O governo israelita anunciou uma trégua unilateral na Faixa de Gaza e o HAMAS proclamou igualmente uma trégua, com a exigência da saída das forças judaicas no prazo de uma semana. Não sendo previsível que o exército israelita retire durante esse período, voltará tudo ao mesmo, ou pior.
Entretanto, dia 20, Barack Obama assumirá a presidência dos EUA, com Hillary Clinton como secretária de Estado. Que força poderá (ou quererá) a nova administração americana exercer sobre Israel para repor a paz e retomar o infinitamente adiado processo que conduzirá à criação do Estado Palestiniano? Aguardemos!
Entretanto, dia 20, Barack Obama assumirá a presidência dos EUA, com Hillary Clinton como secretária de Estado. Que força poderá (ou quererá) a nova administração americana exercer sobre Israel para repor a paz e retomar o infinitamente adiado processo que conduzirá à criação do Estado Palestiniano? Aguardemos!
Há contudo uma questão que não foi posta ainda em cima da mesa, ou melhor, duas. Uma diz respeito (para além dos feridos e mutilados) aos mais de 1.200 mortos durante o ataque israelita e é irreparável; a outra refere-se aos danos materiais na Faixa de Gaza, cujas infraestruturas foram quase totalmente destruídas e que tinham sido pagas pela União Europeia. Vai ser necessário reconstruir serviços públicos e habitações para quase um milhão e meio de pessoas! Incluindo escolas onde se encontravam crianças e que alegadamente eram bases de rockets, como se as mães deixassem os filhos abrigar-se em sítios que seriam potenciais alvos. Toda esta história está muito mal contada pelo governo de Israel. Quem irá agora subsidiar os estragos do exército sionista? Sempre a União Europeia, a braços com uma crise económica profunda? Não será exigir demais aos europeus que continuem a pagar sistematicamente aquilo que Israel destrói? Exija-se então a Israel, cujo lobby internacional é financeiramente poderoso, que contribua decisivamente para a reconstrução.
O problema do Médio-Oriente (cuja criação se deve em grande parte aos ingleses) não tem, não terá nunca, uma solução militar. Encontrem-se, pois, os caminhos da paz. Durante séculos, os judeus viveram em paz no mundo árabe, então integrado no Império Otomano. Não são as diferenças de religião que afastam as pessoas e mesmo os fundamentalismos a que assistimos nos dias de hoje, nas três religiões monoteístas, se devem a causas políticas, económicas e sociais. Resolvam-se estas e o resto virá por acréscimo. Em 1991, Gilles Kepel publicou um interessante livro: La Revanche de Dieu - Chrétiens, juifs et musulmans à la reconquête du monde, de que existe uma tradução portuguesa. Leia-se e reflicta-se sobre ele. O que está em causa são problemas de opressão, de domínio, de humilhação, de miséria e de fome, de destruição da dignidade humana, de corrupção e de riqueza, de desprezo dos direitos fundamentais. E isto é válido para todos: o chamado mundo ocidental, Israel, o mundo árabe.
Então, haja vergonha (se possível) e procure-se não uma trégua efémera mas uma trégua a longo prazo que leve a Paz a uma zona outrora apelidada, em sentido lato, de Crescente Fértil e que desde há décadas é palco de intermináveis guerras.
1 comentário:
A sua visão idilica da vida dos judeus sob o Império Otomano tem que ser vista "cum grano salis". E os nacionalismos e pré-fundamentalismos não começam antes de Israel? Aquela região é de facto muito complexa,e não se presta a simplificações(aliás penso que nada se presta a simplificações). Tal como os Balkans. Mas acabaram com os Impérios que lá iam conciliando os opostos. Agradeçam ao Kaiser e ao Conrad.
Enviar um comentário