quinta-feira, 10 de abril de 2014
O PCP NO GOVERNO ?
Em entrevista, ontem, à Antena 1, Freitas do Amaral defendeu que "era bom para a democracia um governo PS/PC", embora considere que "não é possível neste momento". É verdade que nem sempre pensou assim mas, como dizia Salgado Zenha, "só os burros não mudam de ideias". De resto, também ninguém compreende que, em Portugal, só possam participar num governo os partidos que fazem parte do chamado "arco da governação", isto é, o PS, o PSD e o CDS, "arco" sempre enfatizado pelo inefável professor Marcelo.
Sabemos que no nosso país, e para só falar nos partidos com assento parlamentar, o PCP e o Bloco de Esquerda não perfilham das mesmas opiniões que os demais partidos no que respeita, por exemplo, ao regime económico definido pela União Europeia. Por isso, segundo Bruxelas, não poderiam integrar um governo sem mudarem as suas convicções. Curioso que defendendo, presume-se, a União Europeia a democracia parlamentar, exclua da governação partidos legitimados pelo voto. E se eles obtivessem a maioria dos votos dos portugueses? Seriam impedidos de governar?
Naturalmente que ao definir quem pode constituir governo, abstraindo do voto popular, a União Europeia não procede democraticamente. Aliás, já todos sabemos que Bruxelas não sacrifica no altar da democracia. A União é, realmente, uma organização tão totalitária quanto o foram as chamadas "democracias populares". Num passado ainda recente, os países de Leste impunham o comunismo como única visão do mundo. Hoje, o Ocidente, em nome da "democracia", impõe a economia neo-liberal como única visão do mundo. As alternativas continuam excluídas.
Não temos dúvidas de que a União Europeia, construída para evitar uma terceira guerra com a Alemanha, está condenada a prazo não muito longo. Os dez anos da desastrosa presidência de Durão Barroso na Comissão mais não fizeram de que acentuar as profundas divergências entre os países integrantes e apressar o seu fim. Os países europeus, com culturas milenares, têm interesses particulares que não se compaginam com uma política global de integração.
O dobrar a finados pela União é tanto mais audível quanto maior o rigor da política de austeridade impulsionada pela Alemanha. Diríamos que se vive já uma terceira guerra "mundial" europeia conduzida por meios económicos. Carl von Clausewitz escreveu que "a guerra é a continuação da política por outros meios". Podemos hoje afirmar que a asfixia económica e financeira é a continuação da guerra militar por outros meios, enquanto não chega a guerra militar tout court, hoje talvez demasiado perigosa.
Em Portugal, os efeitos da política de austeridade têm sido devastadores. Tal como na Grécia, em Espanha, na Irlanda, na Itália, em França, para só falar de países da União Europeia. E essa política nada resolveu até hoje. Apesar das afirmações do primeiro-ministro, que mente sistematicamente aos portugueses, a nossa dívida não pára de aumentar. E todos sabem que, nas circunstâncias actuais, é impagável, mesmo que o país ficasse reduzido a uma miséria extrema. O monoteísmo do mercado está a revelar-se tanto ou mais perigoso que os monoteísmos religiosos. Os sacrifícios exigidos às populações são inadmíssiveis, uma vez que estas não são responsáveis pela crise provocada pelas instâncias financeiras internacionais.
Os chamados países democráticos do Ocidente elegem mais ou menos livremente os seus representantes, mas têm sido infelizes nas escolhas, pois os eleitos, logo que empossados, passam a actuar não de harmonia com os programas que foram sufragados pelos eleitores mas de acordo com os desígnios do Governo Oculto Mundial, sintonizado com os interesses das instituições financeiras internacionais.
Tome-se o exemplo português. Na campanha eleitoral, Passos Coelho assumiu um conjunto de compromissos que, logo que eleito, não só desrespeitou como passou a proceder exactamente ao contrário das promessas efectuadas. É verdade que, em democracia, os líderes partidários normalmente mentem para alcançar o poder. E também é verdade que os cidadãos, crédulos, acabam por dar normalmente os votos aos partidos que os enganaram. Só que desta vez, em Portugal, foram ultrapassados os limites mais elementares da decência, com a adopção subserviente de um programa imposto do exterior e até ampliado, por razões ideológicos, pelo próprio governo nacional.
Realmente, Passos Coelho, que possivelmente se julga a dirigir uma juventude partidária, brinca com os portugueses como não estivessem em causa vidas humanas e a governação não passasse de um mero jogo recreativo. E tudo feito de uma maneira atabalhoada, pois ao radicalismo ideológico junta-se a incompetência e a inexperiência dos governantes. Temos estado a assistir a um péssimo espectáculo trágico-cómico interpretado por actores medíocres que nunca deveriam ter saído do lugar de figurantes.
Nunca, desde a proclamação da República, um chefe do Governo foi tão odiado e tão desprezado pelos portugueses como Passos Coelho. Nem mesmo Afonso Costa. Nem mesmo Salazar.
As eleições que se avizinham não são legislativas mas europeias. Mesmo assim, e porque podem fornecer um sinal, importa interrogarmo-nos sobre as intenções de voto dos eleitores. Será que vão entregar o seu voto à Aliança Democrática, consubstanciada pelo PSD e pelo CDS? Os que o fizerem não terão mais o direito de se queixarem das medidas que estão a destruir Portugal e os Portugueses. Importa mudar de vida, a bem da Nação.
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2 comentários:
EXCELENTE ANALISE.
INTEIRAMENTE DE ACORDO COM O AUTOR
Passaram de figurantes a figurões. O espectáculo é mau e permanentemente sujeito a pateada. Quando é que abandonrão a cena???
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