terça-feira, 17 de maio de 2011

SOBRE A FEALDADE DA AMÉRICA


Porque se trata de um post importante publicado no blogue "Combustões", passo a transcrevê-lo:


«Pronto, parece que colou a estória do ogre velho, gordo, peludo, rico e impune sevando lubricidade sobre a desprotegida trabalhadora. É o sonho americano, o esquematismo, a ausência de qualquer linha actancial, a suspensão da inteligência. Há fulanos maus, absoluta e irrecuperavelmente maus e há, por necessidade de equilíbrio cósmico, os absolutamente bons. O aggiornamento dos contos para crianças implica fazer correcções em favor das crenças de género, religião, raça e mesmo saúde dos bons e dos maus.

É a América, sem grandeza, sem elaboração, pequena e puritana, pacóvia e excessiva. A América da Lei Seca, claro; do Código Hayes, claro; dos 90.000.000 de processos do FBI sobre meio-país, mas também a América do anti-tabagismo primário - totalitário, roncante, quase idiota - que faz transportar a gente mais gorda e feia do planeta em carros que poluem mais por quilómetro que 10 maços de tabaco; a América que inventou o medo das pedofilias e o espalhou ao ponto de, hoje, um adulto não se atrever afagar a cabeça de uma criança; a América, onde um professor não pode receber estudantes no seu gabinete e fechar a porta; a América obcecada com a saúde, mas que nem gastronomia possui - o mínimo que se pode exigir a uma cultura - para além das pipocas e sandes; a América que odiou as monarquias e só quis Reis da Marmelada, dos imperadores dos tijolos, marqueses dos elevadores e das máquinas de lavar a roupa; a América que converteu a religião no terceiro negócio mais lucrativo do país, imediatamente antes do negócio da coca e das armas. Há quem goste daquilo, habitualmente pessoas muito pouco exigentes e fascinadas pelo grande, pelo rico e pelo "shining". Acho tudo aquilo absolutamente nasty, revolting e disgusting, a começar pela juíza de garrafa de plástico em cima da mesa.

É claro que há gente que não respeita nada nem ninguém, por mais que naquelas línguas saiam torrentes de boas-novas e protestos de amor pelos "valores" e até por "deus". Conheci no Oriente uma dessas criaturas velhas e impenitentes que se atirava com despudor a tudo quanto lhe entrasse porta adentro, uma mistura de direito de pernada neo-colonial e clara percepção de impunidade. Não sei, nem me interessa, se DSK é um predador, mas a América que se eriça de furores para o julgar seria melhor se o não fosse; ou seja, se não fosse América e fosse um pouco mais europeia.»

1 comentário:

Nuno P disse...

É curioso notar contudo quanto mal se diz e se escreve sobre a justiça portuguesa - europeia,portanto.Dos seus atrasos e da sua lentidão , do infinito tempo do seu percurso.Muito desse mal se fica a dever ao principio da presunção de inocência, que pode ser tão ou mais perverso que o seu contrário. O ser humano é imperfeito e o mundo é o seu reflexo. A Europa tem uma História que os EUA deveriam conhecer e respeitar mas não somos perfeitos e nem sempre andámos pelos melhores caminhos e já os chamámos - aos americanos - por diversas vezes , em nosso auxílio.

Parece - me exagerada esta defesa do bom nome de um cidadão de má fama.