quinta-feira, 6 de março de 2014

NATÁLIA CORREIA E AS PROSTITUTAS




Transcrevemos, do jornal "i", um oportuno texto de Fernando Dacosta sobre a prostituição:



Sacerdotisas do amor
  
Ao entrar, de madrugada, na rua onde vivia (zona de fecunda prostituição), Natália Correia abria a janela do carro e exortava: “Meninas, não se deixem humilhar, lembrem-se que são sacerdotisas do amor!”
Logo era rodeada de estrídulas afectuosidades das prostitutas, dos prostitutos, dos travestis, dos chulos, dos vadios, dos guarda--nocturnos, rendidos ao incitamento da “senhora poeta” a falar--lhes como ninguém lhes falava – os dignificava, os elevava.
Quase ao mesmo tempo, outro poeta de génio e de provocação, Jorge de Sena, perguntava através dos jornais, nessa altura bastante mais ousados: “Se se faz amor por tanta coisa, porque não fazê-lo por dinheiro?”, e reivindicava “o direito de todo o ser humano à liberdade de se relacionar intimamente com quem quiser ou puder”. “Se não fossem os profissionais do sexo, que seria dos velhos, dos disformes, dos tímidos?”
Quando a política (a religião, a justiça) entra na cama das pessoas, dá asneira. É o caso, agora, do Parlamento Europeu ao querer penalizar os clientes das prostitutas.
Entre nós, um deputado do PSD, Duarte Marques, insurgiu-se, no entanto, contra semelhante projecto e, sem papas na língua nem beatice nas ideias, declarou tal ser “um disparate”, até porque, pessoalmente, defendia “a legalização da prostituição”, “porque nunca se vai acabar com ela” – revelando-se mais progressista que muitos dos colegas à esquerda.
Desassombrado, Jorge de Sena rematava sobre estes temas: “Se a vocação dos portugueses é serem prostitutas, como mostra a história” – e ele não viu a nossa horizontalidade ante a troika – “por que razão as prostitutas não podem sê-lo com os seus apegados clientes?” 


 Muito pertinente este artigo de Fernando Dacosta, numa altura em que os eurodeputados (a soldo de que inconfessáveis interesses?) aprovaram uma recomendação para criminalizar os clientes das prostitutas.

A posição de Natália Correia e de Jorge de Sena, duas incontonáveis figuras da cultura portuguesa, é de meridiana clareza sobre a matéria. Como escreve Dacosta, "quando a política (a religião, a justiça) entra na cama das pessoas, dá asneira." Exactamente.

4 comentários:

O Eleitorado Morre Mas Não Se Rende disse...

uau prostituição sagrada e enaltecimento do tráfico de escravos numa poetisa semi-histérica semi-douda e poetisa é favor pois tem cada uma

se bem que como escritora de ficção fosse muy peor

pois dantes importava-se carne para o templo do algarve a braganza
e hoy vai-se inté aos confins se bem que quando ela falava com as cabo-verdianas e as moçambicanas que enxameavam a rua decrépita onde os livros dela apodreceram em pilhas
e as cartas...tinha tanto lixo em casa a gaija foi quase meia tonelada de papel pró lixo

e outro tanto para o papelão
tinha o dórdio guimarães morrido há bué d'anos quando fizeram isse

e havia um açoriano com um sotaque muy peculiar a coordenar o abate

bons tempos

Anónimo disse...

Há que chamar as coisas pelos nomes. Vivemos numa sociedade extremamente hipócrita. Cada vez pior.

Anónimo disse...

"Como liberal que sou em todas as matérias que digam respeito ao sexo, não acho que prostituição seja uma “profissão” louvável como qualquer outra, e que tanto faz ser puta ou médica ou enfermeira. Acho que é um ofício degradante, que ninguém seria indiferente ou gostaria de ser um legítimo filho da puta, e que os nossos valores morais deveriam refletir isso.

Por outro lado, não defendo em hipótese alguma a intervenção estatal nisso. Adultos responsáveis, cientes das suas escolhas, que resolvem trocar sexo por dinheiro, é algo da esfera estritamente privada. Não nos diz respeito. As leis não devem se intrometer nessa troca voluntária. Aliás, a prostituição sendo seguramente a profissão mais velha da Humanidade, vai a par com a segunda mais antiga, a saber: a política.
Em resumo: que a prostituição seja livre, mas não pode querer livrar-se do estigma social de imoralidade que consigo carrega. Ou seja, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal ao mesmo tempo.

João Alves disse...

Que importa a mãe ser puta, se for mãe? Será melhor a mãe que não sendo puta também não é mãe?