domingo, 30 de março de 2014
RECORDAÇÕES DE UM ENCONTRO
Foi em La Rochelle, onde passou grande parte da adolescência com a avó, que o escritor Philippe Mezescaze (n. 1952), então com 17 anos, conheceu o escritor Hervé Guibert, então com 14, ambos, mais tarde, amigos íntimos de Michel Foucault.
No seu último livro, autobiográfico, Deux garçons, publicado o mês passado, Mezescaze, pela interposta personagem do Narrador, conta a sua passagem pela histórica cidade de La Rochelle, o abandono do liceu, o ingresso num grupo de teatro e, especialmente, a forma como conheceu Hervé Guibert, a atracção recíproca e a paixão que ambos alimentaram, até à ruptura definitiva, mais tarde, em Paris.
Neste romance, onde a vida é abordada sem ambiguidades, Mezescaze, que já publicou uma dezena de livros, evoca o seu quotidiano e o do seu grupo de teatro, não prescindindo de uma incursão culta na literatura dramática.
O encontro com Hervé Guibert (1955-1991), que se tornou famoso não só pelos seus escritos como pela sua morte prematura, devido a sida, anunciada no livro que o celebrizou, À l'ami qui ne m'a pas sauvé la vie, acontece como que programado, por causa da interpretação de uma cena do Caligula, de Albert Camus, no teatro local.
Esta evocação do encontro é tanto mais pertinente quanto Philippe Mezescaze terá sido a primeira relação masculina de Guibert, ainda que não faça parte dos três homens mais importantes da sua vida e obra: Thierry Jouno (director do Centro Sóciocultural dos Surdos, de Vincennes) , Michel Foucault (a quem conheceu aos 18 anos) e Vincent M. (um adolescente de 15 anos), entre os muitos que conheceu durante a sua breve existência.
De alguma forma, Deux garçons terá sido um livro que Mezescaze se impôs escrever, e que funciona, de certo modo, como uma câmara de eco a Mes parents, onde Hervé Guibert conta a sua infância e adolescência.
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