quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A "PRIMAVERA" UCRANIANA




Os acontecimentos das últimas horas em Kiev, e noutras cidades da Ucrânia, com dezenas de mortos e feridos, demonstram que o confronto entre o regime e as forças que se lhe opõem subiu de patamar.
aqui escrevemos, há dias, sobre a situação naquele país, referindo os interesses em jogo e os equívocos de grande parte dos manifestantes.

A recente contestação ao presidente Viktor Yanukovytch e ao regime iniciou-se com a recusa do governo aderir à União Europeia (e, porventura, mais tarde à NATO), o que poria obviamente em causa o equilíbrio geoestratégico sustentado pela Rússia. Já basta a Moscovo terem passado para a órbita ocidental as antigas democracias populares de Leste para que o Kremlin se oponha a que o mesmo aconteça às repúblicas da ex-União Soviética (exceptuando o caso consumado da Estónia, da Letónia e da Lituânia, embora estas menos importantes).

Ninguém ignora que lavra na Ucrânia uma profunda corrupção, mas também será pacífico afirmar que a corrupção no chamado mundo ocidental não lhe fica atrás. É certo que os ucranianos estão fartos da actual oligarquia no poder e que muitos dos que emigraram e já regressaram a casa ficaram com uma  certa tentação do Ocidente, mesmo assim melhor, por enquanto, do que o seu país, que após a queda da União Soviética e a introdução da economia de mercado, viu extinguir-se a protecção social que o regime comunista proporcionava aos habitantes. Dispor de casa, saúde, ensino e transporte gratuitos ou quase, auferir uma reforma compatível com estas regalias, ter emprego, etc., não são coisas despiciendas.

É verdade que o totalitarismo neoliberal em ascensão pretende arrebanhar para a sua órbita, um após outro, os países que ainda não sacrificam completamente no altar do monoteísmo do mercado. Por isso, é compreensível o incitamento à contestação ao regime de Kiev e o seu apoio não só moral mas material aos manifestantes, com ajudas em dinheiro e em armamento e com promessas de um futuro radioso. Lamenta-se que muitos ucranianos acreditem nestes cantos de sereias que mais não são do que silvos de serpente. E que não se apercebam que o mal de hoje seria bem pior amanhã se o regime fosse derrubado. Nem a União Europeia nem os Estados Unidos estariam em condições e na disposição de facultarem à Ucrânia o apoio que hoje recebe da Rússia.

Não poderia o inefável Durão Barroso deixar de se manifestar "chocado" com os últimos desenvolvimentos da situação e de promover para amanhã uma reunião dos ministros dos negócios estrangeiros da União Europeia. Com a intenção de aplicar sanções à Ucrânia. Com as sanções, lembremo-nos sempre do caso do Iraque, quem sofre é o povo, e os políticos sabem-no bem.

Também o pseudo-filósofo francês Bernard-Henri Levy deixou o seu luxuoso riyadh de Marrakesh e foi arengar às massas opositoras na praça da Independência, em Kiev. Este homem, que não tem um palmo de vergonha, já se exibira na Líbia, de camisa desabotoada, como é seu timbre, incitando à revolução contra Qaddafi. Os resultados não são animadores, e ainda a procissão vai no adro. O escritor Pierre Assouline, aludindo a Lawrence, chamou-lhe o "Levy d'Arabie".

Espera-se que desta suposta "primavera" ucraniana não resultem situações idênticas á que ocorrem hoje nos países árabes onde também despertaram primaveras.

Não é propriamente expectável, mas o mal não tem limites.


1 comentário:

Anónimo disse...

Embora não morrendo de amores pelo vizinho urso, espero que este mostre por esta vez, as suas garras, para por fim a esta bandalheira.
Pobres dos ucranianos convictos que ao entrarem na UE vão ter uma vida melhor!!!
Estão a ser levados nas cantigas do costume e não se apercebem do que se está a passar com a Grécia, Portugal, etc.
Se levarem a sua avante, logo verão o que é bom pra a tosse.
Claro que não podia faltar a bosta nojenta de Bruxelas a cagar a sua sentença.
Olho Vivo