terça-feira, 3 de junho de 2025

A ESTRATÉGIA DA ARANHA


O TRAIDOR E O HERÓI

Em 1944, Jorge Luis Borges publicou Ficciones, livro posteriormente editado em português com o título Ficções, e que inclui 17 contos, agrupados em duas partes.

Um dos contos intitula-se “Tema do Traidor e do Herói” e trata de um caso (imaginado) ocorrido na Irlanda, em 1824, em que um herói nacional, Kilpatrick, atraiçoa a sua própria causa, aceitando depois ser imolado pelos companheiros de forma a não prejudicar a pátria.

Assim, ele mesmo combina com os conjurados os pormenores da sua execução, que ocorrerá num teatro, durante a realização de um espectáculo. Inspirando-se em Shakespeare, concebe cenicamente o seu assassinato, recorrendo a cenas de Júlio César e de Macbeth para conferir maior autenticidade ao acto.

Anos mais tarde, um bisneto, Ryan, visita a localidade para averiguar das circunstâncias da morte do seu antepassado. Depara-se com um muro de silêncio, mas acaba por descobrir a verdade. Todavia, para não macular a lenda do herói, também ele ocultará a sua descoberta, tornando-se assim cúmplice da genial intriga.

* * * * *

Apropriando-se do tema, o realizador italiano Bernardo Bertolucci apresentou, em 1970, o filme Strategia del Ragno (A Estratégia da Aranha)com argumento de Marilù Parolini e Eduardo de Gregorio, e interpretação de Giulio Brogi e Alida Valli.

Este filme breve, considerado um dos melhores do realizador, transporta a acção para a Itália, no tempo de Mussolini, sendo o herói/traidor um militante anti-fascista. Para descobrir a verdade, envolta numa teia de mentiras, o descendente, neste caso o próprio filho, encontra-se com os amigos do pai, e mesmo com a sua amante. Sabe que a conspiração visava matar Mussolini quando este fosse inaugurar o teatro local, onde se cantaria o Rigoletto. O Duce não comparece e é o próprio pai que é morto pelos seus companheiros, a quem tinha traído.

No decorrer da película ouve-se, em fundo, apropriadamente, música de óperas de Verdi.

 

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente filme e excelente (como sempre) Borges