Transcrevo, do blogue "Portugal dos Pequeninos", o artigo de Vasco Pulido Valente, hoje, no PÚBLICO:
«Eduardo
Lourenço disse que o congresso do PSD lhe parecia uma espécie de missa
cantada. A mim, que sei pouco de missas, o que me pareceu o congresso
foi uma festa de despedida. Acredito piamente que Marcelo Rebelo de
Sousa resolveu lá ir por razões sentimentais, como o resto das criaturas
que dirigiram aquela extraordinária agremiação desde 1985. Tanto os
“chefes” como os “militantes” sentiram, e com razão, que não se
tornariam a encontrar tão cedo naquele ritual. E talvez nunca mais.
Vieram de certa maneira ao enterro de uma história, para eles gloriosa,
que não voltará. Depois de Passos Coelho, depois de Cavaco,
depois desta maioria (embora com CDS) ninguém no seu juízo pensa que o
PSD pode ter genuinamente a esperança de recuperar a confiança do país.
Não são só estes quatro anos de “austeridade” e a incompetência política
com que o Governo executou o programa da troika. É a singular
esterilidade de quase tudo quanto fez. O grande partido “reformista” não
reformou coisa nenhuma. Na essência, Portugal está como estava antes,
com menos dinheiro. O primeiro-ministro transformou, ou
deixou transformar, o debate político numa interminável conversa em
calão económico, que ninguém percebe e porque verdadeiramente ninguém se
interessa. O mortal comum olha para o “ajustamento” com desespero e com
medo. E, por mais que Seguro o desconsole, quer outra coisa, seja ela
qual for. Não há truque, não há manha, não há justificação ou argumento
que alterem este facto básico. No Coliseu, a gente do PSD encontrou entre si algum conforto. Cá
fora, o país assistiu ao espectáculo com desdém. A eleição para o
Parlamento Europeu e, a seguir, as legislativas irão mostrar a fraqueza
do partido. É um mistério como Passos Coelho e a sua corte conseguem
imaginar que “empobrecer” os portugueses, liquidar uma boa parte da
classe média e tirar o futuro às gerações que tão iludidamente se
“qualificaram” é uma política esquecível e perdoável. Era necessário? Acredito. Mas para cada um de nós a necessidade não aliviou nada. Sócrates
não compreendeu ainda que morreu em 2010. O actual primeiro-ministro já
suspeita que vai morrer em 2014 ou 2015, principalmente quando o país
descobrir, com espanto e com terror, que a “austeridade” irá durar mais
quinze ou vinte anos. A despedida do PSD chegou na altura certa.»
Vasco Pulido Valente, Público
O desideratum de Francisco Sá Carneiro "um governo, uma maioria, um presidente" foi uma tragédia para Portugal.
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