terça-feira, 10 de maio de 2011

A PROPÓSITO DE MINA



Noticiaram ontem os jornais que em resultado dos confrontos religiosos ocorridos na véspera no Cairo, entre cristãos coptas e muçulmanos, se registaram 12 mortos e 232 feridos. Foram detidas 190 pessoas, que, segundo o governo, serão julgadas pelo Supremo Tribunal Militar. É bom que a Junta Militar que dirige o país, após a queda do presidente Hosni Mubarak, mantenha a ordem e a tranquilidade públicas, evitando o aproveitamento da situação para acentuar as clivagens entre a maioria muçulmana sunita e a minoria cristã copta.

A violência ocorreu em Imbaba, um dos "bairros" ocidentais do Cairo, na margem esquerda do Nilo, uma das zonas mais pobres da cidade. O pretexto para a eclosão da violência foi o presumido sequestro de uma mulher que se teria convertida ao islão e que os cristãos manteria sequestrada numa igreja. Os muçulmanos salafitas (fundamentalistas islâmicos que defendem a adopção da sharia) incendiaram as igrejas de São Mina e de Santa Maria, por entre troca de tiros e de bombas incendiárias.

Para lá do relato dos incidentes, que demonstram a instabilidade política no Egipto e a acção de minorias religiosas dispostas a aproveitar o interregno do regime, até à adopção da nova Constituição e à eleição de um novo presidente da República, deve salientar-se a forma pouco cuidada como a imprensa portuguesa relata não só os acontecimentos mas os nomes egípcios.

Quero notar que MINA é um santo e não uma santa. Portanto SÃO MINA  e não Santa Mina, como vem noticiado no PÚBLICO (edição impressa de ontem, a edição online já foi alterada, omitindo-se a referência) e no "Correio da Manhã". Pede-se, por isso, aos jornalistas que não troquem o sexo dos santos.

SÃO MINA (285  - 309 ?) é um dos santos mais conhecidos não só no Egipto mas em todo o Médio Oriente. A sua festa é celebrada a 24 de Novembro pela Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria ou a 11 de Novembro em outras localidades. Mina ingressou no exército romano com 15 anos, mas três anos depois abandonou as forças armadas para se dedicar inteiramente a Cristo, retirando-se para o deserto. Durante o período em que viveu como eremita ouviu vozes que lhe disseram ser ele um abençoado desde a infância por três razões: o celibato (Mina não conheceu mulher), o ascetismo e o martírio. Depois desta revelação, Mina proclamou publicamente a sua fé e morreu como mártir. São-lhe atribuídos muitos milagres. Após a sua morte, foi sepultado na vizinhança de Alexandria, próximo do Lago Maryut . O Patriarca Copta de Alexandria, (Papa) Cirilo VI, mandou erguer um mosteiro em sua honra, perto do local da sua tumba inicial e da igreja que abrigou os seus restos mortais e que foi destruída durante a invasão árabe no século VIII. Nesse mosteiro, um dos mais famosos do Egipto, repousam hoje as relíquias do santo e os restos mortais de Cirilo VI.


Igreja de São Mina no Cairo e Mosteiro de São Mina em Alexandria

Existia no Museu Greco-Romano de Alexandria (em obras, e encerrado, desde há mais de dez anos) uma famosa estela de São Mina (que tive ocasião de fotografar) e que se encontra hoje no novo Museu Nacional de Alexandria (onde também já me foi dado contemplá-la).

São Mina rodeado pelos dois camelos da lenda

2 comentários:

Anónimo disse...

A maior parte dos jornalistas ou é analfabeta ou só liga à merda da política nac ional.

Como vai longe o jornalismo cultural.

ZÉ DOS ANZÓIS disse...

Com Mina ou sem Mina augura-se um futuro desastroso para o Egipto.

Há demasiados interesses em jogo e os salafistas não deixarão de tentar a sua jogada. Mas quem são os salafistas? Quem se esconde por trás dos salafistas?

Tudo muito confuso. Ainda os egípcios vão ter saudades de Mubarak, a menos que a Junta actue com a energia que se impõe.