Transcrevemos, do jornal "i", um oportuno texto de Fernando Dacosta sobre a prostituição:
Sacerdotisas do amor
Ao entrar, de madrugada, na rua onde vivia (zona de fecunda
prostituição), Natália Correia abria a janela do carro e exortava:
“Meninas, não se deixem humilhar, lembrem-se que são sacerdotisas do
amor!”
Logo era rodeada de estrídulas afectuosidades das
prostitutas, dos prostitutos, dos travestis, dos chulos, dos vadios, dos
guarda--nocturnos, rendidos ao incitamento da “senhora poeta” a
falar--lhes como ninguém lhes falava – os dignificava, os elevava.
Quase
ao mesmo tempo, outro poeta de génio e de provocação, Jorge de Sena,
perguntava através dos jornais, nessa altura bastante mais ousados: “Se
se faz amor por tanta coisa, porque não fazê-lo por dinheiro?”, e
reivindicava “o direito de todo o ser humano à liberdade de se
relacionar intimamente com quem quiser ou puder”. “Se não fossem os
profissionais do sexo, que seria dos velhos, dos disformes, dos
tímidos?”
Quando a política (a religião, a justiça) entra na cama
das pessoas, dá asneira. É o caso, agora, do Parlamento Europeu ao
querer penalizar os clientes das prostitutas.
Entre nós, um deputado
do PSD, Duarte Marques, insurgiu-se, no entanto, contra semelhante
projecto e, sem papas na língua nem beatice nas ideias, declarou tal ser
“um disparate”, até porque, pessoalmente, defendia “a legalização da
prostituição”, “porque nunca se vai acabar com ela” – revelando-se mais
progressista que muitos dos colegas à esquerda.
Desassombrado, Jorge
de Sena rematava sobre estes temas: “Se a vocação dos portugueses é
serem prostitutas, como mostra a história” – e ele não viu a nossa
horizontalidade ante a troika – “por que razão as prostitutas não podem
sê-lo com os seus apegados clientes?”
Muito pertinente este artigo de Fernando Dacosta, numa altura em que os eurodeputados (a soldo de que inconfessáveis interesses?) aprovaram uma recomendação para criminalizar os clientes das prostitutas.
A posição de Natália Correia e de Jorge de Sena, duas incontonáveis figuras da cultura portuguesa, é de meridiana clareza sobre a matéria. Como escreve Dacosta, "quando a política (a religião, a justiça) entra na cama das pessoas, dá asneira." Exactamente.
4 comentários:
uau prostituição sagrada e enaltecimento do tráfico de escravos numa poetisa semi-histérica semi-douda e poetisa é favor pois tem cada uma
se bem que como escritora de ficção fosse muy peor
pois dantes importava-se carne para o templo do algarve a braganza
e hoy vai-se inté aos confins se bem que quando ela falava com as cabo-verdianas e as moçambicanas que enxameavam a rua decrépita onde os livros dela apodreceram em pilhas
e as cartas...tinha tanto lixo em casa a gaija foi quase meia tonelada de papel pró lixo
e outro tanto para o papelão
tinha o dórdio guimarães morrido há bué d'anos quando fizeram isse
e havia um açoriano com um sotaque muy peculiar a coordenar o abate
bons tempos
Há que chamar as coisas pelos nomes. Vivemos numa sociedade extremamente hipócrita. Cada vez pior.
"Como liberal que sou em todas as matérias que digam respeito ao sexo, não acho que prostituição seja uma “profissão” louvável como qualquer outra, e que tanto faz ser puta ou médica ou enfermeira. Acho que é um ofício degradante, que ninguém seria indiferente ou gostaria de ser um legítimo filho da puta, e que os nossos valores morais deveriam refletir isso.
Por outro lado, não defendo em hipótese alguma a intervenção estatal nisso. Adultos responsáveis, cientes das suas escolhas, que resolvem trocar sexo por dinheiro, é algo da esfera estritamente privada. Não nos diz respeito. As leis não devem se intrometer nessa troca voluntária. Aliás, a prostituição sendo seguramente a profissão mais velha da Humanidade, vai a par com a segunda mais antiga, a saber: a política.
Em resumo: que a prostituição seja livre, mas não pode querer livrar-se do estigma social de imoralidade que consigo carrega. Ou seja, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal ao mesmo tempo.
Que importa a mãe ser puta, se for mãe? Será melhor a mãe que não sendo puta também não é mãe?
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