o de muitos outros países da Europa,provocado pela guerra lançada pelo sinistro regime nazi. O qualificativo de "criminoso" não poderia de facto ser mais bem aplicado do que a esse "gang" que, mistificando um povo, o conduziu para a guerra que estava na sua doutrina,guerra essa que alem da destruição humana e cultural,resultou na menorização da Europa no mundo,imperdoável e trágica conclusão. Foi a Civilização,no seu mais nobre e lato significado,a primeira vítima dos verdadeiros criminosos que assolaram a Europa entre 39 e 45. Esconjurados sejam!
Para o Anónimo da 1:22:
A destruição do património cultural é sempre um crime, como escrevi e o leitor concorda.
No caso vertente, o bombardeamento do Neues Museum, como a total destruição de Berlim, foi obra, desnecessária dos chamados "Aliados", mais concretamente russos, americanos e ingleses. Não foi o regime nazi que obviamente destruiu Berlim, embora tivesse feito outras destruições.
Nesta coisa de guerras as culpas nunca são unilaterais. Porque arrasaram os ingleses inutilmente Dresden, não deixando pedra sobre pedra? E porque eliminaram do mapa os americanos as cidades de Hiroxima e Nagasáqui, através de bombas atómicas, bombas cuja hipotética existência serviu agora de pretexto para invadir e destruir o Iraque, com milhões de mortos, feridos, estropiados, desalojados, etc.?
O regime nazi revestiu-se de aspectos sinistros, tal como o regime soviético, mas deverá o leitor saber que é hoje historicamente pacífica a afirmação de que foi Churchill um dos mais empenhados no desencadear da Segunda Guerra Mundial. Recomendo a leitura, por exemplo, de "Churchill, Hitler, and the Unnecessary War", de Patrick J. Buchanan.
Aliás, se contabilizássemos as atrocidades cometidas pelo Império Britânico ao longo da sua história, vejam-se as sequelas deixadas na Índia e Paquistão ou toda a questão do Médio-Oriente, perderíamos o fôlego.
E quanto aos americanos, da Coreia ao Vietname, ao Afeganistão, ao Iraque, e por aí fora, melhor é ficar por aqui.
Repartam-se pois as responsabilidades e não se diabolizem os regimes e os povos, porque nessa fotografia ninguém fica bem.
Uma das virtudes deste blog é sem dúvida a de acolher comentários determinados e adjectivados,e suscitar debates só limitados pelas ridículas regras do espaço de comentários. Vejamos.
1)É sem dúvida criminosa a destruição de património cultural ou humano,quase sempre consequência inevitável de conflitos cuja responsabilidade convem apurar com seriedade. Mas mesmo assim,não ponho no mesmo plano a destruição da catedral de Coventry,da Catedral de S.Paulo ou do Neues Museum,por exemplo,com o caso da destruição por dinamite dos Budas de Banyan,obras máximas da cultura de Gandhara(sec.VI) promovida pelos Taliban com a justificação de que se opunham ao verdadeiro islamismo. As primeiras não são deliberadas,fazem parte de operações militares. A última é um crime indubitável contra o Património mundial.
2)O crime original de que decorrem os infinitos de 1939-45,é evidentemente o desencadear da II Guerra,com a invasão da Polónia,depois de todas as concessões anglo-francesas em Munique e não só.Esse crime é da responsabilidade do regime nazi,e as atenuantes que os simpatizantes actuais têem procurado avançar para a desculpabilização que pretendem,não convencem.Depois de cada invasão de 36 a 39,Hitler ia garantindo que nada mais pretendia de expansão. Mas depois da Áustria,devorou regiões da Checoslováquia concedidas em Munique,e depois o resto do país. E sabia que a Polónia estava protegida por tratados de assistência militar com as potências democráticas.
3)A invocação de Churchill está na moda entre os simpatizantes atrás referidos. Buchanan é um desacreditado comentador paleo-conservador americano,que se distingue pelas suas posições racistas(anti-latinos e negros)homofóbicas,etc. Mas podia até dizer algo de jeito,por "milagre",neste caso. Ora sucede que a guerra se iniciou e prolongou meses com Chamberlain. Churchill foi durante os anos que imediatamente precederam a guerra uma voz isolada e pouco confiável no Partido Conservador,dadas as suas mudanças de partidos e do desastre dos Dardanelos na I Guerra. Mas viu antes de quase todos a verdadeira dimensão do perigo para a Europa e para a Humanidade do regime nazi,e quase isoladamente defendeu o rearmamento e a preparação para os conflitos que o próprio Hitler já tinha anunciado no "Mein Kampf". Churchill conduziu depois a guerra, tendo em vista a anulação desse execrável regime,que depois de digerir a Europa continental,ao contrário do que diz Buchanan,não se ficaria por aí,mas avançaria para a aniquilação da Inglaterra e do seu Império. E dados os constrangimentos do espaço,por aqui me fico.
Para o Anónimo das 11:45:
1) Lamento mais a destruição dos museus da "Ilha" de Berlim do que a das catedrais de Coventry ou de S. Paulo. Todas lamentáveis, é certo, mas os ditos museus conservavam alguns dos espécimes mais raros, e insubstituíveis, da história da Humanidade. Numa época em que os americanos ainda não tinham inventado os chamados "bombardeamentos cirúrgicos" os erros eram sempre possíveis, embora em termos militares seja mais fácil errar sobre Coventry ou S. Paulo do que sobre toda uma Ilha que albergava alguns dos mais famosos tesouros da Humanidade.
Quanto à destruição dos Budas de Bamyan, decorrem de problemas religiosos e, como sabe e é sempre útil relembrar, a religião é um dos ópios do povo. Tanto mais numa região onde proliferam as papoilas.
2) A implantação do Regime Nazi, que contou com o apoio explícito e democraticamente manifestado pelo Povo Alemão, foi uma consequência da ineficácia da República de Weimar, esta mesma decorrente do famigerado Tratado de Versalhes, imposto à Alemanha pelas potências ocidentais.
Esta circunstância torna compreensíveis algumas das reivindicações da Alemanha, embora certamente não desculpe a política subsequente e muitas das atrocidades cometidas.
3) Quanto a Churchill não é uma moda a sua culpabilização pela eternização da guerra, antes é um facto aceite por cada vez mais historiadores. E Buchanan, ao contrário do que o leitor afirma, não é um historiador desacreditado. Só que, dada a proximidade do conflito, as opiniões ainda são apaixonadas (sê-lo-ão sempre) e a História vai sendo escrita de acordo com a ideologia (e os interesses, por vezes inconfessáveis) dos historiadores). Haverá sempre quem esteja disposto a defender Churchill por um prato de lentilhas.
NOTA. Lamento que o leitor não tenha reservado uma palavra para condenar a destruição total de Dresden em 13 de Fevereiro de 1945, pelos bombardeiros ingleses e americanos, uma operação absolutamente inútil, já que a guerra estava ganha e a cidade não constituía qualquer alvo militar. Morreram milhares de pessoas e perderam-se irrecuperáveis obras de arte. Parece que a destruição total estava de antemão combinada entre os "Aliados" tendo em vista o subsequente desmembramento da Alemanha.
Também nem uma palavra sobre a destruição completa de Hiroxima e Nagasaki, a 6 e 9 de Agosto de 1945, pelo Bom Irmão Americano, cujas vítimas de então e de agora, porque a propagação radioactiva continua, se contam por milhões. A destruição de Hiroxima e Nagasaki constitui o verdadeiro Holocausto do século XX.
Sobre o Império Britânico, cuja constituição e posterior desmembramento deixou o mundo mergulhado em sangue, suor e lágrimas, parafraseando um dito de um político atrás citado, como os acontecimentos actuais demonstram, melhor fora que nunca tivesse existido.
Não me permite, nem o tempo nem o espaço, alongar-me em considerações sempre úteis para o esclarecimento de tão pertinentes matérias.
Estranha o Autor que nos centímetros disponiveis de uma caixa de comentários não tenha versado o papel do Império Britânico na História da Humanidade,a questão dos bombardeamentos de Dresden,a utilização da arma nuclear na Guerra do Pacífico,etc,etc. Terei muito gosto em lhe expor as minhas posições sobre estes e outros assuntos para os quais me desafia no seu último texto,mas em várias prestações,e mais tarde.
Ultrapassado este post com outro de maior "actualidade",o ritmo blogosférico condenará esta área de comentários a menor relevância. Mas são as regras do jogo.
1)Parece-me,pela leitura dos textos do blog,haver divergências de base,ao nivel dos valores individuais e de vida em sociedade,que impedirão qualquer acordo em muitos dos debates aqui esboçados,o que apenas registo. Mas não impede o confronto de ideias e exemplos,sempre interessante.
2)Os chamados "impérios" e hoje "imperialismos",tem sido desde a aurora dos tempos um modo habitual do decorrer histórico.Resumindo,os mais fortes num determinado momento tendem a expandir-se perante os mais fracos. Foi assim com o império persa em relação à Grécia,foi assim com a Macedónia em relação à própria Grécia e ao Oriente,foi assim com Roma e um dos mais duradouros e marcantes impérios,foi assim com os árabes depois de Maomé,foi assim com os ingleses a partir do século XVII. É assim. Claro que hoje temos exigências éticas e jurídicas internacionais que pretendem limitar o "vale tudo" nesses movimentos de expansão politico-militar.A História é feita de fluxos e refluxos,os senhores de hoje podem ser os "servos" de amanhã,e por muito que custe ao autor,os principais esforços para "civilizar" e domesticar esta selva têem vindo em tempos recentes dos Estados Unidos,com propostas sérias de uma Sociedade das Nações,que não resolveu os mais graves problemas sempre resolveu alguns,e depois as Nações Unidas que apesar dos insucessos conhecidos,trouxeram exigências de accountability internacional até agora desconhecidas. Mas voltando ao Império Britânico que tanto ódio lhe suscita,é o exemplo de um desses movimentos históricos,e que tendo-se desenvolvido entre os séculos XVII e XIX,sobretudo,não pode ser julgado com os critérios do século XXI. Para mim(que valorizo o modelo da democracia ocidental como o melhor garante até hoje encontrado da salvaguarda das liberdades individuais e sociais,que fazem parte dos tais valores essenciais que,como referi inicialmente,possivelmente separam o autor do blog deste singular comentador)o Império Britânico legou ao planeta algumas das mais sólidas democracias existentes: refiro-me aos E.U.A.,ao Canadá,à Austrália e Nova Zelândia,e à India.É verdade que em África e no Médio Oriente não teve resultados semelhantes,mas talvez tenha introduzido nas elites alguns dos tais valores,que embora não apliquem,sabem que são condições da autêntica Civilização.
3)Bombardeamentos. Os casos de Dresden e Hamburgo têem sido longamente debatidos. Integraram-se numa estratégia de suposta desmoralização da população que enfraqueceria o inimigo retirando-lhe o "home support".Estava errada a estratégia,apesar de ser exactamente a seguida pelos alemães nos bombardeamentos sobre Londres em 40-41? Estava,e foram destruições quase inúteis militarmente e perniciosas humanamente. E embora se aplicassem a uma nação que genèricamente apoiava um regime que defendia o exterminio de etnias(eslavos,judeus,ciganos,etc)como prática normal e necessária,certamente,com o que se sabe hoje,não deixo de as reprovar. Os casos do Japão foram justificados com os custos humanos e materiais dum prolongamento imprevisivel de um conflito de grande crueza,dado o acirrado militarismo japonês. Não deixarei de notar no entanto que os ataques aos chamados alvos civis foram abundantemente praticados por todos os beligerantes dessa lamentável II guerra,cujos fantasmas ainda hoje nos perseguem.
4)Pat. Buchanan. Não é nem formação de historiador.Como disse,é um comentador político católico fundamentalista,ultra-conservador, racista e veemente homofóbico, hoje com pouco prestigio.Se não quiser ir mais longe,encontra na Wikipedia algumas citações ilustrativas do que acabo de afirmar.
5) O espaço esgota-se,suponho,e Winston Churchill merece um comentário individual.
Churchill. Pensava que a moda de denegrir Churchill nos meios revisionistas tivesse origem nos trabalhos do David Irving,em particular a partir de 87,quando é publicada sua biografia do estadista,na linha das opiniões já expressas em livros anteriores. Posso estar enganado. Pensava que até essa altura,senão até agora fazia fé o monumental trabalho de Martin Gilbert,cujos méritos heurísticos e hermenêuticos não tenho visto serem postos em causa. Mas talvez me engane.
Em comentário anterior já apresentei as razões porque não se pode assacar a Ch. o desencadear da guerra. O autor do blog refere agora o seu prolongamento,e aí tem razão. De facto entre propostas de paz que significavam o dominio total da Europa por Hitler e as mãos livres para se reforçar com um provável sucesso na conquista da Rússia, Ch. prefere o prolongamento do conflito,mesmo nas condições de isolamento e relativa fraqueza militar em que a Inglaterra se encontrava nessa altura. Os sacrifícios foram enormes,mas o objectivo era a destruição completa do regime nazi,que como ele muito bem via não hesitaria em,depois de digerida a Rússia e fechadas as ligações da Inglaterra com o Oriente,destruir então já com facilidade essas renitentes ilhas. Foi uma aposta corajosa e arriscada pois nem havia garantias da entrada dos E.U.A. no conflito, mas foi no final bem sucedida,embora à custa do engrandecimento soviético (hoje mais ou menos resolvido)e da primazia por algum tempo da super-potência americana (que quanto a mim,prefiro à primazia soviética ou nazi). A perda da joia da coroa tambem foi acelerada com esta atitude,mas a India mais cedo ou mais tarde não deixaria de se autonomizar.
Churchill cometeu muitos erros ao longo da sua carreira,logo na I guerra com a expedição dos Dardanelos,e na II,em numerosos casos ainda hoje analisados pelos entusiastas da história militar.Mas a sua visão de conjunto estava certa. Para salvar a última dignidade do homem,que é a sua liberdade,havia que a ferro e fogo destruir cabalmente a raiz desse mal. Assim aconteceu. Sem erros,desvios,trágicos enganos? Claro que não,mas eram precisos remédios violentos para um mal fatal.
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