quinta-feira, 26 de junho de 2025

NO CENTENÁRIO DE ISABEL DA NÓBREGA

 

Num jantar, no Atelier de Mestre Lagoa Henriques, nos anos 90

ISABEL DA NÓBREGA

Celebra-se hoje (26 de Junho) o Centenário do nascimento de Isabel da Nóbrega.

Conheci a Isabel em finais dos anos 60 do século passado, quando ela iniciara uma relação com José Saramago, com ambos convivi até à separação do casal, e depois apenas com ela, durante cerca de meio século.

Romancista, dramaturga, cronista, jornalista, Isabel da Nóbrega é uma personagem literária indisputável da segunda metade do século XX português. Mas foi, fundamentalmente, uma personagem humana, uma Mulher de profunda curiosidade intelectual, dotada de um raro sentido de solidariedade, de uma ânsia de viver, que fazia dela uma verdadeira força da natureza.

Costumava dizer-me muitas vezes que desejava ter na lápide funerária apenas esta inscrição: “Aqui jaz Isabel da Nóbrega – INDIGNADA!”

Antes de conhecer a Isabel pessoalmente já a tinha conhecido literariamente através do seu livro “Viver com os Outros” (Prémio Camilo Castelo Branco, 1964), que li avidamente numa viagem de comboio Lisboa/Porto.

Viajei algumas vezes com a Isabel, uma excepcional companheira de viagem, nomeadamente a Paris, onde ficávamos no Hotel Saint-André des Arts, na rua homónima do Quartier Latin, muito perto da primeira casa do Manuel Cargaleiro, na Rue des Grands Augustins, onde passei umas férias em 1969.

Recordo, das idas a Paris, um jantar memorável em casa da escultora e escritora Isabel Meyrelles, que residia à época na Place de l’Alma, local onde se reunia um interessante grupo de intelectuais franceses.

A casa da Isabel, primeiro na Rua do Sol a Santa Catarina e depois na Rua da Esperança, foi um local de tertúlias literárias, que haveriam de ter paralelo e mais tarde ampla continuação e expressão nos dois Ateliers do escultor Lagoa Henriques, no primeiro, num dos pavilhões da Exposição do Mundo Português em Belém, e que seria destruído por um incêndio em 1972 (salvo erro), e depois, no segundo, num pavilhão da Câmara Municipal de Lisboa, na Avenida da Índia.

Todos aqueles que conviveram com a Isabel, e já  restam poucos, são testemunhas da sua vigorosa personalidade. Não é extensa a sua obra, embora de profundo conhecimento humano, de rara oportunidade quanto à época, de manifesta coragem e de reconhecida elegância formal. Certamente porque preferiu viver intensamente a Vida a dedicar-se exclusivamente à Escrita. Dela se poderá dizer que pôs a Arte na Vida.

A data de hoje é assinalada por uma sessão evocativa na Fundação Calouste Gulbenkian.

 

1 comentário:

A.R. disse...

Memória justíssima.